Embora seja amplamente combatido, o assédio moral e sexual é uma realidade presente em muitas empresas e órgãos públicos. Em geral, são praticados pelos chefes diretos das vítimas, tornando o ambiente de trabalho uma fonte de estresse e insalubridade.
Isso tudo tem um impacto bastante significativo na saúde mental, considerando o papel que o trabalho tem na vida das pessoas. Neste texto, iremos explorar a definição de assédio moral e sexual e suas consequências para a saúde mental.
O que é assédio moral e sexual?
O termo assédio pode ser compreendido como uma série de condutas abusivas proferidas pelos colegas de trabalho ou gestores, o que pode ocorrer por meio de palavras, gestos, comportamentos, entre outros.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o assédio moral é uma conduta abusiva repetida de forma sistemática, trazendo consequências à dignidade e integridade psíquica ou física do trabalhador.
Em outras palavras, a pessoa é submetida a situações humilhantes, vexatórias e constrangedoras repetidas vezes de forma prolongada, gerando estresse constante e tornando sua permanência no emprego insustentável.
Alguns exemplos de assédio moral no ambiente de trabalho incluem:
- Críticas demasiadas ao trabalho da pessoa, incluindo punições;
- Vigiar excessivamente o trabalhador;
- Divulgar de boatos sobre a vítima;
- Estabelecer punições vexatórias, como obrigar o trabalhador a fazer dancinhas, fazer chacota do trabalhador, entre outros;
- Aumentar a voz ou gritar com o trabalhador, incluindo dirigir-se a ele por meio de xingamentos;
- Ignorar a presença do trabalhador na empresa;
- Invalidar ou fazer chacota de problemas de saúde do trabalhador;
- Sobrecarregar o trabalhador;
- Impor regras de trabalho diferentes dos demais trabalhadores;
- Deixar o trabalhador sem atividades para fazer, aumentando seu tempo ocioso;
- Dar instruções imprecisas ao trabalhador, com o objetivo de prejudicar sua produtividade;
- Contribuir para a sensação de incompetência e prejudicar a reputação do trabalhador na empresa.
Consequências do assédio moral geralmente giram em torno de uma diminuição da autoestima do trabalhador, problemas na produtividade e motivação, absenteísmo, entre outros.
Já o assédio sexual é caraterizado por condutas de natureza sexual, que pode se manifestar por meio de palavras, gestos ou até mesmo fisicamente, como toques indevidos.
Neste tipo de assédio, a pessoa pode receber propostas de natureza sexual que causam constrangimento e desconforto, bem como ter sua liberdade sexual violada de alguma forma. São comuns insinuações de caráter sexual, que podem ser explícitas ou veladas, bem como gestos e palavras de duplo sentido.
Diferentemente do assédio moral, o assédio sexual não precisa ser repetido, podendo ser considerado assédio com uma única ocorrência. Além disso, é considerado assédio quando a vítima já tinha rejeitado propostas previamente.
Em outras palavras, quando a pessoa consente com as propostas e inicia uma relação com a outra pessoa, não é considerado assédio. No entanto, se ela rejeita as propostas e o perpetuador continua fazendo avanços nesse sentido, é considerado assédio.
Além disso, o assédio sexual pode ser classificado em dois tipos:
- Assédio sexual por chantagem: Quando é exigido que a vítima tenha uma conduta sexual em troca de benefícios ou com o fim de evitar prejuízos no trabalho;
- Assédio sexual por intimidação: Quando as provocações sexuais são feitas com o objetivo de criar uma situação de intimidação ou humilhação.
É importante ressaltar que o assédio em ambiente de trabalho também é perpetuado por vieses sociais, em que há uma diferença na quantidade de assédios sofridos de acordo com gênero, raça, etnia e até mesmo orientação sexual.
O assédio moral e sexual podem ocorrer simultaneamente. A partir do momento que a vítima do assédio sexual rejeita as investidas do assediador, este pode passar a ter condutas condizentes com assédio moral.
Como o assédio no trabalho impacta a saúde mental?
O ambiente de trabalho acaba sendo um lugar onde passamos grande parte de nossas vidas, considerando que grande parte das pessoas precisa trabalhar cerca de 44 horas por semana. Estima-se que as pessoas passam até um terço (⅓) de suas vidas no trabalho.
Por conta disso, um ambiente no qual há a convivência com assédios pode ter um impacto avassalador na saúde mental de uma pessoa.
Dentre as consequências do assédio moral e sexual no trabalho estão prejuízos na autoestima (em especial por sensação de incompetência no trabalho), perda da motivação e vontade de trabalhar ou realizar outras tarefas no dia-a-dia, aumento dos níveis de estresse, aumento de sentimentos ansiosos e problemas de humor.
Há também casos em que a pessoa começa a desenvolver problemas de sono, o que por sua vez também contribui para problemas de memória e concentração, que refletem diretamente na produtividade e qualidade do trabalho exercido.
O assédio moral e sexual também pode fazer com que a vítima tenha dificuldade em se relacionar com outros colegas de trabalho e criar vínculos, podendo trazer prejuízos significativos para sua vida social, fator bastante conhecido como importante para a manutenção da saúde mental como um todo.
Por fim, a pessoa também pode acabar sofrendo alterações comportamentais como consequência dos assédios, podendo se tornar mais agressiva, prejudicando suas relações interpessoais e podendo encontrar dificuldades no trabalho por conta disso.
Desenvolvimento de transtornos mentais como consequência dos assédios
A quantidade de sentimentos desagradáveis geradas pelos assédios em ambiente de trabalho pode ser grande o bastante para contribuir com o surgimento de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, ou até mesmo agravá-los.
A vítima desses assédios pode começar a ter uma ansiedade aumentada ao ir para o trabalho, podendo até mesmo desenvolver ataques de pânico, levando ao diagnóstico de síndrome do pânico.
Leia mais: Transtornos ansiosos: O que são? Como tratar?
Outro transtorno relativamente comum em pessoas que sofrem assédio no trabalho é o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), caracterizado por flashbacks (memórias intrusivas e repentinas do acontecimento traumático) e reações emocionais e fisiológicas intensas a essas memórias.
A pessoa pode acabar desenvolvendo esse transtorno por estar sendo frequentemente exposta a situações que geram estresse e sentimentos desagradáveis, bem como por ter sua integridade física e psíquica ameaçada de alguma forma.
Sabe-se também que o estresse frequente aumenta as chances da pessoa desenvolver algum transtorno relacionado ao consumo de álcool e drogas, bem como aumento do tabagismo. Há também pessoas que desenvolvem disfunções sexuais por conta do psicológico abalado.
Como denunciar assédios no ambiente de trabalho?
Existem diversas formas de denunciar assédios no ambiente de trabalho, a depender da estrutura da empresa.
Em empresas privadas, algumas formas de denunciar assédios são:
- Contatar a ouvidoria;
- Contatar o setor de recursos humanos;
- Contatar a área de compliance da empresa;
- Contatar o superior do assediador.
Além disso, caso as denúncias dentro da empresa não sejam acatadas, o trabalhador também pode entrar em contato com o sindicato profissional, associação ou órgão representativo de classe.
Já quando a pessoa é um servidor público, é possível fazer a denúncia por meio do canal FalaBR. O servidor também pode fazer a denúncia diretamente à autoridade superior ao assediador ou pela ouvidoria do órgão público.
Vale ressaltar que antes de fazer a denúncia é interessante ter materiais que comprovem o assédio, como vídeos, registros de mensagens ou até mesmo testemunhas. Isso pode ser especialmente importante caso haja a decisão de ingressar com ação judicial por danos morais.
A vítima pode iniciar um processo tanto contra o abusador quanto contra a empresa (processo trabalhista), especialmente se esta negligenciou denúncias e não tomou as medidas necessárias para punir o assediador.
Como combater o assédio no ambiente de trabalho?
A prevenção e o combate ao assédio no ambiente de trabalho é feito a partir da instituição de canais efetivos para denúncia de assédios, investigação ativa dos casos denunciados e punição adequada aos assediadores.
Além disso, é possível fazer campanhas de prevenção e conscientização por meio de palestras que buscam elucidar o que configura assédio bem como os meios de denúncia possíveis dentro da empresa.
Ademais, o dia 2 de maio é o Dia Nacional do Combate ao Assédio Moral, sendo compreendido como uma data que promove a conscientização e prevenção do assédio no ambiente de trabalho.
Referências
Mesquita, A. A., Silva, A. S., Bezerra, H. R., Fontinele, T. P., & Neiva, Y. P. (2017). Assédio Moral: Impacto Sobre a Saúde Mental e o Envolvimento com Trabalho em Agentes Comunitários de Saúde. Revista Psicologia E Saúde, 9(1). https://doi.org/10.20435/pssa.v9i1.375
Freire, P. A.. (2008). Assédio moral e saúde mental do trabalhador. Trabalho, Educação E Saúde, 6(2), 367–380. https://doi.org/10.1590/S1981-77462008000200009
https://www.gov.br/cgu/pt-br/centrais-de-conteudo/campanhas/integridade-publica/assedio-moral-e-sexual
https://www.trtes.jus.br/principal/comunicacao/noticias/conteudo/n272-saiba-como-identificar-casos-de-assedio-no-trabalho
https://www.naosecale.ms.gov.br/assedio-moral-e-sexual-na-relacao-de-trabalho/
https://www.tre-rr.jus.br/institucional/assedio-e-discriminacao-no-trabalho/assedio-moral-no-trabalho
