Ação dos Antipsicóticos: como esses medicamentos funcionam?

Os medicamentos usados para tratar sintomas psicóticos alteram o funcionamento da dopamina no cérebro. Saiba mais aqui!
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Os sintomas psicóticos, frequentemente presentes em quadros como esquizofrenia e episódios de mania, são caracterizados por delírios, fala e pensamento desorganizados, comportamento motor bizarro e, em alguns casos, alucinações. Um dos grandes marcadores dos sintomas psicóticos é o fato de que a pessoa parece ter perdido o contato com a realidade.

Por muito tempo, tais sintomas foram tratados com bastante dificuldade, pois uma psicoterapia tinha efeitos limitados em pessoas que não conseguiam diferenciar a realidade de seus delírios. No entanto, felizmente, na década de 50, foram descobertos, ao acaso, os medicamentos antipsicóticos.

Ao usar a substância Clorpromazina para sedar pacientes para cirurgia, os médicos perceberam que, em pacientes em episódio de mania, a medicação ajudava a combater os sintomas psicóticos apresentados. Desde então, dezenas de novos antipsicóticos foram desenvolvidos para tratar sintomas psicóticos, independente do diagnóstico da pessoa.

Como funcionam os antipsicóticos?

A ação dos antipsicóticos é parecida com a ação de outros medicamentos psiquiátricos, tendo como objetivo alterar a ação dos chamados neurotransmissores. Os neurotransmissores são os mensageiros químicos do cérebro, responsáveis por repassar informações entre um neurônio e outro.

A transmissão de informações entre neurônios funciona por meio de sinais elétricos, ou seja, quando um neurônio deseja enviar uma informação para outro, ele dispara uma descarga elétrica. No entanto, existe um espaço vazio entre os neurônios, chamado “fenda sináptica”, pelo qual o sinal elétrico não consegue ser transmitido.

Portanto, para continuar a transmissão de informações, o neurônio libera os neurotransmissores, substâncias com objetivos diferentes que são captadas pelo próximo neurônio e continua a propagação de informações.

Os antipsicóticos são medicamentos que tem como objetivo bloquear os receptores de dopamina, um dos principais neurotransmissores relacionados ao prazer e à motivação.

Isso porque pessoas que apresentam sintomas psicóticos frequentemente apresentam alterações no funcionamento da dopamina ao longo do estriato, uma estrutura cerebral relacionada a diversas funções, como a função motora, as sensações e percepções, sentimentos e tomada de decisões.

Novas pesquisas buscam maior especificidade

Embora haja conhecimento sobre o funcionamento dos antipsicóticos, a realidade é que existem mais de um tipo de receptor de dopamina no cérebro. Por conta disso, os medicamentos devem ser desenvolvidos tendo em mente quais receptores são mais vantajosos como alvo da medicação.

No caso dos antipsicóticos, os medicamentos são feitos pensando em dois receptores: o D1 e o D2. Contudo, durante muitos anos, os antipsicóticos tinham como principal alvo justamente o receptor D2. Isso porque experimentos feitos com bovinos na década de 70 mostraram que os antipsicóticos mais eficazes eram aqueles que se ligavam fortemente aos receptores D2.

No entanto, uma nova pesquisa, publicada no periódico científico Nature Neuroscience, sugere que o receptor D1 pode ser um bom candidato como alvo para novas medicações. Isso porque a pesquisa, feita em camundongos, mostra que se o medicamento não conseguir normalizar a ação da dopamina nos receptores D1, agindo apenas nos receptores D2, os sintomas psicóticos podem até mesmo piorar.

O estudo foi feito comparando a ação de diversos medicamentos: desde antipsicóticos clássicos, consagrados na história da psiquiatria, até substâncias novas que não chegaram a vir a público por não terem o resultado esperado e, portanto, as pesquisas foram descontinuadas. Uma destas substâncias que estava sendo desenvolvida tinha como alvo apenas os receptores D2, sem ter efeito nos receptores D1, o que culminou no fracasso do efeito terapêutico.

Foram feitos também estudos com antipsicóticos novos cujo mecanismo de ação principal não está nesses receptores em específico, mas sim na ação de um outro neurotransmissor chamado acetilcolina. O que os pesquisadores perceberam é que, por um efeito sistêmico, esses medicamentos também normalizaram a atividade nos receptores D1, promovendo a melhora dos sintomas psicóticos.

Efeitos colaterais dos antipsicóticos

Os efeitos colaterais das medicações antipsicóticas vão depender muito da substância usada e se são antipsicóticos típicos ou atípicos.

Os antipsicóticos típicos fazem parte da primeira geração de antipsicóticos, sendo as primeiras substâncias descobertas que poderiam tratar esses sintomas. No entanto, eles possuem um efeito colateral bastante marcante, conhecido como “efeitos extrapiramidais”. Esses efeitos são caracterizados por:

  • Tremores;
  • Contrações musculares;
  • Dificuldades para andar;
  • Movimentos lentificados;
  • Inquietação.

Já os antipsicóticos atípicos são conhecidos por não causarem esses efeitos extrapiramidais, mas possuem outros efeitos colaterais (também presentes nos antipsicóticos típicos), como:

  • Sedação;
  • Alterações no apetite;
  • Alterações no peso;
  • Boca seca;
  • Constipação;
  • Alterações na libido;
  • Amenorreia (ausência de menstruação).

Síndrome neuroléptica maligna

A síndrome neuroléptica maligna é uma condição que pode surgir devido ao uso de medicamentos antipsicóticos e pode ser fatal em até 20% dos casos. Felizmente, é uma síndrome um tanto rara, podendo acometer de 0,02 a 3% das pessoas em tratamento com antipsicóticos.

Os principais sintomas dessa síndrome são um aumento expressivo da temperatura corporal, chegando a níveis perigosos (acima de 40º C), bem como agitação, rigidez muscular, aumento da frequência cardíaca e da frequência respiratória. Pode haver também alterações na pressão arterial. O aumento da temperatura corporal pode não melhorar mesmo com a administração de medicamentos antipiréticos (usados para abaixar a febre).

O tratamento dessa síndrome é feito com a retirada da medicação, que tende a resolver o problema. No entanto, em casos graves, pode ser que a pessoa necessite cuidados intensivos até que a crise se resolva.

Embora os antipsicóticos possam causar certa hesitação por conta dos efeitos colaterais, a verdade é que se trata de uma classe de medicamentos bastante segura e eficaz para o tratamento de sintomas psicóticos, conseguindo melhorar consideravelmente a qualidade de vida de pessoas que lidam com esses sintomas no dia-a-dia.

Se você desconfia que pode estar apresentando sintomas psicóticos ou psiquiátricos em geral, não hesite em procurar um profissional da saúde mental! Além disso, o tratamento medicamentoso só deve ser feito mediante orientação de médico psiquiatra.

Referências

Yun, S., Yang, B., Anair, J.D. et al. Antipsychotic drug efficacy correlates with the modulation of D1 rather than D2 receptor-expressing striatal projection neurons. Nat Neurosci 26, 1417–1428 (2023). https://doi.org/10.1038/s41593-023-01390-9

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/esquizofrenia-e-transtornos-relacionados/medicamentos-antipsic%C3%B3ticos#Tipos-de-medicamentos-antipsic%C3%B3ticos_v41277687_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/les%C3%B5es-e-envenenamentos/dist%C3%BArbios-causados-pelo-calor/s%C3%ADndrome-neurol%C3%A9ptica-maligna

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