Estudos recentes mostram que pode haver mais um fator de risco inusitado para uma saúde mental prejudicada: exposição ao chumbo. Trata-se de um metal pesado que é utilizado frequentemente em canos de água, adicionado a tintas para evitar corrosão devido ao tempo, adicionado na gasolina para ajudar a manter a durabilidade das peças do veículo, entre outros.
Sendo assim, nos dias de hoje, existem muitas pessoas que vivem em contato frequente com o chumbo, tanto em casa quanto no trabalho. O problema é que, com o tempo, a ciência percebeu que o chumbo é, na realidade, um metal tóxico que pode trazer diversos prejuízos à saúde, inclusive a saúde mental.
Por estar presente na tubulação por onde a água passa, é comum o consumo de partículas de chumbo junto com a água que bebemos e usamos para cozinhar alimentos. O chumbo também pode entrar no corpo por meio da respiração em locais onde há partículas do metal no ar. Essas partículas nem sempre são eliminadas e podem se acumular nos ossos, no cérebro e outros órgãos. O resultado é uma série de complicações, como hipertensão (pressão alta) e danos renais.
Vale lembrar que níveis elevados de chumbo no organismo costumavam ser vistos como normal até pouco tempo atrás, e a própria Organização Mundial da Saúde não sabe dizer se existe um nível seguro de exposição ao chumbo. Fica óbvio, então, que estamos lidando com um potencial nocivo desconhecido, mas que claramente já causou muito prejuízo.
Efeitos no cérebro e na saúde mental
Devido ao acúmulo de partículas de chumbo, pode haver danos no sistema nervoso central (cérebro propriamente dito) e periférico (nervos que controlam os movimentos voluntários e involuntários). Diversos estudos mostram que a exposição ao chumbo está relacionada a mudanças de comportamento, prejuízos cognitivos e déficits na inteligência em crianças.
O chumbo pode, ainda, causar encefalopatia (aguda e crônica), uma enfermidade que altera o funcionamento e/ou a estrutura cerebral. Os sintomas mais comuns são dificuldades para raciocinar e se concentrar, perda de memória, confusão mental, espasmos e contrações rítmicas, alterações na personalidade e convulsões.
Pessoas que estão em contato direto com o chumbo mesmo depois de adultos, como trabalhadores em fábricas, por exemplo, têm mais chances de ter um prejuízo progressivo da função cognitiva por conta da exposição ao metal. Quando afeta o sistema nervoso periférico, o chumbo pode causar lesões nos nervos e paralisias.
Além disso, um novo estudo da Duke University (Durham, Carolina do Norte) sugere que a exposição ao chumbo durante a infância influencia o desenvolvimento da personalidade e pode tornar uma pessoa mais predisposta a problemas na saúde mental durante a vida adulta.
De acordo com este estudo, indivíduos que tiveram níveis elevados de chumbo no sangue quando eram novos têm maiores chances de vivenciar problemas com a saúde mental na idade adulta, mesmo após 3 ou 4 décadas da exposição. Há também uma chance maior de desenvolver traços de personalidade prejudiciais, como o neuroticismo.
O neuroticismo é um traço de personalidade caracterizado pela tendência de estar em um estado emocional negativo ou ansioso. Pessoas com esse traço de personalidade costumam pensar negativamente e estão frequentemente “para baixo”. Elas sofrem com sentimentos de culpa, inveja, raiva e ansiedade com mais frequência que pessoas sem esse traço de personalidade.
Não é difícil imaginar que ter esse traço de personalidade aumenta muito a chance de apresentar algum problema na saúde mental, não é mesmo? Pessoas que sofrem com neuroticismo têm baixa tolerância ao estresse e ao mal-estar, o que pode prejudicar muito a maneira que essas pessoas levam a vida.
O que fazer?
Como a exposição ao chumbo geralmente ocorre na infância, é vital que adultos monitorem sua saúde mental e procurem profissionais de saúde ao notar sintomas relacionados a transtornos mentais. A psicoterapia é uma abordagem eficaz que pode beneficiar todos, independentemente do estado atual da saúde mental.
Para crianças expostas ao chumbo, recomenda-se:
- Realizar exames regulares para monitorar os níveis de chumbo no organismo
- Minimizar a exposição ao metal sempre que possível
Embora não exista um nível seguro de exposição ao chumbo, muitos especialistas consideram que níveis abaixo de 5 microgramas por decilitro de sangue apresentam menos riscos. Níveis acima disso podem exigir tratamento para reduzir os efeitos tóxicos.
Como Evitar o Contato com o Chumbo
Evitar o contato com o chumbo pode ser desafiador, mas aqui estão algumas dicas úteis:
- Prefira alimentos orgânicos, cultivados sem agrotóxicos e em solo com controle de metais.
- Ao abrir a torneira, aguarde alguns instantes antes de usar a água, especialmente em dias quentes.
- Se você vive em uma casa antiga, considere remover tintas que podem conter chumbo e substituí-las por opções seguras.
- Verifique a composição dos produtos que você compra. Muitos cosméticos, como batons e esmaltes, podem conter chumbo. Opte por alternativas sem esse metal.
Conclusão
A exposição ao chumbo é um fator de risco que pode afetar não apenas a saúde física, mas também a saúde mental. Se você está enfrentando sinais de problemas mentais, não hesite em procurar a ajuda de um médico ou psicólogo de confiança.