Você já recebeu notícias extremamente ruins de algum colega ou parente via redes sociais? Pois bem, antes de entrar em pânico, procure por essa notícia nos veículos de comunicação confiáveis. Isso porque, de acordo com um estudo da Universidade de Warwick, más notícias tendem a se tornar cada vez piores e mais imprecisas quando são repassadas de pessoa em pessoa.
Notícias relacionadas à morte, acidentes, catástrofes e outras situações que colocam a vida em risco parecem sofrer uma ampliação considerável conforme é repassada pelas pessoas. Uma das explicações para isso pode ser o fato de que os seres humanos possuem uma tendência de evitação de riscos. Ou seja, as pessoas vão fazer de tudo para evitá-los, inclusive aumentar a percepção disso para impedir que outros se exponham também.
O estudo foi conduzido por Thomas Hills no Departamento de Psicologia da Universidade de Warwick e contou com 154 participantes em mídias sociais. Os participantes foram divididos em “correntes” de 8 pessoas e funcionava da seguinte maneira: a primeira pessoa recebia um artigo com uma notícia ruim, mas bem escrito e pouco alarmante.
Em seguida, essa pessoa deveria repassar essa notícia para a próxima pessoa com suas próprias palavras, através de uma mensagem de texto (e não passar o artigo original). A segunda pessoa deveria reescrever a notícia, com suas própria palavras, e enviar para a terceira pessoa, e assim por diante. A 6ª pessoa recebia a mensagem da pessoa anterior e o artigo original. No entanto, o nível de exagero e pânico na mensagem repassado à 7ª e 8ª não era menor.
Os pesquisadores constataram que, em cada corrente, as notícias ruins se tornavam cada vez mais negativas e imprecisas, gerando um nível maior de medo e pânico. E, o pior de tudo, esse efeito não era amenizado quando as pessoas tinham a oportunidade de ler a notícia original.
Além disso, notícias com um conteúdo neutro não sofria esse tipo de distorção quando repassada para outras pessoas. Aparentemente, apenas as más notícias exerciam este poder de serem amplificadas.
O condutor do estudo, Thomas Hills, comentou ao portal PsyPost: “A sociedade é um amplificador de riscos. Essa pesquisa explica porquê nosso mundo parece cada vez mais ameaçador independente das reduções consistentes de ameaças no mundo real”.
Também mostra que quanto mais pessoas repassam uma informação, mais essa informação se distancia da realidade, e ela se torna cada vez mais resiliente à correção.
Por que isso é relevante?
Você já ouviu falar de “fake news”? Caso não, as tais “notícias falsas” são boatos tão bem elaborados que passam a ideia de que é uma notícia verdadeira, mas que simplesmente não circula pelos veículos de comunicação convencionais porque, de alguma forma, possui um conteúdo que deve ser censurado para que a população não entre em pânico.
Essas notícias costumam ser repassadas em redes sociais e raramente contém um link para algum site na internet, mas vez ou outra o boato pode apontar portais especializados neste tipo de notícia para dar mais credibilidade.
Durante a greve dos caminhoneiros, diversas fake news contribuíram para o desabastecimento de supermercados, uma vez que incitavam no povo o pânico e a urgência para comprar estoques de alimentos e outros itens necessários para o dia a dia, antes que acabassem nas prateleiras. Desta forma, pessoas se dirigiam aos mercados e compravam diversos quilogramas de alimentos desnecessariamente, deixando menos alimentos disponíveis para as outras pessoas.
O mesmo aconteceu com a gasolina: o medo de não ter mais o combustível para os próximos dias, incitado pelas notícias extremamente negativas sobre a falta em alguns postos, acabou gerando uma sensação de apocalipse nas pessoas, e elas precisavam correr e se salvar o quanto antes, garantindo o produto para o resto da semana — ou até mesmo mês.
Quem sabe, se essas notícias não tivessem se espalhado dessa forma, as pessoas não iriam comprar mais do que precisavam simplesmente para estocar antes que acabasse, e os mercados e postos teriam suprimentos e gasolina por mais tempo. Contudo, não é possível prever isso com certeza, uma vez que se tratava de uma situação sem previsão para terminar.
A preocupação com a propagação de notícias falsas ou exageradamente negativas é grande, pois há quem acredite nesses boatos e entre em desespero. Infelizmente, tudo isso acaba sendo um fenômeno da nossa vida em sociedade e o ideal a se fazer ao receber uma notícia exageradamente ruim é checar as fontes confiáveis — ainda que os jornais não mostrem a figura inteira, coisas realmente importantes são anunciadas rapidamente e com mais precisão.
Referências