Alcoolismo: o que é, como tratar?

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool é responsável por 3 milhões de mortes a cada ano. Apesar dos números alarmantes, a maior parte das pessoas não chega a desenvolver a dependência do álcool, chamada de alcoolismo.

O alcoolismo é caracterizado por uma dependência física e emocional do uso de álcool. As principais características do alcoolismo são o uso compulsivo de álcool, perda de controle da quantidade de álcool consumida e um estado emocional negativo quando não se está consumindo a droga.

A pessoa consome bebidas alcoólicas de maneira descontrolada, chegando a beber todos os dias e apresentar sintomas de abstinência quando fica sem beber. Além disso, a vontade de beber é frequente e aparece mesmo em situações inadequadas.

Por conta do consumo frequente e exagerado, a pessoa que sofre com alcoolismo pode desenvolver tolerância à droga, ou seja, ela passa a necessitar quantidades cada vez maiores de álcool para sentir seus efeitos.

Tudo isso traz diversos prejuízos à saúde, mental e física, bem como prejuízos sociais. Contudo, quando se trata de uma dependência, o indivíduo não para de beber, independente dos prejuízos.

Felizmente, o alcoolismo tem tratamento e a pessoa pode retomar sua qualidade de vida.

Sintomas do alcoolismo

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), o alcoolismo é diagnosticado a partir dos seguintes sintomas:

  • Beber mais ou passar mais tempo bebendo do que o planejado;
  • Tentativas falhadas de tentar parar ou diminuir o consumo de álcool;
  • Gastar muito tempo bebendo ou tentando se recuperar da bebida;
  • Sentir uma vontade incontrolável de beber, conhecida como “fissura”;
  • O uso do álcool interfere na vida familiar, profissional ou acadêmica;
  • Continuar a beber mesmo que isso cause problemas com a família e os amigos;
  • Desistir ou desmarcar compromissos e atividades que antes eram prazerosas só para ficar bebendo;
  • Usar o álcool mesmo em situações perigosas, como ao dirigir ou operar máquinas;
  • Continuar a beber mesmo ao se sentir triste ou ansioso;
  • Continuar a beber mesmo que isso esteja prejudicando a saúde;
  • Precisar beber cada vez mais para sentir os efeitos do álcool;
  • Ter sintomas de abstinência ao parar de beber, como dificuldades para dormir, tremedeiras, irritabilidade, ansiedade, depressão, inquietação, náusea e suor;
  • Ter sintomas de abstinência mais graves como febre, convulsões ou alucinações.

Vale lembrar que não é necessário ter todos esses sintomas para ser diagnosticado com alcoolismo e que, quanto mais sintomas a pessoa apresenta, mais grave é o transtorno.

Alcoolismo vs. uso abusivo de álcool

Frequentemente, as pessoas confundem o alcoolismo com o uso abusivo de álcool. Embora ambos estejam relacionados a um consumo exagerado da substância, há diferenças marcantes nas duas condições.

Em primeiro lugar, a pessoa que faz o uso abusivo de álcool não necessariamente é dependente. Pessoas que sofrem com alcoolismo frequentemente têm sintomas de abstinência, como tremedeira e irritabilidade, além de uma vontade incontrolável de beber, chegando ao ponto da compulsão.

Já as pessoas que fazem o uso abusivo podem ter a famosa ressaca, mas não desenvolvem essa relação de dependência na qual sentem vontade de beber até em momentos inadequados, nem apresentam sintomas de abstinência propriamente ditos.

Resumidamente, pode-se dizer que nem toda pessoa que faz uso abusivo de álcool desenvolve dependência, mas toda pessoa que sofre com alcoolismo faz uso abusivo de álcool.

Efeitos do álcool no organismo

O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central. Sendo assim, seus efeitos consistem em, gradualmente, tornar a atividade cerebral mais lenta. É como se o álcool fosse “desligando” o cérebro parte por parte. As consequências envolvem dificuldade para pensar, planejar ações, memorizar e até mesmo se movimentar.

Caso a concentração de álcool no organismo seja muito alta, partes do cérebro responsáveis por funções vitais do organismo também param de funcionar. Isso significa que ele prejudica os batimentos cardíacos, a respiração, entre outros. É nesse momento a pessoa pode ir ao óbito por intoxicação por álcool.

Caso você tenha interesse em saber mais, temos um artigo bem completo sobre os efeitos do álcool no organismo.

Fatores de risco

Algumas pessoas são mais suscetíveis ao desenvolvimento do alcoolismo por conta de alguns fatores. São eles:

  • Histórico familiar: Muitos estudos mostram que existe um componente genético no alcoolismo. Sendo assim, se a presença de um histórico familiar de alcoolismo aumenta as chances de uma pessoa desenvolver o transtorno;
  • Social: O álcool é uma droga socialmente aceitável e até mesmo encorajada. Por isso, fazer parte de um ambiente no qual o consumo de álcool é bem-visto aumenta o acesso à substância, o que aumenta as chances de desenvolver uma dependência;
  • Classe socioeconômica: O alcoolismo acontece em todas as classes socioeconômicas, porém seus efeitos costumam ser piores nas classes mais baixas, possivelmente pela dificuldade de acesso à saúde, sendo difícil procurar ajuda caso a dependência se desenvolva;
  • Disponibilidade da droga: Pessoas que frequentam ambientes nos quais o álcool está amplamente disponível, como bares e casas noturnas, têm maior propensão à dependência.

Complicações e consequências do alcoolismo

O uso abusivo de álcool pode trazer uma série de consequências para a saúde física, como por exemplo:

Alterações no cérebro

A longo prazo, o álcool pode interferir no mecanismo de comunicação dentro do cérebro, afetando seu funcionamento. Como consequência, podem haver alterações no comportamento e no humor, bem como dificuldades para pensar e problemas de coordenação motora.

Problemas cardíacos

Beber em demasia aumenta as chances de problemas cardíacos como cardiomiopatia (doença que afeta o músculo cardíaco), arritmia (batimentos cardíacos irregulares), hipertensão e derrame.

Problemas no fígado e pâncreas

O fígado é um dos principais órgãos que processam o álcool e, portanto, costuma ser um dos mais afetados quando o álcool é usado em excesso. Podem surgir problemas como gordura acumulada no fígado, hepatite alcoólica, fibrose e cirrose.

Além disso, o pâncreas também pode sofrer prejuízos, tendo em vista que o consumo de álcool faz o pâncreas produzir substâncias tóxicas que acabam por causar uma inflamação chamada pancreatite.

Certos tipos de câncer

O consumo de álcool em excesso também está ligado a um maior risco no desenvolvimento de certos tipos de câncer, como o câncer de boca, faringe, laringe, esôfago, fígado, mama e colorretal.

Prejuízos no sistema imunológico

O sistema imunológico é  a linha de defesa do corpo. É ele que luta contra diversas doenças, especialmente as transmissíveis. Porém, o uso excessivo de álcool enfraquece esse sistema, deixando a pessoa mais suscetível a doenças.

Consequências sociais

Frequentemente a pessoa que sofre com alcoolismo têm prejuízos sociais. Pode haver afastamento da família e dos amigos, bem como desentendimentos frequentes nas relações interpessoais. Além disso, o alcoolismo pode afetar a vida acadêmica e profissional, podendo levar a pessoa a problemas financeiros.

Síndrome de Wernicke-Korsakoff

O álcool prejudica a absorção e o armazenamento de vitamina B1 no organismo, o que leva a uma condição chamada “Síndrome de Wernicke-Korsakoff”. Dentre os sintomas desta síndrome estão confusão aguda, visão dupla, movimentos incontroláveis dos olhos (nistagmo) e perda de coordenação muscular (ataxia) nas pernas.

Infelizmente, esses sintomas são bastante parecidos com os sintomas da embriaguez, o que faz com que muitas pessoas que sofrem de alcoolismo nem percebam que estão sofrendo com a falta de uma vitamina, prejudicando o diagnóstico e tratamento do problema.

Delirium tremens

O delirium tremens é uma espécie de sintoma psicótico induzido pela falta do álcool no organismo, sendo um dos sinais de uma abstinência grave. A pessoa pode ter alucinações, convulsões violentas que podem trazer danos cerebrais, tremores, insônia etc.

Em geral, o delirium tremens ocorre quando a pessoa fica em abstinência por alguns dias após passar um longo período consumindo bebidas alcoólicas diariamente.

Qual o tratamento para o alcoolismo?

Como qualquer dependência química, o alcoolismo não tem cura e, portanto, a única maneira de combatê-lo é a abstinência. Isso significa que a pessoa precisa parar de beber completamente e manter-se afastada da droga.

Para que parar de beber seja possível, existe uma lista de tratamentos disponíveis. A eficácia desses tratamentos depende do comprometimento do paciente, bem como a combinação de vários tipos de tratamento aumenta as chances de sucesso.

Alguns tratamentos disponíveis são:

Medicamentos

Alguns medicamentos podem ajudar a parar de beber. Isso porque esses medicamentos atuam diminuindo a vontade de beber (fissura) ou o prazer em beber. Em alguns casos, o medicamento é usado para causar uma interação com o álcool que causa efeitos desagradáveis do indivíduo, como náusea. Dessa forma, a pessoa evitará beber para não sentir esses efeitos.

Psicoterapia

Existe um grande número de terapias psicológicas que podem ajudar, mas as mais frequentemente usadas nos casos de dependência química são as terapias comportamentais.

Isso porque esses tipos de terapia ajudam a pessoa a identificar o que as levam a beber exageradamente ou com frequência e a auxiliam no desenvolvimento de novos comportamentos mais adaptativos, evitando que a pessoa volte a consumir álcool.

Grupos de apoio

Os grupos de apoio são muito comuns no tratamento do alcoolismo e outras dependências. A troca de experiências, bem como a sensação de conexão com outras pessoas que passaram pelos mesmos problemas, costuma auxiliar o indivíduo a se manter afastado da droga.

Reabilitação

Em casos mais graves, a pessoa pode precisar de um internamento para reabilitação. O internamento torna as coisas um pouco mais fáceis porque facilita a abstinência, uma vez que, dentro de uma clínica, a pessoa não terá acesso a bebidas alcoólicas.

Contudo, é de extrema importância que, após esse período de internamento, a pessoa continue em abstinência, buscando frequentar ambientes onde não haja acesso à droga. Caso contrário, as chances de voltar a beber são relativamente altas.

Neste sentido, a família e os amigos podem ajudar muito ao não estocar bebidas alcoólicas em casa e evitar o consumo de álcool perto da pessoa em abstinência.

O tratamento é eficaz?

Como dito anteriormente, o alcoolismo não tem cura. Por isso, é possível que muitos pensem que não vale a pena porque o tratamento não é eficaz. Isso não é bem verdade.

Não se pode dizer que há cura porque a pessoa que sofre com alcoolismo não pode voltar a ter uma relação saudável com a bebida. Isso significa que ela não pode voltar a beber, ou os problemas voltam. Contudo, quando em abstinência, a pessoa é capaz de retomar sua vida, suas relações, sua carreira, estudos, entre outros.

Portanto, ainda que o tratamento não cure o problema, ele pode ajudar a pessoa a recuperar sua qualidade de vida e evitar consequências mais graves.

Vale lembrar, entretanto, que recaídas são comuns e fazem parte do processo. O importante é ter em mente que é possível viver uma vida sem o álcool e continuar tentando parar.

O álcool é uma das drogas mais consumidas no mundo, sendo que seu consumo é socialmente aceitável em diversas culturas. Isso não quer dizer, entretanto, que se trata de uma droga inofensiva. Algumas pessoas podem desenvolver dependência e, com isso, ter suas vidas gravemente prejudicadas.

Se você se identificou ou conhece alguém que tem sintomas de dependência, procure ajuda o quanto antes. Não hesite em conversar com um psiquiatra ou psicólogo de confiança!

Referências

American Psychiatric Association (2014). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed.

https://www.who.int/health-topics/alcohol#tab=tab_1

https://www.niaaa.nih.gov/alcohols-effects-body

https://medlineplus.gov/alcoholusedisorderaudtreatment.html

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