Saúde mental e saúde sexual estão intimamente ligadas e podem influenciar uma à outra. Manter a saúde mental em dia pode contribuir para o bem-estar nas relações, permitindo momentos de intimidade satisfatórios que, por sua vez, também ajudam a manter a saúde mental equilibrada.
No entanto, há casos em que a saúde mental pode afetar tanto a sexualidade que as pessoas podem ter respostas fisiológicas que prejudicam a vida sexual. É o caso da disfunção erétil psicológica, também chamada de disfunção erétil psicogênica, pois sua origem está no psicológico do indivíduo.
O que é a disfunção erétil psicológica?
A disfunção erétil psicológica surge quando o homem não consegue obter ou manter uma ereção devido a fatores psicológicos. Em outras palavras, não existe uma causa orgânica para a disfunção, sendo algo que ocorre puramente por questões emocionais e mentais.
Trata-se de um tipo de disfunção sexual mais comum em homens jovens, especialmente os que possuem pouca experiência sexual, e pode ser desencadeado por diversos fatores, como ansiedade, estresse, depressão, problemas de relacionamento, traumas, entre outros.
Estima-se que cerca de 40% dos casos de disfunção erétil são de causa psicogênica.
A disfunção erétil psicológica se manifesta de diversas formas, como a dificuldade em obter uma ereção, a dificuldade em mantê-la quando consegue obtê-la, a perda da rigidez e tumescência durante a penetração, entre outros. Há também casos em que a pessoa só consegue obter ereção pela masturbação ou ao estar só, ou seja, a presença de outra pessoa dificulta a ereção.
É importante ressaltar que falhas eventuais não podem ser consideradas disfunção erétil. Em outras palavras, ter dificuldade para manter uma ereção vez ou outra é completamente normal e pode acontecer a qualquer um, sem necessariamente indicar um problema maior.
Também é normal ter dificuldades para manter uma ereção quando se está muito cansado, ou quando por algum motivo a atração pela(o) parceira(o) se encontra diminuída, sendo estes momentos pontuais que podem ocorrer em qualquer relacionamento.
No entanto, quando essa dificuldade se apresenta com frequência, em diversos contextos, é interessante investigar para entender melhor o que está acontecendo.
O que causa a disfunção erétil psicológica?
Embora ereções sejam, frequentemente, respostas fisiológicas a estímulos diretos a zonas erógenas, existem também ereções provocadas por imagens mentais, ou seja, pela imaginação. No entanto, se a pessoa não está conseguindo se manter na mentalidade adequada para ter uma ereção, ela pode acabar não durando, mesmo que haja estímulos físicos.
Em outras palavras, a ereção na realidade surge da coordenação de fatores fisiológicos como o fluxo de sangue no pênis e fatores psicológicos como a capacidade de manter atenção no estímulo sexual, o desejo, a imaginação, entre outros.
São diversos os fatores que tiram uma pessoa da mentalidade adequada para ter uma relação. Dentre eles, estão:
Estresse emocional
Pressões externas relacionadas a trabalho, família, problemas no relacionamento, entre outros, podem gerar estresse emocional que prejudica a capacidade de se engajar em atividade sexual;
Ansiedade
Os sentimentos ansiosos podem surgir por conta de inseguranças a respeito da própria aparência, da performance, entre outros, em especial em homens com menos experiência. Nestes casos, a ansiedade aumenta a circulação de adrenalina, um hormônio que prejudica diretamente o fluxo do sangue no pênis, impedindo a ereção.
Leia mais: Como a ansiedade de desempenho pode prejudicar a vida sexual
Depressão
O transtorno depressivo frequentemente vem acompanhado de alterações na libido, prejudicando a capacidade de obter e manter uma ereção. Nestes casos, a disfunção também pode contribuir para uma piora dos sintomas depressivos, virando um sistema que se retroalimenta.
Conflitos no relacionamento
Caso a pessoa que esteja apresentando disfunção erétil esteja em um relacionamento, os conflitos que surgem nessa relação podem estar prejudicando a capacidade da pessoa se engajar em uma relação sexual.
Os conflitos podem contribuir para um aumento do estresse emocional, e também podem acabar provocando uma falta de interesse na(o) parceira(o). Essa falta de interesse pode ser momentânea, deixando de existir quando os conflitos são resolvidos, o que também acaba com a disfunção erétil.
Conflito em relação à própria sexualidade
A sexualidade humana é complexa e pode ter diversas nuances que passam despercebidas. A depender da idade e da experiência de uma pessoa, ela pode ainda não entender muito bem sua própria sexualidade.
Nestes casos, a pessoa pode engajar em atividades sexuais que não são de seu interesse e achar que tem algo de errado consigo por não conseguir ter o desempenho desejado, mas também pode ser que a pessoa, por falta de experiência e autoconhecimento, fique muito ansiosa, resultando em problemas para manter a ereção.
Diagnóstico da disfunção erétil psicogênica
O diagnóstico da disfunção erétil de causas psicogênicas pode ser complexo, pois primeiro é necessário descartar a possibilidade de haver uma causa orgânica. Para isso, o paciente primeiro é submetido a uma série de exames, tendo também sua história clínica analisada.
Quando se trata de um paciente mais novo, a suspeita de uma causa psicogênica é maior, pois é raro homens jovens apresentarem os problemas que são frequentemente relacionados à disfunção erétil orgânica.
Além disso, se os sintomas parecem mais situacionais, aparecendo num momento em que a relação está ruim ou o paciente está passando por algum momento psicologicamente complexo, são maiores as chances de um diagnóstico de disfunção erétil psicológica.
Também é importante descartar a possibilidade da disfunção ser efeito colateral de algum medicamento, pois existem várias medicações que podem prejudicar o fluxo sanguíneo na área genital, bem como a libido em si.
Um último exame que pode ser feito para diagnosticar a disfunção erétil psicológica é o teste de tumescência peniana e rigidez noturno. Esse teste é feito com um dispositivo que mede a frequência das ereções durante a noite, quando o paciente está dormindo. Desta forma, é possível avaliar se o paciente consegue obter ereções quando não há pressões psicológicas ou estresse.
Como a disfunção erétil psicológica é tratada?
Por se tratar de um problema de causas psicológicas, o uso de medicações normalmente usadas para tratar a disfunção erétil pode não alcançar os resultados desejados. Nestes casos, é interessante o tratamento das questões psicológicas que estão influenciando na saúde sexual, como problemas de autoestima, sintomas ansiosos, sintomas depressivos, entre outros.
Alguns tratamentos frequentemente usados para o tratamento da disfunção erétil psicológica são:
Psicoterapia
A psicoterapia pode ajudar com uma série de problemas psicológicos, independente de abordagem. No entanto, um tipo de psicoterapia que se destaca no tratamento de disfunções sexuais psicológicas é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que trabalha a influência de pensamentos e sentimentos no comportamento.
Dentre as diversas formas que a psicoterapia pode ajudar estão a reestruturação cognitiva para tratar sentimentos ansiosos e depressivos, técnicas para lidar com estresse emocional, educação acerca da sexualidade, técnicas de dessensibilização em caso de traumas, tratar vícios e dependências que podem estar prejudicando a saúde sexual, entre outros.
Terapia de casal
Quando é identificado que a causa da disfunção erétil é um problema no relacionamento, a terapia de casal pode ajudar a trabalhar esses conflitos que estão sendo refletidos na saúde sexual do casal.
Vale ressaltar que a terapia de casal não necessariamente “conserta” relacionamentos, mas ajuda os indivíduos dentro da relação a perceber o que desejam, o que está funcionando e o que não está, e os ajuda a tomar a decisão de continuar juntos e trabalhar nos problemas ou na decisão de seguir seus próprios caminhos.
Medicação
Quando a disfunção erétil tem alguma relação com sintomas depressivos ou ansiosos, uma consulta com um psiquiatra para tratar essas questões pode ajudar bastante. Nestes casos, podem ser prescritos antidepressivos.
Vale ressaltar que, assim como a depressão, os antidepressivos podem ter efeito direto na libido, o que pode resultar em variações que não necessariamente são o efeito desejado. Se este for o caso, é importante conversar com o médico psiquiatra para que ele possa ajustar a medicação.
Embora o tratamento da disfunção erétil psicológica seja principalmente psicológico, quando necessário, pode-se usar medicações próprias para disfunção erétil em conjunto com o tratamento psiquiátrico para melhorar sua efetividade.
A saúde sexual pode ter impactos diretos na saúde mental e vice-versa. Se você conhece alguém ou percebe que você mesmo está tendo dificuldades com a saúde mental e/ou sexual, não hesite em procurar um profissional da saúde especializado!
Referências
https://www.verywellhealth.com/psychogenic-erectile-dysfunction-5201654
https://healthmatch.io/erectile-dysfunction/psychogenic-erectile-dysfunction#what-is-psychogenic-erectile-dysfunction