Qualquer um que tenha feito uso de medicamentos psiquiátricos sabe que a retirada do medicamento, também chamada de “desmame”, pode ser um período complicado. Isso porque é normal sentir alguns sintomas de abstinência, principalmente se a retirada for muito abrupta. O esperado, no entanto, é que esses sintomas durem até cerca de 2 semanas, e depois o paciente volta a se estabilizar.
Infelizmente, novas pesquisas sugerem que não é bem isso que acontece, ao menos não no caso de antidepressivos. Alguns sintomas são comuns em um primeiro momento da retirada dos medicamentos.
No entanto, há relatos de sintomas mais graves e de duração mais longa. Esses sintomas podem durar semanas e até meses, levando o médico a acreditar que o paciente está tendo uma recaída, o que nem sempre é verdade.
O problema, nesses casos, é que o paciente não consegue deixar a medicação, pois sempre que tenta tirá-la, os sintomas são tão intensos que é necessário voltar com ela. Não se trata de um vício ou dependência dos medicamentos propriamente dita, mas sim de uma dificuldade em deixar de usá-los por conta dos sintomas de abstinência. Muitas vezes, a desinformação dos médicos a respeito desses efeitos também contribui para que o paciente tenha essa dificuldade.
De acordo com uma revisão sistemática publicada no periódico científico Addictive Behaviors, diversos estudos mostram que entre 27% e 86% dos indivíduos que passam pelo desmame de antidepressivos acaba sofrendo com esses sintomas de abstinência. Essa taxa é muito alta para ser ignorada, deixando claro que é necessário procurar uma nova maneira de fazer a retirada do medicamento controlado.
Sintomas de abstinência de antidepressivos
Os sintomas mais comuns relacionados à abstinência de antidepressivos são:
- Tontura;
- Náusea;
- Insônia;
- Dor de cabeça;
- Cansaço;
- Dificuldades de concentração.
Esses sintomas costumam durar algumas semanas e já são bem conhecidos pelos profissionais da saúde mental como efeitos da retirada do medicamento. Contudo, alguns sintomas podem surgir e durar mais tempo, e podem ser confundidos com recaídas. São eles:
- Tremedeiras;
- Sensação de choques elétricos;
- Oscilações de humor;
- Ideação suicida.
Como melhorar essa situação?
Sabendo que os sintomas da abstinência podem ser piores do que o esperado, é importante manter a calma e pensar em soluções para lidar com esse período de desmame. Existem diversas alternativas que podem ajudar, como:
Retirar o medicamento aos poucos
Em geral, os médicos já procuram retirar o medicamento aos poucos para evitar que a concentração da substância no organismo caia drasticamente, causando efeitos colaterais mais intensos. No entanto, se esse não for o caso, é importante conversar com o médico para tentar retirar o remédio mais lentamente, diminuindo um pouco a dose a cada duas semanas, por exemplo.
Psicoterapia
Quando há algum transtorno psicológico, a psicoterapia é muito importante para que haja melhora a longo prazo. O psicoterapeuta auxilia tanto no momento em que se inicia o tratamento medicamentoso quanto no final, ajudando o paciente a lidar com eventuais efeitos colaterais.
Nos casos de abstinência, a terapia pode ser muito eficaz em ajudar o paciente a se manter calmo e não precisar voltar a tomar o medicamento para lidar com esses sintomas.
Informação
As pesquisas que falam sobre esses sintomas mais intensos e duradouros da abstinência são recentes e, por isso, muitos médicos podem estar desatualizados a respeito do tema. É importante que essa informação seja espalhada para que profissionais não confundam esses sintomas com sinais de recaída, podendo garantir melhor auxílio nesses momentos.
Tomar o medicamento conforme prescrito
Pacientes que estão iniciando o desmame podem ficar muito ansiosos para se livrar do medicamento de uma vez e, por isso, podem não seguir adequadamente a prescrição do médico, cortando o remédio de uma vez. Isso só intensifica os sintomas de abstinência, sendo uma péssima ideia.
Pode ser chato ter que diminuir a dose lentamente, mas este é o caminho para evitar esses efeitos tão indesejáveis. Se você está passando pelo período de desmame, lembre-se de seguir corretamente a prescrição do médico e entrar em contato sempre que sentir que algo está errado.
Não tenha medo de iniciar a medicação quando necessário
Muitas pessoas temem iniciar um tratamento medicamentoso por conta de efeitos colaterais, abstinência e a possibilidade de dependência. A verdade é que, se o tratamento for seguido corretamente, as chances de acontecer algo assim não são muito altas.
Se você está sofrendo e seu médico prescreveu algum medicamento, você tem o direito de negar, mas deve ter noção de que o tratamento fica prejudicado por conta disso.
Caso você esteja com medo dos efeitos colaterais dos medicamentos, saiba que há abertura para reajustes. Isso quer dizer que, caso você não se adapte a um medicamento específico, o médico pode optar por um similar que dê menos efeitos colaterais ou tenha um efeito mais eficaz para o seu caso.
Ajustes de medicação psiquiátrica são recorrentes no início, mas isso não é motivo para temer. Sempre que você sentir que algo está errado, é importante entrar em contato com seu médico para que ele possa reavaliar a dosagem e a substância usada.
Outra coisa importante é não pensar em como vai ser o desmame. Ainda que os estudos recentes tragam notícias não muito boas, o processo pode ser mais tranquilo, desde que haja colaboração do paciente.
Vale lembrar que, mesmo após interromper o uso de algum medicamento, é possível que o tratamento farmacológico seja retomado algum tempo depois por conta de recaídas, que podem acontecer até mesmo anos após o desmame — eis a importância de saber diferenciar sintomas de abstinência e recaídas.
Referências
Davies, J. (2018). A systematic review into the incidence, severity and duration of antidepressant withdrawal effects: Are guidelines evidence-based? Addictive Behaviors, https://doi.org/10.1016/j.addbeh.2018.08.027