Brexanolona: Novo medicamento para depressão pós-parto é aprovado nos EUA

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A depressão pós-parto é uma condição que afeta cerca de 1 a cada 9 mulheres. Por conta das restrições durante o período de lactação, o número de medicamentos permitidos para tratar o problema é reduzido. Além disso, esses antidepressivos demoram para fazer efeito e os primeiros dias são essenciais para que haja uma boa ligação mãe-bebê, portanto, um medicamento de ação rápida é fundamental. Felizmente, há uma nova solução.

Trata-se da brexanolona, o primeiro medicamento antidepressivo feito a partir de um biomarcador específico, que foi aprovado pela FDA (Food and Drug Administration, a ANVISA americana) no primeiro trimestre de 2019.

A indicação da brexanolona é exclusiva para a depressão pós-parto, uma condição que pode ser extremamente perigosa tanto para a mãe quanto para o bebê. Mães que sofrem com esse transtorno acabam tendo dificuldade em cuidar do bebê, chegando a ter pensamentos suicidas ou pensamentos sobre machucar a criança.

O que diferencia a brexanolona de outros medicamentos antidepressivos disponíveis no mercado é o seu mecanismo de ação: enquanto a maior parte dos antidepressivos age em neurotransmissores como a serotonina, a brexanolona é quimicamente idêntica à alopregnanolona, um hormônio produzido pelo próprio corpo cujo nível na organismo diminui significativamente após o parto.

Administração e acessibilidade

Apesar da boa notícia, o acesso à brexanolona é bastante limitado. Nos Estados Unidos, o medicamento só é distribuído em alguns hospitais e centros de saúde. Isso porque a administração da substância não é simples.

Enquanto a maioria dos antidepressivos tradicionais vem em forma de comprimido e pode ser tomado em casa sem maiores complicações, a brexanolona é um medicamento intravenoso, ou seja, ele é injetado direto na veia da paciente.

A recomendação é de que o medicamento seja administrado por 60 horas, o que requer que a paciente permaneça muito tempo no hospital sob supervisão de profissionais da saúde.

Efeitos colaterais e cuidados

Os principais efeitos colaterais da brexanolona são sonolência, tontura, dor de cabeça, boca seca e rubor na pele.

Durante a administração do medicamento, é preciso monitoramento constante dos profissionais da saúde, pois o medicamento apresenta efeitos colaterais que podem ser perigosos, como sedação e perda de consciência.

As pacientes não devem dirigir veículos ou operar máquinas enquanto ainda estiver sentido a sonolência e tontura causadas pelo medicamento. Além disso, é recomendo que as pacientes sejam observadas durante as interações com seus bebês enquanto recebem o medicamento.

Como a brexanolona age?

Não se tem certeza do que causa a depressão pós-parto, mas vários estudos mostram uma combinação de fatores que podem estar envolvidos. Dentre eles, estão alterações nos receptores GABAA (um tipo de receptor de neurotransmissores) e moduladores alostéricos (que aumentam ou diminuem a ação do neurotransmissor). É justamente nesse fator que a brexanalona tem seu efeito.

Neurotransmissores são os mensageiros químicos que agem nos neurônios ajudando na propagação de informações. Cada neurotransmissor tem uma ação diferente, sendo que alguns são conhecidos justamente por causar sensações de bem-estar e felicidade. Desequilíbrios nessa transmissão de dados entre neurônios estão associados a depressão e medicamentos que atuam nesse desequilíbrio podem ajudar a melhorar os sintomas.

Contudo, nem sempre o problema é nos neurotransmissores, e sim em seus receptores. Para que os “mensageiros químicos” consigam ter efeito, eles precisam se conectar a receptores que estão funcionando plenamente, caso contrário não há a transmissão das informações para os outros neurônios. Quando há algo de errado nos moduladores alostéricos, a recepção dos neurotransmissores pode ser prejudicada.

Esse é o caso em muitas mulheres com depressão pós-parto. Isso porque a alopregnanolona é um hormônio que age como modulador do GABAA, mas a sua metabolização depende inteiramente da progesterona no organismo, existente em abundância durante a gravidez.

No entanto, após o parto, os níveis de progesterona ficam instáveis, causando diversos efeitos no organismo. Consequentemente, a alopregnanolona também diminui. Isso significa que há um desequilíbrio hormonal que afeta a ação dos neurotransmissores no GABAA, o que contribui para os sintomas depressivos.

Desta forma, ao utilizar um medicamento quimicamente igual à alopregnanolona, é possível fazer uma “reposição” desse hormônio, diminuindo os efeitos desse desequilíbrio.

E no Brasil?

Infelizmente, no Brasil, a ANVISA ainda não aprovou a brexanolona como tratamento para a depressão pós-parto. Contudo, o fato de a FDA ter aprovado nos Estados Unidos traz bastante esperança de que o medicamento venha a ser aprovado no Brasil também no futuro.

Até lá, novas mamães que sofrem com depressão pós-parto ainda possuem opções de tratamento bastante eficazes, como os antidepressivos tradicionais liberados para lactentes e a psicoterapia.

A depressão pós-parto é um problema sério que afeta muitas mulheres e prejudica a relação mãe-bebê durante os primeiros meses de vida da criança. Isso pode causar prejuízos também na saúde e desenvolvimento do bebê, o que pode ser evitado caso haja um tratamento adequado.

Se você está ou conhece alguém que está passando por depressão pós-parto ou está grávida e está preocupada com a possibilidade de sofrer com essa condição, não esqueça de ajudá-la a procurar ajuda especializada!

Referências

Leader, L. D., O’Connell, M., & VandenBerg, A. (2019). Brexanolone for Postpartum Depression: Clinical Evidence and Practical Considerations. Pharmacotherapy: The Journal of Human Pharmacology and Drug Therapy. doi:10.1002/phar.2331

https://www.medscape.com/viewarticle/910643

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