Engana-se quem pensa que os grandes psiquiatras e psicólogos que influenciaram a psicologia já se foram. Atualmente, existem diversos profissionais que estão ativamente buscando novas formas de melhor atender seus pacientes de maneira que, vez ou outra, surge uma nova psicoterapia.
Foi o que aconteceu com Irismar Reis de Oliveira, psiquiatra que acabou por desenvolver a terapia cognitivo processual durante sua prática psiquiátrica e terapêutica, ajudando diversos pacientes com sua abordagem baseada nos preceitos da terapia cognitivo-comportamental.
Neste artigo, iremos falar brevemente sobre a carreira de Irismar Reis de Oliveira, bem como a criação e os principais destaques da sua aboragem, a terapia cognitivo processual.
Quem é Irismar Reis de Oliveira?
Irismar Reis de Oliveira é um psiquiatra brasileiro formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente, possui título de PhD e é professor no Departamento de Neurociências e Saúde Mental da UFBA, sendo pesquisador também de dois programas de doutorado nessa universidade.
No entanto, sua carreira acadêmica não foi construída apenas no Brasil e, entre 1983 e 1988, Irismar fez uma formação em psiquiatria na Université René Descartes, em Paris. Posteriormente, realizou uma formação em terapia cognitiva no Beck Institute, nos Estados Unidos.
Inicialmente, a formação de Irismar foi em psicanálise, considerando que é uma linha bastante proeminente na França. No entanto, ao entrar em contato com a TCC, o psiquiatra notou que seria uma terapia que poderia casar bem com sua prática clínica, podendo ser administrada juntamente com sua principal forma de intervenção: a prescrição de medicamentos (psicofarmacologia).
Posteriormente, a medida em que Irismar trabalhava com a TCC, foi percebendo que não se adaptava totalmente à abordagem, o que resultou em lacunas na sua prática. Por conta disso, foi criando adaptações e, aos poucos, formulou o que hoje é conhecida como terapia cognitivo processual (TCP). Segundo Irismar, sua intenção não era de criar uma nova terapia, mas aos poucos ela foi tomando forma, resultando em livros e publicações, bem como a fundação do Trial-Based Cognitive Therapy Institute, nos Estados Unidos.
A fundação da TCP foi consolidada em 2010, durante o Congresso Mundial de Terapias Cognitivas.
Atualmente, Irismar Reis de Oliveira também mantém um consultório particular, organiza palestras e workshops sobre sua terapia, e trabalha no editorial de alguns periódicos científicos, como a Revista Brasileira de Psiquiatria.
Terapia Cognitiva Processual (TCP): a terapia fundada por Oliveira
Desenvolvida por Irismar na Universidade Federal da Bahia, a TCP é uma psicoterapia cognitiva que conta com os mesmos princípios da terapia cognitivo-comportamental (TCC), como a possibilidade de monitoramento e alteração da atividade cognitiva, bem como a presença de crenças nucleares que fazem com que o indivíduo veja a si mesmo e ao mundo de forma generalizada e rígida. A terapia tem como objetivo trabalhar as crenças nucleares disfuncionais, ou seja, crenças que causam prejuízos.
No entanto, a TCP possui técnicas próprias, resultando em formas diferentes de trabalhar com as crenças nucleares apresentadas pelos indivíduos. Ao longo de três fases, a TCP busca revelar a verdade sobre as crenças nucleares disfuncionais que o paciente apresenta, julgando-as para verificar se são crenças falsas ou até mesmo verdadeiras, mas exageradas.
O nome “terapia cognitivo processual” vem da inspiração de Irismar ao desenvolver a terapia: o livro O Processo, do escritor surrealista Franz Kafka. Neste romance, o personagem principal passa por um processo judicial em que é condenado sem nem mesmo saber o crime do qual era acusado.
No entanto, nesta terapia, a ideia é fazer as próprias crenças disfuncionais do paciente passarem por um processo. Ao contrário do que ocorre com o personagem principal do romance, o paciente tem plena consciência das suas auto-acusações e, a partir disso, pode trabalhar nelas desenvolvendo crenças funcionais e mais saudáveis.
A terapia cognitivo processual é uma terapia que tem uma abordagem passo-a-passo, podendo ser de curta duração. Estima-se que, para grande parte dos casos, é possível ver melhoras significativas após 12 sessões semanais (cerca de 3 meses de terapia). Contudo, a duração pode ser alterada dependendo da resposta do paciente, podendo ser diminuída ou aumentada.
A TCP funciona tão bem quanto a TCC?
Um questionamento justo a respeito da TCP é em relação a sua eficácia, considerando que é baseada em uma terapia já bastante consolidada e que é conhecida por ser bastante eficaz.
Durante seu desenvolvimento, foram realizados estudos clínicos randomizados que resultaram em uma eficácia tão boa quanto a TCC tradicional. Em outras palavras, se trata de uma terapia bastante eficaz, podendo ser usada para tratar diversos quadros psiquiátricos ou até mesmo só ajudar pessoas não diagnosticadas a lidar com suas questões emocionais.
Por que escolher a TCP?
Já que tanto a TCP quanto a TCC tradicional tem eficácia parecida, por que escolher a terapia cognitivo processual?
Segundo o próprio autor e diversos profissionais, a TCP pode ser aprendida facilmente por terapeutas, sendo também facilmente compreendida por pacientes, facilitando a aplicação das técnicas.
A terapia também funciona de forma lúdica por meio de simulações de júri, ajudando pacientes a se engajar no processo terapêutico.
Vale ressaltar que a adaptação do paciente à abordagem varia muito de pessoa para pessoa e, por conta disso, para algumas pessoas a TCC tradicional pode agradar mais, enquanto para outras a TCP pode fazer mais seu estilo.
Para quais transtornos a TCP é indicada?
Por ser baseada na terapia cognitivo-comportamental, estima-se que a terapia seja eficaz no tratamento de todos os transtornos que a TCC é comprovadamente eficaz. No entanto, a título de maior precisão, atualmente há pesquisas disponíveis que mostram que a TCP tem eficácia na depressão, na fobia social e no transtorno de estresse pós-traumático.
Embora se fale muito sobre grandes psicólogos e psiquiatras do passado, é importante lembrar que até hoje temos profissionais trabalhando para melhorar as técnicas de terapia e atender as necessidades dos pacientes conforme elas se apresentam, como é o caso de Irismar Reis de Oliveira e sua terapia cognitivo processual.
Se você sente que está lidando com sintomas psiquiátricos ou questões emocionais mais delicadas, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
https://br.linkedin.com/in/irismar-reis-de-oliveira-a2920630
https://online.pucrs.br/professores/irismar-reis-de-oliveira
https://sinapsys.news/desvendando-a-terapia-cognitiva-processual/