Os antidepressivos são medicamentos usados para combater os sintomas da depressão, tendo efeito também em sintomas ansiosos. Hoje em dia, existem muitos antidepressivos disponíveis no mercado, mas a realidade nem sempre foi assim.
No final da década de 1950, existia apenas um tipo de antidepressivo disponível: os inibidores da monoaminoxidase (IMAO). Contudo, ao acaso, foi descoberta uma nova classe de antidepressivos: os antidepressivos tricíclicos (ADTs).
Ao contrário das outras classes de antidepressivos, os antidepressivos tricíclicos não levam esse nome por conta do seu mecanismo de ação. O nome “tricíclico” diz respeito à presença de três anéis de benzeno em sua estrutura química. A verdade é que, na época em que esses antidepressivos foram descobertos, não se sabia exatamente de que forma eles agiam no organismo.
O primeiro antidepressivo tricíclico desenvolvido era, na realidade, um medicamento sendo estudado para o tratamento da esquizofrenia. A ideia era fazer um medicamento antipsicótico mas, ao testar a medicação, os pesquisadores perceberam que os pacientes começaram a ter mais iniciativa no dia-a-dia, buscando maior contato com as outras pessoas, buscando atividades prazerosas, retomando até mesmo a capacidade de rir novamente.
Em outras palavras, o medicamento testado (imipramina) tinha efeitos antidepressivos, e não antipsicóticos. Além disso, em comparação aos inibidores da monoaminoxidase, esse medicamento não causava tantos efeitos colaterais sérios e preocupantes, se tornando uma alternativa bastante interessante para o tratamento da depressão.
Exemplos de antidepressivos tricíclicos
Aqui estão alguns exemplos dos antidepressivos duais comercializados no Brasil. O nome se refere ao princípio ativo e, entre parênteses, está o nome comercial do medicamento.
- Imipramina (TofranilⓇ);
- Clomipramina (AnafranilⓇ);
- Amitriptilina (TyptanolⓇ);
- Nortriptilina (PamelorⓇ).
Vale ressaltar que esses não são os únicos nomes comerciais para essas substâncias. Siga as recomendações do seu psiquiatra e utilize o medicamento que ele receitou, ainda que existam outras marcas.
Mecanismo de ação dos antidepressivos tricíclicos (ADTs)
Como dito anteriormente, os antidepressivos tricíclicos não são nomeados assim por terem um mecanismo de ação em comum, como é no caso dos ISRS, IMAO etc. O nome vem apenas do fato de que as substâncias possuem três aneis de benzeno em sua molécula.
Além disso, quanto o primeiro antidepressivo tricíclico foi descoberto, não se sabia como eles funcionam, sabia-se apenas que os pacientes apresentavam uma boa resposta antidepressiva ao medicamento.
Hoje em dia, no entanto, já se tem uma ideia melhor do funcionamento desses antidepressivos. Em geral, eles agem dois transportadores de recaptação e em três proteínas receptoras.
A recaptação de neurotransmissores é um dos principais mecanismos nos quais os antidepressivos em geral agem. Isso porque, ao alterar o processo de recaptação de neurotransmissores, eles ficam disponíveis por mais tempo na fenda sináptica, o que acaba causando uma melhora nos sintomas depressivos e ansiosos.
Entenda melhor: Neurotransmissores: o que são? Quais são os principais?
Os antidepressivos tricíclicos, em geral, funcionam a partir dos seguintes mecanismos:
- Inibição pré-sináptica dos transportadores de recaptação de norepinefrina;
- Inibição pré-sináptica dos transportadores de recaptação de serotonina;
- Bloqueio dos receptores alfa-adrenérgicos pós-sinápticos;
- Bloqueio dos receptores muscarínicos pós-sinápticos;
- Bloqueio dos receptores histamínicos pós-sinápticos.
Estes últimos 3 mecanismos parecem ser responsáveis por grande parte dos efeitos colaterais dessas substâncias, enquanto os 2 primeiros mecanismos estão relacionados ao seu efeito antidepressivo.
Ao contrário dos antidepressivos duais, que tendem a ter um efeito mais significativo em um neurotransmissor do que em outro, os antidepressivos tricíclicos têm efeito relativamente igual na recaptação de serotonina e norepinefrina.
Os ADTs também possuem um certo efeito na dopamina, porém em menor escala.
Indicações dos antidepressivos tricíclicos (ADTs)
Em geral, os antidepressivos tricíclicos costumam ser receitados para depressão e transtornos ansiosos apenas quando a pessoa já tentou outras classes de antidepressivos mais usadas (os ISRS e os antidepressivos duais, por exemplo), mas não apresentou uma resposta satisfatória.
Os antidepressivos tricíclicos também são usados para tratar dores neurogênicas (dores causadas por lesões no sistema nervoso), dores reumatológicas e enurese noturna (incapacidade de controlar a bexiga ao dormir).
Em alguns casos, os antidepressivos tricíclicos podem ser indicados para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) por conta do seu efeito na norepinefrina, neurotransmissor de interesse nesse transtorno. No entanto, eles só são usados quando a pessoa não responde bem aos medicamentos estimulantes ou outras alternativas farmacológicas.

Efeitos colaterais dos ADTs
Os antidepressivos tricíclicos possuem perfis bastante distintos e, por conta disso, podem ter uma grande variedade de efeitos colaterais diferentes entre si. Se você for começar o tratamento com algum desses medicamentos, não esqueça de perguntar ao médico o que esperar no que tange os efeitos colaterais.
Dentre os efeitos colaterais mais comuns estão:
- Boca seca;
- Constipação;
- Sedação e sonolência;
- Sensação de cansaço ou fraqueza muscular;
- Tontura;
- Dor de cabeça;
- Zumbido no ouvido (tinnitus);
- Dormência na língua;
- Alterações no apetite;
- Alterações de peso;
- Arritmia cardíaca leve;
- Aumento da pressão arterial (hipertensão);
- Retenção urinária;
- Alterações na libido;
- Diminuição do limiar convulsivo (epilepsia);
- Visão embaçada;
- Aumento da ideação suicida (em pessoas com menos de 25 anos).
Contraindicações
Os antidepressivos tricíclicos possuem algumas contraindicações. São elas:
- Pacientes com problemas cardíacos, renais ou hepáticos;
- Pacientes com glaucoma;
- Pessoas que fazem uso abusivo de álcool (alcoolistas);
- Tabagistas;
- Grávidas e lactantes.
Vale ressaltar que alguns antidepressivos tricíclicos são tóxicos para o coração e, portanto, devem ser evitados ao máximo por pessoas com qualquer tipo de problema cardíaco.
Se você possui qualquer condição crônica, lembre-se de avisar seu psiquiatra para que ele possa prescrever uma opção segura de tratamento.
Interações medicamentosas
Os antidepressivos tricíclicos podem interagir com os seguintes medicamentos:
- Outros antidepressivos, principalmente IMAO;
- Antipsicóticos (pode aumentar as chances de síndrome neuroléptica maligna, condição possivelmente fatal);
- Anti-hipertensivos;
- Medicamentos anticolinérgicos (benzotropina, escopolamina, atropina, etc.);
- Medicamentos antitireoidianos (usados para tratar hipertireoidismo);
- Ácido valpróico;
- Tramadol;
- Petidina;
- Medicamentos que alteram a motilidade intestinal (como levodopa, por exemplo);
- Anticoagulantes;
- Medicamentos que podem ter absorção prolongada ao passarem muito tempo no intestino delgado.
Esta lista não engloba todas as interações medicamentosas de todos os antidepressivos tricíclicos, portanto é importante consultar a bula antes de fazer o uso do medicamento. Além disso, não se esqueça de comunicar ao psiquiatra qualquer medicamento de uso contínuo para que ele possa escolher a medicação segura para seu caso.
Deve-se suspender o uso de álcool durante o tratamento com antidepressivos tricíclicos, considerando que esses medicamentos dependem do metabolismo hepático (no fígado), órgão sobre o qual o álcool tem grande efeito.
Superdosagem e toxicidade
Ao tomar uma dose muito alta de antidepressivos tricíclicos, a pessoa pode sofrer efeitos bastante preocupantes. Em geral, isso está relacionado aos bloqueadores dos receptores alfa-adrenérgicos, muscarínicos e histamínicos.
Os sintomas esperados em uma superdosagem são:
- Diminuição da pressão arterial (hipotensão);
- Taquicardia;
- Febre;
- Alterações no estado mental;
- Delírio;
- Convulsões;
- Depressão respiratória;
- Paralisia do intestino;
- Coma.
Além disso, antidepressivos tricíclicos que causam efeitos tóxicos ao coração podem levar ao bloqueio cardíaco e bradicardia em quadros de superdosagem.

Embora os antidepressivos tricíclicos sejam relativamente antigos, eles ainda podem ajudar bastante pessoas que não responderam bem ao tratamento com medicamentos mais novos. Se você suspeita que está lidando com sintomas depressivos ou ansiosos, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4428540/
https://jornal.usp.br/atualidades/entenda-o-que-sao-os-antidepressivos-triciclicos/
https://blog.jaleko.com.br/antidepressivos-triciclicos-pros-e-contras/