Você já ouviu falar em pessoas que, após comer em demasia, correm para o banheiro para eliminar o que consumiram? Talvez você esteja lidando com um caso de bulimia, um distúrbio alimentar caracterizado por compulsão alimentar seguido de expurgação ou outros métodos para se livrar das calorias ingeridas.
O transtorno gira em torno do medo de engordar, fazendo com que a pessoa tome medidas drásticas para diminuir ou manter o seu peso. Frequentemente está associado a uma visão distorcida do próprio corpo, na qual o indivíduo acredita estar acima do peso quando, na realidade, não está.
As mulheres jovens são as mais afetadas pelo transtorno, mas homens e pessoas de outras idades também podem apresentá-lo.
Se não tratada, a bulimia pode piorar e o indivíduo começa a perder muito peso de maneira acelerada. O problema é que, junto com a perda de peso, há também déficits nutricionais, uma vez que a pessoa não permite que a comida fique no corpo por tempo o suficiente para que os nutrientes sejam absorvidos. Isso acarreta em ossos mais fracos, baixa resistência ao frio, entre outros problemas. Em casos extremos, o transtorno pode levar ao óbito.
Bulimia versus anorexia
Apesar de intimamente relacionadas, a bulimia e a anorexia são transtornos diferentes.
A principal diferença entre os dois são os hábitos alimentares: enquanto a anorexia é caracterizada pela evitação do consumo de alimentos e ortorexia (obsessão por uma alimentação saudável), a bulimia tem como principal característica a compulsão alimentar, ou seja, períodos no qual a pessoa começa a comer e não consegue parar durante um bom tempo.
Os episódios de compulsão alimentar da bulimia são seguidos por comportamentos para compensar o episódio, como expurgação (vômito, uso de laxantes e diuréticos etc.), prática de exercícios em demasia ou privação alimentar. Além disso, os alimentos consumidos durante o episódio compulsivo não necessariamente são saudáveis, podendo ser, na realidade, escolhas bastante calóricas, como bolos, biscoitos, massas etc.
Vez ou outra, pessoas com anorexia podem apresentar sintomas de bulimia, como a compulsão alimentar a expurgação de maneira periódica. Nesses casos, é importante que o paciente seja reavaliado para ter certeza de que o diagnóstico está correto e modificar o tratamento, se for necessário.
Sintomas da bulimia
Os sintomas da bulimia são bastante parecidos com os da anorexia e incluem:
- Demonstrar preocupação excessiva com o peso;
- Evitar alimentar-se na frente de outras pessoas;
- Prática excessiva de exercícios físicos;
- Perda de peso de maneira súbita;
- Pular refeições ao longo do dia;
- Comportamentos estranhos após as refeições, como trancar-se no banheiro e demorar para sair;
- Arrependimento após ter se alimentado;
- Efeitos colaterais de técnicas de expurgação, como dores abdominais e desregulação intestinal devido ao uso de laxantes, entre outras.
Causas e fatores de risco
Não existe uma causa específica da bulimia. Atualmente, sabe-se apenas que existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno. Muitos destes fatores são fatores gerais para o desenvolvimento de algum transtorno mental, como histórico familiar de transtornos mentais, abuso de álcool e outras drogas, histórico de abuso (psicológico, físico, entre outros) etc.
Assim como a anorexia, a bulimia pode estar relacionada aos padrões de beleza pautados em um corpo magro e, portanto, seu desenvolvimento está associado a problemas com autoimagem e autoestima.
Histórico familiar de obesidade, ter um corpo acima do peso antes do distúrbio surgir, ideais irrealistas a respeito do corpo humano, pressões para fazer dietas, entre outros, são todos fatores de risco para o desenvolvimento de algum distúrbio alimentar.
Nenhum desses fatores isoladamente é capaz de desencadear o problema, mas eles costumam estar presentes com frequência em pacientes que sofrem de bulimia nervosa.
Diagnóstico e tratamento da bulimia
O diagnóstico da bulimia pode ser feito por um clínico geral, mas, por se tratar de um transtorno mental, um psiquiatra também deve ser consultado. O médico irá perguntar sobre os hábitos alimentares do paciente e conferir se está no peso recomendado para altura e idade antes de dar o diagnóstico.
O tratamento geralmente é feito com ajuda e um psicólogo e um terapeuta nutricional, a fim de modificar os hábitos alimentares e auxiliar na recuperação do peso recomendado de maneira adequada.
Terapia cognitiva-comportamental
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem da psicologia que apresenta grande eficácia, pois ajuda o paciente a ter uma visão mais realista acerca do mundo e de si mesmo, além de modificar comportamentos que podem ser prejudiciais, como é o caso da compulsão seguida de expurgação.
Esse tipo de terapia trabalha com as crenças e valores que o indivíduo têm que estão distanciadas da realidade e podem estar sendo prejudiciais. Ela auxiliará o paciente a ver seu corpo como realmente está, eliminando as distorções que a pessoa possa ter a respeito de seu peso, além de modificar os hábitos alimentares, promovendo uma base para uma alimentação mais saudável e adequada. Extinguir os comportamentos de expurgo ou compensatórios também está dentro dos objetivos dessa terapia.
As sessões são estruturadas e possuem objetivos específicos. Os resultados começam a ser vistos logo nas primeiras semanas, caso o paciente se comprometa no seu tratamento.
Tratamento farmacológico
É possível que o psiquiatra prescreva antidepressivos para o tratamento da bulimia nervosa, pois esses medicamentos ajudam com a regulação do apetite, além de tratar possíveis comorbidades como depressão e ansiedade, que são comuns em pacientes com bulimia.
Apesar de muito conhecida, a bulimia ainda é um tabu e as pessoas que sofrem com o problema podem ter vergonha em procurar ajuda. No entanto, o tratamento é de extrema importância pois, caso o transtorno não seja tratado, ele tende a piorar e pode até mesmo levar ao óbito por conta da alimentação defasada.
Se você ou alguém que você conhece sofre com o problema, procure um médico ou psicólogo de sua confiança.
Referências
Fairburn C. G.; Welch S. L.; Helen A. Doll, et al (1997). Risk Factors for Bulimia Nervosa: A Community-Based Case-Control Study. Arch Gen Psychiatry, 54(6): 509-517. doi:10.1001/archpsyc.1997.01830180015003. Disponível em https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/497829, acesso em 11/01/2019.
Hay P. P. J.; Bacaltchuk J.; Stefano S.; Kashyap P. (2009). Psychological treatments for bulimia nervosa and binging. Cochrane Database of Systematic Reviews, 4. doi: 10.1002/14651858.CD000562.pub3. Disponível em https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD000562.pub3/abstract, acesso em 11/01/2019.