O perigo do consumo de álcool na quarentena

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Em um momento no qual atividades não essenciais estão sendo suspensas, tomar uma cerveja no barzinho com os amigos se tornou impossível (e irresponsável). Seria possível imaginar que, por conta disso, o consumo de álcool estaria diminuindo durante esse período de isolamento social, mas pesquisas nos Estados Unidos mostram que, na realidade, a venda de bebidas alcoólicas estão aumentando!

No Brasil, o cenário pode ser parecido. Devido ao distanciamento, muitas pessoas estão se conectando com os amigos e familiares por meio de chamadas de vídeo, e a cultura da cerveja do final de semana não precisou acabar. Reuniões com os amigos através de aplicativos como Zoom ou Skype estão acontecendo a todos os momentos, cada um com suas respectivas bebidas, em uma espécie de “happy hour” à distância.

Inicialmente, isso não seria um problema caso o consumo fosse responsável — no entanto, a existência de uma pandemia pode acabar fazendo com que as pessoas bebam em maior quantidade e com mais frequência, o que pode ser bastante perigoso.

Ansiedade e consumo de álcool

É evidente que a pandemia de Covid-19 aumentou os níveis de ansiedade da população mundial. Muitos estudos mostram que situações que aumentam os níveis de ansiedade aumentam também o consumo de álcool. Pessoas que sofrem com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), um transtorno de ansiedade que surge a partir de um trauma, frequentemente desenvolvem problemas de abuso de álcool.

Períodos de crise mundial, como guerras ou uma pandemia, são grandes fatores de risco para o desenvolvimento deste transtorno, especialmente para as pessoas que estão lidando todos os dias com os perigos, como trabalhadores da saúde ou trabalhadores de serviços essenciais, que estão sendo constantemente expostas ao vírus.

Em um período assim, é de se esperar que o consumo de álcool seja aumentado. Inicialmente, o álcool possui um efeito ansiolítico, ou seja, ele auxilia na diminuição da ansiedade, o que ajuda a entender porque algumas pessoas recorrem ao álcool em momentos assim. Contudo, esse efeito é apenas inicial; na realidade, a longo prazo, o consumo de álcool pode piorar quadros de ansiedade, especialmente em pessoas que possuem diagnóstico de algum transtorno deste tipo.

O alcoolismo em tempos difíceis

O vício em álcool, também conhecido como alcoolismo, é um problema sério que precisa ser tratado. Neste contexto, é importante ressaltar que existem pessoas mais propensas ao consumo abusivo e ao vício por conta de fatores hereditários.

A presença de um histórico familiar de alcoolismo aumenta significativamente as chances de uma pessoa acabar desenvolvendo o vício, mas isso não significa que pessoas que não têm histórico familiar estão completamente seguras. Alguns traços da personalidade podem contribuir para o desenvolvimento da doença, como por exemplo a impulsividade.

Além disso, os genes também influenciam na maneira que o organismo processa o álcool — por isso existem algumas pessoas mais resistentes que as outras. Algumas pessoas podem ter uma alta tolerância, de modo que precisam de grandes quantidades de álcool para sentir seus efeitos, o que coloca a saúde do corpo em risco.

A existência de todos estes fatores, no entanto, não é o suficiente para que uma pessoa desenvolva o alcoolismo, sendo necessário um último fator: o ambiente. Em tempos difíceis, é comum que uma grande quantidade de pessoas recorra ao álcool para “lidar” com a situação, de modo a fazer o uso abusivo e frequente. Levando em consideração uma cultura mundial na qual o álcool é associado a momentos de relaxamento, comemoração e confraternização, é compreensível o uso dessa substância para lidar com os sentimentos desagradáveis que surgem do isolamento social e do medo da pandemia.

Contudo, justamente por ser usado como uma estratégia compensatória de sentimentos ruins, é muito fácil acabar ocorrendo o uso abusivo, que é quando a quantidade de álcool consumida é acima do considerado saudável. Embora pareça comum e inofensiva, a embriaguez já é um sinal de uso abusivo. Aliado a isso, na quarentena existe o conforto de estar em sua própria casa, então é muito fácil uma pessoa acabar consumindo álcool excessivamente achando que não está correndo nenhum perigo justamente por estar em casa.

Em geral, a idade em que a maior parte das pessoas desenvolve o vício em álcool é nos meados dos 20 anos. Contudo, ter passado dessa idade não torna uma pessoa imune ao transtorno, especialmente levando em conta as condições ambientais atuais. Especialmente no caso de pessoas com predisposição a depressão e ansiedade, os problemas com álcool podem iniciar ainda mais tarde na vida. Portanto, cuidar-se é imprescindível em qualquer idade.

Como evitar problemas com álcool durante a quarentena

Embora o consumo de álcool durante a quarentena esteja subindo, o isolamento também pode ajudar a diminuir o consumo. Algumas dicas para evitar desenvolver problemas com álcool durante este período são:

  • Se possível, manter-se abstinente, ou seja, evitar tomar álcool em geral;
  • Se for beber, lembre-se de beber com moderação: segundo a Organização Mundial da Saúde, a fim de evitar o desenvolvimento de problemas com álcool, o consumo máximo por semana deve ser de 21 unidades para os homens e 14 unidades para as mulheres, sendo que cada unidade equivale a 10 gramas de álcool. A fim de tornar os números mais palpáveis, uma lata de cerveja de 350mL equivale a 1,7 unidades;
  • Evite sair de casa para comprar apenas bebidas — vá no mercado, por exemplo, apenas se estiver precisando de mais coisas do que bebidas alcoólicas;
  • Seguindo esta mesma lógica, se for ao mercado fazer as compras para a semana, limite a quantidade de bebidas compradas a poucas unidades, assim evitará fazer um estoque potencialmente perigoso em casa.Passar por um momento mundialmente impactante como uma pandemia pode ser bastante desagradável, mas recorrer ao uso de substâncias para se sentir bem pode não ser uma boa ideia. Tomar algumas cervejas em videoconferência com os amigos pode ajudar a combater a solidão, mas é necessário cautela e responsabilidade.Se você sente que está com problemas para controlar o seu consumo de álcool, não hesite em entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança!Referências

    https://www.psychologytoday.com/intl/blog/genes-environments-and-human-behavior/202005/worried-about-alcohol-use-during-the-pandemic

    https://aps.bvs.br/aps/qual-a-quantidade-de-alcool-que-as-pessoas-podem-tomar-para-nao-serem-consideradas-alcoolistas/

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