Transtorno afetivo bipolar (TAB): o que é, sintomas e tratamento

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Nos últimos anos, muito tem se falado sobre o transtorno bipolar, visto que é frequentemente confundido com simples oscilações de humor por quem não estuda os transtornos mentais.

Apesar de ser um dos sintomas chaves do problema, reduzir o transtorno afetivo bipolar (TAB) à oscilação de humor é inadmissível, pois se trata de um transtorno de humor complexo que causa inúmeros prejuízos à pessoa que com ele convive.

Neste artigo, falaremos um pouco sobre o que é transtorno bipolar, suas causas, sintomas, diagnóstico e tratamento, para que não haja mais confusão entre um transtorno mental sério e oscilações de humor naturais.

O que é transtorno bipolar?

O transtorno afetivo bipolar é um transtorno de humor caracterizado por episódios de depressão e mania que geralmente ocorrem sem que haja um motivo aparente. Essas fases tendem a durar poucas semanas ou até mesmo meses e trazem sofrimento clinicamente significativo ao paciente.

Essa oscilação entre episódios de depressão ou mania é diferente da oscilação de humor natural que pode ocorrer no dia a dia, geralmente causada por situações normais da vida ou até mesmo motivos não aparentes, como alterações hormonais.

No entanto, essas oscilações costumam durar pouco tempo e não trazem prejuízos significativos para a vida da pessoa, diferentemente dos episódios de humor alterado no transtorno bipolar que, em casos graves, pode afetar tanto a vida do indivíduo que ele não consegue trabalhar, estudar, graduar-se, manter relacionamentos estáveis, entre outros.

Apesar de ser um transtorno no qual tipicamente há episódios de mania e de depressão, a chave para o diagnóstico está nos episódios maníacos. Sendo assim, uma pessoa pode receber o diagnóstico de TAB sem ter passado por episódios depressivos, mas jamais pode receber este diagnóstico sem ter passado por episódios de mania ou hipomania.

Geralmente, a idade de início do transtorno bipolar é o final da adolescência ou o início da vida adulta (entre 18 e 25 anos) mas, em alguns casos raros, os sintomas já estão presentes desde a infância.

No CID-10, o TAB é encontrado pelo código F31. Antigamente, o transtorno era conhecido como psicose maníaco-depressiva, mas este termo está em desuso na psiquiatria atual, sendo mais usado por profissionais da psicanálise.

O que são episódios de depressão e mania?

O TAB é caracterizado pela presença de episódios em que o humor está diferente do normal (estado eutímico) e afetam o funcionamento do indivíduo. Estes episódios são frequentemente confundidos com fases de tristeza e alegria, mas esta definição não está correta. Entenda:

Episódio depressivo

Embora a tristeza seja um dos maiores sintomas da depressão, ela envolve muitos outros aspectos que podem estar presentes em uma fase depressiva sem que a tristeza seja óbvia. Em um episódio depressivo, o indivíduo pode se sentir sem energia, desmotivado, ser pessimista, ter dificuldades em sentir prazer (anedonia), entre outros. Essa fase costuma durar mais de duas semanas, chegando a durar meses.

Episódio maníaco

No episódio maníaco, não necessariamente ocorre uma explosão de felicidade, como muitos são levados a acreditar. Na realidade, a pessoa em fase maníaca está com todas as funções psíquicas aceleradas, mas ela pode vivenciar emoções negativas como raiva e irritabilidade.

Quando em episódio de mania, a pessoa tem muita energia, não precisa dormir muito e não se sente cansada por isso, inicia diversos projetos, faz compras compulsivamente, passa muito tempo socializando, engaja-se em atividades de risco e chega a ter delírios de grandeza (acreditar ser capaz de fazer tudo), por exemplo.

Em geral, um episódio maníaco dura menos tempo que um episódio depressivo, frequentemente tendo seu curso limitado a uma semana apenas. Não raramente, o paciente pode cair em uma fase depressiva imediatamente após o término de uma fase de mania, porém é comum, também, que volte ao seu estado de humor normal (eutimia).

Hipomania

É importante ressaltar que a mania pode se manifestar de maneira bem mais amena: trata-se da hipomania. Nas fases hipomaníacas, há sintomas como excesso de energia, produtividade melhorada, entre outros, mas não há sintomas psicóticos como delírios e alucinações.

Episódio misto

Existem também casos em que os sintomas de depressão e de mania se misturam, dando origem a um episódio de humor misto. Nestes casos, podem haver alterações no apetite e padrões de sono, a pessoa pode sentir-se mal mas também cheia de energia e produtiva.

Tipos de transtorno bipolar

Existem alguns subtipos de transtorno bipolar com características diferentes que podem alterar o tratamento:

  • O tipo I é caracterizado pela presença de episódios maníacos e hipomaníacos;
  • O tipo II consiste na presença de episódios de hipomania, ou seja, os sintomas maníacos são mais amenos – esse tipo de TAB pode ser mais difícil de diagnosticar justamente por causa disso. Não há episódios de mania no tipo II;
  • A ciclotimia é caracterizada por períodos com sintomas de hipomania e de depressão leve que não são intensos nem duradouros o suficiente para o diagnóstico de episódios hipomaníacos ou depressivos;
  • Quando os sintomas não são o suficiente para o diagnóstico de transtorno bipolar, pode-se dar o diagnóstico de outro transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado ou não especificado.

Causas

Não se sabe exatamente as causas do TAB, mas estima-se uma série de fatores de risco, como:

Fatores genéticos

A presença de histórico familiar de transtorno bipolar é um dos maiores fatores de risco para o surgimento do transtorno em outros indivíduos da família. Quanto maior o grau de parentesco, maiores as chances de desenvolver o transtorno.

Fatores ambientais

O ambiente no qual a pessoa vive, desde fatores mais pessoais, como histórico de vida com abusos, traumas e perdas significativas, a fatores mais abrangentes, como a economia do país onde vive, pode influenciar no surgimento do TAB. O transtorno é mais prevalente, por exemplo, em países onde há renda mais elevada.

Vale lembrar que nem todas as pessoas que possuem o fator genético chegam a desenvolver o transtorno. Por isso, uma das hipóteses é que o transtorno só vai ser desencadeado caso hajam fatores ambientais também.

Sintomas

Os sintomas do transtorno bipolar aparecem nos momentos em que há episódios de mania, hipomania ou depressão. São eles:

Sintomas depressivos

  • Humor deprimido na maior parte do dia;
  • Falta de interesse ou prazer nas atividades durante a maior parte do dia;
  • Redução ou aumento do apetite;
  • Perda ou ganho significativo de peso sem fazer dieta;
  • Insônia ou hipersonia (dormir demais) quase todas as noites;
  • Falta de energia e cansaço;
  • Dificuldades para se concentrar, pensar e tomar decisões;
  • Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada;
  • Pensamentos frequentes sobre morte, incluindo ideação suicida.

Sintomas de mania

  • Humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável;
  • Autoestima inflada ou sentimento de grandiosidade (delírio de grandeza);
  • Redução da necessidade de sono;
  • Falar mais que o habitual;
  • Fuga de ideias;
  • Pensamento acelerado;
  • Distratibilidade (distrair-se facilmente);
  • Agitação psicomotora;
  • Aumento de atividades dirigidas a objetivos (projetos, trabalho, estudos etc.);
  • Sexualidade mais aflorada;
  • Envolvimento excessivo em atividades com altos riscos, como compras desenfreadas, relações sexuais de risco, investimentos financeiros insensatos, entre outros.

Uma pessoa em episódio de mania pode adotar comportamentos que muitas vezes não são aceitos socialmente, devido a possível presença de um delírio de grandeza, no qual pensa que é invencível e pode fazer tudo. Em alguns casos, o indivíduo pode cometer crimes e ter passagens pela polícia.

Sintomas de hipomania

De um modo geral, os sintomas de hipomania são parecidos com os episódios de mania, porém são mais amenos. Eles incluem:

  • Humor elevado, expansível ou irritável;
  • Menos necessidade de sono;
  • Sensação de ter muita energia para gastar;
  • Maior produtividade em projetos, trabalho, estudos etc.;
  • Distratibilidade;
  • Falar mais que o habitual;
  • Agitação psicomotora;
  • Fuga de ideias;
  • Pensamento acelerado.

Apesar da lista ser quase idêntica ao episódio maníaco, na hipomania não há o delírio de grandeza e, portanto, não há uma tendência tão grande de se envolver em atividades de risco. Esses envolvimentos podem acontecer, mas geralmente são menos graves do que nos casos de mania, e as consequências também são menos severas.

Diagnóstico

Em geral, o diagnóstico do TAB é feito por um psiquiatra após o relato dos sintomas, que são comparados aos critérios diagnósticos do transtorno. Não existem exames laboratoriais para realizar o diagnóstico, mas podem ser pedidos exames para certificar de que os sintomas não estão sendo causados por outras enfermidades.

É importante que os sintomas não possam ser explicados por outros transtornos mentais e que não estejam relacionados ao uso de substâncias como álcool, tabaco e drogas ilícitas. Esse critério pode ser um pouco desafiador, visto que é comum o uso de substâncias em episódios de mania. O psiquiatra deve investigar se os sintomas estão sendo causados pelo uso de substâncias ou se a pessoa faz o uso de drogas justamente durante os episódios de mania.

Os episódios de mania e hipomania demonstram uma mudança clara no funcionamento do indivíduo, o que não é normal em momentos de eutimia. Caso o funcionamento do paciente seja assim mesmo em estados eutímicos, pode-se tratar de um transtorno de personalidade e não de humor.

Além disso, os sintomas também precisam ter uma duração específica para que o diagnóstico seja feito, sendo:

  • Episódio maníaco: duração mínima de 1 semana;
  • Episódio hipomaníaco: duração mínima de 4 dias consecutivos;
  • Episódio depressivo: duração mínima de 2 semanas.

Transtorno bipolar tem cura? Qual o tratamento?

O transtorno bipolar não tem cura, mas com o tratamento adequado, os sintomas podem entrar em remissão e o indivíduo terá uma vida funcional.

O tratamento do transtorno afetivo bipolar é feito principalmente com medicação, pois geralmente o humor instável está relacionado a desequilíbrios eletroquímicos no cérebro que necessitam de medicamentos para serem tratados.

Os medicamentos mais comumente prescritos por psiquiatras são estabilizadores de humor e antidepressivos. Os antidepressivos não devem ser tomados sem estabilizadores de humor, pois podem desencadear um episódio de mania ou hipomania.

A psicoterapia também pode auxiliar no tratamento, fazendo o acompanhamento dos efeitos dos medicamentos, assim como ensinando técnicas para lidar com os episódios de humor alterado.

Consequências do TAB

O transtorno bipolar pode trazer muitas consequências negativas para a vida das pessoas, especialmente quando não tratado. Episódios depressivos podem prejudicar o trabalho e os estudos por absenteísmo ou baixa produtividade. Pode também prejudicar as relações interpessoais por conta de isolamento ou ausência em situações sociais. Ideação e tentativas de suicídio também podem ocorrer.

Episódios de mania também podem prejudicar a pessoa, apesar da alta produtividade. O indivíduo pode ter problemas na relação com colegas de trabalho, tentar pegar o trabalho inteiro para si ou até mesmo se envolver em projetos demais e não conseguir dar conta, especialmente quando o episódio maníaco acaba.

Ele também pode ter dificuldades em manter relacionamentos interpessoais por conta do delírio de grandeza, tendo dificuldade em perceber quando está fazendo algo que magoa os amigos, familiares ou o parceiro.

Uma pessoa com transtorno afetivo bipolar não tratado pode ter muitas dificuldades em manter uma vida funcional, enfrentando diversos desafios para manter-se em uma carreira e manter um bom círculo social a sua volta.

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Se você tem oscilações de humor que provocam alterações no seu funcionamento de maneira a causar sofrimento significativo, não se esqueça de entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de sua confiança!

Referências

American Psychiatric Association (2014). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed.

https://www.nimh.nih.gov/health/publications/bipolar-disorder/index.shtml

https://www.pfizer.com.br/noticias/Transtorno-bipolar-%C3%A9-manifestado-por-fatores-gen%C3%A9ticos-e-ambientais

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