O que é metacognição? Como isso ajuda na terapia?

Pensar sobre o pensar pode ter efeitos positivos no processo terapêutico. Entenda melhor aqui!
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O conceito de metacognição se refere à capacidade de compreender e controlar os próprios processos cognitivos, ou seja, é a habilidade de refletir sobre o próprio pensamento.

Em outras palavras, metacognição é o pensar sobre o pensar. Ela é caracterizada pelo conhecimento que temos sobre o nosso próprio conhecimento e como o utilizamos para melhorar nosso aprendizado e resolução de problemas.

A metacognição permite que tenhamos conhecimento sobre como a mente funciona, bem como a capacidade de monitorar e avaliar nosso próprio desempenho cognitivo. Desta forma, podemos identificar e corrigir erros, entender quais estratégias são mais eficazes para aprender e resolver problemas, bem como regular as emoções e a motivação para a aprendizagem.

Grande parte dos estudos a respeito da metacognição se voltam para a área do aprendizado. No entanto, estima-se que a metacognição pode auxiliar também nas questões de saúde mental, como no caso da terapia metacognitiva, da qual falaremos mais adiante.

Componentes da metacognição

A metacognição é bastante complexa e, por isso mesmo, seus componentes são bastante diversos. Alguns dos principais componentes da metacognição são:

  • Consciência: refere-se à capacidade de reconhecer e monitorar seus próprios pensamentos e processos cognitivos;
  • Conhecimento: o conhecimento que a pessoa tem sobre si mesma, incluindo suas habilidades, limitações e preferências cognitivas;
  • Estratégias: a capacidade de usar estratégias cognitivas eficazes para resolver problemas, tomar decisões e lembrar informações;
  • Regulação: a habilidade de controlar e regular os próprios processos cognitivos, incluindo atenção, motivação, emoção e comportamento;
  • Metacrenças: as crenças que as pessoas têm sobre seus próprios processos cognitivos, como a capacidade de aprender, mudar ou melhorar;
  • Metas: as metas pessoais que as pessoas estabelecem para si mesmas em relação aos seus processos cognitivos, como aprender uma nova habilidade ou resolver um problema específico.

Conhecimento e controle metacognitivo

A metacognição possui dois lados: o conhecimento e o controle.

O conhecimento diz respeito ao saber sobre os processos cognitivos, ou seja, é quando a pessoa sabe como sua cognição funciona. Neste sentido, a pessoa entende como pensa e é capaz de falar sobre isso. Contudo, esse conhecimento pode não ser preciso, pois a pessoa pode ter ideias equivocadas a respeito do seu próprio pensar.

No conhecimento metacognitivo, temos:

  • Variáveis pessoais, que se referem ao conhecimento que temos sobre nós mesmos a respeito do nosso aprendizado e nossa forma de pensar;
  • Variáveis da tarefa, relacionadas ao conhecimento que temos a respeito de uma determinada tarefa, seus objetivos e possíveis obstáculos que podemos encontrar para executá-la;
  • Variáveis estratégicas, que se referem ao conhecimento dos meios que podem ser empregados para a execução de uma tarefa, ou seja, a capacidade de perceber e aplicar um procedimento específico para a solução de um problema.

Já o controle metacognitivo se refere à capacidade de monitorar e regular ativamente os processos cognitivos à medida em que eles ocorrem. Em outras palavras, é a capacidade de reconhecer erros e agir de forma a reduzí-los enquanto executamos uma determinada tarefa.

Trata-se de um processo feito de forma não-consciente e que está relacionado à tarefa em questão. Ele envolve os seguintes componentes:

  • Planejamento: é a elaboração de um plano de ação que é feita antes mesmo de iniciar a tarefa;
  • Supervisão: refere-se à revisão constante das ações em relação ao objetivo da tarefa, resultando na detecção e correção de falhas ao longo do processo de execução da tarefa;
  • Avaliação: ocorre após a finalização da tarefa e tem como objetivo analisar os resultados finais, podendo ter influência na execução de tarefas futuras.

Terapia metacognitiva: como funciona?

A terapia metacognitiva é uma abordagem psicoterápica criada por Adrian Wells na década de 90. Segundo essa abordagem, muitos dos problemas psicológicos são influenciados por padrões de pensamento disfuncionais que levam a ruminação, preocupação excessiva, obsessões, preenchimento de lacunas, entre outros. Esses padrões podem contribuir para o aumento da ansiedade, o surgimento da depressão, bem como outros problemas emocionais.

Na terapia metacognitiva, o objetivo é ajudar o paciente a desenvolver habilidades metacognitivas para lidar com suas questões psicológicas. Neste tipo de terapia, busca-se ajudar o paciente a se tornar mais consciente de seus próprios pensamentos e sentimentos, permitindo gerenciá-los de forma mais eficaz.

Grande parte das psicoterapias tem como foco o conteúdo dos pensamentos dos pacientes, trabalhando a ressignificação desses conteúdos. No entanto, na terapia metacognitiva, a ideia é entender e corrigir o raciocínio que leva o paciente a pensar de forma disfuncional. Para isso, são utilizadas técnicas que permitem o controle metacognitivo, a fim de melhorar os sintomas apresentados pelo paciente.

Não raramente, a terapia metacognitiva é integrada a outras abordagens de psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC). Essa integração tem como objetivo fornecer uma abordagem mais abrangente e eficaz para o tratamento das questões trazidas pelo paciente.

A terapia metacognitiva ajuda no tratamento de diversos transtornos mentais, como a depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), entre outros. Contudo, pesquisas mostram que a terapia metacognitiva pode ajudar também em transtornos para os quais as terapias mais tradicionais não são tão eficazes, como é o caso do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e os transtornos psicóticos, como a esquizofrenia.

No que tange a esquizofrenia, pesquisas mostram que o treinamento metacognitivo foi capaz de aliviar sintomas positivos (alucinações e delírios), bem como aumentar os insights clínicos.

Terapia do insight

Dentro da terapia metacognitiva, podemos falar do uso de insights para ajudar o paciente a lidar com suas questões. Um insight pode ser definido como uma percepção ou entendimento repentino e profundo sobre uma situação, problema ou emoção. Em outras palavras, é uma compreensão súbita e clara de uma questão que antes não estava totalmente compreendida.

Os insights costumam ser representados na mídia como uma lâmpada aparecendo em cima da cabeça do personagem naqueles momentos em que uma solução emerge repentinamente, ou seja, momentos de “eureca”.

Na terapia do insight, são exploradas as raízes subjacentes dos problemas trazidos pelo paciente, ajudando-o a encontrar novas perspectivas e soluções para seus problemas. Em outras palavras, o terapeuta ajuda o paciente a identificar experiências passadas, emoções reprimidas e conflitos internos que podem estar contribuindo para seus problemas atuais.

Assim como a terapia metacognitiva, raramente a terapia do insight é feita de forma isolada, sendo frequentemente integrada com as técnicas e o aporte teórico da TCC.

Embora grande parte das pesquisas a respeito da metacognição tem como objetivo aplicá-la no aprendizado, é evidente que a metacognição traz também contribuições para a saúde mental.

Se você está enfrentando problemas emocionais e sente que pode estar precisando de ajuda, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

Gonzalez, I. S. & Nunes, L. (2022). Evidências da utilização do treino metacognitivo na pessoa com psicose: revisão integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, (27), 158-180. Epub 30 de junho de 2022. https://doi.org/10.19131/rpesm.331
https://amenteemaravilhosa.com.br/metacognicao-caracteristicas-componentes/
https://g1.globo.com/bemestar/viva-voce/noticia/2021/07/10/a-tecnica-cognitiva-que-ajuda-a-nao-pensar-demais-nos-problemas.ghtml

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