15 mitos sobre o suicídio.

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Assim como acontece em diversos assuntos tabus, o suicídio é cercado por mitos que, muitas vezes, são bem convincentes. O problema é que muitos deles chegam a ser nocivos por prejudicar a busca por ajuda, fazendo com que várias pessoas que sofrem com ideação suicida não recebam os cuidados necessários.
Em razão disso, aproveitando o Setembro Amarelo, vamos falar sobre suicídio e desmistificar algumas questões. Confira os mitos e a verdade sobre cada um deles:

1. Quem fala que deseja se suicidar na verdade só faz isso para chamar atenção

Sabe aquela história de que “cão que ladra não morde”? Pois bem, ela não se aplica quando o assunto é suicídio. Muitos acreditam que as pessoas expressam seu desejo pela morte só para chamar a atenção, ou que as pessoas que realmente querem se suicidar não falam nada sobre o assunto.

A verdade é que, na grande maioria dos casos, o indivíduo que pensa em suicídio manda diversos sinais julho 2018 — alguns são mais súbitos, outros mais diretos, mas quase sempre há sinais. Esses sinais são sempre um pedido de ajuda, um último recurso antes de realmente tentar realizar o ato.

É importante manter-se atento aos sinais quando alguém anda com dificuldades na vida, sejam elas psicológicas ou não.

2. Apenas pessoas com transtornos mentais cometem suicídio

Embora a grande maioria dos casos de suicídio estejam atrelados a transtornos mentais, nem sempre é assim. Pessoas que estão passando por dificuldades em geral estão suscetíveis à ideação suicida (o ato de pensar e planejar o suicídio), chegando muitas vezes a tentar tirar a própria vida. Essas dificuldades podem estar relacionadas à saúde, à situação financeira, entre outros.

A confusão a respeito dessa relação entre suicídio e transtornos mentais fica ainda maior quando falamos sobre quais os transtornos relacionados à ideação suicida. Muitos pensam que apenas a depressão aumenta os riscos de ideação suicida, quando na realidade existem diversos transtornos que trazem esse sintoma.

De fato, pesquisas mostram que praticamente todos os transtornos mentais aumentam as chances de suicídio. Alguns mais que os outros, mas qualquer um deles pode aumentar essas chances — até mesmo o transtorno de pânico, que é caracterizado, também, pelo medo de morrer.

3. Todos que pensam em suicídio querem, de fato, morrer

Se pensarmos que o suicídio é o ato de tirar a própria vida, essa afirmação até faz sentido. No entanto, ela não corresponde à realidade. Muitas pessoas que têm ideação suicida não querem realmente morrer, mas acreditam encontrar na morte a única solução para os seus problemas.

Vez ou outra, a dor psicológica pode ser tanta que o indivíduo acha melhor acabar consigo mesmo para parar a dor. Em outros casos, a morte pode parecer uma saída viável de um problema como, por exemplo, dívidas que parecem intermináveis e inegociáveis.

É claro que existem muitas maneiras de lidar com esses problemas, mas as pessoas respondem às adversidades da vida de formas diferentes e, em alguns casos, a desesperança e a sensação de falta de alternativa falam mais alto, e o indivíduo passa a planejar a própria morte.

4. Falar sobre suicídio aumenta as chances da pessoa cometer suicídio

Ao se deparar com um indivíduo com pensamentos suicidas, muitas pessoas hesitam em falar sobre o assunto. Isso porque existe uma concepção errônea de que falar sobre pode induzir a pessoa a tentar de fato. No entanto, isso é um mito, um dos mais prejudiciais.

Ao conversar sobre o suicídio com alguém que pensa em tirar a própria vida, pode-se oferecer alternativas para a pessoa, como procurar ajuda especializada. Com o tratamento, o indivíduo tem melhoras significativas e a ideação suicida pode ser eliminada.

Ou seja: falar sobre suicídio com uma pessoa que quer tirar a própria vida, na realidade, previne o suicídio, desde que feita de uma maneira compreensiva e seja ofertado alternativas eficazes, como o tratamento psiquiátrico.

5. Quando a pessoa melhora rapidamente, o perigo de suicídio acaba

Uma pessoa que demonstra sinais de comportamento suicida pode apresentar uma melhora súbita em poucos dias. Com isso, muitos dos amigos e familiares acreditam que a pessoa está fora do perigo, quando na verdade pode ser exatamente o contrário.

Às vezes, a pessoa demonstra uma melhora no comportamento justamente porque já decidiu tirar a própria vida e só está esperando a oportunidade. Isso nos leva ao próximo mito, que é…

6. O suicídio é sempre impulsivo, nunca planejado

A maior parte das tentativas de suicídio são planejadas. Às vezes, o paciente fica semanas ou até meses planejando o suicídio antes de tentar.

Os estudos a respeito da influência da impulsividade no suicídio são muitas vezes contraditórios e inconclusivos, impossibilitando uma relação entre a impulsividade de uma pessoa com a tentativa de suicídio. No entanto, existem casos que em que o suicídio é resultado de uma ação impulsiva, mas, mesmo nesses casos, a intenção de cometer o suicídio costuma estar presente há algum tempo.

7. Uma pessoa que já tentou suicídio não vai tentar novamente

Existem casos em que pessoas que tentaram suicídio realmente não pretendem tentar novamente, mas eles são raros por si só. Quando uma pessoa tenta suicídio, é porque a situação está insuportável e, sem conseguir solucionar o problema, é provável que a dor volte e a pessoa tente tirar a própria vida novamente.

Sendo assim, tentativas prévias de suicídio sempre são um dos maiores fatores de risco para uma nova tentativa. É de extrema importância que pessoas que já tentaram tirar a própria vida tenham acompanhamento terapêutico durante o tempo necessário após a tentativa. O tratamento pode ser longo, mas traz resultados eficazes e a pessoa pode ter alta em alguns anos.

8. Suicídio é coisa de rico

O suicídio não tem classe social. Existe esse mito porque muitos acreditam que as classes mais baixas não tem tempo para pensar em suicídio, o que é uma mentira. De fato, um dos motivos que podem fazer uma pessoa pensar em suicídio é sua situação financeira, como vimos acima.

9. Se alguém quer se suicidar, não podemos fazer nada sobre isso

Há quem acredite que o suicídio é uma decisão pessoal e que não deve haver interferência, pois nada irá mudar a decisão do indivíduo. Acontece que, na realidade, prevenir o suicídio é perfeitamente possível quando se oferece alternativas e acesso a um tratamento adequado para o indivíduo.

10. Uma vez suicida, sempre suicida

Na maioria dos casos, quando uma pessoa que pensa em suicídio faz o tratamento corretamente, há remissão dos sintomas, incluindo a ideação suicida. O problema é que, muitas vezes, a família e os amigos continuam tratando o indivíduo como se ele estivesse em risco o tempo inteiro, o que, além de desnecessário, pode ser bem estressante.

11. O suicídio é um ato de covardia/fraqueza (ou coragem)

Quem nunca ouviu que suicídio é coisa de gente “fraca”? Isso não poderia estar mais errado: o suicídio é, na verdade, uma atitude tomada para acabar com uma dor insuportável e que nada tem a ver com a força de um indivíduo. O ato de se suicidar também não tem nenhuma relação com a coragem ou covardia.

12. Se a pessoa tentou e não conseguiu, quer dizer que ela não queria realmente se matar

Há quem julgue uma tentativa como inválida quando o método escolhido não foi eficaz. Não é o caso. A pessoa pode escolher um método mais simples e menos eficaz por ingenuidade ou por falta de acessibilidade a outros métodos, por exemplo. Independente do método, isso não tira a seriedade da situação: uma tentativa é sempre uma tentativa, não importa se o método escolhido era menos letal.

13. Quando alguém fala em suicídio, devo mostrar que vai ficar tudo bem

Claro que, quando alguém querido que pensa em suicídio, nós queremos fazer de tudo para tirar essa ideia de sua cabeça. No entanto, isso pode ser extremamente prejudicial se for feito de mal jeito.

É muito comum as pessoas falarem que “vai ficar tudo bem” e dar exemplos de situações ruins das quais as pessoas saíram vitoriosas, e dizer que o caso dessa pessoa às vezes não é tão ruim quanto ela pensa. Isso acaba invalidando o sofrimento do outro (saiba mais sobre invalidação emocional), o que pode aumentar ainda mais a sensação de isolamento e incompreensão, contribuindo para a ideia de tirar a própria vida.

14. Crianças não cometem suicídio por não entenderem a morte

Engana-se quem pensa que crianças não conseguem ver a morte como uma alternativa para os seus problemas. Ainda que seja necessário um determinado nível cognitivo para compreender o conceito de morte, muitas crianças já têm essa noção antes do que os pais imaginam.

As tentativas de suicídio por parte de crianças são raras, mas ainda podem ocorrer. Os motivos para que isso aconteça são diversos, mas geralmente envolvem uma família disfuncional e conflituosa, como em casos de separação dos pais, ou quando há algum tipo de abuso (sexual, psicológico, entre outros).

A criança pode se sentir desamparada e impotente diante dessas situações e, tendo a noção de que a morte é o fim de tudo, pode considerá-la uma solução — o que é especialmente perigoso, porque crianças muitas vezes não têm autonomia o suficiente para ir atrás de outras possíveis soluções.

15. Suicídio é sempre hereditário

Ter um familiar que tentou ou cometeu suicídio aumenta as chances de um indivíduo tentar também. No entanto, isso não quer dizer que essa pessoa irá, necessariamente, sofrer com ideação suicida.

O contrário também é verdadeiro: só porque uma pessoa não tem nenhum familiar que cometeu suicídio, isso não quer dizer que ela está livre da ideação suicida. Ela pode surgir nas mais variadas situações e sempre é preocupante.

Agora que você já sabe a verdade sobre alguns dos maiores mitos acerca do suicídio, é hora de ajudar a conscientizar as pessoas para que ninguém mais sofra na mão da desinformação. Lembre-se que falar sobre o suicídio é importante e precisamos fazer tudo que for possível para informar melhor as pessoas.

Caso você esteja sofrendo ou saiba de alguém que está em um momento complicado e tem esses pensamentos, não se esqueça de procurar ajuda especializada!

Referências

Organização Mundial da Saúde (2006). Prevenção do suicídio: um recurso para conselheiros. Genebra.

Wenzel, A.; Beck, A. T. & Brown, G. K. (2010). Terapia cognitivo-comportamental para pacientes suicidas. Porto Alegre: Artmed.

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