Transtornos do Exagero é um termo guarda-chuva que abrange uma série de transtornos caracterizados pela emissão exagerada de um comportamento, tornando-o prejudicial e desadaptativo. Ele foi criado pela psicóloga Renata Brasil Araujo em seu livro “Guia de Terapias Cognitivo-Comportamentais para os Transtornos do Exagero”.
O termo se refere tanto a transtornos reconhecidos pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), como é o caso da compulsão alimentar, do abuso de substâncias e do alcoolismo, mas também a transtornos que ainda não foram reconhecidos, como o vício em jogos ou redes sociais, por exemplo.
O que caracteriza um comportamento exagerado?
Um comportamento exagerado é um comportamento muitas vezes compulsivo, que é realizado de forma repetitiva e costuma promover gratificação imediata. Geralmente esses atos são precedidos de momentos de grande tensão psíquica, surgindo como uma espécie de resposta para aliviar essa tensão.
Embora estes comportamentos tragam uma espécie de gratificação imediata, a longo prazo tendem a trazer mais prejuízos, como perdas financeiras, problemas nas relações interpessoais ou até mesmo doenças físicas, como é no caso do uso de substâncias psicoativas.
Não é raro que a pessoa com um transtorno do exagero dedique tanto tempo e recursos ao seu vício que acabe se afastando de amigos e familiares, da sua carreira, das suas responsabilidades e das suas atividades de lazer.
Para uma pessoa que sofre de algum transtorno do exagero, a não realização do comportamento leva a sentimentos intensos de angústia e ansiedade, que contribuem para a tensão sentida antes de realizar o ato.
Quais são os tipos de transtornos do exagero?
Qualquer tipo de vício ou dependência pode ser compreendido como um transtorno do exagero. Dentre os transtornos do exagero estão:
Dependência química
A dependência química se refere a qualquer tipo de dependência de uma droga psicoativa. Neste sentido, falamos tanto de substâncias legais, como o álcool e o tabaco, como as substâncias ilegais.
É possível, também, desenvolver dependência química em substâncias legais não recreativas, como é o caso do vício em medicações analgésicas, por exemplo.
Jogo patológico
Inicialmente, o jogo patológico se referia a jogos de apostas como aqueles jogados em cassinos, por exemplo. No entanto, com o tempo, o termo se expandiu para abranger também o vício em jogos eletrônicos e jogos online.
Dependência de internet
É complicado falar em dependência de internet quando vivemos em uma sociedade conectada 24 horas por dia. No entanto, quando falamos de dependência de internet, falamos sobre pessoas que realmente precisam estar conectadas o tempo inteiro, que podem apresentar sintomas de abstinência fortes ao passar algumas horas ou dias desconectadas, podendo até mesmo deixar de viajar ou realizar outras atividades offline pela necessidade de estar sempre online.
Sexo compulsivo
Embora as pessoas possam ter variações na libido e algumas pessoas tenham realmente uma libido mais elevada, no caso do sexo compulsivo, a pessoa realiza o ato sexual simplesmente por fazê-lo.
Para isso, a pessoa não se importa se sente atração pela pessoa com quem realizará o ato, nem mesmo tenta estabelecer uma conexão com a pessoa. Também não se importa em onde nem quando realizará o ato.
Masturbação compulsiva
Ocorre da mesma forma que o sexo compulsivo, porém sem a necessidade de um parceiro. A pessoa que sofre com masturbação compulsiva tem fantasias intrusivas que geram angústia que só é aliviada mediante o ato masturbatório. A pessoa pode chegar a realizar o ato diversas vezes por dia, o que pode ser feito em momentos e lugares inadequados.
Vício em pornografia
O vício em pornografia se refere a visualização compulsiva de materiais eróticos. Essa compulsão está associada a uma série de prejuízos, como gastar várias horas por dia consumindo esse tipo de conteúdo, a dessensibilização dos órgãos genitais, o desinteresse em engajar no ato sexual real, entre outros.
Comprar compulsivo
No comprar compulsivo, a pessoa tem a necessidade de realizar compras repetidamente, independente de ter a capacidade de pagar por aquilo ou não. A pessoa também acaba comprando coisas das quais não precisa e muitas vezes nem deseja, mas acaba comprando simplesmente pelo ato de comprar, o que pode gerar prejuízos financeiros.
Comer compulsivo
O ato de comer compulsivamente é caracterizado pela necessidade de ingerir alimentos independente da fome ou do alimento a ser ingerido. A pessoa que come compulsivamente não se importa se o alimento está dentro daquilo que deseja, e muito menos respeita sinais de saciedade do corpo, podendo chegar ao ponto de eliminar o que foi comido (ao regurgitar, por exemplo) para continuar comendo mais.
Tricotilomania
A tricotilomania se refere ao ato de arrancar cabelos e outros pêlos do corpo de forma compulsiva. O ato de remover pêlos não é realizado por questões estéticas, sendo inclusive comum que pessoas com tricotilomania tenham falhas no cabelo, sobrancelha, barba, entre outros.
O que causa os transtornos do exagero?
Os transtornos do exagero não possuem uma causa específica. No entanto, pode-se pensar que o mecanismo de recompensa do cérebro possui um papel importante na manutenção destes comportamentos exagerados.
O mecanismo de recompensa está relacionado a ação do neurotransmissor dopamina, que é o neurotransmissor da motivação e do prazer. Ao realizar uma tarefa, os níveis de dopamina aumentam ou diminuem de acordo com a recompensa por aquela tarefa.
Quando uma ação leva ao alívio de sentimentos de angústia, por exemplo, é provável que essa ação seja reforçada, ou seja, o cérebro registre que vale a pena realizar essa mesma ação mais vezes para se livrar destes sentimentos.
Portanto, quando a pessoa se vê diante de sentimentos angustiantes novamente, ela recorre a essa mesma ação quantas vezes forem necessárias para sentir um alívio. Desta forma, o comportamento exagerado se mantém.
Como tratar os transtornos do exagero?
A principal forma de tratar os transtornos do exagero é por meio da psicoterapia.
Medicamentos podem ajudar a manejar sintomas, ajudando a equilibrar neurotransmissores e diminuir sentimentos de angústia, por exemplo, mas não são capazes de promover a mudança de comportamento necessária para que o transtorno entre em remissão.
Já na psicoterapia, são trabalhados diversos fatores que ajudam na manutenção do transtorno. Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), trabalham-se as crenças que servem de base para o surgimento dos sentimentos de angústia, bem como as crenças que levam a pessoa a ver o comportamento exagerado como um alívio.
Na TCC, o paciente aprende técnicas para lidar com esses sentimentos, bem como expande o repertório comportamental do indivíduo, a fim de evitar recaídas.
Existem outras terapias que podem ajudar a lidar com os sintomas dos transtornos do exagero, como é o caso da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e outras terapias comportamentais. No entanto, a TCC continua sendo uma das terapias com o maior respaldo científico para grande parte dos transtornos mentais, sendo a principal indicada.
Os transtornos do exagero podem causar prejuízos significativos na vida das pessoas que sofrem com eles. Se você se identificou ou conhece alguém que apresenta traços destes transtornos, não hesite em procurar ajuda com um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.sinopsyseditora.com.br/blog/transtornos-do-exagero-o-que-sao-e-como-identifica-los-415
https://clinicacuidarte.com.br/artigo-transtornos-do-exagero/