A Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr) é uma técnica de neuromodulação usada para o tratamento de diversos transtornos e não é exclusiva da psiquiatria.
Na realidade, a técnica tem se mostrado eficaz para tratar também uma série de outras enfermidades que não são psiquiátricas.
Neste texto, você irá descobrir algumas das possíveis indicações para a EMTr, tanto oficiais (aprovadas pela Anvisa) quanto aquelas que ainda estão sendo estudadas (offlabel).
Indicações psiquiátricas da EMTr
Grande parte das indicações para EMTr ocorrem de quadros psiquiátricos. Estes quadros são:
Depressão refratária
A depressão é um dos transtornos mentais mais prevalentes atualmente e existem diversas maneiras de tratar seus sintomas, como é o caso dos medicamentos psiquiátricos e das psicoterapias.
Contudo, nem todas as pessoas respondem adequadamente a estes tratamentos. Algumas pessoas podem não responder aos medicamentos, enquanto outras respondem apenas nos primeiros meses e acabam tendo que reajustar a medicação com muita frequência.
Nestes casos, a EMTr pode ser usada como um tratamento complementar ao uso da medicação, pois pode ajudar a potencializar o efeito dos medicamentos em pessoas que respondem apenas parcialmente, ou pode ser usada como tratamento único em pessoas que não respondem às medicações nem mesmo parcialmente.
Alucinações auditivas
Os transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, podem trazer uma série de sintomas de difícil tratamento.
Um destes sintomas são as alucinações auditivas, caracterizada pela audição de estímulos externos inexistentes. Estas alucinações são popularmente chamadas de “ouvir vozes”, mas não necessariamente se manifestam apenas na forma de vozes, podendo se manifestar como uma série de ruídos diferentes, que podem se assemelhar a uma origem humana ou não.
Apesar de, atualmente, a Anvisa só aprovar o uso da EMTr para o tratamento de alucinações auditivas, ainda são estudadas as possibilidades de usar a técnica para outros sintomas, como é o caso dos sintomas negativos da esquizofrenia.
Estes sintomas não são sintomas alucinatórios, mas são sintomas que prejudicam significativamente o funcionamento cognitivo, como é o caso do embotamento afetivo, a letargia e o isolamento social.
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
O transtorno obsessivo-compulsivo, também chamado de TOC, é um transtorno que pode trazer muitos prejuízos quando não tratado.
Este transtorno é caracterizado pela presença de pensamentos intrusivos, chamados de obsessões, e compulsões (ou rituais) que frequentemente são realizadas para aliviar a angústia gerada pelos pensamentos obsessivos.
Em casos severos, o TOC é um transtorno que traz bastante desafios em seu tratamento, tendo em vista que a resposta aos tratamentos é reduzida ou inexistente.
O tratamento de TOC por meio da EMTr ainda não foi regulamentado pela Anvisa, mas há pesquisas sendo feitas para investigar sua eficácia e, eventualmente, poder liberar esta alternativa de tratamento para os pacientes que não respondem adequadamente à medicação e/ou terapia.
Craving
O craving, também chamado de fissura, é um desejo intenso, urgente e incontrolável por alguma coisa. Geralmente, ao falar sobre craving, estamos falando sobre o uso de substâncias (lícitas ou ilícitas).
Este fenômeno está relacionado não apenas a uma dependência psicológica de alguma substância, mas também a uma série de alterações que o cérebro sofre por conta da substância em si, gerando esse desejo incontrolável.
Por isso, a EMTr também se mostra como uma alternativa de modular a atividade neuronal e aliviar os sintomas do craving.
Contudo, seu uso para este fim não foi liberado pela Anvisa no Brasil ainda, então tratamentos deste tipo só podem ocorrer em caráter experimental.
Outras indicações
Além das indicações psiquiátricas, uma série de outros problemas podem ser tratados com a EMTr. Entre eles, estão:
Pré-operatório
A EMTr também pode ser usada para o planejamento neurocirúrgico, acoplada a sistemas de neuronavegação.
Dores neuropáticas e fibromialgia
As dores neuropáticas são dores que ocorrem quando há danos nos nervos sensitivos. Estas dores costumam ser crônicas e podem ser tão intensas que se tornam incapacitantes.
Cerca de 10% da população brasileira apresenta alguma dor neuropática e o tratamento nem sempre é simples, podendo incluir o uso de medicamentos e até mesmo cirurgia.
Já a fibromialgia é uma síndrome que causa dores musculares, sensibilidade, fadiga, entre outros sintomas. Embora não seja uma neuropatia propriamente dita, há evidências de que o tratamento com EMTr pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas que convivem com esta síndrome.
Reabilitação motora
Danos cerebrais podem causar prejuízos à movimentação. Com a ajuda da EMTr, é possível auxiliar a atividade neuronal em regiões específicas para auxiliar na reabilitação motora do paciente.
Pós-acidente vascular encefálico (derrame)
Os acidentes vasculares encefálicos podem levar a danos no cérebro. Embora possa haver danos irreversíveis, também é possível buscar um resgate das funções a partir da estimulação em áreas específicas do cérebro.
Neste sentido, a EMTr pode ajudar pacientes que passaram por derrames a recuperar algumas funções.
Doença de Parkinson
O mal de Parkinson é um distúrbio do sistema nervoso central caracterizado pela degeneração de alguns neurônios, ocasionando sintomas como tremores, rigidez no movimento, lentidão e perda de equilíbrio.
Trata-se de uma doença progressiva que não tem cura, portanto o manejo dos sintomas é o tratamento mais indicado atualmente.
A EMTr pode ajudar a estimular a disponibilidade de dopamina no cérebro, o principal neurotransmissor envolvido no mal de Parkinson, aliviando assim os sintomas.
Tinnitus (zumbido no ouvido)
O zumbido no ouvido, também chamado de tinido ou tinnitus, é uma condição na qual a pessoa continua ouvindo algum tipo de zumbido mesmo que não haja uma fonte de ruído externa.
Esta condição é diferente das alucinações auditivas por não ser acompanhada de outros sintomas psicóticos, bem como a característica do som ouvido ser diferente.
Enquanto pessoas com alucinações auditivas podem ouvir vozes ou outros ruídos específicos com duração definida, o zumbido no ouvido é caracterizado por sons insistentes que se assemelham ao chiado de uma panela de pressão, barulho de apito ou até mesmo o som de alguns animais como cigarras e abelhas, e se faz presente na maior parte do dia.
As causas não são muito bem esclarecidas, mas podem estar relacionadas a alterações nas estruturas responsáveis pela audição (tanto as estruturas do ouvido quanto as estruturas cerebrais) ou à perda de audição.
Quais profissionais podem fazer a EMTr?
A Estimulação Magnética Transcraniana não pode ser aplicada por qualquer pessoa. Algumas profissões que podem fazer a aplicação desta técnica são:
Médicos
Os médicos são os profissionais da medicina, formados após um curso de 5 anos de bacharelado e que passaram por residência. Precisam estar matriculados no Conselho Regional de Medicina.
Atualmente, de acordo com a resolução CFM 1986/2012, médicos podem utilizar a EMTr para:
- Tratamento de depressão uni e bipolar;
- Alucinações auditivas na esquizofrenia;
- Planejamento de neurocirurgia.
O resto das possíveis aplicações da EMTr são feitas em caráter experimental.
Fisioterapeutas
O Conselho Federal de Fisioterapia permite a aplicação da EMTr por fisioterapeutas desde 2014. De acordo com o ACÓRDÃO Nº 378, de 29 de agosto de 2014, os fisioterapeutas podem usar a técnica para:
- Avaliação de excitabilidade neuronal no sistema nervoso central para fins de diagnóstico e prognóstico em condições musculoesqueléticas, neuromusculares e cardiorrespiratórias;
- Dores neurológicas;
- Acidente vascular encefálico (AVE);
- Doença de Parkinson;
- Transtornos mentais (encaminhados por médicos psiquiatras);
- Zumbido crônico (tinnitus).
Enfermeiros
Alguns conselhos regionais de enfermagem permitem a aplicação da EMTr por profissionais formados em enfermagem, barateando o custo das sessões. É o caso dos enfermeiros no Espírito Santo, por exemplo.
Contudo, é preciso ter em mente que isso não é uma regra que vale para todo o Brasil e, em caso de dúvidas, médicos e conselhos regionais deverão ser consultados.
Apesar de pouco conhecida, a EMTr possui uma série de indicações que não necessariamente se limitam aos cuidados psiquiátricos. Pesquisas continuam a ser feitas para compreender a eficácia desta técnica em diversas enfermidades, e espera-se que no futuro a técnica seja um tratamento disponível para grande parte da população.
Se você tiver dúvidas ou acredita estar precisando de ajuda especializada, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=3330
https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/1986
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4117998/