O bullying é uma prática de assédio que pode ter consequências graves na vida da vítima. No mundo conectado em que vivemos, a internet se tornou um novo espaço para a prática dessas agressões, que recebe o nome de cyberbullying.
Neste texto, falaremos sobre o que configura cyberbullying, as consequências desse tipo de assédio, bem como o que fazer ao ser vítima dessa prática.
O que é cyberbullying?
O cyberbullying pode ser descrito como uma prática agressiva de humilhação, difamação, intimidação e perseguição em ambientes virtuais, como as redes sociais ou aplicativos de mensagem.
As vítimas de cyberbullying podem receber xingamentos, críticas desmedidas a sua aparência, seus comportamentos e suas opiniões, ou ser vítima de exposições vexatórias.
O assédio virtual, como também é chamado o cyberbullying, é mais comum entre adolescentes, mas não é raro entre jovens adultos. Redes sociais que permitem o compartilhamento rápido de informações e proporcionam um tempo de resposta bastante ágil são um ambiente perfeito para esse tipo de prática.
Diferentemente do bullying tradicional, o cyberbullying não se limita apenas a pessoas conhecidas. Ou seja, são estranhos atacando outros estranhos na internet, e o número de agressores cresce exponencialmente.
Não é raro que agressores se utilizem de perfis falsos (fakes) ou anônimos. Desta forma, acreditam ter sua identidade protegida e sentem-se à vontade para atacar outra pessoa por não precisar encarar a vítima pessoalmente.
Vale ressaltar, no entanto, que essa sensação de identidade protegida é uma ilusão, pois existem diversas formas de rastrear quem está por trás de um perfil falso ou anônimo na internet.
Um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que, no Brasil, a principal faixa etária envolvida no cyberbullying são os adolescentes entre 13 e 15 anos de idade. As principais vítimas são jovens do sexo feminino, filhos de mães sem escolaridade e estudantes de escola pública.
Exemplos de cyberbullying
Algumas ações que podem ser consideradas cyberbullying são:
- Exposição de fotografias, vídeos ou montagens constrangedoras sem o consentimento da pessoa;
- Divulgação de fotografias ou vídeos íntimos (revenge porn);
- Críticas repetitivas à aparência física, à opinião e ao comportamento da pessoa;
- Espalhar mentiras nas redes sociais;
- Enviar mensagens humilhantes ou ameaças por mensagem direta (DM);
- Fazer um perfil falso (fake) da vítima e enviar mensagens ou postar publicamente coisas vexatórias ou maldosas em seu nome.
Bullying versus cyberbullying: qual a diferença?
O bullying “tradicional” ocorre no contato presencial entre vítima e agressor(es). Em outras palavras, as duas (ou mais) pessoas precisam estar presencialmente no mesmo local, embora às vezes haja a possibilidade da vítima estar ausente em um determinado momento (como quando agressores colam fotos vexatórias em um mural ou sabotam os pertences da vítima, por exemplo).
Já o cyberbullying ocorre exclusivamente no ambiente virtual, mesmo que haja implicações no mundo real. Ele ocorre através de postagens nas redes sociais, mensagens instantâneas, e-mail, entre outros.
De certa forma, o cyberbullying pode ser mais massacrante do que o bullying tradicional, mesmo sem envolver agressões físicas (como ocorre no bullying presencial). Isso porque, no bullying presencial, a vítima consegue ao menos se retirar do ambiente em determinados momentos, enquanto no cyberbullying o assédio é constante, considerando que a pessoa estará exposta às agressões sempre que entrar na internet. Desta forma, a vítima não se sente segura nem mesmo em sua própria casa.
Como reconhecer o cyberbullying?
Nem sempre o cyberbullying é imediatamente reconhecível. Isso porque, muitas vezes, as pessoas tendem a dizer que é só uma brincadeirinha inocente.
No entanto, vale a pena ficar de olho nos sinais. Se parece que as pessoas estão tirando sarro de alguma questão que te magoa, por exemplo, pode ser um sinal de cyberbullying. Se, ao pedir que as pessoas parem de rir daquilo, seu pedido não é considerado, então muito provavelmente estamos falando de cyberbullying.
Isso porque, quando “é só uma brincadeira”, a intenção não é machucar ninguém, apenas divertir todas as pessoas envolvidas. Já quando as pessoas continuam fazendo mesmo depois da vítima expressar seu desconforto, fica evidente que a intenção é machucar ou afetar aquela pessoa de alguma maneira, o que configura o assédio virtual.
Cyberbullying é crime?
A prática do cyberbullying, em si, não é tipificada como crime. No entanto, muitas das agressões praticadas são passíveis de punição pelo Código Penal Brasileiro, como:
- Artigo 138: Crimes contra a honra, como calúnia, difamação e injúria;
- Artigo 140: Crime de injúria racial, como ataques racistas;
- Artigo 218-C: Exposição de imagens de conteúdo íntimo, erótico ou sexual.
Vale ressaltar que, mesmo usando perfis falsos, os agressores podem ser rastreados, ou seja, não existe uma anonimidade real na internet, então é possível processar os agressores.
Contudo, muitos dos agressores são pessoas menores de idade, como vimos anteriormente que o cyberbullying é mais comum entre adolescentes. Quando isso ocorre, quem responde legalmente são os responsáveis legais pelos agressores.
Em janeiro de 2024, foi aprovada a Lei 14.811/2024, que estabelece que municípios devem adotar protocolos de proteção às crianças e adolescentes em ambiente escolar e similares. Embora essa lei esteja mais relacionada ao bullying presencial, não é raro que o cyberbullying ocorra juntamente com o bullying nas escolas, podendo trazer uma maior proteção para vítimas nesses contextos.
Pela lei, adultos que cometem agressões contra crianças e adolescentes podem ser punidos e devem pagar multa. Adolescentes podem passar por medidas socioeducativas, enquanto os pais de crianças agressoras podem ter pena de reclusão de 2 a 4 anos e pagamento de multa. Tudo isso vale também para situações de intimidação na internet, como em redes sociais, aplicativos e/ou jogos.
Em alguns casos, a vítima também pode ser indenizada.

Consequências do cyberbullying
Apesar do cyberbullying ser feito no ambiente online, as consequências no mundo real podem ser devastadoras para a vítima.
Em primeiro lugar, pode ser impossível escapar do cyberbullying. A pessoa pode se deparar com agressões a qualquer momento em que estiver conectada à internet.
Hoje em dia, num mundo em que estamos conectados 24 horas por dia e recebendo notificações a qualquer horário, o cyberbullying pode se tornar um pesadelo sem fim na vida da vítima.
A pessoa pode começar a sentir vergonha, raiva, insegurança, sensações de incapacidade e impotência diante das agressões. Além disso, pode acabar se isolando socialmente, podendo se afastar também de amigos e familiares na vida real, mesmo que o bullying seja exclusivamente online.
Podem surgir também sentimentos de sobrecarga, dores de cabeça, dores no estômago e náusea. Sentimentos negativos podem se tornar tão comuns que influenciam no desenvolvimento de quadros como ansiedade e depressão.
Em casos mais graves, há relatos de ideação suicida e até mesmo suicídio consumado por conta do cyberbullying.
O que fazer se sou vítima de cyberbullying?
Se você perceber que está sofrendo cyberbullying, é interessante buscar ajuda de pessoas em quem você confia, como pais e familiares. Se você é menor de idade, é importante poder contar com algum adulto para te auxiliar nos próximos passos.
Na escola, é possível buscar a ajuda do corpo docente (professores e pedagogos), informar-se se existe algum programa de prevenção ao bullying na escola e denunciar os agressores.
Caso o bullying esteja ocorrendo nas redes sociais ou aplicativos de mensagens, considere a possibilidade de bloquear os agressores e, dependendo do caso, denunciar seus perfis à plataforma.
Você também pode entrar na justiça contra os agressores. Nesse caso, é interessante coletar evidências, como históricos de mensagens, capturas de tela das publicações nas redes sociais, entre outros.
Como se proteger do cyberbullying
É importante ressaltar que a vítima nunca tem culpa e, portanto, não deve ser responsabilizada pelos ataques sofridos. No entanto, alguns comportamentos online podem aumentar as chances de uma pessoa ser assediada virtualmente, sendo interessante evitá-los.
Algumas dicas para diminuir as chances de ser vítima de cyberbullying são:
- Evitar se expor demais nas redes sociais, incluindo detalhes muito íntimos;
- Restringir quem pode te seguir ou responder suas postagens nas redes sociais;
- Escolher as mídias certas para expor suas opiniões. Às vezes é mais interessante publicar um texto de opinião completo num blog do que falar de forma mais superficial no X (Twitter)/Bluesky, o que abre muito espaço para interpretações errôneas e permite interações mais rápidas;
- Ao receber algum tipo de ataque, não responder ou engajar de qualquer forma. Apenas bloqueie a pessoa;
- Registrar boletim de ocorrência nos seguintes casos:
- Exposição não consentida de fotos íntimas nas redes;
- Recebimento de ameaças, injúria, calúnia ou difamação.

Combater o bullying é responsabilidade de todos e, na internet, o problema pode tomar proporções ainda maiores. Portanto, não hesite em bloquear e denunciar agressores, mesmo que você não seja a vítima em questão!
Já se você está lidando com algum tipo de bullying, seja ele online ou não, e sente que isso está te prejudicando psicologicamente, não hesite em buscar ajuda com um profissional da saúde mental!
Referências
https://new.safernet.org.br/content/o-que-e-ciberbullying
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/estudo-revela-elevada-prevalencia-de-cyberbulling-entre-adolescentes-brasileiros
https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-eh-e-como-para-lo