O que é luto?
O luto é um processo psicológico que ocorre diante de uma perda. Frequentemente, fala-se em luto no contexto da morte de um ente querido, mas os sentimentos da dor da perda também podem ocorrer diante da morte de um animal de estimação, de uma separação amorosa, de uma perda de emprego, de mudanças drásticas na vida, entre outros.
Em suma, o luto está intrinsecamente ligado à perda de algo que é importante para a pessoa, seja uma pessoa, um animal, uma posse ou até mesmo uma condição de vida.
O processo de luto é muito pessoal e cada um tem sua maneira de expressar. Embora existam teorias que expliquem o luto, cada pessoa é única e lida com suas dores de formas diferentes.
Portanto, não cabe a ninguém julgar como uma outra pessoa está processando um luto — mesmo que a pessoa pareça estar funcionando perfeitamente bem, isso não necessariamente significa que ela superou a perda.
É importante ressaltar que o luto pode ter início até mesmo antes da perda: apenas a perspectiva da perda já é o suficiente para dar início ao processo. Pessoas que estão passando por doenças terminais e seus familiares conhecem bem essa manifestação inicial do luto, que ocorre antes mesmo da morte em si.
Embora uma pessoa possa passar por diversos lutos durante a vida, é pertinente lembrar que o processo é sempre diferente e depende muito da relação entre a pessoa e o falecido. O luto por um amigo não é igual ao luto por um esposo, assim como não é igual ao luto por filho ou por um pai. Cada relação é diferente e, portanto, cada luto é único.
Fases do luto
De acordo com Elizabeth Kübler-Ross, uma psiquiatra suíço-americana, é possível identificar, no luto, 5 estágios (ou fases) que podem não necessariamente ocorrem de forma linear, ou seja, é possível ir e voltar em vários estágios, ou eles podem ocorrer simultaneamente. Os 5 estágios do luto são:
1. Negação
Frequentemente, a perda de uma pessoa amada é tão pesada que demora para “digerir” o que está acontecendo. É neste momento em que ocorre a negação; a pessoa pode não acreditar na perda, ou agir como se nada estivesse ocorrendo, porque seu psiquismo ainda não conseguiu processar essa perda.
2. Raiva
A raiva pode aparecer como uma máscara para as outras emoções sentidas durante o luto. Ela pode ser projetada nas outras pessoas, como no médico que dá as más notícias, ou até mesmo no “universo” (ou qualquer divindade que faça parte da crença da pessoa) por estar levando uma pessoa amada. A raiva também pode levar a comportamentos agressivos para com as outras pessoas ou até consigo mesmo.
3. Barganha (ou negociação)
Os sentimentos de vulnerabilidade e desamparo presentes no luto podem levar as pessoas a tentarem fazer negociações para sentir que ainda têm algum controle sobre a situação. A pessoa pode fazer promessas para melhorar em algum aspecto caso a pessoa consiga ser milagrosamente curada ou trazida de volta, pode tentar fazer acordos com divindades (caso tenha alguma crença), ou pensa que tudo poderia ter sido diferente se, no passado, tivesse feito as coisas de outra forma. Nesta fase, é comum sentimentos de culpa, atribuindo as próprias ações como contribuintes para a perda, mesmo que isso não seja necessariamente verdade.
4. Depressão
Depois de toda uma tempestade de sentimentos, surge a depressão. É um estágio no qual a ideia da perda se torna mais real e inegável, e sentimentos de tristeza profunda se fazem presentes durante a maior parte do dia. Durante essa fase, a pessoa pode diminuir sua sociabilidade, se isolar em seu próprio mundo, ter pouca motivação ou prazer em realizar as atividades do dia-a-dia, sente uma tristeza intensa e pode até sentir que a vida não tem mais sentido, por exemplo.
Esta fase tende a passar com o tempo, mas se ela perdura por muitos meses (mais de 6, por exemplo) e prejudica a retomada das atividades do dia-a-dia, pode ser necessário procurar ajuda especializada.
5. Aceitação
Por fim, a fase da aceitação não significa uma superação total da dor do luto. Na realidade, o que acontece é que a pessoa aceita a realidade e aceita que terá que conviver com essa dor pelo resto de sua vida.
Com o tempo, essa dor deixa de ocupar um lugar central na vida da pessoa, mas não deixa de existir, e a pessoa que passa pela aceitação simplesmente aceita que esta perda é real e que a dor e a saudade agora são partes normais de sua rotina.
Quanto tempo dura o luto? Quando o luto se torna complicado?
As pessoas tendem a acreditar que o luto é complicado quando ele dura muito tempo, no entanto, não existe um tempo certo que delimita até quando seria normal demonstrar sinais de luto e quando se tornaria problemático.
Frequentemente, pessoas que perderam alguém relatam que a dor nunca vai embora, e no fim só se aprende a conviver com ela. Contudo, isso não significa que se trata de um luto não resolvido, e sim que a pessoa falecida jamais será esquecida.
Pode-se pensar em um luto complicado quando a pessoa fica presa em algum de seus estágios, ou quando estes se apresentam de forma muito intensa durante um período muito longo de tempo, prejudicando a retomada das atividades diárias a longo prazo.
Uma pessoa que fica em negação durante muitos anos pode ser vista como uma pessoa que lida com um luto complicado. Um luto cuja fase da depressão leva a sintomas depressivos por um longo tempo, chegando a um episódio de depressão maior, pode ser considerado um luto complicado.
Em suma, não existe um único fator que determina se um luto é complicado ou não. Pode-se pensar no luto complicado como uma combinação de manifestações do luto que chegam a realmente prejudicar a vida de uma pessoa no longo prazo.
E o luto bem resolvido, como é?
Como citado anteriormente, frequentemente as pessoas relatam que a dor e a saudade nunca vão embora. Então como podemos saber que se trata de um luto bem resolvido?
Embora a dor permaneça, o principal fator de um luto bem resolvido é que esta dor não ocupa mais uma posição central na vida da pessoa. Em suma, a pessoa consegue “seguir em frente” no sentido de fazer planos sem o ente querido falecido, consegue comemorar e ver sentido em suas conquistas, consegue manter uma certa estabilidade nas várias esferas da vida (carreira, relacionamentos etc.), entre outros.
É claro que a saudade da pessoa falecida sempre se faz presente, especialmente nas ocasiões especiais. Sentir-se um pouco triste e querer que a pessoa estivesse ali naquele momento não necessariamente é um sinal de que o luto não foi resolvido, mas sim um sinal normal de que a pessoa continua sendo amada e faz falta.
O problema é quando essa falta pesa tanto que a pessoa realmente não consegue se alegrar nem um pouco ou não consegue ver sentido na vida ou nas ocasiões especiais sem aquela pessoa.
Tratamento para problemas na resolução do luto
Medicação
Alguns psiquiatras se recusam a passar medicação durante os primeiros meses após a morte de um ente querido, pois acreditam que os medicamentos podem atrapalhar o processo natural de processamento das emoções e de resolução do luto.
Contudo, passados alguns meses, se a pessoa continua tendo muita dificuldade para seguir com a sua vida, é possível que o psiquiatra receite antidepressivos e/ou medicamentos ansiolíticos, a depender da queixa trazida pelo indivíduo.
Psicoterapia
Em geral, a psicoterapia é uma das intervenções mais indicadas para lidar com o luto. Isso porque, além de trabalhar o luto em si, ela trabalha a visão de mundo do indivíduo, bem como a consciência de si mesmo, seus valores, suas crenças etc.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais frequentes no tratamento de problemas emocionais, pois tem como base trabalhar os conflitos emocionais levando em conta não apenas o que o indivíduo pensa, mas também o que sente e como se comporta diante destes pensamentos e sentimentos.
Não é raro que pessoas enlutadas apresentem pensamentos distorcidos e disfuncionais, que prejudicam não apenas a elaboração do luto como também suas vidas como um todo. A TCC utiliza técnicas que ajudam o paciente a identificar, compreender e amenizar as respostas comportamentais a estes pensamentos, impedindo-os de controlar sua vida e suas decisões.
Desta forma, aos poucos o paciente vai retomando o controle de sua vida e rotina, aprendendo a conviver com as dores da perda.
A psicoterapia pode ser feita em grupo ou individual, e cabe ao paciente escolher qual das opções melhor se adapta a ele.
O processo de luto pode ser uma fase bem complicada na vida de uma pessoa, sendo que raramente uma pessoa passa por apenas um luto durante toda a vida. É uma parte normal da existência humana e precisa ser tratada como tal.
Contudo, nem sempre o luto se resolve de forma adequada e a pessoa acaba lidando com o que se chama “luto complicado”. Nestes casos, recomenda-se buscar ajuda psicológica.
Se você ou alguém que conhece está demonstrando sinais de um luto complicado, não deixe de entrar em contato com um psiquiatra de confiança!
Referências
https://www.healthline.com/health/stages-of-grief
https://www.verywellmind.com/five-stages-of-grief-4175361
https://www.psycom.net/depression.central.grief.html
https://www.helpguide.org/articles/grief/coping-with-grief-and-loss.htm#
https://www.rbtc.org.br/detalhe_artigo.asp?id=138