Cleptomania: o que é, como identificar

Para pessoas que sofrem de cleptomania, o ato de roubar se assemelha ao vício em uma droga. Entenda melhor aqui!
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Roubar é um ato que muitas pessoas não gostariam de realizar. Embora existam pessoas que roubam por necessidade e pessoas que roubam para ganho pessoal ou financeiro, existe também um grupo de pessoas que roubam sem necessidade, sem ganhos, e contra sua própria vontade.

É o caso das pessoas que sofrem de cleptomania, um transtorno caracterizado pela incapacidade de resistir ao impulso de cometer roubos. Trata-se de uma vontade tão intensa que a cleptomania é frequentemente comparada ao vício em substâncias.

Neste artigo, você irá encontrar mais informações sobre o transtorno, incluindo fatores de risco e possibilidades de tratamento.

O que é cleptomania?

A cleptomania é um transtorno do controle de impulsos (TCI) no qual a pessoa não consegue resistir ao impulso de roubar alguma coisa. Em geral, os itens roubados são coisas que a pessoa não necessariamente precisa e podem até ser de valor baixo, sendo algo que a pessoa teria condições de pagar. Trata-se de um transtorno relativamente raro, mas que pode causar sofrimento significativo a amigos e familiares, bem como problemas com a lei.

Não raramente, os itens roubados são de pouco valor, não refletem uma necessidade do indivíduo que comete o roubo, e costumam ser jogados fora ou doados após o roubo.

Os roubos são realizados de forma impulsiva, ou seja, não costumam ser planejados. No entanto, é provável que pessoas com cleptomania evitem roubar quando existem grandes chances de serem pegas.

A cleptomania pode surgir em qualquer idade, desde a infância até a idade adulta. No entanto, é mais raro que o problema se desenvolva na terceira idade. Além disso, o transtorno é três vezes mais comum em mulheres do que em homens.

Apesar de tudo, a cleptomania parece ser um transtorno raro. Estima-se que o problema acomete entre 0,3 e 0,6% da população.

É importante ressaltar que a cleptomania não é uma falha de caráter, sendo um transtorno real que causa grande vergonha à pessoa que sofre com ele, o que pode dificultar a busca por ajuda.

Algumas pessoas apresentam a cleptomania de forma episódica, ou seja, apresentam sintomas e comportamentos cleptomaníacos durante um determinado período de tempo e depois param. Já outras pessoas apresentam a cleptomania de forma crônica, sendo algo com o qual precisam batalhar todos os dias.

Os dois casos podem causar prejuízos significativos na vida de uma pessoa e mesmo as pessoas que apresentam o problema de forma episódica se beneficiam do tratamento ao prevenir o surgimento de novos episódios.

Sintomas da cleptomania

O principal sintoma da cleptomania é justamente sua principal característica: o impulso irresistível de roubar alguma coisa. Este sintoma costuma ver acompanhado de:

  • Sentimento de tensão, excitação e ansiedade que levam ao ato de roubar;
  • Sentimentos de alívio, prazer e até mesmo gratidão na hora do roubo;
  • Sentimentos de culpa, remorso ou vergonha após o roubo.

Os roubos são realizados de forma espontânea, no calor do momento.

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito por um profissional da saúde mental como um psiquiatra ou psicólogo e deve atender aos seguintes critérios:

  • Presença de um impulso recorrente e persistente de roubar itens que não são para uso próprio ou ganho financeiro;
  • Os roubos não são motivados por alucinações, episódios de mania, raiva ou desejo de vingança;
  • Os roubos não são melhores explicados por diagnósticos como Transtorno de Personalidade Antissocial, Transtorno de Conduta ou episódio de mania.

Causas

Não se sabe exatamente o que causa a cleptomania. No entanto, existem alguns fatores de risco associados ao problema. São eles:

Transtornos subjacentes

Não raramente, pessoas que sofrem de cleptomania possuem algum outro transtorno mental não diagnosticado ou não tratado, como ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno afetivo bipolar (TAB), transtorno de abuso de substância, entre outros.

Histórico familiar

O histórico familiar de cleptomania também é um fator comumente encontrado naqueles que sofrem do problema. Contudo, nem sempre este é o caso. Muitas vezes, há histórico familiar de outros transtornos mentais, mas ainda é um fator de risco para o desenvolvimento da cleptomania.

Problemas de regulação emocional

Ainda que a pessoa não seja diagnosticada com nenhum transtorno mental específico, não é raro que pessoas que apresentam cleptomania tenham alguma dificuldade no que tange a regulação emocional. A dificuldade de lidar com as próprias emoções é um grande fator de risco para grande parte dos transtornos mentais, não apenas transtornos do controle de impulsos.

Stress e trauma

Traumas e exposição exagerada ao estresse, especialmente durante a infância, são fatores que influenciam no surgimento de diversos transtornos mentais, dentre eles os transtornos do controle de impulsos, como é o caso da cleptomania.

O efeito da cleptomania no cérebro

Embora não se saiba exatamente o que causa a cleptomania, estima-se que ela é mantida por conta dos efeitos que o ato de roubar causa no cérebro.

Isso porque o ato de roubar está relacionado a uma série de sentimentos e emoções, incluindo ansiedade, excitação e prazer.

Enquanto a pessoa está pensando em roubar alguma coisa, pode surgir uma grande angústia ou ansiedade, que é por fim aliviada quando a pessoa de fato rouba alguma coisa. Esse alívio promove a liberação de dopamina, um neurotransmissor que causa grande sensação de prazer e está relacionado ao sistema de recompensa do cérebro.

Desta forma, o cérebro começa a associar o ato de roubar com essas sensações, o que faz com que haja a vontade de repetir o ato mais vezes.

Outro fator importante na neurofisiologia da cleptomania é a capacidade de inibição dos impulsos. Em suma, quando aprendemos que não devemos fazer algo, existe algo que nos impede de fazer mesmo quando pensamos em fazer — é a capacidade de inibição que o cérebro desenvolve ao longo do tempo.

No entanto, em pessoas que sofrem de cleptomania, parece que esse mecanismo inibitório não funciona adequadamente, fazendo com que ela emita o comportamento cleptomaníaco mesmo que ela saiba que é errado e não deveria estar fazendo isso.

Vale ressaltar que o roubo na cleptomania é um ato impulsivo, ou seja, não se trata de algo planejado. Não é raro que os itens roubados sejam de baixo valor ou sejam deixados de lado assim que a pessoa chega em casa, tendo em vista que a pessoa não rouba por desejar ou precisar daquele item, mas sim pelo simples fato de roubar.

Geralmente, a pessoa com cleptomania realiza os roubos de forma espontânea, quando não está acompanhada de outras pessoas.

Cleptomania tem cura? Como é o tratamento?

Como em qualquer transtorno do controle de impulsos, é difícil falar em cura para a cleptomania. No entanto, com o tratamento adequado, é possível que os sintomas entrem em remissão, sendo importante manter a saúde mental em dia para que os sintomas não voltem a aparecer.

Não raramente, pessoas que sofrem de cleptomania têm vergonha da condição, o que pode prejudicar a busca por ajuda especializada. Contudo, o tratamento pode ajudar significativamente, podendo até mesmo causar a remissão dos sintomas, ou seja, a pessoa não apresenta mais os sintomas do transtorno. Portanto, o tratamento é imprescindível para a recuperação da qualidade de vida.

Dentre os tratamentos eficazes para a cleptomania estão:

Medicamentos

Alguns medicamentos psiquiátricos podem alterar a química cerebral de forma a alterar os mecanismos que fazem com que o comportamento da cleptomania seja mantido. Geralmente esse tipo de transtorno é tratado com antidepressivos do tipo inibidor seletivo da recaptação de serotonina.

Psicoterapia

Embora a medicação seja útil para lidar com a questão neuroquímica da cleptomania, é na psicoterapia que são tratadas as questões subjacentes que estão frequentemente relacionadas ao comportamento compulsivo.

Não raramente, o problema está relacionado a uma dificuldade de lidar com as próprias emoções, provocando assim uma desregulação emocional. Aprender a regular-se emocionalmente pode ser de grande ajuda para combater os sintomas da cleptomania.

Para isso, o paciente precisará aprender a identificar o que sente, permitir que o sentimento se manifeste, e aprenda técnicas para expressá-lo de formas mais saudáveis.

Vale ressaltar que existem diversos tipos de psicoterapias e todas elas podem tratar o problema, no entanto, as terapias que possuem mais evidências científicas no tratamento de compulsão são a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e as terapias da Análise do Comportamento.

Embora a cleptomania seja relativamente rara, ela pode ocorrer com qualquer um e causar prejuízos significativos para a vida do indivíduo. Se você conhece alguém ou se identificou com os sintomas aqui citados, não hesite em procurar a ajuda de um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/kleptomania/symptoms-causes/syc-20364732
https://en.wikipedia.org/wiki/Kleptomania
https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/9878-kleptomania
https://www.medicalnewstoday.com/articles/kleptomaniac
https://www.psychologytoday.com/intl/conditions/kleptomania
https://www.webmd.com/mental-health/what-to-know-addicted-stealing

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