Hormônio pode melhorar o comportamento social em pessoas com autismo

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O transtorno de espectro autista (TEA) é muito conhecido pelos prejuízos que causa na sociabilidade dos portadores. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento que causa dificuldades na interação com outras pessoas, dificuldades de linguagem e na interpretação de estímulos, entre outros. Varia muito em severidade, tendo pessoas que conseguem levar uma vida funcional, porém com algumas dificuldades, e pessoas que sofrem prejuízos sérios em várias áreas da vida, necessitando, muitas vezes, educação especial.

Muitas teorias tentam explicar as causas do TEA, mas não se sabe muito sobre como prevenir o transtorno. Contudo, novos estudos mostram que um determinado hormônio pode auxiliar na amenização de sintomas, especialmente aqueles ligados ao comportamento social. A vasopressina é um hormônio encontrado no líquido cefalorraquidiano, um fluido encontrado no cérebro que promove proteção ao cérebro contra infecções, carrega proteínas e hormônios, entre outros.

O que um dos estudos mostra é que, em pessoas com autismo, o nível de vasopressina no líquido cefalorraquidiano é menor, e quanto menos vasopressina disponível, piores são os sintomas. Isso porque onde a vasopressina mais atua no cérebro é justamente nas áreas ligadas ao funcionamento social.

Os estudos

O primeiro estudo foi liderado por Karen Parker, diretora do Programa de Pesquisa Social em Neurociências da Universidade de Stanford. Participaram da pesquisa 30 crianças diagnosticadas com autismo, das quais 17 receberam um spray nasal contendo vasopressina, e 13 receberam um spray placebo, ou seja, sem a substância ativa.

As crianças que receberam o tratamento com vasopressina apresentaram melhora na sociabilidade, de acordo com a Escala de Responsividade Social, um teste padronizado que mede o comportamento social. Percebeu-se uma melhora na comunicação social, na habilidade de interpretar o estado mental e emocional dos outros, assim como diminuição de outro sintomas do autismo, como ansiedade e comportamentos repetitivos.

Já o segundo estudo foi comandado pelo Dr. Paulo Fontoura, vice presidente das pesquisas em neurociências e desenvolvimento clínico de doenças raras na Roche Pharmaceuticals. O estudo envolveu 223 homens com autismo de moderado a severo.

Neste estudo, os participantes não receberam a vasopressina propriamente dita, mas uma substância capaz de ativar os neuroreceptores da vasopressina. A substância se chama balovaptan e já é utilizada na indústria farmacêutica como antidiurético, mas está sendo estudada para auxiliar em casos de autismo.

Os 223 homens foram divididos em 4 grupos. Três grupos receberam o balovaptan em diferentes doses, enquanto o quarto grupo recebeu apenas um placebo, todos os dias durante 12 semanas.

Embora não tenha sido possível notar diferenças significativas por meio da Escala de Responsividade Social, os dois grupos que receberam as doses mais altas de balovaptan demonstraram melhoras que foram medidas por outras escalas que identificam a socialização, comportamento adaptativo e habilidades diárias, quando comparados ao grupo dos que tomaram placebo.

Nos dois estudos, os participantes não demonstraram nenhum efeito colateral sério, nem houve qualquer preocupação em relação a saúde dos indivíduos.

Vasopressina poderia ser a solução?

Apesar de ambos os estudos trazerem resultados bastante positivos em relação ao efeito da vasopressina em pessoas com autismo, ainda não se sabe o bastante para que o hormônio seja indicado para o tratamento do transtorno.

Não se sabe quais poderiam ser os efeitos a longo prazo, nem mesmo se essas substâncias seriam efetivas para uma grande parte da população com TEA. O segundo estudo, por exemplo, foi feito apenas em indivíduos do sexo masculino, o que exclui a parcela feminina da população com autismo que, apesar de em menor tamanho, ainda existe e deve ser levada em consideração.

No entanto, mesmo com todas essas limitações, não se deve abandonar a esperança. Até os dias de hoje, as opções farmacológicas para o tratamento do TEA são escassas, e estamos diante da possibilidade de expandir essa lista com uma substância com grande probabilidade de eficácia.

Mais estudos devem ser feitos nos próximos anos para que seja possível constatar a eficácia e segurança desses medicamentos.

TEA e os tratamentos disponíveis atualmente

O Transtorno de Espectro Autista pode ter diversos tratamentos diferentes, pois a severidade dos sintomas podem variar bastante. Nos casos mais leves, os sintomas podem ser tão sutis que a pessoa pode receber diversos diagnósticos errôneos, visto que ela consegue funcionar bem em sociedade, tendo apenas algumas dificuldades. Já em outros casos, os sintomas são tão severos que há dificuldades no desenvolvimento da linguagem, déficits intelectuais, entre outros.

Algumas pessoas necessitam de educação especial, terapia ocupacional, entre outras abordagens mais integrais, enquanto outras conseguem chegar a pós-graduação com intervenções menos intensas.

O transtorno é diagnosticado quatro vezes mais em homens do que em mulheres, mas acredita-se que haja diferenças na manifestação do transtorno no sexo feminino, especialmente nos casos mais leves, motivo pelo qual muitas mulheres recebem o diagnóstico já na idade adulta, enquanto o diagnóstico em homens é comum já na infância ou adolescência.

Psicoterapia e psicopedagogia

Um dos tratamentos mais comuns (e muitas vezes eficazes) para o TEA é a psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda o paciente a desenvolver comportamentos e habilidades para lidar com as suas dificuldades.

O acompanhamento psicopedagógico na escola ou no contra-turno escolar também pode auxiliar bastante. Não raramente, pessoas com TEA têm algumas habilidades e hobbies interessantes, e o indivíduo pode aprender a utilizar essas habilidades a seu favor, especialmente na hora de socializar.

Um menino que tem problemas para socializar na escola, por exemplo, mas sabe fazer bons desenhos, pode utilizar esses desenhos para se conectar com as outras crianças e criar vínculos. Com o tempo e com as terapias, o menino pode aprender (ou aperfeiçoar, caso já saiba) as formas convencionais de comunicação, como a fala e a escrita, mas sem necessariamente deixar de se comunicar pelos seus desenhos.

Um mito que existe acerca do TEA é que as pessoas com autismo não se interessam pelo mundo exterior, quando na realidade elas apenas têm dificuldade em utilizar os meios convencionais de comunicação. Felizmente, com o tratamento adequado, a pessoa pode ter grandes melhoras e levar uma vida funcional, mesmo que com muitos desafios.

Pessoas com TEA têm necessidades sociais e querem ter amigos e pessoas próximas, assim como todos nós. A diferença é que, para essas pessoas, a comunicação não é muito fácil, especialmente nos casos mais severos. Se você conhece alguém com esse transtorno, buscar entender melhor sobre o mesmo é sempre uma boa ideia.

***

O Transtorno de Espectro Autista já é estudado há muito tempo, especialmente por ser uma condição debilitante nos casos mais graves. No entanto, existem diversos tratamentos que podem ser tentados e costumam trazer bons resultados. O tratamento hormonal com vasopressina é uma alternativa promissória, mas precisamos esperar para ter certeza de que é uma opção viável e segura.

Se você conhece alguém com TEA ou acha que seu filho tem traços do transtorno, entre em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança!

Fonte

https://www.upi.com/Health_News/2019/05/02/Hormone-treatment-may-improve-social-behavior-in-people-with-autism/8521556833409/

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