Apesar de ser tratado como um transtorno infantil, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) não acaba na infância. Se não tratado, ele pode trazer uma série de consequências significativas na vida adulta.
Além da falta de atenção e da hiperatividade, sabe-se que o TDAH também está relacionado a uma série de outras dificuldades e limitações. Dentre elas estão:
- Impulsividade;
- Dificuldades com organização;
- Gestão de tempo inadequada;
- Problemas com a regulação emocional;
- Sensibilidade à rejeição;
- Problemas com sono e alimentação;
- Baixa autoestima;
- Comorbidades como depressão e ansiedade.
Vale lembrar que o TDAH não se apresenta da mesma forma em todas as pessoas e, portanto, nem todos vão apresentar as mesmas dificuldades. Algumas pessoas são mais desatentas, enquanto outras têm mais traços de hiperatividade.
Além disso, traços e personalidade e estratégias compensatórias que a pessoa acaba desenvolvendo para lidar com os sintomas também podem alterar o quanto a vida é prejudicada pelo transtorno.
O vídeo a seguir, produzido pela Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), traz relatos de pacientes e comentários de especialistas sobre o TDAH e suas consequências:
A seguir, veja alguns exemplos de como os sintomas do TDAH podem trazer prejuízos nas mais diversas esferas da vida:
Nos relacionamentos
O TDAH pode afetar os relacionamentos em diversos aspectos. Neste sentido, não estamos falando apenas de relacionamentos amorosos, mas também das amizades e relações familiares.
A hiperatividade e a impulsividade podem fazer com que os amigos, familiares ou parceiros românticos não consigam acompanhar o ritmo da pessoa, o que traz a possibilidade de vários conflitos.
A sensibilidade à rejeição e os problemas com regulação emocional pioram a situação, levando a pessoa com TDAH a ter reações emocionais desproporcionais e/ou inadequadas, o que pode levar a brigas ainda mais acaloradas e até mesmo rompimento de laços.
A desatenção pode levar a datas e compromissos importantes perdidos, sentimentos de solidão e abandono por parte da pessoa que não tem TDAH, mas também pode levar ao tédio. Isso é especialmente prejudicial nos relacionamentos amorosos, que podem acabar “sem motivo” simplesmente porque uma pessoa ficou entediada com a relação.
Na autoestima
Frequentemente, pessoas com TDAH sentem que não estão vivendo todo o seu potencial. Isso é até mesmo algo que ouvem de outras pessoas, como professores e familiares, que dizem “você consegue fazer melhor, você só não está se esforçando o suficiente”.
Viver com esse sentimento eventualmente leva a uma autoestima prejudicada. A pessoa com TDAH pode se sentir deslocada, incapaz, deixada para trás por não conseguir acompanhar o progresso de pessoas neurotípicas, entre outros.
Os demais problemas que acompanham o TDAH também podem contribuir para uma autoestima ruim. Quando a pessoa tem problemas de regulação emocional, por exemplo, pode ver a si mesma como um fardo para as pessoas ao seu redor, sem falar nos momentos em que realmente sofre invalidação por parte das pessoas de confiança, por estar “exagerando” ou “fazendo drama”.
Isso pode pesar ainda mais se a pessoa não possui o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, pois ela não consegue entender que tudo isso são consequências de um problema não tratado e passa a acreditar que realmente é uma pessoa ruim.
Na vida acadêmica
Perder prazos, dificuldade para prestar atenção nas aulas, dificuldade para fazer os trabalhos e problemas com a regulação emocional são vivências comuns para pessoas com TDAH que ingressam no ensino superior.
Nem sempre é assim, pois existe o fator interesse pessoal que pode ajudar a pessoa a conseguir focar em seus afazeres acadêmicos.
Além disso, cada pessoa com TDAH apresenta os sintomas de formas diferentes e, enquanto algumas não conseguem se adaptar à rotina acadêmica sem a ajuda de um tratamento, há também pessoas que conseguem passar pela graduação com algumas dificuldades, mas sem precisar de ajuda psicológica e/ou psiquiátrica.
De qualquer forma, grande parte das pessoas com este transtorno vai apresentar alguma dificuldade ou limitação a mais durante a vida acadêmica e cabe ao indivíduo buscar ajuda especializada se achar necessário.
No trabalho
Os mesmos problemas que ocorrem na vida acadêmica podem acontecer na vida profissional. Pessoas com TDAH podem ter dificuldade em focar no trabalho durante 8 horas por dia, e pessoas com uma hiperatividade maior podem ter dificuldade em profissões que exigem ficar parado ou sentado durante muito tempo.
Não raramente, pessoas com TDAH vivem mudando de emprego, nunca conseguindo consolidar uma carreira. Isso pode ter vários motivos.
O primeiro motivo é a performance, que pode ser abaixo dos outros colegas, levando à demissão. Contudo, nem sempre este é o caso — existem pessoas com TDAH que são excelentes em seus trabalhos, mas mesmo assim não conseguem se manter na empresa.
Nestes casos, pode-se pensar na questão da perda de interesse, que é algo que acontece com qualquer pessoa, mas que em pessoas com TDAH é um processo bem mais rápido e intenso. A pessoa pode ficar entediada no trabalho mais rapidamente, levando a necessidade de sair e procurar novas coisas para fazer, por exemplo.
Ou, alternativamente, o cérebro TDAH, em busca de adrenalina, precisa de um ambiente altamente estimulante para manter-se focado, o que faz com que a pessoa busque empregos e carreiras bastante arriscadas ou competitivas, o que eventualmente pode levar a um burnout.
Os problemas com gestão de tempo também podem ser altamente prejudiciais na vida profissional. Pessoas com TDAH podem ter dificuldade em chegar no horário certo, levando a atrasos frequentes, ou podem ter dificuldades para cumprir prazos e ter a produtividade reduzida por conta da dificuldade em se organizar no tempo.
Há também a dificuldade em priorizar tarefas e manter-se fazendo as tarefas que iniciou, o que pode levar a uma série de tarefas incompletas ao longo do dia.
Em suma, quando se trata de vida profissional, a pessoa com TDAH pode ter dificuldades nesta área não apenas por questões como uma performance prejudicada pelo transtorno, mas também por outros aspectos que o transtorno acaba trazendo.
No cotidiano
No dia a dia, há uma série de situações em que precisamos das nossas funções executivas funcionando adequadamente, mesmo fora do trabalho ou dos estudos.
Um exemplo é manter a casa em ordem, algo que pode ser um verdadeiro desafio para pessoas com TDAH. Isso porque elas podem ter dificuldade em perceber o que precisa ser feito, dificuldade em priorizar tarefas, dificuldade em manter-se fazendo uma tarefa — especialmente se for longa e repetitiva —, pouca atenção aos detalhes, entre outros.
A desatenção também pode prejudicar no andamento de tarefas que são feitas em várias etapas, como por exemplo lavar a roupa.
Ao lavar a roupa, primeiro é necessário separar as roupas, pois nem todas as cores e tecidos podem ser lavados juntos. Depois, é necessário colocar a roupa na máquina e ligá-la. Até aí, pode não haver qualquer dificuldade, mas depois de ligar, é necessário esperar a máquina completar o ciclo para enfim poder tirar a roupa lavada e estendê-la.
Neste momento, a distraibilidade pode ser uma grande inimiga. A pessoa se distrai com outras tarefas e, quando vê, já se passaram horas desde que a máquina completou o ciclo e a pessoa ainda não foi tirar a roupa para estender. Em alguns casos, a pessoa pode até esquecer a roupa uma noite inteira dentro da máquina e só lembrar no outro dia.
Ao lavar a louça, por exemplo, a desatenção pode fazer com que a pessoa pule etapas ou se esqueça em que parte do processo está. Um exemplo é terminar de ensaboar toda a louça que estava na pia para só então perceber que o escorredor de louça ainda está cheio desde a última lavagem e não há espaço para colocar louças novas.
Esquecer comida na geladeira também é algo bem comum. E esse esquecimento pode durar tanto tempo que a comida chega a apodrecer e a pessoa não se lembra de jogar fora, trazendo assim prejuízo não apenas monetário (por perder comida), mas também podendo expor comida fresca à comida estragada e aumentar o risco de contaminação.
Embora estes sejam apenas alguns pequenos inconvenientes — que podem acontecer com qualquer um, aliás —, nas pessoas com TDAH este tipo de acontecimento é tão comum que tudo se acumula e deixa a pessoa muito estressada, além de contribuir com a sensação de que está fazendo tudo errado, prejudicando a autoestima e, às vezes, até mesmo o bolso.
Uso de substâncias
Não é uma regra, mas pessoas com TDAH têm uma tendência maior a ter problemas com o uso de substâncias, lícitas ou ilícitas.
Não se sabe exatamente o porquê disso, mas acredita-se que grande parte das pessoas, especialmente não diagnosticadas, acabam usando drogas para tentar se automedicar, tendo em vista que existem drogas recreativas que podem ajudar na concentração, melhorar o sono e aliviar a ansiedade.
No entanto, todos esses efeitos “terapêuticos” vem junto dos riscos associados ao consumo de drogas, o que pode trazer prejuízos significativos a longo prazo, além de haver a possibilidade de adicção (vício).
Ideação suicida
Casos não diagnosticados e não tratados podem levar a uma série de consequências significativas, que acabam com a autoestima e autoconfiança de uma pessoa. Não são raros casos de pessoas com TDAH que possuem depressão ou ansiedade como comorbidade.
O tratamento é essencial para que a pessoa evite chegar “no fundo do poço”, do qual acredita só existir uma saída: a morte.
Nestes casos, é importante tratar tanto os sintomas depressivos quanto o TDAH, de forma a recuperar a qualidade de vida e a saúde mental.
Se você se identificou com alguma coisa escrita neste artigo, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.healthline.com/health/adhd/adult-adhd
https://www.youtube.com/watch?v=XbyN8REIhMk