Catatonia: o que é, características e como tratar

Conhecida por deixar o paciente imóvel por longas horas, a catatonia se apresenta de diversas formas e pode ser tratada. Entenda!
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin

Durante o século XIX, profissionais da saúde mental começaram a perceber que alguns pacientes apresentavam uma série de sintomas curiosos, como imobilidade por longas horas, mutismo e a capacidade de permanecer por horas na posição em que foram colocados.

O fenômeno foi chamado de catatonia e acometia principalmente pacientes com esquizofrenia. Embora hoje em dia não seja tão comum pelo amplo tratamento das causas adjacentes, a síndrome ainda ocorre e não é difícil encontrar vídeos na internet demonstrando pacientes em estado catatônico.

Neste texto, o objetivo é esclarecer o que é catatonia, as formas em que ela se manifesta (tipos de catatonia), suas principais características e os tratamentos disponíveis atualmente.

O que é catatonia?

A catatonia é uma síndrome, ou seja, não se trata de um transtorno por si só, mas um conjunto de sintomas. Pode ocorrer em diversos transtornos mentais, mas principalmente nos transtornos psicóticos e transtornos de humor.

Essa síndrome causa alterações no comportamento motor, podendo fazer a pessoa ficar imóvel ou apresentar inquietação. São comuns também comportamentos como mutismo, olhar fixo, caretas, entre outros.

Antigamente, a catatonia era categorizada como um subtipo da esquizofrenia. No entanto, desde o lançamento da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), a catatonia se tornou uma entidade diagnóstica independente, justamente por poder ocorrer em diversos transtornos.

Atualmente, sabe-se que a catatonia é até mais comum em transtornos de humor do que em transtornos psicóticos.

Características da catatonia

A catatonia é caracterizada principalmente por perturbações no comportamento motor, que podem deixar a pessoa em uma posição rígida, imóvel, durante horas ou até mesmo dias. Quando ficam imóveis, essas pessoas também não conseguem falar e engolir.

Essas perturbações motoras também podem causar agitação motora, ou seja, a pessoa se move de forma agitada em movimentos sem propósito, que não tem objetivo e não comunicam nada.

Em um episódio da catatonia, a pessoa também pode apresentar:

  • Mutismo seletivo;
  • Balismo (movimentos de grande amplitude, como um arremesso);
  • Estereotipias (movimentos e fala repetitivos);
  • Caretas sem o propósito de comunicar um afeto;
  • Ecolalia (repetição de sons);
  • Ecopraxia (imitar os movimentos de outras pessoas);
  • Negativismo (resistência a obedecer instruções de outras pessoas);
  • Olhar fixo.

Quando a pessoa se encontra numa posição rígida, é comum que, se uma outra pessoa mudar a posição da pessoa em estado catatônico, a pessoa continua na posição em que foi colocada.

Apesar da ausência de fala e de movimento, a pessoa em estupor catatônico geralmente está consciente do seu estado, podendo até mesmo estar com a mente bastante ativa. Para uma pessoa nesse estado, é comum sentir ansiedade extrema e sensação de sobrecarga de sentimentos.

Muitas dessas pessoas estão conscientes de que não conseguem se mover, apesar de sentirem as dores de estarem paradas numa mesma posição há tanto tempo.

Tipos de catatonia

A catatonia pode ser classificada em 3 tipos:

Catatonia retardada

É o tipo de catatonia mais comum, sendo caracterizada por rigidez, imobilidade, olhar fixo, manter-se na posição em que foi colocado, posturas bizarras, caretas, ecolalia, ecopraxia, estereotipias e negativismo.

Catatonia excitada

Na catatonia excitada, a pessoa apresenta agitação psicomotora, ou seja, tem bastante inquietação e necessidade de manter-se em movimento, bem como estereotipias, impulsividade e até mesmo comportamento combativo (agressividade). Em alguns casos, a pessoa pode apresentar também delírios.

Catatonia maligna

É um tipo de catatonia que pode ser fatal, podendo ter origem na catatonia excitada, gerando febre alta, anormalidades na pressão arterial, taquicardia e respiração acelerada (taquipneia). A pessoa também pode apresentar delírios, mutismo e rigidez.

Esse tipo de catatonia está mais associado à síndrome neuroléptica, que ocorre com o uso de medicamentos neurolépticos, frequentemente usados para o tratamento de transtornos psicóticos.

É importante ressaltar que a catatonia maligna requer atenção médica urgente.

Transtornos em que a catatonia se manifesta

São diversos os transtornos nos quais a catatonia pode aparecer. Dentre eles:

  • Depressão grave;
  • Transtorno bipolar;
  • Esquizofrenia;
  • Psicose;
  • Lesões cerebrais;
  • Encefalopatia hepática (danos no fígado que não remove toxinas do sangue, resultando em perdas na função cerebral).

Em alguns casos, a catatonia também pode ocorrer devido a medicamentos, em especial os neurolépticos, que são comumente usados para tratar psicoses.

Diagnóstico da catatonia

O diagnóstico é feito a partir da avaliação dos sintomas, bem como o histórico psiquiátrico apresentado pelo paciente.

Embora não existam exames específicos para o diagnóstico da catatonia, o médico pode pedir exames como ressonância magnética e tomografia computadorizada a fim de identificar se existe alguma lesão cerebral que possa estar causando os sintomas.

Os exames também servem para identificar outras patologias que podem causar sintomas parecidos, mas que não configuram catatonia.

Em geral, médicos suspeitam de catatonia quando a pessoa apresenta mutismo e imobilidade sem que haja outra explicação para o aparecimento dos sintomas. Então são investigados outros possíveis sintomas, como estereotipias, ecolalia, ecopraxia, olhar fixo, entre outros.

O histórico clínico da pessoa também pode ajudar a identificar a catatonia, considerando os transtornos nos quais a condição costuma aparecer com mais frequência.

Embora tenha sido identificada primeiro em pacientes com esquizofrenia, hoje em dia sabe-se que essa condição é mais comum em pacientes com transtornos de humor.

Tratamento da catatonia

O tratamento da catatonia é geralmente feito com o tratamento do transtorno adjacente, por meio de medicamentos psiquiátricos como benzodiazepínicos (que são medicamentos ansiolíticos), antipsicóticos e antidepressivos.

No entanto, há pessoas que apresentam resistência aos medicamentos. Nestes casos, a eletroconvulsoterapia (ECT) pode ser indicada. Pesquisas mostram que essa técnica é bastante eficaz até mesmo para o tratamento de casos graves.

Leia mais: Eletroconvulsoterapia (ECT): origens, abusos e eficácia

Em casos graves nos quais a pessoa permanece em estado catatônico durante muitos dias, é necessário atenção médica para garantir alimentação via sonda e hidratação por meio de soros.

Quando a pessoa apresenta um caso de catatonia maligna, que pode colocar sua vida em risco, é necessário que a pessoa tenha atenção médica urgente para controlar os sintomas e evitar uma fatalidade.

A catatonia costuma ser pouco diagnosticada atualmente, pois geralmente surge em conjunto com outros transtornos que, frequentemente, já estão sendo tratados.

No entanto, se você percebe que apresenta sintomas de catatonia ou conhece alguém que apresenta esses sintomas, não hesite em buscar ajuda com um profissional da saúde mental!

Referências

Fink, M. (2009). Catatonia: A Syndrome Appears, Disappears, and is Rediscovered. The Canadian Journal of Psychiatry, 54(7), 437–445. doi:10.1177/070674370905400704

https://www.bbc.com/portuguese/geral-61709131

Confira posts relacionados