Antigamente, quando pessoas apresentavam quadros graves de ansiedade e agitação, elas eram tratadas com medicamentos chamados barbitúricos, que não eram muito seguros, podendo levar a risco de vida.
Com o tempo, foram desenvolvidos outros medicamentos tranquilizantes e, hoje em dia, os principais medicamentos desse tipo são os benzodiazepínicos.
Apesar de serem bem mais seguros que seus antecessores, o uso de benzodiazepínicos também apresenta perigos caso seja feito de forma irresponsável.
Neste texto, falaremos um pouco sobre o que são os benzodiazepínicos, como agem, para que servem, os problemas que podem causar e possíveis alternativas ao tratamento com esses medicamentos.
O que são os benzodiazepínicos?
Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos que diminuem a atividade cerebral, sendo frequentemente usados para tratar quadros de ansiedade, insônia e convulsões.
Eles são conhecidos como medicamentos ansiolíticos, tendo também efeitos hipnóticos, sedativos e anticonvulsivantes.
São medicamentos que não podem ser tomados de forma contínua por mais do que 2 a 4 semanas, por conta do seu potencial de gerar dependência. Caso isso ocorra, a retirada do medicamento deve ser feita de forma gradual, com orientação de médico psiquiatra.
Em geral, pode-se identificar um benzodiazepínico pelo final do nome do princípio ativo, que costuma terminar em “pam”, como no caso do clonazepam, diazepam, lorazepam, entre outros. Há também casos em que o princípio ativo termina em “lam”, como no alprazolam e estazolam.
Essas substâncias começaram a ser comercializadas na década de 1960 e, na década seguinte, se tornaram medicamentos altamente populares, sendo usados por longos períodos de tempo.
Apenas na década de 1980 que saíram estudos evidenciando problemas com o uso dessas medicações, como efeitos colaterais severos, o desenvolvimento de tolerância (necessidade de doses cada vez maiores para atingir o mesmo efeito) e o potencial de causar dependência nos usuários.
Os benzodiazepínicos podem ter efeito de longa ou curta duração e os médicos os receitam a depender do tratamento a ser feito.
Se a pessoa está tratando uma insônia, por exemplo, pode receber uma prescrição para os medicamentos de longa duração, enquanto pessoas que estão tratando um quadro de ansiedade associado a ataques de pânico podem ser prescritos medicamentos de curta duração para uso conforme a necessidade (veja mais em Uso de benzodiazepínicos: tratamento contínuo ou demanda (SOS)).
Por serem medicamentos com alto potencial de adicção (dependência), os benzodiazepínicos são medicamentos “tarja preta”, vendidos somente com prescrição médica, por meio de receitas especiais (receita azul), que é retida pelo farmacêutico no momento da compra do medicamento.
Para que servem os benzodiazepínicos?
Os benzodiazepínicos são medicamentos classificados como ansiolíticos e sadativos e costumam ser usados para tratar uma variedade de quadros, como:
- Quadros de ansiedade graves, como síndrome do pânico e fobias específicas;
- Transtorno de ansiedade social e de performance;
- Transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
- Tratamento de curta duração para insônia;
- Síndrome de abstinência do uso de álcool;
- Necessidade de sedação;
- Relaxamento muscular;
- Convulsões.
Em alguns casos, o uso de benzodiazepínicos é feito para tratar quadros de estresse pós-traumático. No entanto, isso não é recomendado, pois existem evidências de que esses medicamentos podem acabar gerando uma piora no quadro.
Saiba mais: Riscos dos Benzodiazepínicos no Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Como os benzodiazepínicos atuam no cérebro?
A atividade cerebral é feita a partir da comunicação entre neurônios, que é feita quando um neurônio atinge sua capacidade de excitação e dispara um sinal elétrico, que é convertido em sinal químico e captado por outros neurônios próximos.
Os benzodiazepínicos são medicamentos que se ligam aos receptores de ácido gama-aminobutírico (GABAA). Esses receptores recebem esse nome por serem os receptores do neurotransmissor GABA, que tem ação inibitória, ou seja, ele trabalha diminuindo a excitabilidade dos neurônios, tornando os disparos de sinais elétricos menos frequentes e, consequentemente, diminuindo a atividade cerebral.
É essa diminuição da atividade cerebral que combate os sintomas ansiosos, podendo também diminuir a agressividade, induzir o sono, sedar, reduzir a tensão muscular e ter ação anticonvulsivante.
Uso de benzodiazepínicos: tratamento contínuo ou demanda (SOS)
Dependendo do quadro apresentado pelo paciente, o psiquiatra pode receitar um benzodiazepínico para uso contínuo durante até 4 semanas, ou pode receitar o que chamamos de “uso de demanda” ou “SOS”, no qual a pessoa irá tomar a medicação ao sentir que está tendo sintomas ansiosos extremos (como um ataque de pânico, por exemplo).
É importante obedecer corretamente as instruções do médico pois os benzodiazepínicos têm um potencial de adicção muito alto, podendo gerar dependência e causar overdose.
É importante ter em mente que o medicamento não deve ser usado para anestesiar emoções negativas, mesmo nos casos do uso de demanda. Isso porque emoções negativas, em geral, são reações naturais do nosso organismo e da nossa psique, sendo uma parte normal da vida que não deve ser evitada a todo custo.
Leia mais: Emoções: o que são, quais as emoções básicas?
Neste sentido, pessoas que fazem uso desses medicamentos para evitar sentir emoções desagradáveis podem, além de aumentar as chances de desenvolver tolerância e dependência da substância, desenvolver também uma menor resiliência e tolerância ao mal-estar, o que por sua vez pode piorar quadros de transtornos mentais.
Por isso, o uso de demanda deve ser feito só em casos de crises extremas, como ataques de pânico. Quando isso ocorre, o tratamento é bastante efetivo e seguro.
Efeitos colaterais dos benzodiazepínicos
O uso de benzodiazepínicos vem também com alguns efeitos colaterais, como:
- Dificuldades de concentração;
- Problemas de memória (em especial na formação e consolidação de novas memórias);
- Pesadelos;
- Tontura e desequilíbrio;
- Diminuição da atividade psicomotora (incluindo lentidão dos reflexos e dificuldades de coordenação motora);
- Fraqueza;
- Náusea e vômito;
- Boca seca;
- Fotossensibilidade e alterações na visão, como visão borrada;
- Dores abdominais e torácicas;
- Dores articulares;
- Incontinência urinária;
- Diarreia ou constipação;
- Taquicardia;
- Alucinações;
- Alterações de comportamento, aumentando a hostilidade (casos de uso prolongado).
Ao fazer o uso de benzodiazepínicos, é recomendado manter-se longe de tarefas em que é necessário operar máquinas, como dirigir ou trabalhar em fábricas. A lentidão dos reflexos é um efeito colateral comum que pode tornar essas atividades perigosas, aumentando a propensão a acidentes.
Idosos devem tomar cuidado redobrado se estiverem fazendo o uso de benzodiazepínicos, pois os efeitos colaterais aumentam os riscos de queda e problemas respiratórios.
Também é comum, nessa faixa etária, o uso contínuo de diversos medicamentos para enfermidades crônicas, que podem interagir com os benzodiazepínicos e trazer efeitos colaterais preocupantes.
Ao fazer o tratamento com benzodiazepínico, lembre-se de informar ao seu psiquiatra todos os seus medicamentos de uso contínuo.
Risco de overdose e interações medicamentosas
Os benzodiazepínicos apresentam um risco de overdose, fazendo com que a pessoa pare de respirar, sendo fatal. A overdose é mais comum quando a pessoa faz o uso indevido da medicação e acaba desenvolvendo tolerância, necessitando doses cada vez mais altas para alcançar o mesmo efeito terapêutico.
Além disso, os benzodiazepínicos podem interagir com outros medicamentos e alimentos, aumentando as chances de efeitos colaterais perigosos e até mesmo de overdose.
Isso é especialmente problemático quando a pessoa faz o uso de alguma outra substância que tenha um efeito depressor do sistema nervoso central, como o álcool ou analgésicos opioides, por exemplo.
As duas substâncias, então, atuam em sinergia, alcançando um efeito sedativo muito maior e que pode levar a óbito.
Abstinência de benzodiazepínicos
Por conta do potencial de dependência química, os benzodiazepínicos também podem causar uma síndrome de abstinência caso o uso seja interrompido após longos períodos de tempo em uso.
Os sintomas da abstinência variam de pessoa para pessoa e também de qual medicação estava sendo usada. Esses sintomas podem durar de algumas poucas semanas até um ano e alguns deles são potencialmente perigosos.
Dentre os sintomas da abstinência de benzodiazepínicos estão:
- Dores de cabeça;
- Dores e espasmos musculares;
- Tontura;
- Tremores;
- Náusea, vômito e dores de estômago;
- Dificuldades para dormir;
- Fadiga;
- Sonhos bizarros e inquietantes;
- Dificuldades de concentração;
- Irritabilidade;
- Ansiedade;
- Alterações na percepção/sentidos aguçados;
- Delírios, alucinações e paranoia;
- Convulsões.
Como os benzodiazepínicos são medicamentos que deprimem o funcionamento do sistema nervoso central (ou seja, diminuem a atividade cerebral), o uso prolongado faz com que o organismo tente se adaptar, fazendo com que o cérebro aumente sua atividade para compensar os efeitos da medicação.
Por isso, quando o uso é feito por períodos prolongados e a medicação é retirada abruptamente, um dos sintomas de abstinência são convulsões, que ocorrem quando o cérebro está muito estimulado e a atividade cerebral se torna desordenada.
Convulsões são quadros sérios que necessitam de atenção urgente, em especial se duram mais de 5 minutos.
Existem alternativas ao tratamento com benzodiazepínicos?
Os benzodiazepínicos são tão usados porque são, de fato, eficazes. No entanto, isso não significa que não existem outros tratamentos disponíveis no mercado, podendo fazer com que menos pessoas sejam expostas aos potenciais perigos do uso dos benzodiazepínicos.
Para tratar ansiedade, é comum o uso de medicamentos antidepressivos, que também tendem a diminuir sentimentos ansiosos e podem ajudar com sintomas como pensamentos acelerados, além de combater sintomas depressivos que frequentemente acompanham os quadros de ansiedade.
Já para tratar insônia, hoje em dia existem algumas alternativas de medicamentos hipnóticos (que fazem pegar no sono) que não causam dependência, como os conhecidos “fármacos Z”: o famoso zolpidem e a zaleplona.
Quando a pessoa lida com crises convulsivas, existem também medicamentos específicos para isso, conhecidos como anticonvulsivantes. Não raramente, estes medicamentos também podem ajudar no tratamento de quadros de humor.
Se usados de forma responsável, os benzodiazepínicos são medicamentos bastante eficazes que podem ajudar muito no tratamento de quadros ansiosos intensos.
Caso você acredite estar passando por algum problema e precisa de ajuda, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
https://sanarmed.com/benzodiazepinicos-acoes-no-sistema-nervoso-central-e-usos-terapeuticos-colunistas/
https://jornal.usp.br/atualidades/entenda-a-acao-dos-benzodiazepinicos-para-tratar-a-ansiedade/
https://www.ufrgs.br/farmacologica/2020/11/11/benzodiazepinicos-poderosos-populares-e-perigosos/
https://aps-repo.bvs.br/aps/quais-os-riscos-do-uso-prolongado-dos-benzodiazepinicos/