Eventos traumáticos podem acontecer a qualquer momento e ter repercussões para a vida toda. É o caso do transtorno de estresse pós-traumático, um transtorno mental que surge como resposta a um trauma.
Se não tratado, pode trazer dificuldades para a vida inteira, sendo inclusive um transtorno altamente incapacitante. Neste artigo, você irá entender o que é o transtorno de estresse pós-traumático, seus sintomas e como é feito o tratamento.
O que é transtorno de estresse pós-traumático?
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é um transtorno mental que surge como consequência de uma situação traumática, como por exemplo acidentes graves, guerra, abusos sexuais, entre outros.
O trauma envolvido no TEPT é subjetivamente percebido como uma situação que ameaça seriamente a vida, a integridade física ou o bem-estar psíquico do indivíduo.
O TEPT se desenvolve após a exposição a um evento traumático, mas essa exposição não necessariamente precisa ser direta. Uma exposição indireta também pode gerar o TEPT. Um exemplo de exposição indireta é perder um ente querido em um acidente violento ou por uma doença muito agressiva; as pessoas que são expostas a essa situação podem desenvolver o estresse pós-traumático e ficar hipervigilantes em situações parecidas.
Além disso, é importante ressaltar que nem todas as pessoas que vivem situações traumáticas desenvolvem o transtorno de estresse pós-traumático. Grande parte das pessoas desenvolve um transtorno agudo, com sintomas parecidos, mas que se resolve em poucos dias, mas não chega a desenvolver o TEPT em si.
Pessoas com TEPT frequentemente revivem seu trauma por meio de flashbacks e pesadelos. Mesmo muito tempo após o término do incidente, a pessoa continua tendo pensamentos intensos acerca do ocorrido, o que pode afetar sua vida diária.
Uma pessoa que sofreu um assalto a mão armada, por exemplo, pode desenvolver TEPT e ter dificuldades para sair de casa novamente por conta da ansiedade, suspeitar de qualquer pessoa na rua, andar com os músculos tensionados quando em público, sentir-se ameaçada o tempo inteiro em que estiver fora de casa, entre outros.
É comum também que a pessoa que sofre de estresse pós-traumático tenha sentimentos de tristeza, medo ou raiva com frequência, e podem sentir que estão alienadas do mundo e das outras pessoas.
O comportamento de esquiva, definido como a evitação ativa de situações específicas, também é frequente entre pessoas com TEPT. Elas podem evitar locais ou situações que tenham algo em comum com a memória traumática, e até mesmo reagir de forma desproporcional a certos estímulos, como barulhos altos, toques acidentais etc.
O que causa o TEPT?
Não existem causas bem definidas para o estresse pós-traumático, mas sabe-se de alguns fatores que aumentam as chances de uma pessoa desenvolver o transtorno após passar por um evento traumático. São eles:
- Histórico familiar de transtornos mentais, como depressão e ansiedade;
- Alguns fatores da personalidade, como o temperamento, traços de personalidade como o neuroticismo, entre outros;
- A maneira que o cérebro processa e regula os neurotransmissores e hormônios envolvidos no estresse;
- Histórico de trauma durante a infância aumenta as chances de desenvolver o TEPT após um evento traumático na vida adulta;
- Trabalhar em uma área que expõe o indivíduo a muitos riscos diretos ou indiretos, como carreira de bombeiro, policial, medicina, entre outros;
- Histórico pessoal de transtornos ansiosos ou transtornos de humor;
- Falta de suporte dos amigos e familiares;
- Uso inadequado de substâncias, como álcool ou drogas ilícitas.
Que tipos de eventos causam o TEPT?
Qualquer evento no qual o indivíduo se sinta ameaçado pode resultar em estresse pós-traumático. Alguns exemplos de eventos traumáticos comuns são:
- Violência física ou sexual;
- Abusos na infância;
- Ser ameaçado com uma arma;
- Acidentes graves;
- Desastres naturais;
- Incêndios;
- Sequestros e torturas;
- Diagnóstico médico de risco (doenças como câncer, entre outras).
Sintomas do TEPT
Os sintomas do TEPT geralmente se iniciam cerca de 1 mês após o incidente, mas em alguns casos pode demorar mais tempo para se manifestarem. Além disso, a intensidade dos sintomas também pode variar de acordo com o momento de vida que a pessoa está passando. Em períodos de maior estresse, por exemplo, os sintomas podem ser mais intensos, bem como quando ocorrem situações parecidas que podem lembrar o indivíduo do ocorrido.
Os principais sintomas do transtorno de estresse pós-traumático são:
Pensamentos intrusivos
O indivíduo pode ter pensamentos intrusivos a respeito do acontecimento, bem como flashbacks e pesadelos. A pessoa não tem controle sobre esses pensamentos, que podem ser tão intensos que dão a sensação de estar acontecendo no exato momento. Estas memórias intrusivas são chamadas “revivescências”.
Evitação (comportamento de esquiva)
Evitar ativamente lugares e situações que podem evocar memórias traumáticas, como evitar sair na rua depois de um assalto, evitar dirigir após um acidente de carro ou até mesmo evitar ir em festas ao sofrer um abuso sexual em um contexto festivo, por exemplo.
Alterações na cognição e no humor
O transtorno de estresse pós-traumático pode causar alterações na cognição, fazendo com que a pessoa perceba eventos normais como ameaçadores ou mais perigosos do que realmente são, por exemplo.
Alterações no humor também são frequentes, podendo resultar em um humor mais deprimido ou irritável.
Em casos graves, essas alterações podem até mesmo evoluir para uma ideação suicida, que precisa ser tratada.
Alterações na vigília e na reatividade
Pessoas que sofrem de TEPT geralmente desenvolvem uma hipervigilância, tornando-se demasiadamente atentas em momentos nos quais tal vigilância não é necessária. Da mesma forma, podem acabar tendo dificuldades para conseguir relaxar.
Quanto à reatividade, a pessoa pode tornar-se mais reativa em situações do dia-a-dia, reagindo de forma desproporcional e inadequada aos acontecimentos.
TEPT no Brasil
O transtorno de estresse pós-traumático é comum no mundo inteiro, mas algumas características da realidade brasileira pode fazer com que este transtorno seja ainda mais frequente por aqui.
Os altos índices de violência podem levar a diversos eventos traumáticos. Em um país no qual simplesmente sair da porta de casa já coloca uma pessoa em risco para ser assaltada a mão armada, faz sentido que muitas pessoas acabem desenvolvendo sintomas de TEPT e sintam que estão em uma espécie de zona de guerra apenas por não estar em casa.
Essa realidade é ainda mais evidente em bairros economicamente desfavorecidos, nos quais o tráfico e ações policiais frequentemente acabam em eventos extremamente violentos, fazendo com que os moradores vivam em um constante estado de guerra.
O trânsito é outra área na qual a violência se destaca. Os números de acidentes fatais ou com vítimas gravemente feridas são alarmantes, podendo traumatizar não apenas os próprios condutores, como também os familiares e amigos daqueles que sofrem acidentes.
Além disso, as altas taxas de infecção pelo Sars-CoV-2 desencadeando em vários quadros graves de Covid-19 pelo país afora contribuem para que mais pessoas sofram de um estresse agudo ou um estresse pós-traumático ao ver parentes adoecerem e não voltarem dos hospitais, ou até mesmo ao superar a doença e tendo que lidar com as sequelas posteriormente.
Embora a pandemia ainda não tenha acabado, os níveis de estresse em grande parte da população é grande o suficiente para que seja possível pensar que, futuramente, pode haver um aumento nos diagnósticos de TEPT no Brasil, como consequência de uma crise sanitária que levou milhões de brasileiros ao luto.
O estresse pós-traumático em crianças
Em geral, crianças e adolescentes reagem a traumas de forma diferente dos adultos. Crianças pequenas podem apresentar os seguintes sintomas:
- Molhar a cama mesmo depois de ter aprendido a usar o banheiro;
- Esquecer ou apresentar dificuldades para falar;
- Durante as brincadeiras, encenar o evento traumático;
- Apresentar um apego maior a um adulto específico.
Já em crianças e adolescentes mais velhos, os sintomas se assemelham aos sintomas presentes em adultos, já descritos anteriormente.
Diagnósticos diferenciais
Transtorno de estresse agudo
O transtorno de estresse agudo ocorre nos dias seguintes ao evento traumático, e tem sintomas idênticos. Revivescências, hipervigilância, esquiva e humor alterado são manifestações desse transtorno, que dura até um mês depois do ocorrido.
Trata-se de um estresse de curta duração, que pode ser incapacitante mas por pouco tempo. Depois que resolvido, o indivíduo consegue retomar sua vida normalmente.
Transtorno de adaptação
Já em casos mais graves, o indivíduo pode não conseguir retomar sua vida normalmente. Trata-se do transtorno de adaptação, no qual o estresse pós-traumático é tão grande que a pessoa passa a apresentar comportamentos fora do normal.
Diferentemente do transtorno de estresse pós-traumático, o transtorno de adaptação não necessariamente envolve flashbacks, hipervigilância, entre outros. Contudo, a pessoa pode apresentar alterações de humor (humor deprimido ou irritável), isolamento social, comportamentos impulsivos ou desafiantes, além de alguns sintomas físicos como tremores, palpitações e dores de cabeça.
Tratamentos para TEPT
Os tratamentos para o transtorno de estresse pós-traumático envolvem uma combinação de medicamentos e psicoterapia. Nem todos os casos de TEPT precisam de tratamento e podem se resolver sozinhos, mas quando o transtorno se torna debilitante, é necessário buscar ajuda profissional.
Os medicamentos que podem ser usados para tratar o TEPT são os ansiolíticos e antidepressivos, pois ambos ajudam a combater os sintomas do transtorno.
Dentre as psicoterapias, em especial a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é reconhecida como uma das terapias mais eficazes para o tratamento de transtornos de ansiedade, incluindo o TEPT.
Essa terapia irá ajudar o paciente a reconhecer e modificar padrões de sentimentos e pensamentos associados ao trauma, que por vezes acabam por reforçar o trauma em si. Pensamentos como “o mundo é um lugar perigoso” são desafiados a partir de técnicas estruturadas que mostram que a cognição pode estar distorcida e por conta disso acaba alimentando o trauma.
Além disso, é possível usar técnicas de exposição, que combinam uma exposição gradual a eventos/objetos traumáticos com técnicas de relaxamento e enfrentamento para ajudar a pessoa a romper com o ciclo de ansiedade desencadeado pelo trauma.
Referências
https://www.psychiatry.org/patients-families/ptsd/what-is-ptsd
https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/post-traumatic-stress-disorder/symptoms-causes/syc-20355967
https://www.nimh.nih.gov/health/topics/post-traumatic-stress-disorder-ptsd/index.shtml
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/ansiedade-e-transtornos-relacionados-ao-estresse/transtorno-de-estresse-p%C3%B3s-traum%C3%A1tico