Sorrisos amarelos, respostas que dificultam a comunicação e uma sensação de que aquela “gentileza” não foi feita de boa vontade — estes são sinais claros de um comportamento passivo-agressivo, que busca mascarar a raiva por meio de atitudes aparentemente pró-sociais. Geralmente, tais comportamentos têm como objetivo irritar a pessoa de quem o indivíduo sente raiva, mas de forma a não parecer culpado pela irritação.
O comportamento passivo-agressivo é caracterizado pela junção da passividade e da agressão em um comportamento apenas. Estes comportamentos podem ser expressos por vitimização, procrastinação, teimosia, ressentimentos, entre outros. Esse tipo de comportamento é muito visto em crianças fazendo “birra”, mas também é visto em adultos mais velhos dependendo da situação.
A longo prazo, esse tipo de comportamento pode prejudicar as relações interpessoais, sendo mais prejudicial até que a agressão direta. Tais comportamentos levam a confusões, problemas de comunicação e de confiança dentro de um relacionamento.
Exemplos de comportamentos passivo-agressivos
Alguns exemplos de comportamentos passivo-agressivos são:
- Reprimir ou negar sentimentos de raiva;
- Evitar expressar seus sentimentos negativos, dizendo que está bem mesmo quando está visivelmente incomodado;
- Ficar em silêncio intencionalmente, o famoso “dar um gelo”;
- Agir de forma a irritar os outros pouco a pouco;
- Fazer promessas de cooperação mas secretamente fugir dessas obrigações;
- Procrastinar ou realizar as tarefas de forma ineficiente;
- Ser evasivo e/ou reservado;
- Utilizar meios de comunicação como mensagens de texto, e-mails e mídias sociais para evitar o contato direto;
- Projetar sentimentos de raiva nos outros;
- Fazer-se de vítima em relação a uma pessoa que expressa sua raiva abertamente;
- Agir de maneira manipuladora e controladora;
- Fazer com que os outros reprimam a própria raiva e, eventualmente, tenham ataques de raiva;
- Fazer muitas promessas de mudança de comportamento (e não mudar);
- Fazer com que os outros se sintam em uma montanha-russa de emoções.
Por que as pessoas agem de forma passivo-agressiva?
As pessoas emitem esse tipo de comportamento por vários motivos, como por exemplo evitar uma abertura emocional ou evitar conflitos causados pelo sentimento de raiva. Uma pessoa que costuma ter um comportamento passivo-agressivo geralmente acredita que seria pior se ela expressasse sua raiva de forma direta, fazendo-o indiretamente.
Pessoas que se utilizam muito desse tipo de comportamento geralmente também sentem uma espécie de prazer secundário ao frustrar as outras pessoas.
Ser passivo-agressivo é um transtorno?
Algumas pessoas possuem um padrão de comportamento passivo-agressivo muito evidente, sendo uma espécie de traço de personalidade. Contudo, sendo um traço tão indesejável, há quem pense que deveria ser um transtorno.
De fato, na 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), existia um “transtorno de personalidade passivo-agressiva”, ou “transtorno de personalidade negativista”. Contudo, com a revisão e o lançamento da 4ª edição do livro (DSM-IV), esse transtorno foi removido por necessitar de mais pesquisas para constatar o que seria este transtorno, quais seus critérios diagnósticos, entre outros. Ainda hoje são feitas pesquisas para determinar essas variáveis.
Como lidar com o comportamento passivo-agressivo?
Tendo em vista que o comportamento passivo-agressivo tem como objetivo irritar os outros de forma que o indivíduo que emite os comportamentos não seja visto como culpado, lidar com esse tipo de situação pode ser bem complicado.
Especialmente no caso do comportamento passivo-agressivo, é possível que a conversa caia em um ciclo do qual é difícil sair sem maiores conflitos. Por isso, aprender a identificar esse tipo de comportamento antes de entrar neste ciclo é de extrema importância.
Ajudar o indivíduo a expor sua raiva de maneira cuidadosa é imprescindível para evitar esse conflitos maiores. Felizmente, existe uma técnica que pode ajudar a cortar esse ciclo e resolver os problemas de maneira eficiente, chamada “confrontação benigna”.
A confrontação benigna é uma técnica de 6 passos que busca modificar o comportamento passivo-agressivo a longo prazo. A estratégia se baseia em mostrar como o comportamento passivo-agressivo não é efetivo e a pessoa não irá conseguir o que ela quer (irritar os outros). Os 6 passos são:
1. Reconhecer o comportamento passivo-agressivo
O passo mais importante é reconhecer o comportamento passivo-agressivo. Se a pessoa está ignorando, pode ser porque ela realmente não ouviu o que você falou — repita algumas vezes para verificar e, se mesmo assim ela não responder, há uma grande possibilidade de você estar lidando com um comportamento passivo-agressivo. O mesmo vale para situações de procrastinação e teimosia.
2. Recusar-se a participar do ciclo passivo-agressivo
É muito fácil, após perceber o comportamento passivo-agressivo, acabar entrando em um ciclo de raiva e agir de forma passivo-agressiva com a pessoa também. É de extrema importância que você tenha consciência dos seus sentimentos de raiva para evitar de agir da mesma forma.
3. Afirmar os sentimentos de raiva
Levando em conta que o comportamento passivo-agressivo busca mascarar a raiva sentida, é importante que a pessoa aprenda a expressar essa raiva ao invés de tentar irritar os outros. Neste momento, você pode ajuda a pessoa ativamente, fazendo com que ela perceba que você sabe dos sentimentos dela e que não adianta ela agir desse jeito.
Se um casal tem uma briga e um dos parceiros resolve ignorar o outro, o parceiro que está tentando restabelecer a comunicação pode dizer “estou vendo que você está evitando falar comigo, gostaria de entender o porquê”. Se o parceiro continua em silêncio, pode-se dizer “eu imagino que você esteja magoado comigo, mas se esse é o caso podemos conversar sobre o que está sentindo ao invés de manter o silêncio”.
4. Lidar com a negação
Passando o 3º passo, é bem provável que a pessoa negue seus sentimentos negativos. Além disso, há uma tendência que a pessoa faça comentários para tentar irritar o outro, a fim de colocá-lo no ciclo da passivo-agressividade. É necessário ter consciência dos próprios sentimentos de raiva e voltar ao segundo passo, recusando-se a entrar no ciclo.
Tente lembrar a pessoa qual o propósito dessa interação, ou seja, se ela precisa fazer algo e está procrastinando, lembre-a da tarefa que precisa ser feita, mas não insista. Neste momento, é provável que a pessoa passe a enxergar o pedido com outros olhos, tendo em vista que seus sentimentos já foram desmascarados e não houveram consequências negativas.
5. Revisitar a situação
Em geral, o comportamento passivo-agressivo se repete ao longo do tempo. Então, sempre que a pessoa agir de maneira passivo-agressiva, lembre-a de outras situações em que ela agiu assim e sobre como isso não resultou em nada. Pode-se perguntar, por exemplo, “eu percebi que você está agindo da mesma maneira que agiu naquela situação e imagino que isso quer dizer que você está chateado comigo. O que você acha?”.
6. Identificar áreas de competência
Por fim, além de permitir que a pessoa admita sua raiva e a expresse gradualmente, é importante identificar e valorizar as áreas de competência da pessoa. Caso contrário, ela pode sentir que está sendo sempre punida, ao invés de estar sendo compreendida e valorizada.
Desta forma, a pessoa consegue compreender que embora o comportamento passivo-agressivo não seja eficaz, ainda vale a pena tentar manter uma relação interpessoal. Isso faz com que a pessoa se torne mais aberta a tentar se relacionar com os outros de uma maneira mais emocionalmente honesta.
O comportamento passivo-agressivo está presente na vida de muitas pessoas e lidar com ele pode parecer extremamente complicado de início. No entanto, tendo noção do ciclo de comportamento passivo-agressivo e sabendo direcionar a conversa para um diálogo emocionalmente honesto, é possível quebrar este ciclo e melhorar tais comportamentos.
Se você acha que tem problemas em expressar sua raiva ou sente que seu filho pode estar emitindo muitos comportamentos do tipo, não hesite em entrar em contato com um profissional da saúde mental de confiança!
Referências