Função executiva e os prejuízos nos transtornos mentais

Responsável pela capacidade de realizar as tarefas do nosso dia-a-dia, a função executiva pode sofrer influência de vários transtornos mentais. Entenda!
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Os transtornos mentais são conhecidos por trazerem uma série de alterações emocionais, bem como alterações no humor e no juízo de uma pessoa. Contudo, às vezes eles podem trazer ainda mais limitações, como é no caso dos transtornos que afetam a função executiva.

Incapacidade de prestar atenção, dificuldade em reter memórias e planejar o dia são alguns exemplos do que pode acontecer quando algum transtorno está afetando estes processos cognitivos tão relevantes para o dia-a-dia.

Neste artigo, iremos falar sobre a função executiva, quais são suas características, o que acontece quando ela é afetada e quais os principais transtornos que promovem alterações nestes processos mentais.

O que é função executiva?

A função executiva é um grupo de processos mentais que permitem o planejamento, a execução e a manutenção das tarefas que encontramos no dia-a-dia. Estes processos funcionam de forma integrada e são os responsáveis por permitir ações voluntárias e comportamentos direcionados a objetivos.

Dentre estes processos estão a memória de trabalho, a capacidade de planejamento, a inibição de comportamentos, entre outros.

Problemas na função executiva levam a dificuldades de concentração, dificuldades para seguir instruções, lidar com as emoções, planejar com antecedência, entre outros.

Em geral, pode-se dizer que a função executiva é responsável por grande parte das habilidades mentais necessárias para ter uma vida funcional, como por exemplo:

  • Prestar atenção;
  • Organizar, planejar e estabelecer prioridades;
  • Iniciar tarefas e manter-se focado até que as tarefas sejam concluídas;
  • Regulação emocional;
  • Monitoramento das tarefas e atividades que está realizando.

Algumas das principais funções cognitivas que compõem a função executiva são:

Memória de trabalho

A memória de trabalho é um tipo de memória que permite o armazenamento temporário de informações enquanto a pessoa está realizando uma tarefa.

Se você liga para a pizzaria, por exemplo, precisa lembrar o número a ser discado ao mesmo tempo em que precisa lembrar quais sabores de pizza pretende pedir, ao mesmo tempo em que efetivamente disca o número e fala com o atendente.

Este é um exemplo da memória de trabalho em ação: manter uma informação em mente enquanto se realiza uma tarefa na qual esta informação é importante, mas não é usada imediatamente.

Após a utilização da informação, ela é apagada, não formando uma memória real.

Flexibilidade cognitiva

Também chamada de flexibilidade de pensamento, é a função cognitiva que permite que pensemos “fora da caixa” a fim de encontrar soluções para problemas, ter ideias criativas, entre outros.

Dificuldades na flexibilidade cognitiva podem levar a dificuldades para resolver problemas, dificuldade em ver saídas de situações ruins, podendo influenciar também questões como pensamentos negativos e teimosia.

Controle inibitório

O controle inibitório refere-se a capacidade do ser humano de deixar de realizar uma ação quando esta não é mais necessária, ou evitar ações que são inadequadas ou desnecessárias em um determinado contexto.

Pessoas que têm um baixo controle inibitório são pessoas impulsivas e que podem se distrair com mais facilidade.

Ajuste preparatório

Trata-se de uma função prospectiva, ou seja, voltada para o futuro, e permite que a pessoa se prepare e planeje as coisas com antecedência. É a principal função responsável pelo planejamento das ações.

O que ocorre quando há problemas na função executiva?

Infelizmente, a função executiva pode ser prejudicada por uma série de fatores. Nestes casos, a pessoa pode conviver com os seguintes prejuízos:

  • Dificuldade para iniciar e/ou completar tarefas;
  • Dificuldade em estabelecer prioridades;
  • Esquecer com frequência o que acabou de ouvir, ler ou até mesmo falar;
  • Dificuldades para seguir instruções ou sequências de passos para realizar uma tarefa;
  • Dificuldade em lidar com mudanças na rotina;
  • Dificuldade para alternar a atenção entre uma tarefa e outra (multitasking);
  • Responder emocionalmente de forma intensa e inapropriada;
  • Dificuldade para organizar os próprios pensamentos;
  • Dificuldade em manter os pertences organizados, podendo perdê-los com frequência;
  • Má gestão de tempo.

É importante lembrar que problemas com a função executiva não podem ser considerados um diagnóstico, tendo em vista que estes problemas tendem a ser sintomas de algum transtorno maior.

Da mesma forma, ter problemas na função executiva não necessariamente resulta em dificuldades de aprendizado, embora muitas das dificuldades de aprendizado estejam relacionadas a uma função executiva prejudicada.

Quais transtornos podem afetar a função executiva?

Existe uma grande variedade de problemas que podem causar a chamada disfunção executiva, ou seja, o prejuízo na função executiva. Dentre estes estão:

Diferenças no desenvolvimento cerebral

A função executiva é uma condição diretamente ligada ao desenvolvimento das estruturas cerebrais. Se ocorre alguma alteração durante este processo, isso pode resultar em problemas com a função executiva.

Atualmente, sabe-se que a função executiva está relacionada aos lobos frontais, ou seja, a parte da frente do cérebro. Danos nestas áreas do cérebro podem promover alterações na personalidade e alterações cognitivas, prejudicando assim a função executiva.

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

O TDAH tem como principal característica a disfunção executiva. A pessoa tem dificuldades para focar em alguma coisa, se distrai facilmente, pode ser bastante impulsiva, entre outros.

Embora o nome do transtorno dê a entender que se trata de um problema apenas de atenção e hiperatividade, geralmente o transtorno engloba prejuízos em uma grande parcela das funções cognitivas.

Transtorno do espectro autista

Sendo um transtorno do neurodesenvolvimento, é frequente que pessoas que fazem parte do espectro autista apresentem disfunção executiva.

Transtornos de humor

Transtorno depressivo e transtorno afetivo bipolar são dois transtornos de humor nos quais podem ser encontrados prejuízos na função executiva. Frequentemente, ao tratar estes transtornos, esses prejuízos tendem a sumir.

Caso mesmo com o tratamento a disfunção executiva ainda esteja muito presente na vida da pessoa, cabe uma reavaliação do diagnóstico para chegar a um plano de tratamento mais adequado.

A função executiva é uma série de processos cerebrais que diferenciam o ser humano de outros animais, bem como permitem o desenvolvimento de comportamentos socialmente vistos como comportamentos adultos.

No entanto, muitas pessoas possuem problemas com estes processos, e isso pode surgir de várias formas. Se você suspeita que tem algo de errado com sua função cognitiva, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.scielo.br/j/ptp/a/6DKfm4zCwjc6QRtrXGqjGtQ/?lang=pt&format=pdf

https://www.understood.org/articles/en/what-is-executive-function

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