A depressão é um transtorno de humor que se manifesta principalmente por um estado persistente de tristeza, falta de energia, mudanças nos hábitos alimentares e de sono, entre outros sintomas. Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da depressão, sendo a inflexibilidade psicológica um deles.
O Que É Inflexibilidade Psicológica?
A inflexibilidade psicológica é a dificuldade de mudar de opinião ou de pensar de maneira diferente, mesmo diante de evidências que contradizem essas crenças. Por exemplo, uma pessoa que se considera um “fracassado” pode ter um bom emprego e uma família, mas continua a ver sua vida de forma negativa.
Esse tipo de inflexibilidade surge de uma percepção distorcida sobre si mesmo, sobre os outros e sobre as situações, frequentemente focando em ideias fixas sobre o passado e o futuro. Isso impede a pessoa de se concentrar no presente e de se abrir a experiências significativas, mesmo que dolorosas.
Um dos principais fatores que contribuem para essa inflexibilidade é o autoconhecimento deficiente. Quem não se conhece bem tem dificuldade em lidar com situações de forma adaptativa e eficaz.
Qual é a Relação com a Depressão?
Segundo Aaron Beck, um dos principais teóricos da terapia cognitivo-comportamental (TCC), crenças disfuncionais sobre nós mesmos e o mundo ao nosso redor podem levar ao desenvolvimento de transtornos mentais. Essas crenças influenciam profundamente nossa maneira de pensar e agir.
Os pensamentos automáticos — aqueles que surgem rapidamente e sem reflexão — podem se basear em crenças disfuncionais. Por exemplo, um estudante que tira uma nota baixa pode pensar: “Sou burro e nunca serei bem-sucedido.” Esse pensamento distorcido não reflete a realidade; a nota ruim não define sua inteligência.
Esse fenômeno, conhecido como fusão cognitiva, faz com que a pessoa se fixe em suas percepções errôneas, dificultando uma visão mais realista das situações. Quando um indivíduo tem muitos pensamentos disfuncionais, a chance de desenvolver um quadro depressivo aumenta.
A inflexibilidade psicológica alimenta a frustração em relação à própria vida, pois a pessoa se apega a ideais de quem “deveria ser”, o que a leva a desconsiderar sua realidade atual e suas possibilidades futuras.
Como Tratar a Inflexibilidade Psicológica?
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) oferece ferramentas para promover mudanças significativas na vida do paciente. Uma abordagem específica, a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), foca na flexibilidade psicológica.
A ACT utiliza intervenções centrais que ajudam o paciente a lidar com emoções e pensamentos, promovendo um maior controle sobre o comportamento em diferentes situações, especialmente as desafiadoras. Algumas dessas intervenções incluem:
- Aceitação: Em vez de tentar evitar experiências desagradáveis, o paciente aprende a aceitá-las, sem gastar energia tentando se livrar delas.
- Desfusão Cognitiva: Esta técnica ajuda o paciente a observar seus pensamentos como eventos privados, não como verdades absolutas. Por exemplo, ao tirar uma nota ruim, a pessoa percebe que está tendo um pensamento distorcido, mas isso não a define como um fracasso.
- Mindfulness: Focar no presente sem julgamentos auxilia na aceitação e resolução de problemas, contribuindo para a flexibilidade psicológica.
- Eu Como Contexto: Essa abordagem enfatiza a percepção de si mesmo dentro de um contexto maior, permitindo que a pessoa se concentre em quem é e no que pode fazer, ao invés de se prender a quem “deveria” ser.
Ao trabalhar nessas áreas, o paciente pode se tornar mais psicologicamente flexível, o que não só ajuda a combater a depressão, mas também melhora a qualidade de vida.
A inflexibilidade psicológica pode afetar muitas pessoas, tornando fundamental que mais indivíduos reconheçam essa questão e busquem ajuda quando necessário. Se você sente que precisa de apoio, considere procurar um médico ou psicólogo de confiança.
Referências
Hayes, S., Pistorello, J., & Biglan, A. (2008). Terapia de Aceitação e Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio. Revista Brasileira De Terapia Comportamental e Cognitiva, 10(1), 81-104. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v10i1.234