O mundo nunca esteve tão conectado e bem informado como nos últimos anos. E, embora não estejamos em um período de guerra mundial, a sensação é de que algo assim poderia acontecer a qualquer instante ao ver as notícias do dia. No mundo inteiro, há desastres, crimes e tensões entre grande potências que deixam as pessoas apreensivas.
Isso sem falar naqueles momentos em que só queremos descansar, tomar um café com a família ou jantar com os amigos, e alguém resolve falar sobre todos esses assuntos, deixando os participantes da conversa nervosos e arruinando o clima.
No fim do dia, somos deixados nos sentindo impotentes, sem conseguir lidar com esses problemas todos. O estresse atrapalha no trabalho, nos estudos, na vida familiar, nos relacionamentos, e por fim nos sentimos sozinhos, insuficientes, improdutivos, sendo expostos mais uma vez a uma conversa extremamente tóxica — agora interna, de nós para nós mesmos.
Será que existe alguma maneira de escapar disso? Existe alguma forma de manter a saúde mental em meio a tantas notícias e conversas tóxicas? É possível não se sentir sem esperanças e incompetente em meio a tudo que está acontecendo?
Embora não seja inteiramente possível fugir das notícias e das conversas, aqui vão algumas dicas que podem ajudar a se manter emocionalmente mais equilibrado(a) nesses momentos de maior tensão:
1. Reconhecer seus sentimentos
Em primeiro lugar, ao se deparar com uma situação que causa emoções negativas, o primeiro passo é reconhecer que essas emoções existem e não tentar suprimi-las.
Nada de “não vou me estressar com isso”. É mais interessante pensar “isso me deixa com muita raiva/medo/angústia”. O reconhecimento de uma emoção é o primeiro passo para a autorregulação.
2. Desconectar da emoção negativa
Parece estranho, mas é possível nos desconectar de nossas emoções enquanto ainda sentimos elas. Pode-se dizer que se trata de “racionalizar” a emoção.
Ao invés de se deixar levar pelo que sente, questione: “esse sentimento me traz alguma vantagem no momento?”. Com frequência, a resposta é não.
Sentir raiva ao ver uma notícia ruim sobre algum político é normal, mas gritar com a televisão não muda nada. A única pessoa a sofrer nesse contexto é a pessoa que está com raiva.
Trazer a emoção para a consciência de uma maneira racional ajuda a diminuir o potencial destrutivo da expressão dessa emoção. Digamos que, em meio a uma discussão com familiares e amigos, você fica com raiva. Ao invés de simplesmente responder o que vier na cabeça, você questiona as vantagens e desvantagens de falar o que está pensando.
Essa atitude ajuda a sair de uma posição defensiva, na qual a tendência é falar algo para rebater e possivelmente magoar o outro, o que só gera mais estresse.
É importante ressaltar que essa “racionalização” da emoção não vai fazer ela passar, mas você aprenderá a lidar com ela de uma maneira muito mais saudável, evitando maiores problemas posteriormente.
3. Não se culpe
Outra coisa importante é não se culpar pelas suas emoções ou pela maneira que as pessoas tratam você durante uma discussão. Se alguém é grosso com você, isso é porque essa pessoa não sabe regular suas emoções, e não porque você está fazendo ou dizendo algo de errado.
Também não se culpe por não poder fazer muita coisa para ajudar em determinados contextos. É difícil ver notícias de desastres que estão colocando a vida no planeta em risco, por exemplo, mas a verdade é que o cidadão comum não pode ajudar com muita coisa além de adotar hábitos de consumo consciente e cobrar atitudes de políticos e empresas que estão relacionados aos desastres.
Não se culpe caso não tenha dinheiro para doar e ajudar organizações que estão trabalhando para remediar a situação. Isso não faz de você uma pessoa ruim. Você, assim como todo mundo, também tem limitações. Respeite-as.
4. Procurar um espaço silencioso
É muito comum, nos momentos de lazer, olharmos as redes sociais para nos divertir um pouco. No entanto, elas também são uma fonte de “barulho” que acabam contribuindo para o estresse que sentimos no dia a dia.
Por isso, é importante buscar um equilíbrio entre a exposição a esse barulho tóxico e momentos de silêncio e relaxamento. Quando quiser relaxar ou se divertir, evite ligar a televisão em canais de notícias, evite entrar em redes sociais ou, se o fizer, foque em perfis que compartilham apenas coisas positivas ou que você gosta, para evitar de se estressar ainda mais.
Não se trata de se manter alheio a tudo que acontece. É apenas uma folga no dia, um momento em que não é necessário estar conectado com tudo. Descanse antes de qualquer coisa. As notícias sempre estarão lá, você não precisa saber de tudo no exato momento em que acontece.
Não é necessário deletar todas as redes sociais ou se afastar definitivamente da internet. Apenas lembre-se que, nesses espaços, o barulho continua. Se você realmente quer descansar e não se preocupar com mais nada, prefira atividades relaxantes como meditação, caminhadas em mindfulness, ir ao parque, apreciar a natureza, entre outras.
5. Cuide do seu próprio discurso
Como dito anteriormente, se uma pessoa é grossa com você, isso significa mais que ela não sabe regular suas emoções do que a possibilidade de você ter feito ou dito algo errado. Quando você é grosso com alguém, é a mesma coisa.
O seu próprio discurso pode ser tóxico e você nem percebe isso. Isso por causa da falta de mindfulness. Antes e falar alguma coisa durante uma discussão, pergunte-se sempre: isso é necessário? Posso falar isso de outra maneira, sem agredir verbalmente ou magoar a pessoa?
Você não é responsável pela maneira que as pessoas te tratam, mas você é responsável pela resposta que dá a elas. Se você quer um ambiente menos tóxico, é preciso primeiro “desintoxicar” a sua própria fala.
Pode ser difícil de início, mas é algo que se torna mais fácil com a prática.
6. Alivie sua ansiedade
Viver em um mundo extremamente conectado e barulhento como o nosso é, de fato, bastante estressante e angustiante. Não é à toa que, vez ou outra, as pessoas desenvolvem uma ansiedade acima do esperado.
Existem diversos exercícios para aliviar a ansiedade momentaneamente, mas é de extrema importância buscar ajuda caso você esteja tendo crises com frequência. O tratamento adequado da ansiedade pode incluir o uso de medicamentos e psicoterapia, que ajudam a diminuir a frequência das crises e aumentam a qualidade de vida.
Um exemplo de exercício que pode ser feito para aliviar a ansiedade momentaneamente, baseado no mindfulness, é o 5-4-3-2-1, recomendado pelo Capitão Tom Bunn, especialista em medo de voar de avião.
De acordo com Tom Bunn, esse exercício é baseado na atenção concentrada nos nossos sentidos que ajudam a mudar o foco da atenção. Desta forma, ao invés de focar nos sintomas e nas causas da ansiedade, a pessoa foca em coisas não ameaçadoras, que diminuem a sensação de perigo, aliviando a ansiedade.
O exercício é simples:
- Foque nos objetos ao seu redor. Diga “eu vejo” e diga o nome de 5 objetos. Por exemplo, uma pessoa em um quarto poderia dizer “eu vejo uma cama, um armário, uma lâmpada, um quadro decorativo e travesseiros”;
- Foque agora na audição. Diga “eu ouço” e diga 5 coisas que consegue ouvir no momento. Caso não consiga detectar 5 sons diferentes, pode repetir alguns. Uma pessoa em um parque, por exemplo, pode dizer “eu ouço o canto dos pássaros, os latidos dos cachorros correndo, as crianças brincando, o vento passando, as conversas das pessoas”;
- Agora é a vez do tato. Diga “eu sinto” e liste 5 sensações. Por exemplo “eu sinto o chão sob meus pés, sinto o vento passando pelos meus braços, sinto os músculos do meu ombro relaxando (…)”;
- Com isso, você termina um ciclo. Se ainda não estiver relaxado, repita o exercício, dessa vez listando 4 coisas que vê, ouve ou sente. Depois, 3 coisas, e assim por diante até chegar em 1.
O número de coisas a serem listadas é diferente nos ciclos para que a atenção concentrada seja mantida. Se o número não mudasse, a mente logo iria se acostumar e tornar o processo automático, perdendo sua eficiência.
Sentimentos negativos fazem parte da vida e eles são necessários em muitos contextos. No entanto, devido ao caos nas notícias e conversas nos dias atuais, por vezes acabamos deixando que esses sentimentos negativos tomem conta de nós, o que não é nada saudável.
Se você sente que anda muito estressado ou ansioso e precisa de ajuda, procure um psicólogo ou psiquiatra de confiança o mais rápido possível!
Referências