Não é raro vermos alguém dizendo que está angustiado ou estressado. Outras pessoas preferem dizer que estão preocupadas ou ansiosas. Por mais que esses termos estejam relacionados a sentimentos negativos caracterizados por uma grande apreensão, eles não são sinônimos.
Para a psicopatologia, uma disciplina que estuda os estados psíquicos relacionados ao sofrimento, há uma grande diferença entre esses sentimentos. Na prática, os sintomas corporais também são diferentes. Entenda melhor:
Angústia
Caracterizada por um sentimento negativo acentuado que parece não ter fim, a angústia costuma surgir sem causa aparente. Pode causar sintomas físicos como um aperto no peito, sensação de nó na garganta, peso sobre os ombros e nuca, tensão muscular, sensação de um buraco no estômago, entre outros.
Não raramente, a angústia está associada a sentimentos apreensivos a respeito da condição humana e do mundo em geral.
Não se deve confundir a angústia com depressão, por mais que hajam sintomas parecidos. A depressão é um transtorno de humor crônico, enquanto a angústia, embora presente em transtornos depressivos, é um estado psíquico que tende a se resolver em pouco tempo. A angústia pode ser também um sintoma de transtornos ansiosos, doenças físicas ou intoxicações por substâncias.
Medo
O medo é uma reação natural do corpo diante de situações de perigo. Surge rapidamente após o reconhecimento de uma ameaça e vai embora assim que essa ameaça é eliminada. Trata-se de um estado psíquico automático que ocorre diante de situações que necessitam a avaliação de uma ameaça ou perigo a fim de encontrar o melhor plano de ação para garantir a segurança e integridade do indivíduo.
Ele costuma ocorrer em situações tais como quando nos deparamos com um carro vindo em nossa direção, quando o chefe nos chama para conversar na sala dele, quando vamos fazer uma prova e percebemos que não sabemos o conteúdo, entre outros. O medo está presente em diversas situações, desde que haja uma ameaça real ao nosso bem-estar físico ou psíquico. Ele também é caracterizado por uma grande excitação e tendência para a ação, pois surge em situações que provocam uma resposta de luta (encarar a situação) ou fuga.
Os sintomas físicos do medo são o tremor, o suor frio, palpitações e pernas bambas. Quando esses sintomas ocorrem de maneira instantânea, eles recebem o nome de susto. Existem casos em que esses sintomas vêm acompanhados de uma sensação de morte iminente: é o chamado pânico.
No entanto, nem sempre o medo é uma sensação ruim. O ser humano possui um desejo intrínseco de superar seus medos. De fato, quando estamos com medo, o organismo libera substâncias que podem gerar prazer, como a adrenalina, dopamina, endorfinas, ocitocina, entre outras. Esse é o motivo pelo qual gostamos tanto de filmes de terror e montanhas russas.
Ansiedade
Assim como o medo, a ansiedade é uma reação natural do corpo, mas que dessa vez ocorre diante da perspectiva de perigo. Em outras palavras, não é preciso uma ameaça real para que a ansiedade se faça presente: a simples ideia, ou antecipação, da ameaça é o bastante. Trata-se de uma emoção voltada para o futuro, provocada principalmente pela imprevisibilidade das situações.
Ela se manifesta em situações como antes de uma prova importante, uma entrevista de emprego, uma performance, ou até mesmo antes de conversar com uma pessoa interessante. Até aí, ela é considerada normal, mas pode se tornar patológica a partir do momento em que ela se torna constante e exacerbada.
A ansiedade, diferentemente do medo, envolve uma série de outros fatores (além da avaliação de uma ameaça), como a falta de controle da situação, a incerteza, e vulnerabilidade e a incapacidade de obter os resultados desejados. Ela é permeada por questões de “e se”, como por exemplo, “E se eu for mal na prova?”, “E se a empresa não gostar de mim?”, “E se essa dor que estou sentido for algo sério?”.
Outra diferença é que a ansiedade não traz a tendência à ação, pelo contrário: o indivíduo pode até mesmo ter seu funcionamento prejudicado diante da suposta ameaça. Enquanto uma pessoa sendo perseguida por um cachorro está com medo e resolve fugir por conta disso, uma pessoa ansiosa pode ver um cachorro qualquer na rua e paralisar, mesmo que o cão não esteja nem mesmo olhando para ela.
O problema ocorre quando o indivíduo não consegue lidar com nenhum tipo de incerteza, está sempre pensando em possibilidades perigosas que são pouco prováveis, e isso causa sintomas exacerbados de ansiedade. Também é possível que o indivíduo veja perigo onde ele não existe, o que é comum em situações de fobia.
Vale lembrar que a ansiedade e o medo, apesar de diferentes, costumam andar juntos. Um exemplo é o caso de um paciente ansioso que tem medo de pegar o elevador porque se pergunta constantemente “e se o elevador travar e ninguém vier socorrer?”.
Preocupação
A preocupação é mais um daqueles sentimentos negativos naturais do nosso organismo. Todos se preocupam com uma coisa ou com outra. Ela é importante para nossa vida pois nos ajuda a pensar em soluções para possíveis problemas antes mesmo que eles aconteçam. É o caso de pegar um guarda-chuva antes de sair de casa: você se preocupa se irá chover.
O problema é que a preocupação também pode ser patológica, e está envolvida no desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Contudo, a preocupação não costuma causar sintomas físicos intensos como a ansiedade ou o medo.
Estresse
Por último, o estresse é um termo oriundo da biologia, e ocorre quando um organismo é submetido a uma sobrecarga de esforço ao qual ele não está acostumado. É o caso de uma pessoa que levanta pesos em excesso: há uma sobrecarga nos músculos e na coluna vertebral, o que pode trazer consequências como lesões.
Quando se trata da saúde psíquica, o estresse é causado por uma situação de sobrecarga emocional ou de trabalho psíquico. Ele pode ser oriundo de situações traumáticas como a morte de um ente querido, ou de situações corriqueiras, como uma sobrecarga de trabalho psíquico — o que costuma acontecer com profissionais de diversas áreas.
Embora frequentemente confundidos, os termos angústia, medo, ansiedade, preocupação e estresse são bem diferentes entre si. Alguns desses sentimentos andam em conjunto, enquanto outros nem mesmo estão relacionados. Contudo, saber a diferença entre eles irá te ajudar a falar com mais clareza com o seu terapeuta!
Referências
CLARK, D. A. BECK, A. T. Terapia Cognitiva para Transtorno de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2012.