Transtorno de personalidade borderline

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Talvez você já tenha ouvido falar no termo borderline, ou limítrofe. Trata-se de uma palavra usada para descrever um transtorno de personalidade caracterizado por instabilidade emocional, na autoimagem e no comportamento. Antigamente, acreditava-se que essa condição estava na borda entre a neurose a psicose, eis a razão do nome “limítrofe”, que significa “nos limites”.

Essa instabilidade em todas as esferas do eu leva a dificuldades para manter relacionamentos interpessoais, além de trazer episódios de raiva intensa, depressão e ansiedade, que podem durar horas ou até mesmo dias. O paciente com transtorno borderline pode ter dificuldade para manter um emprego, terminar seus estudos, entre outros. Trata-se de um transtorno que atrapalha o indivíduo em absolutamente todas as esferas da vida.

Estatisticamente falando, o transtorno é mais comum em mulheres, especialmente as mais jovens. Existem evidências de que os sintomas costumam ir desaparecendo conforme a pessoa amadurece e, na terceira idade, eles podem entrar em completa remissão. Além disso, é importante frisar que o diagnóstico de TPB não pode ser feito em pessoas com menos de 18 anos de idade, uma vez que diversos comportamentos típicos da adolescência tem alguma semelhança com os sintomas do distúrbio.

Quem convive com uma pessoa que sofre com esse transtorno geralmente descreve uma vida afetiva complicada, com vários acontecimentos de abuso psicológico. Isso leva a pessoa a acreditar que o caso se trata de uma falha no caráter do parceiro, quando na verdade é o caso de um transtorno que pode ser tratado.

Sinais e sintomas

O portador de transtorno de personalidade borderline pode ser definido com a palavra “instável”. A instabilidade é uma característica muito presente nesse transtorno, fazendo com que o paciente tenha mudanças de humor abruptas e intensas, mudanças frequentes de interesses, valores e atitudes, pensamentos extremos do tipo “oito ou oitenta”, além de poder mudar rapidamente a maneira que pensa ou sente em relação a uma pessoa.

Outros sinais importantes são:

  • Esforços para evitar um abandono real ou imaginado: Às vezes, o portador do transtorno pode fantasiar que um atraso devido ao trânsito intenso pode ser um sinal de abandono, e começar a ligar desesperadamente para a pessoa, numa tentativa de convencê-la a voltar. Em alguns casos, o paciente pode ameaçar se machucar ou tirar sua própria vida para evitar o abandono;
  • Padrão de instabilidade nos relacionamentos: O indivíduo com transtorno de personalidade borderline pode ter dificuldades em manter os relacionamentos estáveis, o que pode ser visto nos seus relacionamentos familiares, com amigos, entre outros. Um dos problemas que levam a isso é o pensamento extremista do paciente, que alterna entre proximidade e amor (idealização) e desprezo ou raiva (desvalorização);
  • Distorções e instabilidade na autoimagem: A autoimagem é importante para uma identidade bem consolidada. No caso do paciente com borderline, essa autoimagem costuma ser instável ou distorcida, fazendo com que ele não consiga alcançar uma certa congruência para tomar decisões ou seja incapaz de fazer o que deseja na vida;
  • Impulsividade e comportamentos perigosos: Pacientes com TPB podem se engajar em comportamentos de risco, como gastar demasiadamente, fazer sexo desprotegido, abuso de substâncias (tanto lícitas quanto ilícitas), compulsão alimentar, dirigir sem responsabilidade etc. Contudo, se esses comportamentos ocorrerem em uma fase de humor e energia elevados, pode ser sinal de um transtorno de humor, e não de personalidade;
  • Automutilação: Não raramente, pacientes com transtorno de personalidade borderline se machucam propositalmente. Esse comportamento pode estar ligado a sentimentos negativos, assim como pode ser feito a fim de impedir que uma pessoa vá embora (vide “Esforços para evitar abandono”);
  • Pensamentos suicidas recorrentes ou ameaças de tirar a própria vida. Cerca de 80% dos pacientes com TPB têm comportamentos suicidas;
  • Humor intenso e altamente mutável, com episódios durando entre poucas horas e alguns dias;
  • Sentimentos crônicos de vazio, solidão e tédio;
  • Falta de empatia pelos outros em determinados momentos;
  • Medo de rejeição e reações emocionais intensas e inapropriadas quando isso acontece. Além disso, pode confundir uma crítica a um feito seu com uma rejeição a sua própria pessoa;
  • Dificuldade para controlar a raiva, gerando uma raiva intensa e inapropriada;
  • Dificuldade para confiar em outras pessoas, geralmente acompanhada de um medo irracional das intenções de outras pessoas;
  • Sentimentos de dissociação, como se estivesse fora de si mesmo, observando a si como uma terceira pessoa.

Vale lembrar que nem todos os pacientes vivenciam todos os sintomas. Cada caso é individual e o que um sente pode não ser o mesmo que outros vão sentir. Além disso, os sintomas podem aparecer por motivos aparentemente ordinários. Um paciente pode sentir uma raiva intensa de uma pessoa por algo simples como uma viagem de fim de semana ou a trabalho.

Causas e fatores de risco

Não se sabe exatamente o quê causa o transtorno de personalidade borderline. Assim como diversos outros transtornos mentais, acredita-se que o problema seja causado por uma mistura de fatores, como o genético e o ambiental. Entenda:

Histórico familiar

Pessoas que têm casos de TPB na família têm chances maiores de desenvolver o transtorno, especialmente se os familiares diagnosticados são parentes próximos.

Fatores anatômicos e fisiológicos

Alguns estudos mostram que uma grande parte dos pacientes com borderline possuem diferenças na estrutura e funcionalidade cerebral, especialmente nas áreas responsáveis pelo controle de impulsos e regulação emocional. Não se sabe, entretanto, se essas mudanças são a causa do distúrbio ou se é o transtorno que as causa.

Fatores ambientais, culturais e sociais

A história de vida de uma pessoa costuma ser significativa no desenvolvimento de um transtorno mental. Com o transtorno de personalidade borderline, não é diferente. Muitos pacientes têm histórico de traumas de infância, e há também indícios de que um ambiente com alta invalidação emocional está ligado ao desenvolvimento de TPB.

Apesar de esses serem fatores de risco significativos, nem todos que passaram por isso irão desenvolver o distúrbio. Da mesma forma, podem haver pessoas diagnosticadas que não se identifiquem com esses fatores. Por isso, é complicado dizer qual a verdadeira causa do transtorno.

Diagnóstico

O diagnóstico do TPB pode ser complicado. Isso porque não existe nenhum exame que possa comprovar o distúrbio, e é necessário que o paciente se abra e explique sua condição para que possa ser diagnosticado.

Por isso, o diagnóstico geralmente se dá em forma de uma entrevista na qual o psiquiatra compara as informações fornecidas pelo paciente com os critérios diagnósticos do transtorno. Algumas vezes, são necessários mais de um encontro para determinar que se trata, de fato, do transtorno de personalidade borderline.

Em alguns casos, o médico pode solicitar exames laboratoriais para conferir se não há alguma condição fisiológica causando os sintomas, como hipo ou hipertireoidismo.

Como é o tratamento?

No passado, o TPB era considerado um distúrbio de difícil tratamento, mas atualmente existem novos tratamentos com uma eficácia maior que permite que o paciente tenha uma diminuição considerável nos sintomas, melhorando sua qualidade de vida.

Contudo, é necessário que o paciente receba o tratamento adequado para que haja essa melhora. Atualmente, a terapia comportamental-dialética é a principal usada no tratamento de pacientes com borderline. Trata-se de uma terapia relativamente nova (datada dos anos 80), porém comprovadamente eficaz nos casos de transtorno de personalidade borderline. Não é à toa: seu método foi desenvolvido justamente para tratar esses pacientes. Ela costuma ser usada, também, em pacientes que apresentam alto risco para si mesmos.

Outras terapias, infelizmente, apresentam um índice de eficácia bem inferior comparado à terapia comportamental-dialética.

Infelizmente, o tratamento psicoterápico do TPB não é rápido. Podem ser necessários anos, mas a melhora é significativa e costuma valer a pena. É importante ter isso em mente pois muitas pessoas desistem rapidamente do tratamento, ainda que esteja sendo eficaz, por achar que não é mais necessário após algumas semanas se sentindo bem.

Tratamento farmacológico

Em diversos casos, é necessário entrar com o tratamento farmacológico também. Isso quer dizer que o paciente precisará fazer uso de medicação, o que, para alguns, é assustador. Porém, é importante ressaltar que os medicamentos são seguros e o psiquiatra deve tomar os cuidados necessários para não prescrever um medicamento contraindicado para o paciente.

Os medicamentos não são capazes de tratar o transtorno em si, sendo usados apenas para diminuir os sintomas, principalmente as mudanças de humor e a depressão. Para isso, o psiquiatra poderá indicar medicamentos estabilizadores de humor, ansiolíticos e antidepressivos. Apenas um psiquiatra será capaz de dizer qual o medicamento adequado para cada paciente, então a consulta ao médico é indispensável para o tratamento.

Aos familiares, amigos e cuidadores

Conviver com uma pessoa que sofre de transtorno de personalidade borderline pode ser doloroso. Embora o transtorno cause muitos problemas aos portadores, ele também afeta a qualidade de vida daqueles que estão a sua volta. Por isso, não é raro que os amigos, familiares e cuidadores também precisem de algum tipo de tratamento.

A psicoterapia é altamente recomendada nesses casos, uma vez que o paciente com borderline pode fazer seus entes queridos sentirem coisas bem desagradáveis. Eles podem acabar se sentindo inúteis por não conseguir ajudar, ou podem ser expostos a conflitos estressantes com alta frequência, o que traz consequências para a psique do indivíduo.

Os comportamentos impulsivos, a instabilidade emocional e de autoimagem e a tendência de amar (valorizar) ou odiar (desvalorizar) do paciente com TPB pode fazer com que as pessoas próximas se sintam não amadas, ou até mesmo dificultar a manutenção de sentimentos bons para com o paciente.

Como as mudanças nos pensamentos, sentimentos e humor do paciente são desencadeadas por situações ordinárias, as pessoas próximas podem não compreender o que está acontecendo e até mesmo questionar sua sanidade. Isso porque o paciente com borderline pode passar a desprezar o parceiro simplesmente porque ele precisa fazer uma viagem a trabalho, podendo ainda confrontar o parceiro, dizendo que ele não é mais amado, que está obviamente sendo deixado, entre outros.

Ainda que o parceiro entenda que se trata do transtorno falando, ninguém é de ferro e essas acusações acabam abalando o bem estar do indivíduo. Ele pode perder a paciência, terminar a relação, ou acreditar que realmente está fazendo algo de errado e se sentir uma péssima pessoa, entre outras possíveis consequências negativas.

Por isso, se você convive com uma pessoa com TPB e acha que isso está te afetando também, busque ajuda! Essa pessoa pode precisar de você, mas você não vai conseguir ajudá-la se não estiver bem em primeiro lugar.

Embora o transtorno de personalidade borderline cause um grande sofrimento aos portadores, geralmente são os amigos e familiares que irão notar que algo está fora do comum. Por isso, é importante prestar atenção nos sinais. Se você desconfia que alguma pessoa amada sofre desse mal, converse com ele(a) e ofereça ajuda! Vocês só tem a ganhar.

Referências

https://www.nimh.nih.gov/health/topics/borderline-personality-disorder/index.shtml

https://www.psycom.net/depression.central.borderline.html

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