A psicologia por trás das teorias da conspiração

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Teoria da conspiração é um assunto que tem intrigado muita gente, especialmente na era da internet e do fácil compartilhamento de informações nas redes sociais. Porém, da mesma forma que notícias falsas (fake news) são espalhadas rapidamente, as fontes que provêm informações confiáveis também são de fácil acesso, e mesmo assim grande parte das pessoas “escolhem” acreditar nas conspirações.

Muitos pesquisadores da área da psicologia já se perguntaram (e continuam se perguntando) porquê isso acontece, e tentam trazer respostas. Um estudo publicado no periódico científico Current Directions in Psychological Science, com o título “The Psychology of Conspiracy Theories” (“A Psicologia das Teorias da Conspiração”, em tradução livre) busca explicar alguns fatores que fazem as pessoas acreditarem nessas teorias.

O que são teorias da conspiração?

O termo “teoria da conspiração” se refere a teorias nas quais os pontos centrais são a descrença nas explicações oficiais de determinados eventos, bem como a crença de que algum grupo de pessoas tem algo a ganhar “escondendo a verdade” do povo.

Um exemplo de teoria da conspiração é o movimento antivacina, que acredita que as vacinas causam autismo ou outras condições, e que essa informação é escondida das pessoas pois, dessa forma, as empresas farmacêuticas podem lucrar mais.

A própria covid-19 também é um ponto central de diversas teorias da conspiração; enquanto, no início da pandemia, algumas pessoas nem mesmo acreditavam na doença e achavam que era tudo uma invenção para manter as pessoas no controle, outras acreditavam que o vírus foi desenvolvido propositalmente em um laboratório na China para ser usado como arma biológica — e que inclusive seria espalhado por meio das torres de 5G, uma tecnologia que também veio da China.

Atualmente, existem diversos estudos mostrando que existe a possibilidade do vírus não ter nem mesmo surgido na China, bem como artigos ressaltando a impossibilidade das torres de 5G espalhar um vírus, mas algumas pessoas continuam acreditando nestas teorias mesmo assim.

Além disso, pessoas que acreditam em uma teoria da conspiração têm a tendência de acreditar em outras teorias, mesmo que elas se contradigam. Por exemplo, se uma pessoa acredita que a princesa Diana fingiu sua morte, maiores as chances de ela também acreditar que sua morte não foi um acidente, mas sim um assassinato.

Isso pode ser explicado pelo fato de que, para pessoas que acreditam em teorias da conspiração, várias teorias são mutuamente plausíveis se ambas obedecem à crença original de que há algo errado nas informações oficiais e algo está sendo acobertado. Em suma, não é que a pessoa acredita realmente em duas teorias conflitantes, mas admite que ambas podem ser reais, pois ambas obedecem à ideia de que as fontes oficiais estão escondendo algo — e tem algo a ganhar com isso.

As teorias da conspiração não são uma coisa nova e existem na humanidade há muito tempo. Ainda não se sabe se com o advento da internet se tornou mais fácil difundir tais teorias, mas uma coisa que pesquisadores perceberam é que estas teorias geralmente ganham mais força em momentos de crise — principalmente crises políticas.

Algumas teorias são atemporais e continuam em alta mesmo em momentos mais pacíficos. O que os pesquisadores perceberam é que, em geral, essas teorias que duram bastante tempo tratam de assuntos mais gerais e maiores, como por exemplo a teoria de que a Terra seria plana.

Motivos pelos quais as pessoas acreditam em teorias da conspiração

De acordo com Karen Douglas, autora do “The Psychology of Conspiracy Theories”, existem três motivações psicológicas pelas quais as pessoas acabam se sentindo atraídas pelas teorias da conspiração. São elas:

Motivos epistemológicos

O ser humano tem uma necessidade de conhecimento e de informação, o que faz com que situações ainda não explicadas (ou com explicações provisórias) sejam um terreno fértil para as conspirações.

Um exemplo é a pandemia de coronavírus, da qual pouco se sabia nos primeiros meses de 2020. Cientistas não conseguiam explicar exatamente onde e como o vírus surgiu, o que fez com que muitas pessoas fossem acometidas pelo sentimento de incerteza e insegurança.

Desta forma, espalhou-se a narrativa de que o vírus teria sido fabricado em um laboratório chinês, e de alguma forma foi parar fora do laboratório, infectando a população. Há quem diga também que o governo chinês tentou esconder a existência do vírus, o que não é verdade — notícias sobre o novo vírus já tinham chegado no ocidente antes mesmo do primeiro caso de covid-19 surgir fora da China.

A incerteza e a intolerância pelo não saber pode fazer com que as pessoas criem narrativas como essas, e elas se espalham facilmente pois todos querem explicações; explicações essas que, frequentemente, as fontes oficiais ainda não são capazes de fornecer pois ainda estão investigando.

Motivos existenciais

Como dito anteriormente, o ser humano não gosta de não saber. As pessoas não gostam de sentir que não estão no controle, ou sentir que não têm nenhum poder diante de uma situação. As teorias da conspiração, frequentemente, trazem respostas que, ao menos, fazem as pessoas terem a sensação de que sabem de algo, a sensação de que não são completamente impotentes diante da situação.

Inclusive, pesquisas mostram que pessoas que tendem a se sentir mais impotentes tem uma tendência maior a acreditar em teorias da conspiração.

Motivos sociais

Por fim, um outro motivo pelo qual as pessoas acreditam em teorias da conspiração são os motivos sociais. Em suma, todo mundo gosta de se sentir especial, de sentir que faz parte de algo, de sentir que os grupos aos quais pertencem são especiais de alguma forma; e as teorias da conspiração promovem exatamente isso.

Uma característica em comum entre pessoas que acreditam em teorias da conspiração é a sensação de que elas sabem de alguma coisa que os outros não sabem, ou seja, a sensação de que elas e seu grupo são especiais de alguma forma porque possuem um conhecimento que o resto das pessoas não têm.

Outro fatores que podem influenciar na crença em teorias da conspiração

Traços de personalidade

Pesquisas mostram que alguns traços de personalidade estão relacionados a um maior nível de crenças em teorias da conspiração. São eles:

  • Níveis baixos de conscienciosidade;
  • Níveis baixos de agradabilidade;
  • Níveis baixos de modéstia/humildade;
  • Níveis altos de grandiosidade;
  • Baixa autoestima.

Gênero

Em geral, quando as pessoas pensam em uma pessoa que acredita em teorias da conspiração, imaginam um homem adulto de meia idade. Isso porque grande parte das pessoas que propagam estas teorias são homens.

No entanto, pesquisas mostram que não há diferenças entre os gêneros no quesito acreditar em teorias da conspiração. Tanto homens quanto mulheres acreditam nessas teorias em igual proporção.

Idade

Quando se trata de adultos, existe uma correlação entre a idade e a crença em teorias da conspiração. Quanto mais jovens, maiores as chances de acreditarem nestas teorias. Pessoas mais velhas, como idosos, têm menos chances de acreditar em conspirações.

Contudo, um estudo recente financiado pela British Academy mostra que a crença em teorias da conspiração pode surgir até mesmo na adolescência. No estudo, os pesquisadores perceberam que adolescentes a partir dos 14 anos de idade já demonstravam crença em conspirações, o que pode significar que as crenças se formam já cedo, e seria necessário combatê-las já nessa idade.

Nível de educação

Pessoas com baixa escolaridade tendem a crer mais em teorias da conspiração do que pessoas que têm um bom grau de instrução.

O nível de educação pode influenciar, não porque pessoas com menos educação são menos espertas, mas sim porque geralmente estas pessoas não têm acesso ao conhecimento de quais fontes de informação são confiáveis e quais são suspeitas, o que pode aumentar a credibilidade em fontes suspeitas e diminuí-la em fontes oficiais.

Como combater as teorias da conspiração?

Ironicamente, o método mais efetivo de combater as teorias da conspiração é parecido com uma injeção: apresenta-se versões reduzidas e mais fáceis de compreender dos fatos antes que as pessoas tenham acesso às informações conspirativas. Desta forma, diminui-se a quantidade de pessoas que acreditam em tais conspirações, além de que, mesmo que elas acreditem, é mais fácil combater a desinformação com as informações oficiais quando a pessoa já foi previamente exposta aos fatos.

Um estudo mostrou que, quando uma pessoa é previamente exposta aos fatos, ela tem menos chances de acreditar em teorias da conspiração ou, se acreditam, torna-se mais fácil fazê-las desacreditar nas conspirações ao serem expostas aos fatos novamente. Já pessoas que foram expostas às teorias antes de serem expostas aos fatos são dificilmente desacreditadas das conspirações.

Referências

https://inews.co.uk/opinion/conspiracy-theories-stop-understand-why-people-start-believe-them-children-865832

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5724570/

https://www.apa.org/research/action/speaking-of-psychology/conspiracy-theories

https://www.apa.org/news/apa/2020/11/conspiracy-theories

https://www.healthline.com/health/mental-health/the-psychology-behind-conspiracy-theories

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