Embora o tratamento medicamentoso para depressão seja eficaz, uma grande parte das pessoas que usam medicamentos antidepressivos continuam relatando sintomas depressivos depois de várias semanas ou meses de tratamento.
Isso pode acontecer por inúmeros motivos, mas um dos grandes motivos é o uso de outros medicamentos, de acordo com uma pesquisa publicada no periódico científico Journal of Clinical Psychiatry.
Quais medicamentos podem atrapalhar o tratamento da depressão?
Pesquisas mostram que existe um grande número de medicamentos, incluindo medicamentos não psiquiátricos, que podem ter como efeito colateral alguns sintomas depressivos, prejudicando assim o tratamento da deprssão.
Grande parte destes medicamentos são medicamentos bastante comuns para tratar uma série de problemas que acometem muitas pessoas no dia-a-dia.
Como exemplo, alguns dos medicamentos relatados são:
- Medicamentos para tratar refluxo gastroesofágico (omeprazol, ranitidina);
- Relaxantes musculares (baclofeno, tizanidina);
- Medicamentos para hipertensão arterial (propranolol);
- Analgésicos (opioides, meloxicam, gabapentina).
O que diz a pesquisa?
Usando os dados de 885 adultos, a pesquisa conseguiu compreender melhor não apenas quais medicações acabavam por atrapalhar o tratamento antidepressivo, como também perceberam que, quanto mais medicações desse tipo os participantes tomavam, mais sintomas depressivos eles apresentavam apesar do tratamento estar sendo seguido corretamente.
Para a coleta de dados, os participantes relataram as medicações que utilizavam, inclusive medicamentos não psiquiátricos, e passaram por alguns testes que avaliavam os sintomas de depressão presentes nas últimas semanas.
Destes 885 participantes, cerca de dois terços (⅔) estavam usando outras medicações para além dos antidepressivos. Estes medicamentos já eram conhecidos, em pesquisas anteriores, por terem sintomas depressivos como possíveis efeitos colaterais. Verificou-se que um terço (⅓) dos participantes usava 2 ou mais desses medicamentos, 20% usava 3 ou mais, cerca de 10% usava 4 ou mês e até 5% usava 5 ou mais desses medicamentos.
Os efeitos das medicações é maior conforme o número de medicamentos tomados
Ao comparar a quantidade de medicações utilizadas com os resultados dos testes psicométricos, o que os pesquisadores perceberam é que, quanto mais medicamentos os participantes tomavam, maiores os relatos de sintomas depressivos moderados e graves.
Comparado com indivíduos que não faziam o uso de tais medicamentos, as pessoas que tomavam essas medicações tinham 50% mais chances de apresentar sintomas mais severos de depressão, mesmo fazendo o uso de medicamentos antidepressivos.
Pessoas que faziam o uso de medicações que são conhecidas por não causarem efeitos colaterais como sintomas depressivos não apresentavam essas chances.
Reduzir as outras medicações pode ajudar no tratamento da depressão?
Embora tenha ficado claro que o uso de tais medicações está associado a sintomas mais severos de depressão mesmo com tratamento adequado, é difícil saber se o tratamento seria necessariamente mais eficaz com a diminuição desses medicamentos.
Algumas das medicações também acabam sendo usadas para tratar doenças crônicas e não podem ser suspensas. Por conta disso, encontrar outras maneiras de tratar os sintomas depressivos pode ser necessário para que a pessoa consiga recuperar sua qualidade de vida. Uma das possibilidades é a psicoterapia, que é conhecida por ser bastante eficaz na diminuição desses sintomas junto ao uso de medicamentos.
No entanto, há medicações que não necessariamente precisam ser tomadas com tanta frequência, como é o caso de medicamentos analgésicos que frequentemente são utilizados sem prescrição e sem acompanhamento médico. Nestes casos, limitar a utilização de tais medicamentos para momentos em que há prescrição pode causar menos interferências no tratamento da depressão.
O que mais pode prejudicar o tratamento da depressão?
Além do uso de medicações, existem também outros fatores que podem acabar influenciando o tratamento da depressão. Alguns deles são:
Não seguir o tratamento corretamente
Um dos maiores preditores de que o tratamento será efetivo é justamente seguir o tratamento de forma adequada, tomando os medicamentos assiduamente e seguindo as orientações do psiquiatra que faz o acompanhamento do caso.
Se necessário, fazer psicoterapia e envolver-se ativamente no processo, seguindo também as orientações do psicólogo para conseguir lidar com os sintomas depressivos.
Caso não haja esse envolvimento com o tratamento, dificilmente o tratamento alcançará o efeito desejado, podendo ter sua eficácia gravemente reduzida.
Não relatar os resultados de forma clara ao psiquiatra
Frequentemente, é necessário fazer ajustes nas doses de medicações antidepressivas para que o efeito seja mantido. Se o paciente não relata que continua tendo sintomas depressivos de forma clara, ou não relata os efeitos colaterais sentidos, o psiquiatra não tem como saber se o tratamento está sendo efetivo.
Por isso, se você faz tratamento psiquiátrico, busque sempre ser sincero com seu médico psiquiatra a fim de encontrar um tratamento verdadeiramente eficaz para o seu caso.
Sono inadequado
A qualidade do sono é um grande aliado no tratamento de diversos transtornos mentais, inclusive a depressão. Sabe-se que manter uma rotina de sono inadequada aumenta os sintomas depressivos, podendo prejudicar também a memória, a regulação emocional e a capacidade de concentração.
Leia mais: Tratar o sono antes do humor? Por que?
Falta de hábitos saudáveis
O sono não é o único que precisa ser mantido de forma saudável para o tratamento da depressão. Hábitos saudáveis como uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos são verdadeiramente importantes para o tratamento de sintomas depressivos, tendo a capacidade de reduzir significativamente esses sintomas.
Uso de substâncias
O uso de substâncias recreativas, tanto lícitas quanto ilícitas, é conhecido por atrapalhar significativamente a eficácia do tratamento da depressão e de uma série de outros transtornos mentais. Por isso, é interessante cessar este uso e, se necessário, buscar ajuda para tratar uma possível dependência.
Infelizmente, nem sempre podemos ter o controle da medicações que tomamos. Por conta disso, é importante ter em mente quais medicamentos podem prejudicar o tratamento da depressão e sempre relatar ao psiquiatra caso você faça o uso de algum destes medicamentos. Desta forma, o psiquiatra poderá direcionar o tratamento para contornar essa situação.
Se você percebe que está apresentando sintomas depressivos e não faz tratamento, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
Mojtabai, R., Amin-Esmaeili, M., Spivak, S., & Olfson, M. (2023). Use of non-psychiatric medications with potential depressive symptom side effects and level of depressive symptoms in major depressive disorder. J Clin Psychiatry. 84(4):22m14705.
https://www.psychologytoday.com/us/blog/demystifying-psychiatry/202308/medications-that-may-make-depression-more-difficult-to-treat