Nos últimos anos, conforme a sociedade foi se conscientizando sobre a existência de transtornos mentais e seus impactos na vida das pessoas, surgiram também muitas produções focadas em histórias com personagens que sofrem de algum transtorno.
O que antes eram consideradas produções para uma audiência específica — pessoas que sofrem com transtornos, que possuem casos na família, ou pessoas interessadas em psicopatologia em geral —, agora ganhou representação na cultura pop através de filmes e séries voltadas para um público mais diversificado.
Por isso, neste artigo destacamos algumas produções que retratam o Transtorno de Espectro Autista e seus impactos no dia a dia das pessoas.
Rain Man (1988)
Estrelado por Tom Cruise, Rain Man conta a história de Charlie Babbitt, um empresário vendedor de carros de luxo que, após a morte do pai, descobre que ele havia deixado 3 milhões de dólares para outra pessoa. Charlie vai atrás dessa pessoa e descobre ser um irmão mais velho, Raymond, do qual ele não tinha conhecimento até então, que estava institucionalizado por ter o diagnóstico de autismo e síndrome de Savant.
A fim de conseguir a herança do pai, Charlie rapta Raymond da instituição psiquiátrica para tentar convencê-lo a dar-lhe metade dos 3 milhões de dólares. Contudo, a medida em que Charlie viaja com seu irmão e passa a lidar com todas as suas diferenças, ele passa por diversas experiências que permitem criar uma conexão mais profunda com Raymond.
Embora o filme seja focado na transformação interna de Charlie, o personagem principal neurotípico, há um grande foco em Raymond (interpretado por Dustin Hoffman) e suas limitações por conta do transtorno de espectro autista. Além disso, Raymond também possui a síndrome de Savant, caracterizada pela existência de habilidades intelectuais muito específicas, como a capacidade de calcular raízes quadradas quase instantaneamente. Cerca de 10% das pessoas no espectro autista possuem essa síndrome.
Mary e Max – Uma Amizade Diferente (2009)
Imagem: Divulgação
Mary e Max é uma animação que conta a história de uma amizade improvável entre uma garotinha australiana de 8 anos e um adulto nova iorquino de 44 anos portador de síndrome de Asperger, que atualmente foi incluído no espectro autista (TEA) como um autismo de alto funcionamento.
Os dois personagens são extremamente solitários e a amizade se inicia com uma carta que Mary envia para Max a partir de um endereço que ela encontra aleatoriamente em uma lista telefônica. Nesta troca de cartas, Mary e Max tornam-se cada vez mais próximos, compartilhando detalhes do seu dia a dia um com o outro. As dificuldades de ser portador de TEA são bem evidenciadas por Max em suas cartas, e a aceitação de Mary permite que essa amizade floresça e continue crescendo por muitos anos.
Apesar de ser uma animação, não se trata de um filme alegre e bonitinho. De fato, ele busca demonstrar uma série de barreiras enfrentadas por ambos os personagens, desde as limitações do autismo até a limitação da distância física. Desta forma, a obra pode ser classificada como uma espécie de drama e definitivamente não é indicado para um público mais infantil.
Atypical (2017)
Talvez a produção mais famosa da lista atualmente, Atypical é uma série da Netflix que conta a história de Sam, um rapaz de 18 anos diagnosticado com transtorno de espectro autista de alto funcionamento que está tentando adquirir uma certa independência da família e começa a se aventurar no mundo do amor.
Embora o foco da série seja o personagem principal, trata-se de uma obra bastante interessante, pois mostra também o impacto do diagnóstico de Sam em sua família, nas suas amizades, na tentativa de encontrar romance, entre outros. É uma série voltada para um público bastante diversificado, pois além de seguir alguns padrões de produções americanas com foco em adolescentes, a série também é um tanto quanto educativa no que diz respeito ao autismo de alto funcionamento.
Algumas das características do transtorno ganham um certo destaque, como as obsessões por assuntos muito específicos, bem como a hipersensibilidade sensorial e as crises que tais estímulos em demasia podem desencadear.
Trata-se de uma série divertida que busca mostrar o autismo e suas limitações de uma forma um pouco mais realista, ao invés de colocá-los sob um olhar negativo.
Amor no Espectro (2020)
Imagem: Divulgação
Por fim, a última obra da lista é um reality show da Netflix que acompanha pessoas diagnosticadas com transtorno de espectro autista na busca pelo amor. Alguns participantes nunca namoraram e nem se apaixonaram, enquanto outros já estão casados e dividem uma vida com outra pessoa.
O foco da produção é mostrar que existem diferenças nas relações, nos comportamentos e nas expectativas quando se trata do amor dentro do espectro autista, mas que ainda assim se trata de uma experiência universal e que, apesar das limitações, pessoas com diagnóstico de TEA são perfeitamente capazes de se apaixonar e amar outras pessoas.
Este reality show tem como diferencial o fato de estar acompanhando pessoas realmente diagnosticadas, e não interpretações de atores. Por isso, as interações são mais realistas, o que ajuda a desmistificar uma série de estereótipos associados ao autismo.
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Se você nunca teve nenhum contato com o transtorno de espectro autista, todas estas obras podem ajudar a compreender um pouquinho sobre o transtorno e suas limitações.
No entanto, vale ressaltar que em todas se tratam de pessoas de alto funcionamento, e que de forma alguma elas representam a totalidade da manifestação autista.
Cada pessoa é única, com uma série de sintomas e manifestações divergentes. Em suma, assim como nas pessoas neurotípicas, cada um tem a sua própria maneira de ser.
Se você desconfia ter traços do transtorno ou convive com alguém que tenha, não se esqueça de entrar em contato com um psiquiatra de confiança para que seja feito um diagnóstico, bem como buscar os tratamentos adequados caso sejam necessários!