Exercício físico e saúde mental: qual a relação?

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Você já ouviu falar que se exercitar ajuda a combater a depressão? Por mais que pareça conselho de tio que não entende nada do assunto, ele carrega um fundo de verdade: diversos estudos mostram que o exercício físico pode ser um bom aliado no combate a transtornos mentais.

O ato de exercitar-se regularmente já é recomendado para prevenir diversas doenças crônicas, como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, entre outros. Contudo, há evidências de que ela possa auxiliar na prevenção de doenças neurológicas degenerativas, assim como combater sintomas de ansiedade e depressão.

Antes de continuar, é importante lembrar o que é “exercício físico” neste contexto. Muita gente acha que é só ir na academia duas vezes por semana e pronto, está tudo certo. Pois bem, os estudos feitos mostram que, na verdade, é mais vantajoso se exercitar um pouco todos os dias do que passar o final de semana na academia — embora essa segunda opção seja eficaz também. Além disso, o tempo de exercício é mais importante do que a intensidade do exercício: é melhor fazer caminhadas rapidamente todos os dias do que correr só um dia da semana.

Os exercícios não precisam ser aqueles comumente feitos em ambientes de treinamento. O objetivo não é ganhar massa muscular, e sim manter o corpo ativo. Neste sentido, caminhar rapidamente e correr são ótimos exercícios. Além disso, esses exercícios são mais fáceis de realizar no dia a dia, diminuindo as chances de desistência. Alguns exemplos de coisas que podem ser feitas para garantir exercícios com mais frequência é deixar o carro em casa e ir de ônibus (pois ajuda a caminhar mais), correr no parque (é mais acessível do que ir a uma academia para correr na esteira), entre outros.

Ansiedade e depressão

Uma revisão bibliográfica feita na Medical University of South Carolina em 2011 mostra que há uma grande quantidade de estudos que correlacionam a atividade física com a melhora de sintomas depressivos e ansiosos. Além disso, os exercícios também estão ligados a uma melhora na saúde física, sensação de satisfação, funcionamento cognitivo e bem-estar psicológico.

Por que isso acontece? É difícil dizer. Provavelmente existem mais de um mecanismo que permite uma melhora dos sintomas ao praticar exercícios físicos. Dentre eles está o fato de que, ao se exercitar, há uma liberação de neurotransmissores ligados ao prazer e à regulação emocional, como a dopamina, a serotonina e a noradrenalina. Além disso, assim como os músculos, algumas estruturas cerebrais relacionadas ao desenvolvimento de transtornos mentais são fortalecidas durante o exercício físico.

Alguns exemplos dessas estruturas são o córtex frontal e o hipocampo. Todas essas áreas se comunicam com a amígdala, uma pequena estrutura responsável por “frear” emoções negativas. Como tudo isso está interconectado, se alguma parte não está funcionando direito, é provável que as outras partes também não sejam capazes de funcionar corretamente.

Pacientes com depressão costumam ter o volume do hipocampo menor do que pessoas saudáveis. O efeito dos exercícios físicos nesta área do cérebro pode auxiliar a combater o transtorno, diminuindo certos sintomas.

Um outro possível mecanismo pelo qual o exercício ajuda nesses transtornos é a liberação de endocanabinóides, que são neurotransmissores associados a efeitos analgésicos e ansiolíticos, além de promover uma sensação de bem-estar.

No caso de pacientes com depressão leve, houve uma melhora significativa nos sintomas, tendo eficácia parecida com o tratamento farmacológico. Já nos casos de depressão mais severos, o tratamento farmacológico ainda se fez necessário, mesmo que o exercício ajudasse bastante com os sintomas.

Na ansiedade, o efeito dos exercícios foram um pouco diferentes. Embora houvesse uma diminuição significativa dos sintomas, ela nunca era maior do que a diminuição provocada pelo tratamento farmacológico com ansiolíticos. Novamente, ainda que o exercício ajude, ele não é eficaz por si só.

Vale lembrar, entretanto, que o exercício físico não pode ser usado como substituto da terapia ou tratamento psiquiátrico. Mesmo nos casos em que não é necessário o tratamento farmacológico, manter as visitas ao profissional de saúde em dia é extremamente importante para a melhora da condição.

Outra revisão bibliográfica, publicada em 2014 pelo CNS & Neurological Disorders – Drug Targets, mostra que os exercícios físicos são significativos em um nível moderado em pacientes com depressão, mas pacientes com ansiedade não se beneficiam tanto assim. Contudo, o mesmo artigo alerta para a necessidade de mais pesquisas em relação à ansiedade, uma vez que os dados não são tão conclusivos.

Uma outra análise publicada no Health Psychology Review em 2015 revela que, em estudos feitos com uma população não-clínica (não diagnosticadas com depressão ou ansiedade), os resultados foram um pouco diferentes. Sintomas potencialmente depressivos foram diminuídos, mas não tanto quanto em pessoas diagnosticadas com depressão. Além disso, não houve mudança significativa em sintomas ansiosos em pessoas que não sofrem com algum transtorno de ansiedade.

Contudo, as evidências de que o sedentarismo está ligado à depressão é um lembrete de que, mesmo que você não tenha algum transtorno, é importante manter-se ativo. Por mais que não haja provas de que a falta de atividades físicas contribua para o desenvolvimento de algum transtorno de humor, os exercícios ajudam a prevenir diversas outras doenças e promovem a melhora de muitas habilidades, além de trazer a sensação de bem-estar que, em si, é uma grande aliada na prevenção e no combate à depressão.

Photo by Val Vesa on Unsplash

Outros transtornos neurológicos

Doenças degenerativas como o mal de Alzheimer e problemas neurológicos como a demência podem ter sintomas mais amenos devido ao exercício físico. O hábito de exercitar-se a longo prazo altera algumas estruturas do cérebro, levando a um aumento do córtex pré-frontal, que resulta em uma melhora na habilidade de concentração, raciocínio, planejamento, entre outros, e do volume do hipocampo, que está intimamente relacionado à formação de memórias.

Quando as doenças degenerativas aparecem, as áreas mais comumente afetadas são essas duas. Caso elas estejam maiores e mais fortes, pode demorar mais para que a doença cause sintomas mais graves, o que estende o tempo de qualidade de vida.

Além disso, essas duas áreas são as que mais decaem com o envelhecimento, então mantê-las fortes garante que elas sejam saudáveis por mais tempo, fazendo com que o declínio cognitivo normal da idade seja menos significativo.

Referências

Carek, P. J.; Carek, S. M. & Laibstan, S. E. (2011). Exercise for the Treatment of Depression and Anxiety. The International Journal of Psychiatry in Medicine, 41(1). Nova Iorque: Baywood Publishing Co Inc.

Rebar, L. A.; Stanton, R.; Geard, D.; Short, C.; Duncan, M. J. & Vandelanotte, C. (2015). A Meta-Meta-Analysis of the effect of physical activity on depression and anxiety in non-clinical adult populations. Health Psychology Review. DOI: 10.1080/17437199.2015.1022901

Wegner, M.; Helmich, I.; Machado; S.; Nardi, A. E.; Arias-Carrion, O.; Budde, H. (2014). Effects of Exercise on Anxiety and Depression Disorders: Review of Meta- Analyses and Neurobiological Mechanisms. CNS & Neurological Disorders – Drug Targets, 13(6). DOI : 10.2174/1871527313666140612102841

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