A relação entre paciente e terapeuta geralmente tem uma influência muito grande sobre o processo terapêutico como um todo, e isso vale tanto para as consultas psiquiátricas quanto para a psicoterapia.

É neste sentido que aparece o conceito de rapport, que caracteriza um tipo de relação que aumenta as chances de sucesso do processo terapêutico.

Neste texto, falaremos sobre o que é rapport, como ele pode ser construído e quais as opções quando o rapport não é bem feito com um determinado profissional.

O que é rapport?

De acordo com a American Psychological Association, o rapport é uma relação de compreensão mútua, aceitação e compatibilidade entre terapeuta e paciente. Dentro da psicologia e da comunicação, fala-se em “construir rapport” como o processo de desenvolver essa relação de forma mais calorosa e descontraída.

Apesar de focarmos, neste texto, no rapport entre profissionais da saúde mental e pacientes, é importante ressaltar que o rapport pode ser desenvolvido em diversos contextos diferentes, como relacionamentos interpessoais, vendas e negociações, reuniões, entrevistas de emprego, entre outros.

Quando existe um rapport bem estabelecido, a comunicação flui de forma natural e todas as pessoas envolvidas se sentem à vontade.

Entende-se que os profissionais da saúde mental são responsáveis por abrir caminho para o estabelecimento do rapport, mas é importante ressaltar que o rapport é construído pelas duas partes, ou seja, o paciente também precisa fazer sua parte para que ele seja estabelecido adequadamente.

No entanto, nem sempre é possível estabelecer rapport entre paciente e terapeuta. Isso não significa necessariamente que o profissional é ruim, porque questões como diferenças no estilo de comunicação, na visão de mundo, entre outros, podem influenciar na formação desse laço.

Da mesma forma, um bom rapport não significa necessariamente que é um bom profissional, pois além de cultivar uma boa relação terapeuta-paciente, o terapeuta deve continuar mantendo o olhar clínico e seguir utilizando boas práticas clínicas para que o tratamento seja efetivo.

O que compõe o rapport?

O rapport é composto por algumas atitudes específicas que costumam partir do profissional, mas que podem ser tomadas pelo paciente também. 

Em termos práticos, essas atitudes são:

Qual a importância do rapport nos tratamentos em saúde mental?

Nos tratamentos em saúde mental, o estabelecimento do rapport é extremamente importante para que o tratamento seja efetivo. Isso porque o rapport:

O rapport é um dos fatores pelos quais às vezes a terapia dá muito certo ou simplesmente não vai pra frente. Sem um bom rapport, o processo terapêutico pode ser prejudicado, pois aumenta as chances de um paciente resistir ao tratamento ou hesitar em contar detalhes importantes mas que podem ser alvo de julgamentos, por exemplo.

Isso não significa que estabelecer um bom rapport é garantia de um bom processo, até porque existem outros fatores envolvidos que podem alterar significativamente a eficácia do tratamento. No entanto, sem um bom rapport, é muito difícil que o processo seja proveitoso de fato.

Complicações relacionadas ao rapport

Como dito anteriormente, ter um bom rapport com o profissional de saúde mental é importante, mas isso não significa que é o suficiente. Às vezes, o paciente gosta bastante do profissional, mas os tratamentos passados podem não ser efetivos para o paciente em questão.

É claro que nem sempre dá pra acertar o tratamento que será mais efetivo de primeira, mas se o profissional não está bem informado ou possui pouca experiência com casos parecidos, o tratamento pode ser defasado mesmo que haja um bom rapport.

O problema é que, nesses casos, muitas pessoas têm dificuldade em ir atrás de outro médico ou terapeuta por conta do apego que cria ao profissional.

Neste sentido, é importante construir um rapport não dependente. Os profissionais da saúde mental precisam estar atentos para sinais de dependência na relação entre paciente e terapeuta, trabalhando para estabelecer limites e elevar a autonomia do paciente em relação ao seu próprio tratamento.

Sugestões para estabelecer rapport

Algumas sugestões de ações que podem ajudar na construção de rapport, especialmente da parte do profissional, são:

O que fazer se não é possível estabelecer rapport?

Se você se encontra em processo terapêutico, seja com psicoterapia ou com acompanhamento psiquiátrico, e sente que não existe um bom rapport entre você e o profissional, aqui vão algumas dicas:

Reflita sobre como você contribui para o rapport

Embora o rapport deva ser facilitado pelo profissional, às vezes ele pode não se estabelecer direito por questões do próprio paciente, como por exemplo dificuldades em confiar e se abrir para as pessoas. Neste caso, o rapport fica bastante comprometido, mesmo que o profissional esteja fazendo o seu melhor. É importante, ao menos inicialmente, dar o benefício da dúvida ao profissional.

Claro que, às vezes, procuramos terapia justamente para tratar as questões que prejudicam a construção do rapport com o terapeuta. Contudo, vale lembrar que apenas comparecer à terapia não vai resolver o problema por si só, sendo necessário esforço da parte do paciente, e por que não começar dentro da própria relação terapêutica?

Mesmo que seja difícil confiar e se abrir para alguém, esta é a única maneira que o profissional de saúde mental poderá exercer seu trabalho. Em outras palavras, é necessário que o paciente esteja disposto a passar por esse desconforto a fim de construir uma boa relação e alcançar os resultados pretendidos.

Buscar outro profissional

Por mais que possa ser desagradável ter que contar toda a sua história para uma nova pessoa e tentar fazê-la te entender, pode ser que valha mais a pena buscar um novo profissional do que continuar com um profissional com quem você não tem uma boa relação.

Neste sentido, é possível ver as relações terapêuticas como relacionamentos mesmo. Se não está bom, por que continuar? Mesmo que o terapeuta seja muito bem instruído, tenha diversos diplomas e saiba muito sobre sua condição, se você não sente que pode confiar nele, não consegue se abrir com ele etc., talvez esse processo não vá muito longe.

Por isso, buscar um novo profissional pode ser uma boa ideia, mesmo que seja um processo de tentativa e erro.

Agora que você sabe o que é rapport, talvez entenda porque, às vezes, as pessoas dizem que a terapia não serve para elas, sendo que tentaram apenas com um terapeuta. Existe uma grande chance da relação terapêutica não ter sido bem estabelecida e, por isso,  a pessoa acabou desistindo.

Se você percebe que está lidando com questões psicológicas e tem medo de ter más experiências, não desista de buscar novos profissionais caso encontre algum que não seja tão compatível com você. Da mesma forma, se você já passou por algum processo do tipo e não sentiu que te ajudou, pode ser que o problema tenha sido a falta de um bom rapport, e seria interessante tentar novamente.

De qualquer forma, ao sentir que está enfrentando problemas emocionais ou psicológicos, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!

Referências

https://dictionary.apa.org/rapport
https://www.verywellmind.com/therapeutic-rapport-2671659
https://www.psychiatrictimes.com/view/strategies-for-building-patient-rapport
https://concept.paloaltou.edu/resources/business-of-practice-blog/building-strong-rapport
https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-heart-of-healing/202206/the-importance-of-rapport

Os avanços nos estudos da psicologia revelaram que as pessoas costumam ser bastante moldadas pelo ambiente em que vivem sua infância e, por isso, promover um ambiente seguro é importante nessa fase.

Sabe-se, hoje em dia, que conviver com pais abusivos (tanto fisicamente quanto psicologicamente) pode causar impactos sérios na saúde mental da criança, gerando problemas como traumas, baixa autoestima, dificuldades de confiança e de regulação emocional, entre outros.

No entanto, pesquisas mais recentes mostram que mesmo que a criança não sofra abusos diretamente, ela ainda pode sofrer o impacto de um ambiente em que há hostilidade. É nesse contexto que entra a questão dos conflitos parentais.

O que são conflitos parentais?

Os conflitos parentais podem ser descritos como desentendimentos, brigas ou tensões constantes entre os pais ou cuidadores de uma criança. Eles podem ocorrer tanto de forma verbal, por meio de discussões, gritos e insultos, quanto de forma física. Há casos, também, em que os conflitos se manifestam como um clima de hostilidade e indiferença.

É importante ressaltar que vivenciar conflitos na vida íntima é completamente normal e não necessariamente indica que o relacionamento está prejudicado. No entanto, o que vai determinar se estes conflitos são prejudiciais é justamente a maneira com que as pessoas envolvidas lidam.

Conflitos que são resolvidos na base de um diálogo aberto tendem a não causar impactos tão prejudiciais. Porém, quando as pessoas envolvidas acabam se comportando de forma mais agressiva, o problema tende a não se resolver e os impactos emocionais são grandes para todos ao redor, mesmo aqueles que não estão diretamente envolvidos no conflito, como é o caso de um filho.

Alguns sinais de que os conflitos não estão sendo bem resolvidos são:

Impacto dos conflitos parentais na criança

Um estudo publicado em 2018 no periódico científico Journal of Social and Personal Relationships buscou entender se a exposição da criança aos conflitos parentais, mesmo que ela não sofresse abuso, teriam algum impacto na sua saúde mental e emocional.

Neste estudo, foram coletados dados de 99 crianças entre 9 e 11 anos de idade, que foram divididas entre dois grupos de acordo com testagens psicológicas que mediam a quantidade de conflitos parentais vivenciados e o quanto elas sentiam que os conflitos eram uma ameaça para o casamento dos pais.

Depois, essas crianças foram expostas a uma série de fotografias de casais em interações felizes, raivosas ou neutras, e foram pedidas para responder em que categoria as fotografias se encaixavam.

Crianças que vieram de lares com pouco conflito conseguiram dizer com maior precisão a categoria das fotos. Já as crianças que vieram de lares com muito conflito conseguiram categorizar de forma precisa as fotografias que mostravam interações raivosas ou felizes, mas tiveram dificuldades com as fotografias com interações neutras, frequentemente as categorizando como raivosas ou felizes ao invés de neutras.

Isso sugere que as crianças de lares com mais conflitos tendem a hipervigilância, como se estivessem suspeitando da possibilidade de um conflito mesmo que não houvesse qualquer evidência desse conflito.

Nessa pesquisa, também notou-se que a questão é ainda mais complicada para crianças com maiores níveis de timidez. Em outras palavras, crianças mais tímidas tendem a ter ainda mais dificuldade nesse reconhecimento das emoções, tendendo à hipervigilância.

A timidez das crianças foi identificada por meio de um questionário aplicado às mães. Essas crianças tiveram mais dificuldade para reconhecer interações neutras mesmo que não viessem de lares com tanto conflito.

Outra hipótese é que, além da hipervigilância, as crianças que vêm de lares com muito conflitos podem não dar muita importância para interações neutras, tornando-as mais difíceis de identificar.

Isso porque, nestes lares, emoções intensas são frequentes e não é raro que a criança entenda essas emoções como dicas de comportamento, ou seja, quando os pais estão bravos, vale a pena ir para o quarto, ou quando eles estão felizes, é um bom momento para uma aproximação.

Como momentos neutros não dão nenhuma informação desse tipo, essas crianças podem acabar tentando inferir emoções em uma situação neutra para ter alguma noção de como agir naquele momento.

Um outro estudo, publicado no periódico científico Illness, Crisis & Loss em 2017 avaliou os impactos de conflitos parentais destrutivos (ou seja, conflitos mais intensos, sem movimentos de reparação) no desenvolvimento das crianças. Este estudo foi feito com pessoas já adultas, relatando sobre sua infância e os efeitos dessas experiências em sua saúde mental.

O que os pesquisadores descobriram é que existem 4 temas principais que ocorrem no desenvolvimento dessas pessoas: sentimentos de perda, impactos na estrutura familiar, traumas associados aos conflitos e impactos no desenvolvimento pessoal e profissional.

Segundo o estudo, a curto prazo, os conflitos parentais destrutivos causam impactos na autoestima e geram uma sensação de falta de segurança em casa. Já a longo prazo, os impactos estão mais relacionados a tendências de entrar na defensiva, mesmo sem necessidade, bem como dificuldades na manutenção de relacionamentos interpessoais e dificuldades na relação pai-filho (quando essas pessoas acabam por ter filhos).

Como isso pode impactar o desenvolvimento e o futuro da criança?

Um ambiente de bastante estresse e com alta hipervigilância podem afetar significativamente o desenvolvimento de uma criança. Muitas pessoas acabam desenvolvendo quadros de ansiedade, depressão e dificuldades de regulação emocional ao crescerem em ambientes com muitos conflitos.

Contudo, mesmo que a pessoa não desenvolva um quadro clínico de fato, ela ainda pode apresentar níveis maiores de ansiedade quando comparada com pessoas que cresceram em ambientes mais pacíficos.

Vale ressaltar que essas dificuldades também podem causar prejuízos nas relações interpessoais. Isso porque, em casa, a criança aprende a responder bem a momentos de grande intensidade emocional, mas acaba desenvolvendo uma lacuna na percepção de situações neutras, o que pode causar problemas nas relações com outras pessoas como amigos, professores, entre outros. Na idade adulta, essa pessoa também pode apresentar dificuldades nos relacionamentos românticos.

Ao estar sempre buscando sinais de interações conflituosas quando o que está ocorrendo é uma interação neutra, a pessoa acaba, de forma não intencional, gerando conflitos em suas relações.

É fato que não podemos eliminar os conflitos completamente, pois eles fazem parte das relações. Mesmo as relações mais saudáveis ainda possuem momentos de conflito que precisam ser solucionados. No entanto, é importante conseguir resolver esses conflitos da melhor forma possível e tentar demonstrar à criança que está tudo bem, mesmo que às vezes as pessoas tenham dificuldades em suas relações.

O papel do divórcio no desenvolvimento da criança

Apesar de divórcios terem um certo impacto no desenvolvimento de um apego saudável em crianças, há pesquisas que mostram que a maior parte das crianças filhas de pais separados não sofrem consequências a longo prazo por conta da separação, mas sim pelos conflitos parentais que ocorreram antes, durante e após o divórcio.

Em outras palavras, crianças filhas de casais separados que tiveram um divórcio pacífico tendem a não desenvolver problemas relacionados à separação, enquanto filhos de pais separados com muitos conflitos desenvolvem uma série de sequelas emocionais.

Os conflitos parentais são uma realidade mesmo nos lares mais pacíficos e saudáveis. O problema é quando esses conflitos são muito intensos, frequentes e/ou ameaçam a segurança da relação, o que pode causar impactos duradouros numa criança.

Se você percebe que os conflitos com seu parceiro estão trazendo problemas para a família como um todo, não hesite em procurar ajuda de um profissional da saúde mental!

Referências

Schermerhorn, A. C. (2018). Associations of child emotion recognition with interparental conflict and shy child temperament traits. Journal of Social and Personal Relationships, 026540751876260. doi:10.1177/0265407518762606

Fozard, E., & Gubi, P. (2017). An Examination of the Developmental Impact of Continuing Destructive Parental Conflict on Young Adult Children. Illness, Crisis & Loss, 105413731770958. doi:10.1177/1054137317709581

https://www.eif.org.uk/files/pdf/measuring-parental-conflict-report.pdf
https://www.eurekalert.org/news-releases/789609

No Brasil, a cocaína é a segunda substância ilícita mais consumida. A dependência dessa substância e seus derivados (como o crack) é um problema de saúde pública global, e a comunidade médica ainda está em busca de um tratamento efetivo.

É fato que muitas pessoas conseguem se recuperar do vício depois de seguir protocolos já existentes de desintoxicação e tratamento psicoterápico. No entanto, há muitos que também acabam tendo recaídas, voltando à adicção ativa (quando a pessoa volta a agir de forma viciada).

É neste contexto que surgem pesquisas como a da vacina Calixcoca, desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Neste artigo, falaremos sobre essa vacina, como andam as pesquisas, se existe uma previsão de lançamento para o público geral e outros desafios que existem no tratamento de pessoas dependentes de cocaína e seus derivados.

O que é a vacina para cocaína?

A vacina para cocaína é uma nova vacina em fase de testes para o tratamento de pessoas com dependência de cocaína e derivados, como o crack. Não se trata de uma vacina preventiva, no sentido de prevenir a pessoa de adoecer, mas sim um novo tratamento para ajudar no combate à dependência química.

A substância por trás da vacina é a Calixcoca, que recebe esse nome devido à estrutura do agente imunizante, chamado “calixarene”. Embora já tenham existido outros protótipos de vacinas para tratar a dependência de cocaína, eles foram descontinuados pois não tiveram resultados bons o suficiente em ensaios clínicos. Já a Calixcoca mostra resultados promissores em testes com animais, incluindo a capacidade de proteger o feto dos efeitos da cocaína em casos de gravidez.

Pelo seu potencial promissor, a vacina já foi patenteada no Brasil e nos Estados Unidos e ganhou o Prêmio Euro de Inovação na Saúde em 2023, promovido pela Eurofarma.

Como funciona a vacina para cocaína?

O calixarene (agente imunizante da vacina) age como um transporte para um antígeno, que é uma substância análoga à cocaína, provocando uma reação imune à cocaína e fazendo o organismo produzir anticorpos para destruí-la.

Esse antígeno funciona para provocar uma reação imunológica porque a substância possui um peso molecular maior, coisa que a cocaína em si não tem e, por conta disso, acaba passando “despercebida” pelo sistema imunológico.

A partir do contato com esse antígeno análogo à cocaína, o sistema imunológico aprende, então, a combater as moléculas da cocaína, mesmo que elas não tenham o mesmo peso molecular.

Os experimentos iniciais foram feitos em animais e demonstraram eficácia na produção de anticorpos que atacam a cocaína como se ela fosse um antígeno.

Em outras palavras, é como se o sistema imunológico enxergasse a cocaína como um vírus ou bactéria, produzindo e liberando anticorpos para atacar a substância e prejudicar sua capacidade de passar pela barreira hematoencefálica, ou seja, a cocaína não consegue chegar ao cérebro para que a droga faça efeito.

Com isso, a pessoa não percebe mais o efeito da substância como era antes, fazendo com que o desejo fique suprimido. É como se usar a droga “perdesse a graça”.

Por que precisamos de mais tratamentos?

A realidade é que o tratamento da dependência química é bastante complexo e, embora efetivo, ainda há muitos casos de recaídas.

Em geral, os protocolos atuais de tratamento se baseiam na desintoxicação (quando a pessoa cessa completamente o uso da substância e passa pelos estágios de abstinência) e uma abordagem multidisciplinar que combina cuidados médicos, psicológicos e sociais a fim de ajudar a pessoa a se restabelecer.

Os cuidados médicos são importantes principalmente na fase de desintoxicação, considerando que algumas substâncias podem causar abstinências realmente perigosas que colocam a vida da pessoa em risco, como é o caso da abstinência de álcool.

Em alguns casos, há medicamentos que podem ajudar a combater o vício, como é o caso de alguns antidepressivos que ajudam a controlar o tabagismo. O alcoolismo costumava ser tratado com uma substância chamada dissulfiram, que também era usada no tratamento da dependência de cocaína (embora este não seja o seu uso oficial). No entanto, o medicamento foi retirado do mercado brasileiro pela própria fabricante em 2019.

No caso da cocaína e seus derivados, o fenômeno da fissura adiciona mais uma camada de complexidade no tratamento. A fissura pode ser descrita como um desejo intenso e muitas vezes incontrolável de fazer o uso da substância, o que faz com que muitas pessoas tenham recaídas frequentes ainda que estejam se tratando. Estatísticas apontam que entre 70 e 80% das pessoas em tratamento acabam tendo pelo menos uma recaída.

Além disso, ainda não existem medicamentos para ajudar no tratamento da dependência de cocaína especificamente, ao contrário do que ocorre com o tratamento do alcoolismo e tabagismo.

Por fim, não é raro que usuários de cocaína e seus derivados cheguem ao tratamento quando já perderam tudo, ou seja, quando perdem emprego, família, suas casas, entre outros. Isso também complica muito mais o tratamento, pois o ambiente social em que a pessoa está inserida tem uma influência muito grande no combate à dependência.

No Brasil, a existência de áreas urbanas conhecidas como cracolândias, onde há uma grande população de pessoas dependentes químicas em situação de vulnerabilidade social, evidencia que a cocaína e seus derivados são um problema não apenas para os usuários e familiares, mas para a sociedade como um todo. Em outras palavras, encontrar novas maneiras de tratar a dependência de cocaína é uma questão bastante urgente.

Quando a vacina se tornará disponível ao público?

Não existe, no momento, uma estimativa de quando a vacina poderá ser usada pelo público geral. Isso porque, antes de ser lançada dessa forma, toda substância precisa passar por uma série de testes e pesquisas para confirmar sua segurança e eficácia.

No momento, a previsão é de que os primeiros testes em humanos sejam feitos agora em 2025, mas até que a vacina esteja disponível para a população, ainda pode levar alguns anos.

Os primeiros testes em animais foram feitos em roedores e primatas não humanos, especialmente o sagui-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata). De acordo com esses testes, os animais não apresentaram efeitos colaterais significativos. Contudo, isso não garante que a vacina será 100% segura para humanos ainda.

Além disso, mesmo que a performance seja boa em animais, não há garantias de que o efeito da vacina será o mesmo em seres humanos. Não é raro que substâncias testadas em animais tenham um efeito reduzido no ser humano, o que pode fazer com que o tratamento com essas substâncias seja inviável.

Por conta disso, ainda serão necessários muitos teste e não há garantia de que a vacina estará disponível em breve.

Complicações possíveis

Apesar da vacina ser promissora, existem algumas complicações que já foram observadas em outros estudos, com outras substâncias.

Às vezes, o tratamento com vacinas não funcionou porque as vacinas não conseguiram manter seu efeito por muito tempo, o que faria com que a pessoa precisasse tomar novas doses da vacina com uma frequência muito grande.

Contudo, uma das piores complicações que podem ocorrer é justamente nos pacientes que, influenciados pela própria dependência na substância, podem acabar consumindo doses maiores da droga para tentar combater os efeitos da vacina e alcançar os efeitos recreativos da substância, o que pode levar a pessoa ao risco de overdose.

Neste sentido, o uso isolado da vacina para combater a dependência química não seria o suficiente, sendo necessário manter o tratamento multidisciplinar com profissionais da saúde mental e da assistência social para que a pessoa realmente consiga tratar o vício.

Embora a vacina para cocaína ainda não esteja disponível, é importante lembrar que existem novos tratamentos sendo desenvolvidos a todo tempo para lidar com situações de saúde pública que necessitam de atenção urgente, como é o caso da dependência química. No entanto, existem ainda outras formas de tratamento que podem ajudar.

Se você sente que está lidando com um problema parecido ou conhece alguém que sofre de dependência química, não hesite em buscar ajuda com um profissional da saúde mental!

Referências

https://revistapesquisa.fapesp.br/en/a-potential-vaccine-against-cocaine-addiction/
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/calixcoca-e-a-vencedora-do-premio-euro
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/deutsche-welle/2024/04/02/vacina-para-dependencia-em-cocaina-e-vista-com-ceticismo-por-especialistas.htm
https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023/10/26/cocaina-como-funciona-a-vacina-brasileira-para-dependencia-que-ganhou-premio-internacional.ghtml
https://www.dw.com/en/cocaine-vaccine-could-it-help-drug-addicts/a-68681678
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/vacina-da-ufmg-contra-a-dependencia-de-cocaina-e-crack-vence-o-premio-euro/

Se você tem filhos ou convive com crianças já deve ter percebido que, vez ou outra, elas podem acabar tendo acidentes como fazer xixi na cama, mesmo depois de já terem aprendido a usar o banheiro corretamente.

Situações assim podem ser frustrantes, mas são mais comuns do que se imagina, e há vezes em que podem fazer parte de algo maior chamado transtorno de eliminação.

Esses transtornos envolvem dificuldades no controle da urina ou das fezes, que podem surgir mesmo depois de a criança já ter aprendido a usar o banheiro.

Neste texto, vamos entender o que são transtornos de eliminação, os tipos, suas causas e possíveis tratamentos.

O que são transtornos de eliminação?

Os transtornos de eliminação são condições que afetam a capacidade de controle de necessidades fisiológicas como a micção e a evacuação. Embora tais transtornos sejam mais comuns na infância, podem persistir em algumas pessoas, acompanhando-as até algumas idades mais avançadas.

Apesar de serem transtornos com um forte componente fisiológico, há evidências de que eles possuem alguma relação com o bem-estar psicológico e emocional da criança. Neste sentido, o tratamento pode necessitar também de cuidados com a saúde mental.

Tipos de transtornos de eliminação

As principais categorias de transtornos de eliminação são a enurese (relativo à urina) e encoprese (relativo às fezes).

Enurese

A enurese se caracteriza pela perda involuntária de urina, especialmente durante o sono, sendo mais frequente em crianças. Pode estar relacionada a um atraso no desenvolvimento do controle da bexiga, fatores genéticos ou até mesmo a questões emocionais, como estresse e ansiedade.

A enurese pode ocorrer exclusivamente durante a noite, enquanto a criança está dormindo, exclusivamente durante o dia, enquanto está acordada, ou pode ocorrer nos dois momentos.

Contudo, estima-se que a enurese diurna seja diferente da enurese noturna em fatores biológicos, e os dois tipos apresentam padrões de comorbidades diferentes.

Encoprese

Já a encoprese refere-se à evacuação de fezes em locais inadequados, podendo ocorrer devido a problemas como constipação crônica, dificuldades emocionais ou falta de aprendizagem adequada do controle esfincteriano.

Também pode ocorrer quando a criança não percebe os sinais do corpo de que precisa evacuar, ou quando os ignora por algum motivo, o que pode levar a não aguentar e acabar evacuando na roupa.

Na encoprese, a evacuação em locais inapropriados pode ocorrer tanto de forma voluntária quanto involuntária. Em outras palavras, a evacuação pode ser intencional ou não, e é importante diferenciar esses dois casos para evitar que a criança seja submetida a um tratamento inadequado da sua condição.

Causas dos transtornos de eliminação

Os transtornos de eliminação podem surgir por diversos motivos, sendo que alguns são mais específicos que outros. Vale ressaltar que qualquer condição que afeta a interocepção (a capacidade da pessoa sentir e interpretar os sinais do próprio corpo) pode acabar resultando em sintomas de transtornos de eliminação.

Enurese

As causas da enurese podem ocorrer tanto por fatores biológicos quanto psicológicos e ambientais. Entre as principais causas estão:

Encoprese

Sintomas de enurese e encoprese

Embora tanto a enurese quanto a encoprese sejam o mesmo tipo de transtorno, os sintomas podem ser bastante diferentes. Entenda:

Enurese

A enurese é caracterizada pela criança fazer xixi na cama repetidas vezes, mesmo já sabendo usar o banheiro. Se isso ocorre logo que ela aprende a usar o banheiro, se chama enurese primária.

Às vezes, o xixi na cama passa a acontecer depois de mais de 6 meses da criança já ter aprendido a usar o banheiro. Ou seja, são 6 meses sem incidentes, até que se iniciam os episódios de enurese noturna. Nestes casos, chama-se de enurese secundária.

Vale ressaltar que a enurese também pode ocorrer durante o dia, e nestes casos a criança pode fazer xixi em lugares inadequados como o sofá, por exemplo.

Encoprese

Os principais sintomas da encoprese são:

Diagnóstico

O diagnóstico só é feito de a criança apresenta episódios de eliminação repetidas vezes durante a semana por pelo menos 3 meses.

A enurese só pode ser diagnosticada a partir dos 5 anos de idade, enquanto a encoprese pode ser diagnosticada a partir dos 4. Isso se dá porque, durante o desenvolvimento, espera-se que a criança aprenda a controlar a evacuação mais cedo do que a micção.

O critério da repetição frequente é importante pois, mesmo depois de uma certa idade, a criança pode acabar procrastinando para ir ao banheiro quando está brincando e se divertindo, fazendo com que ela acabe tendo um pequeno acidente por não conseguir se segurar. Isso pode acontecer e é completamente normal, sendo necessário apenas ajudar a criança a entender que é preciso respeitar o próprio corpo e suas necessidades.

Nos casos em que a criança realmente tem um transtorno de eliminação, não se trata de um problema tão simples. Geralmente, estes transtornos estão relacionados também a outras vivências que a criança tem, como dificuldades sociais, dificuldades escolares ou dificuldades em outras áreas que prejudicam o funcionamento da criança.

Além disso, o diagnóstico só é feito quando os sintomas não são melhor explicados por uso de substâncias (como chás e medicamentos diuréticos, por exemplo) ou por outras condições médicas, como diabetes, epilepsia, espinha bífida, entre outros.

Tratamentos

O tratamento dos transtornos de eliminação podem ser bastante diferenciados, considerando o tipo (enurese, encoprese), o tempo em que ocorre (noturno ou diurno) e os fatores que podem estar influenciando o transtorno.

Enurese

A enurese pode ser tratada por meio de intervenções comportamentais como:

Em casos no qual a enurese é secundária e surge a partir de questões emocionais, como ansiedade e estresse, a psicoterapia pode ser de grande ajuda. O tratamento, então, não é tão focado na enurese em si, mas nas condições que fazem com que ela se manifeste.

Por fim, em alguns casos, pode-se fazer um tratamento medicamentoso com remédios que reduzem a produção de urina durante a noite, bem como antidepressivos e anticolinérgicos (quando há suspeita de hiperatividade da bexiga).

Encoprese

Grande parte dos casos de encoprese estão relacionados a um constipação crônica. Por conta disso, conseguir regular o intestino pode ajudar. Isso pode ser feito por meio de uma dieta equilibrada e, em casos mais graves, uso de medicamentos laxantes orais, supositórios ou até mesmo enemas (quando há uma grande quantidade de fezes paradas no intestino).

Também é possível tratar a encoprese com intervenções comportamentais visando o treinamento intestinal. Para isso, a criança deve:

Em alguns casos, a criança pode ter problemas de interocepção e simplesmente não perceber que precisa ir ao banheiro, o que contribui para que ela retenha as fezes e piore a constipação. Por isso, treinar horários específicos para ir ao banheiro pode fazer o corpo associar esse horário com o momento de evacuar, fazendo com que o processo possa ocorrer sem acidentes mesmo que a pessoa tenha dificuldades em perceber as próprias necessidades.

Assim como na enurese, questões emocionais podem ter algum impacto no tratamento, então a psicoterapia também pode ajudar nesses casos. Não é raro que crianças que sofrem de encoprese acabem desenvolvendo sentimentos intensos de vergonha, ansiedade e baixa autoestima, que podem ser tratados dentro da terapia.

Embora os transtornos de eliminação sejam bem desagradáveis, eles podem ser diagnosticados e tratados. Se você percebe que seu filho ou alguma criança de sua convivência está tendo acidentes como esses com muita frequência, não hesite em buscar um profissional!

Referências

https://www.verywellmind.com/elimination-disorders-symptoms-causes-and-remedies-5220383
https://courses.lumenlearning.com/wm-abnormalpsych/chapter/elimination-disorder/
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10501701/
https://hupcfl.com/health-library/what-are-elimination-disorders/
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/15346501221107133

A vida é cheia de situações estressantes, mesmo quando as coisas vão bem. O cansaço do dia-a-dia, as responsabilidades que vão se acumulando, e até mesmo os problemas pequenos que vão se tornando bolas de neve, tudo acaba contribuindo para que nosso equilíbrio emocional acabe desandando vez ou outra.

É neste cenário que entram as estratégias de coping, que são maneiras de lidar com as situações de forma a melhorá-las ou, ao menos, conseguir resistir a elas sem sofrer prejuízos psicológicos muito graves.

Neste texto, falaremos sobre estratégias de coping e os seus tipos, entendendo que nem sempre essas estratégias são boas, mas que é possível desenvolver estratégias saudáveis.

O que são estratégias de coping?

As estratégias de coping (ou métodos de enfrentamento) podem ser definidas como esforços cognitivos e comportamentais que uma pessoa realiza para lidar com situações emocionalmente difíceis ou desafiadoras.

Tais estratégias podem ter como objetivo resolver um problema, se adaptar a uma condição ou até mesmo evitar lidar diretamente com a questão para conseguir manter o equilíbrio emocional durante algum tempo.

Essas estratégias podem ser tanto conscientes, como quando uma pessoa as utiliza de maneira intencional, quanto inconscientes, ou seja, a pessoa pode não perceber que está utilizando uma estratégia dessas para lidar com uma situação específica.

Embora sejam estratégias que tem como objetivo ajudar uma pessoa a lidar com um momento difícil, nem sempre essas estratégias funcionam bem a longo prazo, podendo trazer dificuldades no dia-a-dia. Estes casos são chamados de estratégias desadaptativas.

Tipos de estratégia de coping

Existem diversos tipos de coping, que podem ser classificados em 3 grandes categorias:

Foco no problema

As estratégias que tem foco no problema tem como objetivo alterar as variáveis ambientais que estão contribuindo para o problema.

Essas estratégias costumam ser embasadas em ações diretas para resolver o problema, como buscar informações, analisar detalhadamente a questão, conversar diretamente com as pessoas envolvidas, planejar soluções e até mesmo procurar a ajuda de um profissional especialista.

Foco na emoção

Já as estratégias de coping focadas na emoção geralmente ocorrem quando a pessoa sente que não pode mudar a situação (mesmo que isso seja uma percepção errônea da realidade). Essas estratégias tem como objetivo processar os sentimentos causados pelo problema.

Alguns exemplos são desabafar com alguém, tentar adotar uma nova perspectiva, permitir-se expressar emoções, trabalhar a regulação emocional, buscar maneiras de descontrair e até mesmo trabalhar práticas espirituais ou religiosas que podem trazer sentimentos agradáveis para contrabalancear os sentimentos ruins.

Coping evitativo (esquiva)

No coping evitativo, o principal comportamento é a esquiva, ou seja, a tentativa de sair ou escapar da situação. Em outras palavras, é uma estratégia na qual não se enfrenta o problema de nenhuma forma: nem com ações, nem em contato com as emoções.

Algumas formas de coping evitativo são a procrastinação, o uso de substâncias entorpecentes como álcool e drogas, a negação (a pessoa se recusa a reconhecer que está lidando com um problema), dormir em demasia, comer e gastar compulsivamente, fugir de situações conflituosas, entre outros.

Quando essa estratégia é feita de forma temporária, pode funcionar sem causar prejuízos para a pessoa e pode até mesmo ajudar a pessoa a economizar uma certa energia emocional, desviando o foco do problema momentaneamente.

No entanto, quando a pessoa acaba usando a esquiva para lidar com as coisas de forma frequente ou até mesmo crônica, é possível que isso tenha grandes impactos na sua saúde mental e física, bem como nos seus relacionamentos.

Como saber quando a estratégia de coping está me prejudicando?

Embora exista uma tendência a achar que algumas estratégias de coping sejam prejudiciais por si só, como por exemplo a estratégia da esquiva, a verdade é que a realidade não é tão simples.

A esquiva pode se tornar um problema quando acaba nos impedindo de viver situações que poderiam ter um resultado positivo, por exemplo, ou quando deixamos de encarar alguma coisa que queremos muito para conseguir evitar todo o nervosismo que vem junto dessa situação.

No entanto, às vezes a estratégia de esquiva é o que nos permite aguentar certos momentos. Uma pessoa que está em um emprego ruim, mas que não pode trocar no momento, talvez precise se desconectar um pouco das próprias emoções para conseguir lidar com isso por algum tempo. É claro que a pessoa não pode viver para sempre assim, sendo importante buscar alternativas para enfim poder enfrentar o problema. Contudo, esse é só um exemplo de como nem sempre a esquiva é necessariamente ruim.

Tentar resolver o problema a todo custo, embora pareça uma boa estratégia, pode ser um tiro no pé quando se trata de situações em que as coisas não estão no nosso controle. Nesses casos, essa estratégia de coping acaba sendo mais prejudicial do que ajuda, considerando que gera um alto nível de estresse sem uma resolução real.

Em outras palavras, para saber se uma estratégia está sendo saudável ou prejudicial, é importante avaliar não apenas sua efetividade diante da situação, mas também o impacto que ela tem na nossa saúde mental a longo prazo.

Estratégia de coping extrema: a síndrome de Estocolmo

A síndrome de Estocolmo é um fenômeno psicológico em que uma vítima de sequestro, abuso ou situação em que é controlada de forma extrema desenvolve laços emocionais com seu agressor, podendo até defendê-lo ou demonstrar lealdade a ele.

Estima-se que essa reação, apesar de contraditória, seria uma estratégia de coping extrema por ser uma tentativa de adaptação e sobrevivência a uma ameaça contínua.

O nome da síndrome, que não é reconhecida como um transtorno mental em si, surgiu após um assalto a banco em Estocolmo, na Suécia, em 1973.

Durante o assalto, pessoas dentro do banco foram feitas de reféns e, ao longo dos seis dias em que ficaram à mercê dos criminosos, as vítimas passaram a demonstrar empatia e até defenderam os assaltantes depois da libertação, recusando-se a testemunhar contra eles.

A síndrome de Estocolmo costuma ocorrer diante de situações em que a pessoa sofre uma exposição prolongada a ameaças à sua integridade física ou mental, como durante sequestros, ao ser vítima de um culto ou seita, entre outros.

A ideia é que a síndrome seria uma estratégia de coping surge pois, diante de uma ameaça constante, a pessoa passa a desenvolver laços afetivos com o agressor de forma não consciente com o objetivo de aumentar as chances de sobrevivência ou evitar desdobramentos ainda mais violentos.

Neste sentido, a síndrome acaba ajudando em duas frentes: na resolução do problema, de forma indireta, e na regulação emocional.

Se a pessoa nutrir sentimentos bons em relação ao seu agressor, pode sentir menos medo. Ao mesmo tempo, pode se esforçar mais para agradá-lo, fazendo com que se torne mais obediente e evite retaliações, diminuindo as ameaças e a violência por parte do agressor.

Contudo, a síndrome de Estocolmo é uma estratégia bastante desadaptativa, no sentido de trazer prejuízos para a pessoa a longo prazo. Isso porque a síndrome pode fazer com que a pessoa fique presa mais tempo naquela situação do que o necessário, considerando que o envolvimento emocional pode fazer com que ela não queira se distanciar.

Ao se ver livre da situação, ela pode desejar voltar para o agressor, mesmo sabendo, racionalmente, que ao fazer isso estaria novamente correndo riscos.

Como desenvolver estratégias de coping saudáveis?

Algumas ideias de como desenvolver hábitos de coping saudáveis são:

Estratégias focadas na resolução do problema

Algumas estratégias focadas na resolução do problema são:

Estratégias focadas na emoção

Quando não podemos focar diretamente na resolução do problema, cuidar do emocional pode ser a chave para lidar com tempos difíceis. Algumas ideias de estratégias focadas nas emoções são:

Lidar com o estresse e as questões emocionais no dia-a-dia pode ser desafiador. Não é a toa que muitas pessoas acabam desenvolvendo estratégias de coping desadaptativas. No entanto, isso não precisa ser sempre assim.

Se você percebe que está lidando com seus problemas de uma forma da qual desaprova, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.portaldoimpacto.com/coping-estrategias-de-saude-mental-para-periodos-estressantes
https://www.verywellmind.com/forty-healthy-coping-skills-4586742
https://my.clevelandclinic.org/health/articles/6392-stress-coping-with-lifes-stressors