Distimia: transtorno depressivo persistente

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin

Você conhece alguma pessoa que está constantemente de mau humor e nada parece agradá-la? Pessoas ingratas que não conseguem enxergar o lado bom das coisas são frequentemente vistas com tóxicas e rejeitadas pela sociedade. Você já parou para pensar que, talvez, ela esteja sofrendo com um transtorno mental?

Também conhecido como distimia, o transtorno depressivo persistente pode ser facilmente confundido com traços de personalidade indesejáveis. Isso porque se trata de uma depressão mais amena, porém de longa duração, o que faz com que as pessoas confundam os sintomas — que incluem tristeza, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, baixa autoestima, autocrítica etc. — com traços de personalidade, uma vez que eles são relativamente estáveis.

O transtorno pode se iniciar na adolescência, o que reforça a ideia de que esses comportamentos são parte da identidade da pessoa, quando na verdade não passam de uma enfermidade. O próprio paciente pode ter dificuldade em perceber que está precisando de ajuda, pois também aceita os sintomas como parte de sua personalidade. Geralmente, são as outras pessoas que percebem e comentam que há algo de errado, ressaltando a negatividade do indivíduo e aconselhando uma busca por ajuda.

Sintomas e critérios diagnósticos

De acordo com o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5.ª edição), a distimia se caracteriza por um humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, durante, pelo menos, 2 anos. Para que haja o diagnóstico, é preciso que o indivíduo também apresente pelo menos duas das características abaixo:

  • Apetite diminuído ou alimentação em excesso;
  • Insônia ou hipersonia (dormir em demasia);
  • Fadiga ou baixa energia;
  • Baixa autoestima;
  • Dificuldade em se concentrar ou tomar decisões;
  • Sentimentos de desesperança.

É importante também notar que, para o diagnóstico de distimia, durante esses 2 anos, o indivíduo não pode ter passado mais que dois meses sem apresentar esses sintomas. Também não pode haver histórico de episódio maníaco ou hipomaníaco (presentes em transtornos de humor como o transtorno afetivo bipolar, ciclotimia, entre outros). A possibilidade de outros transtornos como o transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno delirante, entre outros, também deve ser descartada.

Em casos de crianças e adolescentes, o diagnóstico pode ser feito quando os sintomas duram há 1 ano. Além disso, o sintoma mais aparente nesses casos pode ser irritabilidade, e não tanto o humor deprimido.

Distimia versus depressão maior

A depressão maior é um tipo de depressão com sintomas intensos, que interferem significativamente na vida do indivíduo, impedindo-o de trabalhar, estudar, manter relacionamentos, enfim, levar uma vida funcional. Esse transtorno pode durar até 2 anos. Já a distimia tem como característica principal a duração superior a 2 anos. Além disso, os sintomas costumam ser menos intensos e não interferir tanto no dia a dia do paciente. Ele pode até ter um mau desempenho nas diversas áreas da vida, mas não é tão limitado quanto o indivíduo com depressão maior.

No entanto, em alguns casos raros, os sintomas intensos da depressão maior podem durar mais de 2 anos. Neste caso, ela recebe outro nome: transtorno depressivo persistente. Para o DSM-5, este transtorno e a distimia são a mesma enfermidade, variando apenas na intensidade dos sintomas.

É possível, também, que o indivíduo diagnosticado com distimia, durante os últimos dois anos, tenha vivenciado um ou mais episódios de depressão maior. Um transtorno não anula o outro, gerando o que se chama de “depressão dupla”. Neste contexto, o transtorno depressivo persistente pode ser classificado da seguinte forma:

  • Síndrome distímica pura: Quando o paciente não apresenta os critérios para diagnóstico de um episódio de depressão maior nos últimos 2 anos;
  • Com episódio depressivo maior persistente: Quando o indivíduo satisfaz os critérios para um episódio depressivo maior nos últimos 2 anos;
  • Com episódios depressivos maiores intermitentes, com episódio atual: Quando os critério para um transtorno depressivo maior são satisfeitos mas, durante 2 anos, houve um período de pelo menos 8 semanas nos quais os sintomas estavam abaixo do limiar para diagnóstico de um episódio depressivo maior completo;
  • Com episódios depressivos maiores intermitentes, sem episódio atual: Quando o indivíduo não satisfaz todos os critérios para o diagnóstico de um episódio depressivo maior atualmente, mas houve um ou mais episódios de depressão maior nos últimos 2 anos.

Fatores de risco

Existem alguns fatores de risco que aumentam as chances de uma pessoa desenvolver o transtorno depressivo persistente. São eles:

  • Temperamento: Pessoas com níveis maiores de neuroticismo (traço de personalidade com tendência a ter mais sentimentos negativos) têm mais chances de desenvolver o transtorno;
  • Ambiente: Fatores ambientais como a perda ou separação dos pais na infância podem aumentar as chances de uma pessoa desenvolver distimia;
  • Fatores genéticos: Pessoas com histórico familiar de transtornos depressivos têm mais chances de desenvolver o problema;
  • Fatores fisiológicos: Não raramente, há alterações neurofisiológicas em pacientes com transtorno depressivo persistente.

Tratamento para distimia

O tratamento para distimia consiste em uma combinação de tratamento farmacológico e psicoterapia. Enquanto o tratamento farmacológico, feito com antidepressivos, auxilia na regulação de neurotransmissores responsáveis pelo humor e bem-estar, a psicoterapia traz um enfoque mais prático ao tratamento.

Existem diversas abordagens de psicoterapias, mas uma das mais conhecidas atualmente é a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda o paciente a identificar e corrigir seus pensamentos e comportamentos disfuncionais, ou seja, pensamentos e sentimentos que contribuem para o transtorno.

Essa abordagem é tão conhecida pois, além de trazer resultados relativamente rápidos e duradouros, mostra-se bastante eficaz em diversos transtornos mentais. O terapeuta ensina o paciente a compreender seus pensamentos e emoções, solucionar seus problemas e modificar pensamentos automáticos e disfuncionais que podem surgir decorrente das dificuldades da vida.

Apesar de ser considerada relativamente rápida, a psicoterapia na abordagem cognitivo-comportamental não funciona do dia para a noite. Sendo assim, é necessário também que o indivíduo tenha paciência e frequente as sessões assiduamente para maximizar os resultados do tratamento.

Consequências e comorbidades

Como consequência de um transtorno depressivo persistente não tratado, o indivíduo pode apresentar um mau rendimento nas diversas esferas da vida (profissional, social, entre outros), que pode se igualar ao prejuízo causado pelo transtorno depressivo maior. Além disso, o paciente pode sofrer com ideação suicida e tentativas de suicídio.

Pessoas que sofrem com distimia também têm mais chances de desenvolver outros transtornos psiquiátricos (comorbidades), como transtornos de ansiedade e transtornos por uso de substância. Há uma forte associação, também, entre a distimia de início precoce (antes dos 21 anos de idade) e alguns transtornos de personalidade.

***

Nem todas as pessoas que expressam muita negatividade no dia a dia sofrem com a distimia, mas, em muitos casos, o transtorno pode estar por trás desses comportamentos desagradáveis e não muito socialmente aceitos.

Se você se identifica ou conhece alguém que costuma viver “para baixo”, talvez seja a hora de procurar ajuda com um profissional da saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra da sua confiança.

Referências

Associação Americana de Psiquiatria (2014). DSM-5 – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5ª. edição. Porto Alegre: Artmed.

Confira posts relacionados