Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e depressão: qual a relação?

A coexistência de transtornos mentais pode fazer com que estes se influenciem mutuamente. Entenda!
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O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos (intrusivos) e a realização de ações compulsivas, geralmente com o intuito de diminuir a angústia trazida pelos pensamentos obsessivos. Trata-se de um transtorno que pode afetar significativamente a vida das pessoas, prejudicando seu bem-estar, carreira, estudos, relacionamentos, entre outros.

TOC e depressão podem ser comórbidas

Embora o TOC seja um diagnóstico por si só, ele raramente vem sozinho. Apesar de comorbidades parecerem exceções, no caso do TOC, a comorbidade com a depressão parece ser a regra. Estima-se que até dois terços das pessoas que sofrem com TOC acabam também sofrendo de pelo menos um episódio depressivo ao longo de suas vidas.

Comorbidade é uma palavra que indica a presença de dois ou mais transtornos simultaneamente, e a interação entre eles acaba tendo influência nos sintomas de cada. Em outras palavras, os sintomas de TOC podem influenciar nos sintomas depressivos e vice-versa.

Sintomas do TOC

O transtorno obsessivo-compulsivo possui dois sintomas principais: as obsessões e as compulsões.

Obsessões podem ser definidas como pensamentos, imagens ou impulsos que ocorrem de forma involuntária e são persistentes, geralmente sendo vistos como intrusivos. Geralmente são pensamentos desagradáveis, capazes de provocar angústia significativa no indivíduo.

Já as compulsões são ações, comportamentos repetitivos que surgem como resposta a uma obsessão. Em geral, esses atos compulsivos são uma tentativa de amenizar ou neutralizar a angústia e ansiedade geradas pelos pensamentos obsessivos.

Nem sempre as compulsões possuem alguma ligação direta com o pensamento obsessivo em si, como no caso de uma pessoa que organiza objetos simetricamente ao ter pensamentos intrusivos a respeito da saúde e integridade de pessoas que ama.

Em outros casos, os atos compulsivos estão diretamente relacionados à obsessão, como é o caso das pessoas que lavam as mãos com uma frequência exagerada por ter pensamentos obsessivos a respeito de microrganismos causadores de doenças.

As compulsões nem sempre se apresentam como comportamentos que podem ser observados por terceiros. Existem também compulsões mentais, como repetir palavras silenciosamente, contar objetos ou fazer orações repetidas vezes.

Vale ressaltar que pensamentos intrusivos são um fenômeno normal, bem como grande parte das ações realizadas compulsivamente são maneiras normais de lidar com diversas questões no dia-a-dia. O problema é que, no caso do TOC, esses pensamentos intrusivos ocorrem com uma frequência muito maior, causam angústia significativa e levam aos atos compulsivos, que podem se tornar rituais tão complexos a ponto de interferir nas outras atividades do dia-a-dia.

Leia mais: Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): o que é, sintomas e mais

Sintomas do transtorno depressivo maior

O transtorno depressivo maior é caracterizado por humor deprimido a maior parte do dia durante um período de pelo menos duas semanas, acompanhado de uma diminuição no interesse e prazer nas atividades do dia-a-dia, mesmo aquelas que a pessoa costumava gostar muito, como hobbies.

Durante um episódio depressivo, a pessoa pode negligenciar sua higiene, alimentação, carreira, estudos, relações, entre outras áreas. Pode haver também aumento ou diminuição do apetite com consequentes mudanças de peso, mudanças nos padrões de sono (insônia ou hipersonia), fadiga, sentimentos de culpa, dificuldades para pensar, prestar atenção e tomar decisões.

Em casos mais graves, podem surgir pensamentos recorrentes de morte e suicídio, bem como ideação suicida (fazer planos para tirar a própria vida) e tentativas de suicídio.

Vale ressaltar que esses sintomas não se limitam à depressão maior e podem aparecer em uma série de outros tipos de depressão. Leia mais em Depressão: existe mais de um tipo?

Como esses transtornos se influenciam?

Embora o TOC e a depressão sejam transtornos diferentes, pesquisas mostram que eles parecem andar lado a lado, podendo até mesmo piorar os sintomas um do outro.

Não raramente, estima-se que os sintomas depressivos surgem como uma consequência de se viver com TOC, tendo em vista que o transtorno pode prejudicar imensamente o funcionamento no trabalho, nos estudos, na vida social e demais áreas que ajudam a manter uma vida saudável.

Acredita-se que o TOC prejudica significativamente o humor porque a pessoa passa mais tempo envolvida em pensamentos obsessivos, realizando os rituais compulsivos, tendo que lidar com sentimentos de angústia e ansiedade com muita frequência. Por conta disso, não sobra muito tempo para emoções tidas como positivas, o que por sua vez pode levar a sintomas depressivos.

No entanto, é válido ressaltar que nem sempre o TOC surge primeiro. Às vezes, é a depressão que surge e é diagnosticada em primeiro lugar, e depois os sintomas de TOC aparecem. Portanto, nem todos os casos de comorbidade de transtorno obsessivo-compulsivo surgem porque o TOC leva a sintomas depressivos.

Pesquisas mostram que alguns dos componentes genéticos envolvidos no TOC também estão envolvidos no transtorno depressivo maior, o que pode ajudar a entender a ligação entre os dois transtornos, ainda que um não cause o outro diretamente.

Independentemente de qual transtorno se manifesta antes, existe um consenso de que a comorbidade com a depressão tende a aumentar a severidade dos sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo. Da mesma forma, a presença da comorbidade faz com que o prognóstico do TOC seja um pouco pior, com menos chances de remissão dos sintomas.

Estima-se que essa piora dos sintomas de TOC em pessoas com depressão ocorre pelos seguintes fatores:

  • Pacientes com depressão podem ter menos energia para resistir às compulsões;
  • Sintomas cognitivos da depressão como sentimentos de culpa, vergonha e pensamento catastrófico podem servir como uma espécie de combustível para os pensamentos obsessivos;
  • Preocupações, dúvidas e ruminação são fatores presentes em episódios depressivos que podem aumentar os níveis de angústia e ansiedade sentidos pela pessoa com TOC, que pode tentar resolver esses sentimentos por meio de comportamentos compulsivos.

Tratamento da comorbidade

Geralmente, quando existe uma comorbidade, é importante que os dois transtornos sejam tratados para obter um melhor resultado no tratamento. No entanto, quando se trata do TOC com a depressão maior, ainda é debatido de que forma esse tratamento deve ser feito.

Enquanto parte da comunidade acredita ser proveitoso intervir nos sintomas depressivos ao tratar o transtorno obsessivo-compulsivo, há também aqueles que esperam uma melhora espontânea dos sintomas depressivos durante o tratamento, mesmo que o foco seja apenas no TOC.

De toda forma, as medicações usadas para tratar a depressão e o TOC costumam ser as mesmas ou, ao menos, terem um efeito bem parecido e, portanto, é compreensível que, mesmo tratando apenas um dos transtornos, o outro apresente melhoras simultaneamente.

Diferentes transtornos podem coexistir e influenciar um ao outro, como no caso do transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno depressivo maior. Se você se identificou com os sintomas relatados no texto, não hesite em procurar ajuda com um profissional da saúde mental!

Referências

Rickelt, J., Viechtbauer, W., Lieverse, R., Overbeek, T., van Balkom, A. J., van Oppen, P., … Schruers, K. R. (2016). The relation between depressive and obsessive-compulsive symptoms in obsessive-compulsive disorder: Results from a large, naturalistic follow-up study. Journal of Affective Disorders, 203, 241–247. doi:10.1016/j.jad.2016.06.009

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