Aaron Beck: como foi fundada a Terapia Cognitivo-Comportamental

Uma das psicoterapias mais conhecidas na atualidade teve seu desenvolvimento durante as décadas de 60 e 70. Saiba mais sobre seu fundador aqui!
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A terapia cognitivo-comportamental, comumente abreviada para TCC, é uma das psicoterapias mais conhecidas atualmente. Trata-se de uma abordagem da psicologia que considera a atividade cognitiva de extrema importância para o afeto (sentimentos) e comportamento, podendo ser identificada, questionada e, portanto, modificada, a fim de melhorar a qualidade de vida do indivíduo.

Essa terapia surgiu nas décadas de 60 e 70 e seu principal precursor foi Aaron T. Beck, psiquiatra norteamericano que dava aulas na Universidade da Pensilvânia.

Início da vida

Aaron Temkin Beck nasceu em 1921, em Providence, no Estado de Rhode Island, sendo o mais novo de 5 irmãos. Já na infância, Beck passou por perdas e teve seu primeiro contato com a depressão, quando sua mãe desenvolveu o transtorno após a perda de 2 dos 5 filhos.

Aos 8 anos de idade, passou por uma cirurgia por conta de um braço quebrado e acabou desenvolvendo uma infecção pós-cirúrgica, o que lhe rendeu uma hospitalização de cerca de um mês. Nesse tempo, Beck acabou adquirindo gosto pela leitura e escrita, o que levaria para o resto de sua vida.

Foi também nessa época que acabou desenvolvendo um medo significativo de ferimentos e sangue, e aprendeu a lidar com essa fobia ao focar sua mente em outras coisas.

Estudos

Em 1942, Beck se formou com grandes honras em Inglês e Ciências Políticas. Mais tarde, em 1946, recebeu um diploma em medicina da University School of Medicine em New Haven, Connecticut. Pouco depois, iniciou sua residência em neurologia no Cushing Veterans Administration Hospital em Framingham, Massachusetts.

No começo de seus estudos, Beck tinha interesse na área da psiquiatria, mas acabou perdendo o interesse depois de fazer seu primeiro curso em psicanálise pois, de início, o estudante considerou a psicanálise sem sentido.

Contudo, durante seus estudos, após seis meses estagiando na ala psiquiátrica, Beck percebeu que os conceitos psicanalíticos ajudavam imensamente a explicar e entender transtornos psicológicos, tornando-se, então, fascinado pela abordagem.

Por conta disso, Aaron Beck passou o início de sua carreira pesquisando o tratamento para depressão considerando o aporte teórico da psicanálise. Em 1954, ingressou no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Pensilvânia, onde realizava pesquisa ao mesmo tempo que prestava serviço clínico.

No entanto, ao longo dos anos, Beck foi percebendo que, no caso da depressão, havia uma relação muito grande com sentimentos de perda e rejeição, diferentemente da teoria psicanalítica que, na época, pensava na depressão como uma hostilidade em relação a si mesmo. Aos poucos, o psiquiatra e pesquisador foi percebendo que esses sentimentos eram condizentes com os pensamentos automáticos e as distorções cognitivas trazidas pelas pessoas durante as sessões de terapia.

Na época, existiam outras vertentes da psicologia que trabalhavam uma abordagem mais cognitiva, ou seja, mais focada nos processos cognitivos e sua influência nas emoções, como a Terapia Racional Emotiva Comportamental (TREC), desenvolvida por Albert Ellis nos anos 50. Considerando essas novas percepções de Beck, seu interesse voltou-se mais para essas abordagens, levando-o a pesquisar mais sobre a psicologia cognitiva.

Assim, Beck passou a ajudar seus pacientes identificando e corrigindo esses pensamentos distorcidos por crenças enraizadas, tornando sua terapia mais estruturada do que as sessões de terapia psicanalítica.

Em 1977, sua teoria foi posta à prova em um estudo comparando os efeitos da sua nova terapia com os efeitos de medicamentos antidepressivos. O estudo, publicado no periódico científico Cognitive therapy and research, concluiu que a terapia desenvolvida por Beck era ainda mais eficaz do que o tratamento realizado apenas com medicamentos antidepressivos. Pesquisas posteriores chegaram aos mesmos resultados.

Posteriormente, Beck e seus colegas de pesquisa começaram a aplicar a terapia para tratar, em caráter experimental, outras condições, como transtornos ansiosos, transtornos de personalidade, abuso de substâncias, entre outros. O método se provou eficaz para tratar uma grande variedade de transtornos, como fobias, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), insônia e até mesmo transtornos alimentares.

Aaron Beck faleceu em 2021, aos 100 anos de idade, em sua casa, sem nunca ter se aposentado. Mesmo nos seus últimos anos de vida, Beck continuava pesquisando e trabalhando em artigos.

Legado

Durante seus estudos, Beck propôs não apenas uma terapia, mas também desenvolveu algumas escalas para ajudar a mensurar sintomas em pacientes deprimidos.

Dentre estas escalas, as mais famosas são o Inventário de Depressão de Beck, que consiste em um questionário de 21 itens e serve para avaliar a intensidade de sintomas depressivos durante um episódio depressivo, e a Escala de Desesperança de Beck, que consiste em 20 itens para avaliar sentimentos acerca do futuro, expectativas e perda de motivação.

Além disso, Beck publicou mais de 600 artigos e 24 livros, recebendo diversos prêmios e títulos honoríficos. Foi considerado pela American Psychologist um dos 5 psicólogos mais influentes de todos os tempos.

Em 1950, Beck casou-se com Phyllis W. Beck, a primeira mulher a servir a Superior Court of Pennsylvania, com quem teve 4 filhos. Dentre eles, Judith S. Beck, que continuou seu legado expandindo suas pesquisas em psicologia cognitiva no Instituto Beck, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo treinar e capacitar profissionais em terapia cognitivo-comportamental, bem como contribuir para avanços nos estudos dessa abordagem.

A terapia cognitivo-comportamental possui bastante evidência científica de sua eficácia, sendo também bastante versátil e capaz de tratar uma grande variedade de questões.

Embora as pesquisas mostrem que sua eficácia pode ser melhor do que o tratamento medicamentoso, é importante lembrar que a resposta ao tratamento varia de pessoa para pessoa e, enquanto algumas pessoas realmente alcançam grandes melhoras sem medicação, existem outras que podem precisar dos medicamentos até mesmo para que a pessoa consiga tirar proveito da terapia.

Portanto, em grande parte dos casos, o tratamento de transtornos mentais costuma ser feito através de uma combinação de psicoterapia e tratamento psicofarmacológico.

Se você percebe que está lidando com sintomas de algum transtorno, não hesite em procurar a ajuda de um profissional da saúde mental!

Referências

Mendlowicz, M. V., Levitan, M. N., Nardi, A. E., Shorter, E. (2022). The notable humanist and scientist Aaron Beck (1921-2021), the revolutionary founder of cognitive therapy. Braz J Psychiatry May-Jun;44(3):221-222. doi: 10.1590/1516-4446-2021-2409. PMID: 35293524; PMCID: PMC9169475.

https://www.verywellmind.com/aaron-beck-biography-2795492
https://albertellis.org/rebt-cbt-therapy/
https://beckinstitute.org/about/

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