Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): o que é, sintomas e mais

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O transtorno obsessivo-compulsivo, popularmente conhecido como TOC, é um transtorno mental caracterizado por pensamentos intrusivos e desagradáveis que geram ansiedade e angústia. Frequentemente, esses sentimentos são aliviados por atos compulsivos e repetitivos.

Esses atos compulsivos podem ser diversos e podem ser desenvolvidos em várias etapas, tornando-se cada vez mais complexos e recebendo o nome de “rituais”. Cada pessoa desenvolve seus próprios comportamentos e rituais, mas alguns exemplos comuns são contar ladrilhos, organizar as coisas de forma simétrica, higienizar-se com frequência, entre outros. O ato compulsivo pode ser apenas mental, como é o caso de contar ladrilhos.

Não é raro ver o TOC sendo retratado em forma de paródia na mídia, como se fosse apenas uns “tiques” engraçados. No entanto, trata-se de um problema sério que pode trazer muito sofrimento. Algumas pessoas podem chegar a acreditar que, caso não desempenhem o ritual, algo muito ruim irá acontecer com elas e com as pessoas que amam.

A frequência na qual os rituais e “tiques” se repetem pode se tornar insustentável, prejudicando a pessoa em sua vida social, acadêmica, no trabalho etc. O indivíduo pode evitar as situações que agem como gatilhos para suas compulsões. Existem casos de mães com TOC que evitam o contato com seus bebês, como quando há obsessões agressivas e mãe tem medo de acabar prejudicando a criança.

Felizmente, o TOC tem tratamento e as compulsões podem ser diminuídas significativamente, trazendo mais qualidade de vida ao paciente.

Os sintomas costumam aparecer durante a infância e adolescência, mas podem surgir mais tarde também. O transtorno é mais comum em meninos durante a infância, mas a partir da adolescência costuma se igualar, tendo a mesma frequência tanto em homens quanto em mulheres. Apesar do início precoce, o diagnóstico costuma ser feito tardiamente, como no final da adolescência ou início da vida adulta.

Sintomas do TOC

O principal sintoma do TOC é a presença de pensamentos obsessivos. Em segundo lugar, há os comportamentos compulsivos, que nem sempre estão presentes.

Pensamentos obsessivos

Os pensamentos obsessivos, ou obsessões, são descritos como pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes e persistentes que são vistos como intrusivos, indesejados e desagradáveis, causando ansiedade acentuada e angústia.

Em geral, pessoas que sofrem com pensamentos obsessivos tentam ignorar o suprimir esses pensamentos, ou até mesmo neutralizá-los com outros pensamentos e ações, o que dá origem às compulsões.

Compulsões

As compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que surgem como resposta a uma obsessão. O objetivo das compulsões é aliviar a ansiedade e o sofrimento proveniente dos pensamentos obsessivos.

Não raramente, esses comportamentos não têm uma conexão realista com as obsessões, mas servem para aliviar a angústia que a pessoa sente. É o caso de quando uma pessoa organiza objetos para evitar que algo de ruim aconteça com as pessoas que ama, por exemplo. Algumas vezes, as compulsões são claramente excessivas e percebidas como desnecessárias por outras pessoas, como a compulsão por lavar as mãos mais vezes do que o necessário.

Alguns exemplos de atos mentais compulsivos são orações, repetição silenciosa de palavras ou contar objetos sem um motivo aparente.

Em crianças, as compulsões podem ser vistas como comportamentos normais da idade, mas é importante estar atento e investigar quando se torna exagerado para evitar um diagnóstico tardio. Além disso, crianças podem ter dificuldade em relatar que o objetivo desses comportamentos está relacionado ao alívio de uma obsessão.

TOCs mais frequentes

Como visto anteriormente, o TOC é caracterizado por pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos (às vezes ausentes) que se desenvolvem de maneira diferente em cada pessoa. Sendo assim, não existe um único tema para os pensamentos obsessivos, nem uma única maneira que as compulsões se manifestam. No entanto, existem casos mais frequentes, como por exemplo:

Limpeza

Muitas pessoas tem o “TOC de limpeza”, que inclui pensamentos obsessivos relacionados a contaminação e comportamentos compulsivos de limpeza.

É aquela pessoa que precisa estar frequentemente se limpando, hesita ao tocar em objetos que não foram higienizados, podendo ter dificuldades até mesmo para tocar outras pessoas.

Simetria

Muitas pessoas têm obsessões de simetria, tendo compulsões por organizar as coisas de forma simétrica, repetir movimentos e falas, contar objetos, entre outros.

Pensamentos proibidos/tabus

Os pensamentos obsessivos relacionados a tabus são frequentemente sobre agressão, temas sexuais e religiosos. As compulsões costumam ocorrer, com frequência, de modo a impedir que o indivíduo se engaje em alguma dessas atividades consideradas tabus.

Ferimentos

Inclui o medo de ferir e prejudicar a si mesmo ou aos outros. As compulsões são frequentemente atos de verificação para impedir que tragédias e ferimentos aconteçam.

Fatores de risco

As causas do transtorno obsessivo-compulsivo não são claras e, portanto, só se pode falar em fatores de risco, que são fatores que aumentam as chances de desenvolver o transtorno. Os principais fatores de risco para o TOC são:

  • Fatores ambientais: Eventos estressantes e traumáticos estão associados a um risco maior de desenvolvimento de TOC, especialmente abusos físicos e sexuais durante a infância;
  • Fatores genéticos: O histórico familiar de TOC aumenta as chances de desenvolver o transtorno, revelando a existência de um fator genético.

Diagnóstico

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-V), o diagnóstico do transtorno obsessivo-compulsivo é feito a partir dos seguintes critérios:

  • Presença de obsessões, compulsões ou ambas;
  • As obsessões e compulsões tomam tempo (mais de uma hora por dia), causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida da pessoa;
  • Os sintomas não são devidos ao uso de substâncias (drogas de abuso, medicamentos) ou condições médicas;
  • Os sintomas não são melhor explicados por outros transtornos mentais.

Antigamente, o TOC estava dentro da categoria de transtornos de ansiedade no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, 4ª edição revisada (DSM-IV-TR). No entanto, na 5ª versão do manual (DSM-V), ele ganhou uma seção própria chamada “Transtorno Obsessivo-Compulsivo e Transtornos Relacionados”.

Uma distinção feita no DSM-V é o insight, que pode indicar a gravidade do transtorno:

    • Insight bom ou razoável: Quando o indivíduo têm autocrítica preservada e sabe que os pensamentos obsessivos não são realidade, porém continua sofrendo com eles. Exemplo: a pessoa acredita que pode se perder no caminho de casa se não contar os postes de luz na rua. Ela sabe que isso provavelmente não irá acontecer, mas continua sentindo angústia e, por isso, continua com os comportamentos compulsivos;
  • Insight pobre: A pessoa acredita no seu pensamento obsessivo, mas não tem convicção. Exemplo: a pessoa acha que, se não contar os postes de luz na rua, ela provavelmente irá se perder no caminho de casa, porém sabe que isso é uma probabilidade e não uma certeza;
  • Insight ausente: Em casos mais graves, a pessoa deixa de compreender os pensamentos intrusivos como obsessões e passa a acreditar que eles são verdade, aproximando-se de um delírio. Exemplo: a pessoa tem plena convicção de que irá se perder no caminho de casa se não contar os postes de luz na rua.

Tratamento

O tratamento do TOC pode ser feito com medicamentos e com psicoterapia.

Os medicamentos usados incluem antidepressivos e, em alguns casos, ansiolíticos e antipsicóticos. Já a psicoterapia pode ser feita em diversas abordagens, mas uma especialmente eficaz é a terapia cognitiva-comportamental (TCC).

A TCC trabalha diretamente com as obsessões ao acessar as crenças disfuncionais que a pessoa pode ter acerca de sua vida e de si mesmo. Ela também auxilia no controle das compulsões, ajudando o paciente a encontrar alternativas menos prejudiciais para lidar com a ansiedade proveniente das obsessões.

Prognóstico

O TOC não tem cura, mas seus sintomas podem ser diminuídos com o tratamento adequado. A pessoa pode levar uma vida funcional, conservando suas amizades, trabalho, estudos, entre outros.

Os resultados são melhores quanto antes iniciado o tratamento. Caso não haja tratamento, os sintomas tendem a piorar com o tempo.

Se você sofre com alguns sintomas de TOC vez ou outra, não se preocupe: se eles não são frequentes e você não acaba sofrendo muitos prejuízos, você pode ter o chamado “TOC subclínico”, que é quando os sintomas estão presentes mas não são intensos e frequentes o suficiente para configurar um diagnóstico ou necessitar tratamento.

Entretanto, se você sente que tem sintomas de TOC e acha que sua vida está sendo prejudicada por eles, não se esqueça de entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de sua confiança.

Referências

American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed.

Araújo, Á. C. & Lotufo Neto, F. (2014). A nova classificação Americana para os Transtornos Mentais: o DSM-5. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 16(1), 67-82. Recuperado em 22 de agosto de 2019, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452014000100007&lng=pt&tlng=pt.

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