Introversão, teoria da mente e autismo: existe relação?

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Introversão e extroversão se referem aos padrões de funcionamento social que as pessoas têm, sendo considerados traços de personalidade bem importantes. Historicamente, a introversão sempre foi definida como o contrário da extroversão.

No entanto, pesquisas mais recentes demonstram que a introversão possui algumas características próprias que a colocam como um conceito à parte, não sendo necessariamente o exato oposto da extroversão. Pesquisadores atuais debatem a existência de uma relação mais consistente entre introversão, teoria da mente e autismo.

Definição clássica de extroversão e introversão

Para compreender a definição clássica de introversão, é necessário entender a extroversão, que é caracterizada pela abertura ao contato social, a necessidade de interações sociais frequentes e a interação social como uma “fonte de energia”.

Resumidamente, o extrovertido se sente energizado para levar sua rotina após passar o tempo com outras pessoas e seu bem estar acaba sendo altamente influenciado pela frequência das interações sociais.

Já o introvertido, nesta definição, seria o contrário disso: energiza-se ao passar tempo sozinho, sente-se cansado ao passar muito tempo com outras pessoas, tem uma necessidade de interações sociais significativamente menor, geralmente possui poucos amigos, entre outros.

A introversão como conceito próprio

O que alguns pesquisadores notaram ao longo do tempo foi que a introversão possui características próprias, não podendo ser vista apenas como o contrário da extroversão.

Enquanto alguns introvertidos gostam da companhia de pessoas, outros preferem mergulhar em livros e filmes; alguns introvertidos não se sentem mal de se comportar de maneira mais extrovertida, sendo ficar sozinho apenas uma preferência, ou seja, não há uma aversão ao contato social, enquanto outros realmente se sentem muito desconfortáveis ao interagir com outras pessoas. Resumindo, a introversão possui uma grande variedade de manifestações, e colocá-la apenas como o contrário da extroversão acaba sendo simplista demais.

Há pesquisadores que começaram a compreender a introversão não apenas como um conceito próprio, mas como uma parte da escala do Transtorno de Espectro Autista (TEA). Essa ideia, proposta por Jennifer O. Grimes, indicaria a introversão como um dos extremos do contínuo do espectro autista, como a versão “mais leve”, sem a manifestação dos outros sintomas descritos no transtorno.

Neste sentido, as dificuldades em interações sociais mais leves fariam parte do extremo “introvertido” do contínuo, enquanto maiores dificuldades iriam mais para frente no espectro, chegando na síndrome de Asperger — que faz parte do espectro como autismo de alto funcionamento — até, no fim da escala, chegar em níveis de autismo de baixo funcionamento.

Resumindo, é como se a introversão tivesse um contínuo só dela, no qual no primeiro extremo há a simples introversão, e no outro extremo encontra-se o transtorno de espectro autista. Embora isso possa parecer preocupante para os introvertidos de plantão, não é exatamente o caso: a introversão seria uma condição subclínica, ou seja, que não necessita de cuidados clínicos e permite uma vida funcional sem que sejam necessárias adaptações.

Essa visão da introversão teria algumas vantagens, pois explicaria algumas inconsistências na definição clássica. Como pode algumas pessoas tidas como introvertidas agirem de forma extrovertida sem problemas? Se tratarmos a introversão como o exato oposto da extroversão, isso não seria possível. Tratando a introversão como um conceito a parte, é possível assumir a existência de momentos de maior extroversão em pessoas introvertidas.

Introversão e teoria da mente

Teoria da mente é a capacidade de compreender que as outras pessoas possuem mentes próprias, com conhecimentos e estados mentais próprios. Isso quer dizer compreender que o que outra pessoa está sentindo é diferente do que o próprio indivíduo sente, compreender que o outro pode não ter informações que o próprio tem, entre outros.

Existe uma correlação entre o autismo e a teoria da mente. Em suma, o transtorno de espectro autista é caracterizado por um déficit na teoria da mente, o que justifica a dificuldade do indivíduo que sofre com TEA de identificar emoções em outras pessoas, bem como outras dificuldades interpessoais.

No que tange a introversão, a teoria da mente pode ter alguma influência se levarmos em conta a definição clássica da introversão. Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, descreveu a introversão como uma tendência a preocupar-se predominantemente com a própria vida mental. Ou seja, o introvertido, para Jung, é uma pessoa que vive mais dentro da própria cabeça do que em contato com os outros.

Neste, sentido, fica fácil ver uma relação entre um déficit na teoria da mente e a introversão, tendo em vista que a pessoa está tão investida na própria mente que acaba por não prestar atenção na possibilidade de outras pessoas possuírem outros estados mentais. Não se trata de um egoísmo ou egocentrismo, mas uma dificuldade de “sair do próprio mundinho” e adentrar no de outras pessoas.

Todas as pessoas com TEA são introvertidas?

Uma questão que surge a partir dessa reflexão é se todas as pessoas que sofrem com o transtorno de espectro autista podem ser categorizadas como introvertidas. A resposta é complexa, pois se trata de uma discussão em andamento.

Embora Jennifer Grimes tenha proposto a introversão como uma parte subclínica do TEA, a verdade é que muitos estudiosos e pesquisadores não concordam com essa ideia. Por isso, não existe um consenso, mas muitos acreditam que existem pessoas com autismo que são extrovertidas.

Contudo, o transtorno de espectro autista pode fazer com que essas pessoas se limitem a pequenos grupos de amigos, fazendo parecer que se trata de pessoas introvertidas. Isso porque sintomas como dificuldades em compreender as expressões faciais dos outros, dificuldades em compreender sarcasmo e piadas, uma sensibilidade maior a estímulos sensoriais como luzes, barulhos e toques, entre outros, fazem com que o acesso a certas interações sociais comuns a pessoas extrovertidas sejam dificultadas para pessoas com TEA, como por exemplo festas, comer em restaurantes, shows, baladas, entre outros.

Embora a relação entre o transtorno de espectro autista, a introversão e a teoria da mente ainda esteja sendo investigada, as discussões são bem interessantes e merecem atenção.

Se você se identificou com algum dos tópicos discutidos, não esqueça de entrar em contato com um profissional da saúde mental de confiança para receber o tratamento adequado caso necessário.

Referências

https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-introverts-corner/201104/theory-about-introversion-extroversion-and-autism

https://www.verywellhealth.com/are-autistic-people-introverts-4691154

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