Sempre acreditou-se que a autoestima é um dos fatores de extrema importância para o bem-estar de um indivíduo, aprece não se bem assim. saiba mais neste artigo sobre autoaceitação. Muitas pessoas não medem esforços para melhorar a autoestima, seja através de livros de autoajuda ou seguindo o planejamento de um coach, repetindo sempre frases como “eu sou capaz”, “eu mereço amor” e “eu consigo!”.
Essa ideia de que frases positivas acerca de si mesmo são eficazes para manter uma boa autoestima é tão difundida que, a todo momento, somos bombardeados por mensagens positivas nas redes sociais, nas propagandas e até mesmo em conversas com amigos. Estamos cercados de mantras de autoafirmação que são apontados como a solução para uma autoestima ruim mas que, na realidade, talvez não sejam tão positivos para a saúde mental a longo prazo, de acordo com algumas pesquisas.
Em 2009, Wood, Perunovic e Lee publicaram uma pesquisa que mostra que, além de pessoas com baixa autoestima terem dificuldade em enxergar suas qualidades e valorizar a si mesmas, elas também se sentem piores ao usar frases de autoafirmação. Ou seja, as pessoas que mais necessitam de um conteúdo que as ajudem a melhorar a autoestima na realidade não se beneficiam do conteúdo disponível no mercado atualmente.
As afirmações positivas vindo de fora também não ajudam. De acordo com Hixon e Swann (1993), pessoas que têm uma visão negativa sobre si mesmas podem até se sentir felizes ao receber elogios, mas esse sentimento logo desaparece e é substituído pela sensação de que os elogios são vazios e imprecisos.
Outras pesquisas mostram também que esses indivíduos preferem interagir com pessoas que reconhecem suas qualidades negativas do que com pessoas que as vêem de maneira mais positiva. Ou seja, elas preferem se relacionar com pessoas que as vêem de uma maneira mais “precisa”, mais próximas de como elas mesmas se enxergam. De acordo com essas pesquisas, se esses indivíduos se casam com pessoas que as percebem de maneira mais positiva do que elas próprias, é possível uma retração emocional e até mesmo divórcio.
Por que isso acontece?
Mesmo tendo visões relativamente negativas acerca de si mesmas, por que as pessoas preferem parceiros que as vejam da mesma forma? A resposta a essa pergunta foi postulada por William Swann, um psicólogo social, em 1981. Swann desenvolveu a teoria da auto-verificação, cujo pressuposto principal é que as pessoas desejam que os outros as vejam como elas mesmas se vêem.
Isso acontece porque a visão que temos de nós mesmos é extremamente importante para guiar nossa visão de mundo e nosso comportamento, ou seja, agimos do jeito que agimos por causa do jeito que acreditamos ser. Essa visão traz uma certa estabilidade e congruência no jeito de agir e de pensar, o que torna as relações e interações sociais mais previsíveis e, consequentemente, mais fáceis de conduzir.
A medida em que o tempo passa, as pessoas começam a preferir se relacionar com pessoas que reafirmam essa visão sobre si mesmas e isso se torna confortante, mesmo que essas visões não sejam tão positivas. Ao mesmo tempo, quando um outro traz uma visão que não é compatível com a que a pessoa tem de si mesma, isso acaba gerando desconforto e ansiedade, porque a pessoa assume que existe algo de errado com as suas certezas acerca de si mesma e do mundo.
Essa auto-verificação não afeta interações e relações rápidas e desimportantes, ou seja, o indivíduo pode até receber elogios de pessoas não muito próximas sem que isso seja mal aceito. Contudo, quando se trata de um relacionamento mais íntimo e duradouro, como uma amizade ou uma parceria romântica, a relação tende a ser afetada por essas incongruências na visão de si mesmo e na visão dos outros. As pessoas farão de tudo para que elas sejam vistas pelos outros da forma que elas mesmas se percebem, a fim de realizar a auto-verificação.
Pessoas com baixa autoestima são masoquistas?
Sabendo disso, é fácil pensar que pessoas com baixa autoestima na realidade são masoquistas, ou seja, gostam de sofrer com pessoas que as vêem de maneira negativa, como elas mesmas se vêem. Contudo, isso não é bem verdade.
Embora pessoas com baixa autoestima possam ter dificuldades em aceitar elogios, isso não significa que elas não desejam ser amadas e bem vistas pelos outros. Significa, apenas, que o bem-estar que deveria vir desses elogios se torna em mal-estar depois de um tempo. Essas pessoas têm, na realidade, uma resposta ambivalente em relação aos elogios: de início, podem reagir ficando felizes mas, depois de um tempo, acabam por se sentirem mal por achar que não são tudo isso realmente.
A auto-verificação é ruim?
A tendência a se relacionar preferencialmente com pessoas que reafirmam suas visões sobre si mesmo pode parecer ruim de início, especialmente quando se trata de pessoas com visões majoritariamente negativas sobre si mesmas. Contudo, a auto-verificação costuma ser, na realidade, bastante positiva para a maior parte das pessoas, que possuem visões relativamente boas sobre si mesmas.
Portanto, não é possível dizer que se trata de um fenômeno bom ou ruim, pois para algumas pessoas essa auto-verificação pode trazer resultados saudáveis e, para outras, ela pode ser prejudicial. Pessoas com autoestima muito baixa ou pessoas altamente narcisistas podem ser prejudicadas por esse fenômeno, tendo em vista que suas visões acerca de si mesmas costumam ser bastante distorcidas.
Já para pessoas que possuem visões mais realistas acerca de si mesmas, ou seja, conseguem ver suas qualidades e defeitos sem que isso cause alterações extremas na autoestima, a auto-verificação está ligada a resultados bastante positivos. Para essas pessoas, a auto-verificação traz estabilidade e coerência em suas vidas. Tal coerência pode servir de ajuda em vários aspectos: bem-estar, relacionamentos, objetivos de vida, entre outros. Há pesquisas que mostram que, no ambiente de trabalho, exercícios de auto-verificação em grupo acabam por aumentar a produtividade das equipes, assim como combatem estereótipos sociais.
Quando se trata de pessoas que sofrem com baixa autoestima, pode surgir um problema. Pessoas que possuem pensamentos muito distorcidos acerca de si mesmas podem acabar ficando em relacionamentos ruins com pessoas que as colocam “para baixo” e fugir de pessoas que as tratariam melhor, tudo por conta dessa necessidade de auto-verificação. O mesmo ocorre no trabalho, no qual a auto-verificação pode tornar uma pessoa mais suscetível a tolerar tratamentos injustos e outros abusos.
Nesses casos, pode ser necessário um tratamento psicológico para que a pessoa consiga quebrar esses padrões de pensamento disfuncionais que permitem uma visão negativa acerca de si mesma, conseguindo assim desenvolver uma visão mais realista e uma melhora na autoestima, que permite que a auto-verificação (e, consequentemente, a auto-afirmação) tenha resultados positivos em sua vida.
Se você acredita que sofre com problemas e autoestima, já testou diversos mantras autoafirmativos e não viu resultados, não se preocupe porque você não está sozinho. Esse é um fenômeno real, que acontece com muitas pessoas, mas não significa que não há como melhorar.
Buscar um tratamento adequado com um profissional da saúde mental pode ser de grande auxílio nessas questões. Não hesite em entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança!
Referências
https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-guest-room/200911/the-danger-self-affirmation