Cocaína: efeitos, dependência e transtornos relacionados

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A cocaína é uma droga estimulante extraída das folhas de Erythroxylum coca (planta popularmente conhecida como apenas “coca”) que foi aceita como relativamente segura durante muito tempo. Pouco se sabia sobre seus efeitos prejudiciais no organismo e, por conta disso, no ano de 1986, cerca de 15% da população dos Estados Unidos já tinha experimentado a droga. O National Institute on Drug Abuse estimou que o número de pessoas que faziam o uso abusivo da cocaína chegava a 3 milhões.

O principal efeito recreativo da droga é uma euforia de duração rápida (menos de 1 hora). A droga causa rápidas mudanças de humor, sendo usada não apenas no contexto recreacional, mas também como um estimulante diário para pessoas com dependência química. Pode ser aspirada, injetada e até mesmo inalada (recebendo o nome de “crack” nestes casos).

Nem todas as pessoas que usam cocaína e outros estimulantes desenvolvem dependência da droga. No entanto, pouco se sabe sobre quais são os fatores de risco para essa dependência. O que se sabe é que existem algumas comorbidades psiquiátricas, mas não é possível saber se existe uma relação causal entre a dependência e os transtornos mentais.

De uma maneira geral, o uso compulsivo da cocaína ocorre porque há um declínio rápido do efeito da droga. Geralmente, pessoas que utilizam a droga apenas ocasionalmente passam a usá-la compulsivamente em situações nas quais o acesso à substância é facilitado, ou seja, quando a pessoa costuma ter bastante droga consigo, quando frequenta locais onde há droga em abundância, entre outras.

Dependendo da via de administração (aspiração, inalação, injeção etc.), o efeito pode ser mais rápido e mais potente, aumentando as chances de desenvolver dependência.

Efeitos da cocaína

Imediatos

Tratando-se de uma droga estimulante, a cocaína promove uma maior magnitude no prazer vivenciado em diversas atividades. Essa sensação de bem estar vem acompanhada de um estado de alerta, aumento na energia e na autoestima, além de um prazer maior em atividades no campo social.

Os principais efeitos da intoxicação aguda por cocaína são:

  • Euforia;
  • Desinibição;
  • Prejuízos na capacidade de julgar decisões;
  • Sentimentos de grandiosidade;
  • Impulsividade;
  • Hipersexualidade;
  • Hipervigilância;
  • Agitação motora;
  • Agressividade.

A longo prazo

O uso abusivo de cocaína a longo prazo promove alterações neurofisiológicas, especialmente nas áreas relacionadas à regulação do humor e experiência de prazer. Isso quer dizer que, apesar de parecer uma dependência psicológica da droga, a cocaína causa, na verdade, uma dependência fisiológica com manifestação psicológica.

A longo prazo, a cocaína causa desequilíbrios no fluxo de neurotransmissores, especialmente aqueles relacionados ao humor. Por conta disso, ao cessar o uso, é comum que o indivíduo apresente sintomas depressivos. Ainda que esses sintomas melhorem com o tempo, o prognóstico vai depender de como foi feito o uso da droga — tempo de uso, frequência, quantidade utilizada etc. Outras funções mentais como atenção, memória e tomada de decisão também são prejudicadas.

O uso frequente pode causar tolerância, o que leva o indivíduo a precisar de doses cada vez maiores para sentir os efeitos da droga. A cocaína pode causar lesões (úlceras) no tecido que separa as duas narinas (septo), o que pode levar o usuário a necessitar de cirurgia.

Overdose

Em doses muito elevadas, a cocaína pode ser fatal. O indivíduo pode apresentar tremores, nervosismo, alucinações, delírios paranoides, insônia, comportamentos violentos, ansiedade extrema, pânico, entre outros.

Há um aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Por estreitar os vasos sanguíneos, a overdose de cocaína pode causar dores no peito e ataque cardíaco. Outros problemas fisiológicos causados pela cocaína são insuficiência renal, acidente vascular cerebral e problemas pulmonares. Há também a possibilidade de um aumento excessivo da temperatura corporal (hipertermia), que pode ser fatal.

Sintomas de abstinência

Ao interromper o uso da cocaína, existem três fases da abstinência: o crash, a síndrome disfórica tardia e a fase de extinção.

Crash

O crash é o período logo após cessar o uso da droga, no qual há uma rápida baixa dos efeitos da droga. Como os efeitos da droga passam rapidamente, é comum que o usuário administre uma nova dose a cada 15 ou 30 minutos. Isso pode se repetir durante vários dias, levando a pessoa à exaustão, iniciando o crash.

Nessa fase, a pessoa sente depressão, agitação e ansiedade. O indivíduo deixa de desejar a droga e apresenta hipersonia, ou seja, a necessidade de dormir por longos períodos de tempo.

No entanto, ao sentir agitação, pode acabar utilizando medicamentos sedativos ou outras drogas para conseguir relaxar e dormir, o que pode ser bem perigoso por conta das interações entre substâncias.

Os sintomas depressivos nessa fase chegam a ser tão graves que o indivíduo pode até mesmo tentar cometer suicídio.

Síndrome disfórica tardia

Trata-se da abstinência em si. Os sintomas são exatamente o contrário dos efeitos da droga. Dentre eles, está a falta de energia, desinteresse pelo ambiente e dificuldades para vivenciar o prazer (anedonia). Estes sintomas, contudo, não são tão intensos quanto durante o crash, e não são graves o suficiente para atingir os critérios diagnósticos de algum transtorno de humor.

Neste momento, a pessoa volta a desejar consumir a droga, e pode acabar abusando novamente da substância. Se, no entanto, passam-se de 6 a 18 semanas sem consumir cocaína, a anedonia costuma melhorar.

Extinção

Na extinção, os sintomas da abstinência não estão mais presentes. Contudo, o indivíduo pode sentir desejo pela droga esporadicamente e as chances de voltar a consumi-la são grandes caso ele não se afaste dos ambientes em que convivia com a droga.

Comorbidades: transtornos psiquiátricos relacionados ao abuso de cocaína

Alguns transtornos psiquiátricos estão relacionados à dependência de cocaína. Os principais são os transtornos de humor, como depressão e transtorno afetivo bipolar.

Estudos indicam que cerca de 50% das pessoas que buscam tratamento para o vício em cocaína preenchem os critérios necessários para o diagnóstico de algum transtorno de humor. Dentre estes transtornos, os mais comuns eram os transtornos de humor cíclicos, como transtorno afetivo bipolar, ciclotimia, entre outros.

Outro transtorno relativamente comum entre usuários de cocaína é o transtorno de déficit de atenção (TDA). Nestes casos, é comum que os indivíduos parem com a droga ao receber o tratamento farmacológico adequado ao seu transtorno.

Como a maior parte dos transtornos mentais aparecem no final da adolescência ou início da vida adulta, fase em que o uso de cocaína costuma se iniciar, não se sabe se pode haver uma relação causal entre estes transtornos e o abuso da substância.

***

A dependência da cocaína tem tratamento. Se você está passando por algum problema com drogas ou conhece alguém que precisa de ajuda, não hesite em contactar um médico de sua confiança!

Referências

Gawin, F. H., & Ellinwood, E. H. (1988). Cocaine and Other Stimulants. New England Journal of Medicine, 318(18), 1173–1182. doi:10.1056/nejm198805053181806

https://www.msdmanuals.com/pt/casa/assuntos-especiais/drogas-recreativas-e-entorpecentes/coca%C3%ADna

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