O ser humano é um ser social, o que significa que as pessoas estão sempre em busca de manter boas relações com outras pessoas. Porém, viver sempre acompanhado também pode ser uma fonte de desprazer. Estudos recentes (Hall & Merolla, 2019) mostram que, para prosperar, o ser humano precisa intercalar interações sociais significativas e momentos de solidão restauradores.
A sociabilidade do ser humano é uma vantagem evolutiva. Para garantir a sobrevivência da espécie, os nossos antepassados perceberam que precisavam viver juntos. Por isso, até mesmo nos dias de hoje, ainda existe uma necessidade do ser humano ser sociável.
Contudo, de acordo com Hall, um dos autores do estudo, não é possível ser sociável 100% do tempo, pois as pessoas também precisam conservar energia para realizar outras atividades que asseguram a sobrevivência individual. Os diferentes tipo de interações sociais variam na energia gasta, pois estão envolvidos aspectos sensoriais e perceptivos, comportamentais, emocionais e cognitivos.
Portanto, a motivação para interagir socialmente só existe até que as necessidades sociais de um indivíduo sejam satisfeitas. Depois disso, continuar a interação social é gastar energia desnecessariamente. É nesse momento que entra a necessidade de passar um período de tempo em solidão.
Por conta disso, cada pessoa tem um “bioma social” composto pela mistura de interações sociais e momentos de solidão que a pessoa costuma vivenciar no dia a dia. Algumas dessas interações sociais são obrigatórias, como no trabalho ou interações de rotina, como na família. Contudo, há também interações voluntárias que são significativas, como sair com os amigos ou fazer alguma atividade especial com os familiares, por exemplo.
Para a maior parte das pessoas, o bioma social é constituído por sair com amigos e familiares, jogar conversa fora com desconhecidos, conversas sinceras ocasionais com pessoas próximas, períodos de solidão, entre outros. A proposta dos autores do estudo era identificar padrões nessas interações que tivessem uma maior ligação com o bem-estar.
No estudo, participaram 389 pessoas que relataram suas “dietas sociais” durante 28 dias consecutivos, bem como seus sentimentos em relação aos encontros e interações sociais e os momentos solitários. Dentre as interações sociais significativas estudadas estão as conversas profundas, a comunicação afetuosa (que envolve os sentimentos em relação ao interlocutor), colocar o papo em dia (após tempos sem se comunicar) e brincar (contar piadas etc.).
O que os autores encontraram é que interações sociais mais frequentes e de maior duração estão associadas a um bioma social mais saudável. Além disso, pessoas com biomas sociais mais saudáveis geralmente tem mais liberdade para escolher quando, onde e como vão interagir com outras pessoas. Essas pessoas também costumam ter 2,5 vezes mais conversas significativas em comparação com pessoas com biomas sociais menos saudáveis. Quando estão sozinhas, pessoas com biomas sociais saudáveis costumam se sentir mais contentes. Além disso, elas também demonstram afeto e preocupação por outras pessoas com frequência: cerca de 9 a cada 10 dias.
Após a análise dos dados, os pesquisadores perceberam que as pessoas que combinam interações sociais significativas e períodos de solidão de forma voluntária também têm maiores níveis de satisfação e prosperidade em suas vidas.
O que estudo mostra é que, apesar de precisarmos da sociabilidade para manter o nosso bem-estar, também é preciso que haja momentos de solidão para que haja equilíbrio na vida social de uma pessoa, o que está relacionado com um maior bem-estar subjetivo. Isso quer dizer que não é necessário passar o dia inteiro junto com a família e os amigos, mas manter uma rotina de interações sociais significativas, bem como momentos de solidão restauradores.
Além disso, o estudo aponta para o fato de que as pessoas querem vivenciar vínculos sociais fortes, porém sem que isso acarrete em sentimentos de exaustão. Por isso, interações sociais com amigos podem ser muito positivas, mas interações sociais obrigatórias podem deixar a pessoa mal depois. Nesse contexto, entra também o famoso “jogar conversa fora”, que é um tipo de conversa que não tem muita significância, sendo feita mais por educação do que pelo desejo de se relacionar de fato.
Por isso, eventos sociais como encontros de família podem ser extremamente exaustivos, especialmente porque nem todas as pessoas que compõem uma família são mutuamente próximas.
É importante ressaltar que a preferência por momentos de solidão ou momentos em contato com outras pessoas pode variar muito dependendo da personalidade do sujeito. Algumas pessoas podem precisar de mais tempo com os amigos ou mais tempo sozinhas para equilibrar a balança social e não tem nada de errado nisso.
As interações sociais são extremamente importantes para o ser humano, mas o equilíbrio entre elas e tempos de solidão parece ser a chave para o nosso bem-estar. Estar sozinho faz bem, desde que seja de maneira voluntária.
Se você sente que está sofrendo com sintomas que prejudicam a sua vida social, não se esqueça de entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança!
Referências
Hall, J. A., & Merolla, A. J. (2019). Connecting Everyday Talk and Time Alone to Global Well-Being. Human Communication Research. doi:10.1093/hcr/hqz014