Cannabis: uso terapêutico e recreativo, efeitos no organismo e vício

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Foto de Roberto Valdivia na Unsplash

A Cannabis é uma planta originária da Ásia e é consumida no mundo inteiro como droga de abuso. Popularmente conhecida como maconha, trata-se da droga ilícita mais consumida no mundo. Seus efeitos são considerados leves, mas, a longo prazo, seu uso pode trazer muitos prejuízos, assim como qualquer outra droga.

Antigamente, a planta era muito usada na fabricação de produtos têxteis, papéis, entre outros. Contudo, as flores da planta secretam uma resina com propriedades psicoativas, o que gerou o seu uso como droga recreativa. Dentre os princípios ativos encontrados na cannabis, estão o tetrahidrocanabinol (THC), que é o responsável pelos efeitos recreativos da droga, o canabidiol (CBD), canabinol (CBN) e o canabicromeno (CBC).

O método de cultivo e de consumo da planta resulta em concentrações diferentes de THC, o que tem causado preocupação para autoridades mundiais nos últimos anos. O aumento do efeito recreativo também aumenta o potencial de dependência da droga.

Formas de apresentação da cannabis

Atualmente, a cannabis é encontrada em uma grande variedade de formas de apresentação. Enquanto o método mais comum de consumo é o fumo da erva (na forma de cigarro normal ou cigarro eletrônico), ela também é encontrada na forma de resina (conhecida como haxixe) e óleo.

Nas folhas da Cannabis sativa, a concentração de THC é de apenas 5%. Já nas formas de haxixe e óleo, a concentração chega a ser de 20% e 60% respectivamente. Há também variedades da planta que resultam do cruzamento de vários tipos de cannabis, como a Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis. Essas variedades são cultivadas justamente para proporcionar uma planta com uma concentração maior de THC.

Na forma de haxixe, a cannabis pode ser fumada ou mastigada, enquanto na forma de óleo, ela é frequentemente vaporizada em um cigarro eletrônico (vape). Além disso, a erva também pode ser usada na culinária, sendo pré-aquecida para liberar os princípios ativos antes de ser adicionada na receita.

Uso terapêutico vs. uso recreativo

Apesar de ser frequentemente retratada como uma droga recreativa perigosa, a cannabis também possui propriedades terapêuticas. Atualmente, ela é usada para tratar dores crônicas, epilepsia, esclerose múltipla, náusea relacionada à quimioterapia, entre outros.

Contudo, o princípio ativo mais frequentemente usado de forma terapêutica é o canabidiol (CBD), não o THC. Isso quer dizer que não é preciso ficar “chapado” para fazer o uso terapêutico da cannabis. Em alguns casos, o próprio THC é usado de maneira terapêutica, mas o “barato” é um efeito colateral que tende a ser minimizado, e não aumentado como é o caso do uso recreativo.

No uso terapêutico, a apresentação da cannabis também é diferente daquela encontrada ilegalmente para uso recreativo. Para tratar epilepsia, por exemplo, é comum o uso do óleo, que é colocado debaixo da língua para ser absorvido, e não fumado nem vaporizado. Há também a apresentação na forma de comprimidos.

Existem muitos usuários que relatam fazer o uso da cannabis para lidar com a ansiedade, porém vários estudos trazem resultados inconclusivos em relação ao tratamento de ansiedade e depressão. Alguns estudos mostram que pessoas que fazem o uso de cannabis para tratar a depressão podem até ter uma melhora no humor, porém há um aumento nos níveis de ansiedade, tornando o uso dessa substância para tratar ansiedade e depressão um tanto quanto inviável.

O uso terapêutico da cannabis no Brasil é extremamente limitado, sendo usado apenas em casos de epilepsia e esclerose múltipla, sem que haja qualquer indicação para tratar transtornos de ansiedade ou de humor. Qualquer pessoa que faça o uso da droga e use esse tipo de transtorno como justificativa está fazendo uso recreativo e não terapêutico.

Maconha vicia?

Embora muitos usuários digam que o uso de cannabis não causa dependência, trata-se de um mito. A maconha pode causar vício, tendo como consequência da abstinência sintomas como inquietação, aumento da agressividade, insônia, perda do apetite, entre outros.

Além disso, pessoas dependentes de cannabis podem sofrer com a síndrome amotivacional, uma condição comum a todos os tipos de dependência química que é caracterizada pela falta de interesse e prazer em realizar atividades das quais o uso da droga não faz parte.

Ou seja, a pessoa deixa de fazer atividades nas quais não pode usar a cannabis, como trabalhar, estudar, passar tempo com amigos e familiares que não fazem uso da droga, entre outras.

Outros sintomas da dependência de cannabis são gastar dinheiro que não tem para comprar a droga, gastar muito tempo fazendo o uso da droga, usar mais do que planejava inicialmente, entre outros sintomas de dependência química.

Efeitos a longo prazo

Embora muitos digam que, por ser natural, a cannabis não traz malefícios, a verdade é que o uso crônico da cannabis também deixa sequelas. Pessoas que fumam com frequência há muitos anos costumam ter prejuízos nas funções cognitivas, problemas no sistema endócrino, entre outros.

As principais funções cognitivas afetadas pelo uso da cannabis são a fluência da fala, a atenção, a memória de curto prazo e a aprendizagem. Já no sistema endócrino, homens apresentam diminuição do número de espermatozóides, da produção de testosterona e da libido. Em mulheres, há alterações em hormônios relacionados ao ciclo menstrual, bem como o uso de cannabis durante a gravidez pode provocar nascimento prematuro.

A exposição intrauterina à cannabis pode acarretar em um bebê abaixo do peso ao nascer e um maior risco de desenvolver transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

Em pessoas com predisposição à esquizofrenia, o uso de cannabis pode potencializar os sintomas psicóticos, agravando o quadro.

Embora a cannabis seja vista como uma droga leve, ela pode trazer consequências prejudiciais ao usuário recreacional. Já no caso do uso terapêutico, é preciso seguir corretamente as recomendações do médico que prescreveu a fim de aproveitar o efeito terapêutico sem correr o risco de desenvolver uma dependência.

Se você tem ou conhecem alguém que apresenta sintomas de dependência química, não se esqueça de entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança. A dependência pode não ter cura, mas tem tratamento!

Referências

Ribeiro J. (2014). A cannabis e suas aplicações terapêuticas. Dissertação [Mestrado em Ciências Farmacêuticas] – Universidade Fernando Pessoa.
http://www.unodc.org/unodc/en/frontpage/2009/June/why-does-cannabis-potency-matter.html
https://www.news-medical.net/health/Therapeutic-Uses-of-Cannabis.aspx

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