Alterações comportamentais na perimenopausa

Popularmente chamada de “menopausa”, a perimenopausa é uma fase na qual o humor e os comportamentos podem sofrer várias alterações. Entenda!
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A menopausa é o evento da última menstruação, mas o período em que ocorrem os sintomas popularmente conhecido como menopausa é, na realidade, a perimenopausa. Neste período, há um aumento do risco de apresentar transtornos emocionais. Quais são as alterações mais comuns? O que pode ser resolvido hormonalmente?

Menopausa vs. perimenopausa

O que popularmente é referido como menopausa é, na realidade, a perimenopausa, período no qual o ciclo menstrual da mulher vai ficando cada vez mais escasso até parar completamente. A menopausa, em si, é a data da última menstruação, que só pode ser identificada retroativamente após a mulher completar 1 ano sem menstruar.

A perimenopausa ocorre logo antes da menopausa. Há alterações significativas nos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios sexuais femininos, que têm influência sobre os aspectos emocional e comportamental da mulher.

Por conta disso, a mulher na perimenopausa se encontra mais vulnerável a apresentar sintomas tanto físicos quanto psicológicos. Dentre os sintomas físicos, alguns dos mais comuns são os fogachos, que são ondas de calor intensas, sudorese intensa, cansaço, entre outros.

O que causa os sintomas psicológicos e comportamentais na perimenopausa?

Embora frequentemente se atribua os sintomas psicológicos e comportamentais à flutuação hormonal característica dessa fase da vida, a realidade é que os hormônios não são completamente responsáveis pelos sintomas que surgem.

Durante a perimenopausa, a mulher pode ficar mais suscetível a desenvolver algum transtorno emocional, especialmente se já tem histórico familiar de transtornos mentais, histórico de depressão pós-parto ou histórico de questões emocionais relacionadas à TPM (tensão pré-menstrual).

No entanto, não é a flutuação hormonal sozinha que é capaz de “causar” uma depressão ou um outro transtorno emocional. É preciso avaliar a vida da mulher na perimenopausa como um todo, a fim de identificar quais fatores podem estar contribuindo para um período emocional mais conturbado.

Frequentemente, fatores psicossociais contribuem para desenvolver um distúrbio emocional nesta fase. Dentre estes fatores está a saída dos filhos de casa (síndrome do ninho vazio), dificuldades na relação conjugal, problemas relacionados à vida sexual, separações/divórcios, entre outros. A reação da mulher a estes fenômenos depende dos seus recursos psicológicos internos e, portanto, podem contribuir para os sintomas frequentemente associados à perimenopausa.

Quais são as alterações psicológicas mais comuns na perimenopausa?

Labilidade emocional

Comumente chamada de instabilidade emocional, a labilidade emocional se refere a uma desregulação emocional, ou seja, a pessoa passa por mudanças repentinas de humor com uma frequência elevada.

Este é um sintoma comum da famigerada TPM, o que indica que existe uma relação entre a labilidade emocional e os níveis dos hormônios sexuais femininos. Portanto, uma maior instabilidade no humor durante a perimenopausa é um sintoma comum e muitas vezes esperado, não sendo necessariamente um indicativo de que algo está errado.

Contudo, é importante levar em consideração a intensidade dessas emoções e dessas viradas de humor. Isso porque as emoções podem influenciar nossos pensamentos e comportamentos, e vez ou outra pode nos levar a fazer coisas que podem ser prejudiciais para nós.

Um exemplo é a irritabilidade relatada por muitas mulheres durante a TPM. Na perimenopausa, com a labilidade emocional, isso pode se tornar uma realidade frequente.

Tristeza

A tristeza também é uma queixa frequente em mulheres durante a TPM e na perimenopausa. O problema é que, como a perimenopausa não se resolve em uma semana, como ocorre na TPM, essa tristeza pode durar muito mais tempo.

Contudo, quando essa tristeza é muito intensa e constante, chegando a atrapalhar a mulher no seu dia-a-dia, pode ser um indicativo de que ela está passando por um transtorno emocional que pode e deve ser tratado.

Desânimo

O desânimo pode surgir em decorrência das alterações no humor provocadas pela flutuação hormonal, mas também pode surgir como sintoma de um possível transtorno. Além disso, à medida que a idade vai chegando, a energia para fazer as coisas vai diminuindo, ou seja, há menos disposição no dia-a-dia, o que pode levar a sentimentos de desânimo.

Insônia e alterações no padrão de sono

Outra coisa que sofre mudanças tanto com a idade quanto com a flutuação hormonal é o padrão de sono. Algumas características exclusivas da perimenopausa podem contribuir para noites mal dormidas, como os fogachos, a sudorese intensa, entre outros.

Vale lembrar que um sono de má qualidade alimenta outros sintomas aqui citados, como a irritabilidade, os problemas de memória, a falta de disposição, entre outros. Sendo assim, uma série dos sintomas presentes na perimenopausa estão intimamente relacionados.

Alterações na memória

É frequente que mulheres nesta fase da vida comecem a se queixar que estão esquecendo muito as coisas, podendo até mesmo acreditar estar vivendo um processo demencial, o que não necessariamente é verdade.

As alterações na memória podem estar relacionadas não apenas à variação hormonal, mas também aos outros sintomas psicológicos que surgem na perimenopausa. Sabe-se que o sono é muito importante para a consolidação de memórias e, portanto, as alterações que ocorrem nos padrões de sono podem afetar também a memória.

Além disso, um declínio natural das funções cognitivas é esperado conforme a idade avança. Ficar um pouco mais esquecida após a menopausa é completamente natural, porém quando este esquecimento passa a causar prejuízos relevantes no dia-a-dia (como esquecer panelas no fogo, ou não conseguir lembrar como usa um garfo, por exemplo), é preciso investigar mais a fundo o que pode estar acontecendo.

Quando procurar um psicólogo ou psiquiatra?

A perimenopausa é um processo fisiológico e, por isso, muitas mulheres vão atrás de um ginecologista e esquecem de procurar um profissional da saúde mental, mesmo quando há sintomas claramente de ordem psicológica ou emocional.

Nem sempre uma tristeza indica a necessidade de procurar ajuda profissional, então oscilações de humor comuns desse período podem não necessitar atendimento psiquiátrico. No entanto, quando estes sintomas se tornam muito intensos, procurar um profissional da saúde mental pode ser extremamente importante.

Isso porque, apesar de ser um processo fisiológico, ele não ocorre isoladamente. A perimenopausa e a menopausa em si ocorrem em fases da vida nas quais existem vários fatores psicossociais influenciando o humor, o comportamento, o senso de identidade da mulher, entre outros.

Por isso, a ajuda de um ginecologista apenas pode não ser o suficiente para cuidar de todas as demandas que essa fase da vida pode trazer.

Especialmente quando os sintomas são particularmente intensos e acabam gerando prejuízos no dia-a-dia da mulher, a ajuda de um profissional da saúde mental pode ser necessária.

São os casos no qual a tristeza é tão intensa que a mulher perde a disposição e a vontade de fazer as coisas, mesmo as coisas que gostam já não lhe trazem mais prazer algum. Ou quando as oscilações de humor são tão intensas e frequentes que começam a atrapalhar a capacidade da mulher de ser funcional e fazer suas tarefas do dia-a-dia. Ou, ainda, quando há muita irritabilidade e isso acaba prejudicando as relações interpessoais.

Em suma, embora não seja necessário procurar um psiquiatra quando a tristeza e a oscilação de humor ocorre de forma mais amena, quando esses sintomas ficam intensos e provocam prejuízos ou deixam a mulher incapacitada, buscar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra é fundamental para que ela possa ter qualidade de vida.

Como tratar essas alterações?

Existem diversas formas de tratar as alterações psicológicas e comportamentais que ocorrem nesta fase da vida. Os tratamentos hormonal, psiquiátrico e psicológico podem se complementar para devolver uma boa qualidade de vida à mulher.

Tratamento hormonal

O tratamento de reposição hormonal pode ser pensado quando a mulher apresenta sintomas psicológicos mais leves, mas sofre bastante com os sintomas físicos.

Embora seja uma opção, existe bastante controvérsia a respeito do tratamento hormonal, pois não há dados conclusivos a respeito de sua efetividade. Nem toda mulher responde bem a esse método de tratamento.

Tratamento psiquiátrico

Quando os sintomas psicológicos são tão intensos, eles podem chegar a ser incapacitantes. Nestes casos, uma avaliação psiquiátrica é indicada para, se necessário, dar início ao tratamento psiquiátrico.

Este tratamento vai depender muito dos sintomas apresentados pela mulher. Vale lembrar que a perimenopausa torna a pessoa mais suscetível a diversos transtornos mentais, e o tratamento psicofarmacológico depende dos sintomas que a mulher apresenta.

Enquanto algumas apresentam sintomas de um quadro depressivo, por exemplo, outras podem ser acometidas com sintomas mais próximos de um quadro ansioso. E, neste sentido, a medicação indicada é completamente diferente.

Por isso, não existe um tratamento psiquiátrico padrão para o que ocorre na perimenopausa, mas sim uma avaliação caso a caso para atender às demandas específicas de cada mulher.

Psicoterapia

Como dito anteriormente, a perimenopausa costuma acontecer em uma fase na qual ocorrem grandes mudanças na vida da mulher. Estes fatores psicossociais podem ser discutidos e trabalhados durante a psicoterapia.

Além disso, na nossa sociedade, o valor da mulher em vários cenários está ligado a sua capacidade reprodutiva. Embora isso tenha mudado nas novas gerações, as gerações mais velhas ainda veem o valor da mulher muito atrelado à maternidade.

Contudo, após a menopausa, a capacidade reprodutiva se encerra e frequentemente as mulheres que são mães se encontram na “síndrome do ninho vazio”, que ocorre quando os filhos adultos saem de casa. Isso tudo pode afetar muito o psicológico de uma mulher na perimenopausa, como se sua função social já tivesse sido cumprida e ela não tivesse mais valor.

A psicoterapia pode ajudar a mulher com esse pensamento a compreender melhor o seu valor como pessoa, independente da sua capacidade reprodutiva. O terapeuta pode estimular a mulher a fazer coisas novas, ter novos hobbies, fazer novas amizades etc.

Cuidados físicos

Além das possibilidades de tratamento descritas acima, também é uma ideia cuidar do corpo como um todo, estabelecendo uma rotina de atividades físicas para garantir não apenas a saúde do organismo, mas também pelos benefícios que a atividade física traz à saúde mental.

O período da menopausa é uma marca muito grande na vida da mulher e, portanto, merece cuidados. Se você sente que está tendo sintomas muito intensos e que precisa de ajuda, não se esqueça de entrar em contato com um profissional da saúde da mulher e um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.health.harvard.edu/womens-health/menopause-and-mental-health

https://womensmentalhealth.org/specialty-clinics/menopausal-symptoms/

https://www.karger.com/Article/PDF/209606

https://www.healthline.com/health/menopause/mental-health

https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/menopausa-aspectos-psicologicos-entrevista/

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