Muito se fala sobre autoestima nas redes sociais, mas você sabe qual a verdadeira importância desse conceito? Além disso, outro conceito importante para compreender a autoestima é a autoimagem, que deve ser avaliada de forma positiva para que a pessoa tenha uma boa autoestima.
Neste texto, iremos conceitualizar autoestima e autoimagem, trazendo também algumas dicas práticas baseadas em evidências para melhorar a autoestima.
O que é autoestima?
A autoestima pode ser entendida como a capacidade de valorizar a si mesmo, em especial diante de adversidades e momentos desafiadores que podem evidenciar limitações, bem como situações em que há julgamento de outras pessoas.
É comum que autoestima seja associada somente à beleza física, mas o conceito é mais amplo que isso, englobando também julgamentos a respeito de capacidades cognitivas, julgamentos morais, entre outros.
Se a pessoa não consegue valorizar a si mesma, diz-se que ela tem baixa autoestima. Já uma pessoa que consegue valorizar a si mesma, tanto no quesito físico quanto mental, é uma pessoa com uma boa autoestima.
No conhecimento popular, é comum que pessoas com traços narcisistas sejam vistas como pessoas com alta autoestima. No entanto, isso nem sempre é verdade, tendo em vista que muitas vezes esses traços se desenvolvem de forma a compensar uma autoestima defasada.
Pesquisas mostram que o bem-estar de pessoas com boa autoestima é maior do que o de pessoas com baixa autoestima. Além disso, essas pessoas costumam manter relações sociais melhores e mais saudáveis, bem como tendem a ter maior satisfação em suas carreiras e serem mais perseverantes diante de adversidades. Em uma pesquisa (Henriksen et al, 32017), percebeu-se que uma boa autoestima também é uma medida protetiva a problemas de atenção.
Já a baixa autoestima está relacionada a problemas emocionais, incluindo sintomas depressivos e ansiosos, como também o uso de substâncias, transtornos alimentares, comportamento violento, desistência escolar e comportamentos de risco. Pessoas com baixa autoestima tem maiores chances de desenvolver um transtorno mental e, frequentemente, a presença de um transtorno mental pode contribuir para a baixa autoestima.
A autoestima também pode flutuar ao longo da vida, sendo influenciada tanto por conquistas quanto por erros e fracassos. Também é possível que uma pessoa tenha uma boa autoestima física, mas tenha uma autoestima baixa quando se trata de questões cognitivas, por exemplo.
O que é autoimagem?
Já a autoimagem se refere ao conceito que a pessoa tem de si mesma, ou seja, envolve questões como traços de personalidade, qualidades e defeitos. Em geral, a autoimagem pode ser entendida por meio de adjetivos que a pessoa usa para se descrever, como “inteligente”, “bonito”, “egoísta”, entre outros.
A autoimagem se forma desde a infância, a medida em que vamos interagindo com o mundo. As relações interpessoais acabam reforçando ou diminuindo características que podem ser atribuídas a autoimagem posteriormente.
Quando passamos por experiências positivas e afirmativas, adquirimos características que podem ser vistas como qualidades. Já quando passamos por situações traumáticas e abusos ou negligência, é comum o surgimento de sentimentos desagradáveis, como vergonha e culpa, levado à formação de uma autoimagem bastante prejudicada.
Pessoas com uma boa autoimagem conseguem reconhecer suas qualidades e potenciais, mas ao mesmo tempo tem uma visão realista acerca das próprias limitações. Já pessoas com uma autoimagem negativa tendem a focar mais em seus próprios defeitos, podendo até mesmo exagerá-los.
Cultivar uma boa autoimagem é importante considerando que ela influencia como nos sentimentos, o valor que atribuímos a nós mesmos, bem como as interações que temos com outras pessoas.
Autoestima versus autoimagem: qual a diferença?
A autoimagem se refere a imagem que uma pessoa tem de si mesma, é um reconhecimento das suas próprias características. Já a autoestima é o julgamento que a pessoa faz dessa autoimagem.
Se uma pessoa tem uma autoimagem da qual não gosta, é provável que sua autoestima não seja alta. Já se ela reconhece em si mesma coisas que gosta, qualidades e até mesmo defeitos que podem ser trabalhados, a pessoa pode desenvolver uma autoestima saudável.
Pessoas que possuem uma autoimagem instável também podem apresentar flutuações bastante acentuadas de autoestima, considerando que não há uma base sólida para realizar seu julgamento.
Técnicas baseadas em evidências para melhorar a autoestima
Praticar a autocompaixão e autoaceitação
A autoaceitação consiste em deixar o autojulgamento de lado e aceitar que temos falhas e erramos às vezes. Isso pode ser bastante desafiador, mas é importante para que possamos trabalhar a autoestima, considerando que todas as pessoas vão eventualmente emitir algum comportamento falho no dia-a-dia.
A autocompaixão pode ser praticada ao se perdoar por ter feito algo inadequado ou até mesmo que vai contra os seus próprios valores.
Vale ressaltar que a autoaceitação não significa resignação e que, ao aceitar nossas falhas, não quer dizer que vamos deixar elas como estão. Frequentemente, essas falhas levam a comportamentos problema que podem nos trazer prejuízos ao longo da vida. Felizmente, mudar é possível. Contudo, para que haja essa mudança, é necessário primeiro se aceitar como se é.
Leia mais: A importância da autoaceitação para a saúde mental
Definir metas realistas
Alcançar metas pessoais costuma ajudar bastante na autoimagem e autoestima, considerando se tratar de uma situação de conquistas e sucesso. No entanto, é importante que essas metas sejam realistas e estejam de acordo com as suas limitações pessoais.
Além disso, metas precisas são mais alcançáveis do que metas “abertas”. Por exemplo, ao invés de ter como meta “correr mais”, experimente colocar como meta “criar uma rotina de corrida por pelo menos 30 dias”.
Cultivar relações positivas
Relações saudáveis são uma grande aliada da autoestima e de uma boa autoimagem. Pessoas que são acolhedoras e sabem se comunicar de forma clara podem ajudar bastante nesse quesito.
Evite relações nas quais há críticas exageradas, especialmente quando não há uma busca pela resolução dos problemas, bem como relações em que você sente que há um desequilíbrio e falta de reciprocidade.
Limitar influência da mídia
Embora a mídia possa trazer grande entretenimento, é verdade que ela também dita tendências, não só de beleza como também de comportamento. No entanto, dificilmente alguém consegue se manter seguindo todas as tendências e alcançar o ideal proposto pela mídia. Portanto, limitar a influência que a mídia tem em você pode ajudar bastante na recuperação da autoestima.
Para limitar essa influência, é importante compreender que a mídia segue tendências temporais, ou seja, o que era visto como positivo ontem pode já não ser tão positivo hoje. Além disso, é importante internalizar que pessoas são diferentes e cada um tem seus pontos fortes e fracos, reconhecendo assim as próprias qualidades.
Também é interessante lembrar que a mídia tende a um viés consumista, mostrando sempre produtos e serviços que estão em alta, mas vale ressaltar que ter esses produtos ou usufruir desses serviços pouco tem a ver com o valor próprio.
Manter hábitos saudáveis
Sabe-se que hábitos saudáveis como manter uma boa alimentação, praticar exercícios físicos e ter uma boa higiene do sono ajudam muito a prevenir e combater problemas emocionais e transtornos mentais.
Tendo em mente que autoestima está muito relacionada a ter uma saúde mental em dia, manter esses hábitos saudáveis pode ajudar bastante a manter uma autoimagem positiva e, consequentemente, melhorar a autoestima.
Fazer terapia
A psicoterapia pode ser uma grande aliada não só para combater sintomas de transtornos mentais, como também para ajudar na construção de uma autoimagem positiva, culminando em melhoras na autoestima.
Pessoas que possuem uma autoimagem negativa podem trabalhar crenças disfuncionais acerca de si mesmas e ressignificá-las, passando a enxergar também suas qualidades e características que gostam em si.
Já pessoas que possuem uma autoimagem instável podem contar com a ajuda do terapeuta para compreender melhor a si mesmas, entender melhor suas qualidades e defeitos, bem como trabalhar nestes últimos para que não prejudiquem tanto a autoimagem quanto as relações e o dia-a-dia.
A autoestima e a autoimagem estão diretamente relacionadas a saúde mental, sendo importante trabalhar essas questões para garantir o bem-estar mental e uma boa qualidade de vida. Se você sente que está com problemas ou dificuldades nessas áreas, não hesite em procurar a ajuda de um profissional da saúde mental!
Referências
Henriksen IO, Ranøyen I, Indredavik MS, Stenseng F. The role of self-esteem in the development of psychiatric problems: a three-year prospective study in a clinical sample of adolescents. Child Adolesc Psychiatry Ment Health. 2017 Dec 29;11:68. doi: 10.1186/s13034-017-0207-y. PMID: 29299058; PMCID: PMC5747942.
Michal (Michelle) Mann, Clemens M. H. Hosman, Herman P. Schaalma, Nanne K. de Vries, Self-esteem in a broad-spectrum approach for mental health promotion, Health Education Research, Volume 19, Issue 4, August 2004, Pages 357–372, https://doi.org/10.1093/her/cyg041
Nguyen DT, Wright EP, Dedding C, Pham TT, Bunders J. Low Self-Esteem and Its Association With Anxiety, Depression, and Suicidal Ideation in Vietnamese Secondary School Students: A Cross-Sectional Study. Front Psychiatry. 2019 Sep 27;10:698. doi: 10.3389/fpsyt.2019.00698. PMID: 31611825; PMCID: PMC6777005.