Efeito do Espectador: o que é e como combater

Por que, às vezes, as pessoas não fazem nada ao presenciar uma injustiça em público? A resposta está no efeito do espectador. Entenda!
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Você já se perguntou como pode ser possível crimes acontecerem em plena luz do dia, em praças lotadas, com diversas testemunhas, e mesmo assim ninguém ajuda a vítima? Pois bem, os psicólogos sociais já se perguntaram sobre esse fenômeno, que foi nomeado “efeito do espectador”.

O que é?

O efeito do espectador é o fenômeno no qual, mesmo que haja várias pessoas observando uma injustiça acontecendo (como um crime de difamação, racismo, homofobia, ou até mesmo bullying, por exemplo), a grande maioria das pessoas não se mobiliza para auxiliar a vítima.

Grande parte de nós pensa que, se estivesse ocorrendo algo em nossa frente, certamente iríamos intervir. Contudo, o que os psicólogos sociais mostraram é que isso não é bem verdade: mesmo pessoas super bem intencionadas frequentemente acabam inertes diante desse tipo de situação.

O interesse em pesquisar este fenômeno surgiu em 1964, após Catherine “Kitty” Genovese, gerente de um bar, ser assassinada em seu condomínio. De acordo com os jornais da época, houveram cerca de 38 testemunhas do crime, mas nenhuma chamou a polícia.

Mais tarde, a história publicada no jornal foi desmentida. Houveram, sim, pessoas que chamaram a polícia e tentaram prestar assistência à Catherine, mas ainda era uma minoria. Das 38 testemunhas, várias não acharam que seria necessário fazer algo, tanto por acharem que não passava de uma briga de namorados — quando, na realidade, Catherine estava sendo assassinada por um serial killer — quanto por acharem que outra pessoa já deveria ter chamado a polícia, e portanto não era necessário que elas mesmas fizessem alguma coisa.

Apesar do fato de que história que originou as pesquisas não é totalmente verdadeira, o efeito do espectador é real e pode ser visto todos os dias em situações cotidianas, como quando uma criança sofre bullying na escola, quando uma pessoa é assaltada em uma praça lotada em plena luz do dia ou até mesmo quando minorias sofrem algum tipo de assédio em público, como racismo, homofobia, xenofobia, entre outros.

Quais são os fatores que explicam o efeito do espectador?

Devido à grande repercussão do caso de Kitty Genovese, em 1970, dois psicólogos chamados Latané e Darley publicaram um estudo que busca explicar os mecanismos por trás do efeito do espectador, bem como identificar os fatores que podem influenciar nesse fenômeno.

Em primeiro lugar, os pesquisadores identificaram três processos psicológicos que podem impedir que um expectador tente ajudar uma pessoa que está passando por algum problema. São eles:

Difusão da responsabilidade

A difusão da responsabilidade refere-se à tendência que uma pessoa tem de diminuir a sensação de responsabilidade que ela tem diante de uma situação quando há muitos espectadores.

Isso quer dizer que, numa situação em que há poucas pessoas, o indivíduo pode ter uma sensação de responsabilidade maior, enquanto em uma situação na qual há muitos outros espectadores, a sensação subjetiva de responsabilidade é menor.

É como se pensássemos de uma forma não consciente “se eu não for ajudar, outra pessoa irá” — exatamente o que aconteceu com algumas pessoas no caso de Kitty Genovese, que pensaram que não precisavam chamar a polícia pois alguém provavelmente já teria chamado.

Apreensão de julgamento (medo de ser publicamente julgado)

Vez ou outra, situações de emergência podem ser um tanto quanto ambíguas e não sabemos direito se devemos intervir. O medo de entender errado a situação e acabar passando vergonha pode ser maior do que a vontade de ajudar.

Por exemplo, ao ver uma criança fazendo um escândalo perto de um adulto, pode ser que se trate de um sequestro, mas também pode ser que o adulto responsável simplesmente negou alguma coisa à criança. Na dúvida, acabamos por não intervir.

Existem também situações nas quais intervir pode fazer com que a pessoa fique parecendo culpada da situação. O medo de ser confundido com o malfeitor acaba sendo um grande fator para que uma pessoa se recuse a auxiliar em situações mais ambíguas.

Ignorância pluralística

Trata-se da tendência a contar com a reação das outras pessoas para averiguar a seriedade da situação. Por exemplo, se a própria vítima age de maneira tranquila diante do acontecimento, é provável que as pessoas ao redor não percebam que se trata de uma situação de perigo.

Alternativamente, se a vítima age de maneira a chamar a atenção, mas os outros espectadores agem como se nada estivesse acontecendo, é provável que o indivíduo também descarte a possibilidade de um perigo e não ofereça ajuda.

O efeito do espectador é ruim?

Não oferecer ajuda a uma pessoa necessitada pode ser socialmente mal visto, porém, apesar disso, o efeito do espectador não necessariamente é algo ruim. Na realidade, ele pode servir como uma defesa, sendo mais benéfico do que prejudicial.

Se, por exemplo, você está na rua e vê uma pessoa sendo assaltada a mão armada, você teria os recursos necessários para intervir nessa situação? A grande maioria de nós não teria, então, neste caso, o efeito do espectador seria mais benéfico do que prejudicial, embora a vítima continuasse sem assistência.

Isso porque, sem ter os recursos necessários para lidar com a situação, o resultado pode ser ainda mais desastroso. Confrontar uma pessoa armada sem saber desarmá-la, por exemplo, pode ser fatal.

Por isso, o efeito do espectador não é necessariamente algo ruim. Do contrário, pode ser extremamente benéfico para minimizar os riscos.

Já se você possui os recursos necessários para intervir, como saber técnicas para atenuar discussões, é possível intervir em situações mais simples e corriqueiras, como por exemplo uma pessoa que faz parte de uma minoria sendo verbalmente assediada em público.

Neste caso, o efeito do espectador pode ser uma barreira, pois você sabe como ajudar a vítima, que poderia se beneficiar dessa intervenção, mas não o faz por conta desse fenômeno.

Em suma, o efeito do espectador não é inerentemente ruim nem bom. Em alguns momentos pode atrapalhar e, em outros, ajudar. No fim, o mais importante é que ao invés de sair tentando ajudar todo mundo que precisa, a pessoa saiba escolher em quais situações está preparada para intervir e quais não está, para depois tentar driblar o efeito do espectador caso necessário.

Como superar o efeito do espectador

Embora o efeito do espectador possa ser benéfico, às vezes ele pode acabar impedindo uma pessoa de receber ajuda sem necessidade. Por isso, é preciso trabalhar numa superação desse efeito quando for possível ajudar.

Algumas dicas para superar o efeito do espectador são:

Tenha consciência do efeito do espectador

Ter consciência do efeito do espectador é o passo mais importante para conseguir superá-lo. Por isso, tentar compreender esse efeito e como ele se manifesta pode ajudar bastante na hora de realmente fazer a diferença.

Faça intervenções em cenários de poucos riscos

A ideia é praticar a ser um “espectador ativo”, ou seja, um espectador que participa da ação. Isso pode ser possível em cenários que envolvem poucos riscos, como por exemplo quando colegas de trabalho estão sendo rudes uns com os outros, mas ainda não chega a ser uma situação de perigo em si.

Intervir chamando atenção para uma comunicação menos violenta pode ajudar a pessoa a quebrar o efeito do espectador com mais facilidade em situações de assédio real.

Aprender técnicas para atenuar discussões

Situações de assédio verbal, por exemplo, frequentemente se tornam discussões acaloradas que podem evoluir para violência física. Por conta disso, saber atenuar essas discussões no momento certo é de extrema ajuda para os envolvidos, evitando de tornar a situação ainda pior.

Uma maneira de fazer isso é conversar com a vítima e ignorar o malfeitor. Perguntar à vítima se ela está bem, se precisa de alguma coisa, e ignorar o que o malfeitor está dizendo, ir aos poucos afastando fisicamente a vítima do malfeitor, entre outros.

Desta forma, é possível atenuar uma discussão sem provocar o malfeitor e proteger não apenas a vítima, mas também a si mesmo.

Saiba em quais situações pode intervir

Por fim, saber “escolher suas batalhas” é a chave. Faça uma lista das coisas que sabe fazer para ajudar outra pessoa em perigo: você sabe atenuar uma discussão, ou tem treinamento em artes de defesa pessoal, por exemplo?

Estes são alguns exemplos de recursos que você pode usar na hora de uma intervenção, e ter noção de quais recursos você possui pode ajudar a driblar o efeito do espectador em situações com as quais têm familiaridade.

Em último caso, chamar a polícia também é uma intervenção válida, portanto ter um telefone celular ou outros meios de comunicação também pode contar como um recurso nesses casos.

Referências

https://www.popsci.com/story/diy/bystander-effect-psychology/

https://www.psychologytoday.com/intl/basics/bystander-effect

https://www.britannica.com/topic/bystander-effect

https://www.verywellmind.com/the-bystander-effect-2795899

https://www.simplypsychology.org/bystander-effect.html

https://greatergood.berkeley.edu/article/item/we_are_all_bystanders

https://nypost.com/2014/02/16/book-reveals-real-story-behind-the-kitty-genovese-murder/

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