Efeitos colaterais de antipsicóticos: como tratar?

O principal tratamento para sintomas psicóticos é o uso de medicamentos antipsicóticos. No entanto, é preciso estar atento aos efeitos colaterais. Entenda melhor!
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Alguns transtornos mentais podem ter sintomas que precisam ser tratados com medicação, pois apenas psicoterapia pode não ser o suficiente para que estes sintomas não interfiram na vida do paciente.

É o caso dos transtornos psicóticos, que frequentemente necessitam medicação para que a pessoa consiga recuperar sua qualidade de vida.

O que é a psicose?

A psicose pode ser definida como uma desconexão da realidade, que pode ocorrer de diversas formas. Os sintomas mais comuns são delírios e alucinações (auditivas, visuais, olfativas, táteis etc.), bem como fala desconexa e agitação.

Trata-se de uma condição com pouco insight, ou seja, a pessoa não percebe que seu comportamento está alterado, não percebe que está vivenciando alucinações ou delírios. Para ela, aquilo é real, mesmo que haja evidências contrárias.

Os sintomas psicóticos podem ser causados por diversos fatores. Dentre eles estão o uso de substância e a presença de um transtorno psicótico ou até mesmo um transtorno de humor (transtorno bipolar, depressão psicótica etc.).

Geralmente, quando os sintomas são decorrentes do uso de alguma substância (que pode variar desde medicamentos a substâncias psicodélicas), o problema pode ser resolvido com a suspensão do uso da substância.

Já quando a pessoa desenvolve um quadro psicótico por conta de algum transtorno, pode ser uma condição crônica que deverá ser tratada ao longo da vida.

Vale ressaltar que, para pessoas com predisposição a transtornos psicóticos, o uso de substâncias, mesmo que feito recreativamente, pode influenciar no surgimento do transtorno.

A falta de conexão com a realidade pode ser extremamente prejudicial, pois a pessoa pode ter problemas nas suas relações interpessoais, na vida acadêmica e profissional, podendo até mesmo chegar a um isolamento extremo.

Efeitos colaterais dos antipsicóticos

Efeitos extrapiramidais (sintomas motores)

Os sintomas motores geralmente estão mais relacionados ao uso de antipsicóticos de primeira geração, também chamados de “antipsicóticos típicos”. Também chamados de efeitos extrapiramidais, esses efeitos colaterais incluem:

  • Tremores;
  • Contrações musculares;
  • Dificuldades para andar;
  • Movimentos lentificados;
  • Inquietação.

Efeitos colaterais gerais

Os efeitos colaterais gerais ocorrem com todos os tipos de antipsicóticos, ou seja, podem surgir tanto com o uso de antipsicóticos típicos quanto antipsicóticos atípicos (a partir da segunda geração). São eles:

  • Sedação;
  • Alterações no apetite;
  • Alterações no peso;
  • Boca seca;
  • Constipação;
  • Alterações na libido;
  • Alterações no ciclo menstrual, incluindo amenorreia (ausência de menstruação).

Síndrome neuroléptica maligna

Por fim, um outro problema que pode surgir com o uso de antipsicóticos é a síndrome neuroléptica maligna, caracterizada por aumento da temperatura corporal, rigidez muscular, agitação, aumento da frequência cardíaca e da frequência respiratória.

Trata-se de um quadro que pode ser fatal em até 20% dos casos, sendo necessária atenção médica urgente. No entanto, essa síndrome é rara, acometendo de 0,02 a 3% das pessoas que fazem tratamento com antipsicóticos.

Como lidar com os efeitos colaterais dos antipsicóticos?

O tratamento dos sintomas colaterais do uso de antipsicóticos vai depender dos efeitos colaterais apresentados pelo paciente.

Em geral, a primeira opção de tratamento é diminuir a dose do antipsicótico ou trocar a medicação por outra, em especial nos casos de efeitos extrapiramidais. No entanto, caso outras medicações se mostrem menos eficazes em tratar os sintomas do paciente, pode ser necessário que o paciente volte aos medicamentos anteriores e comece a usar medicações específicas para sintomas motores.

Dentre as medicações usadas para tratar os efeitos colaterais dos antipsicóticos estão os bloqueadores de canal de cálcio, os benzodiazepínicos, antagonistas da noradrenalina, agonistas dopaminérgicos, agonistas serotoninérgicos, antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), entre outros.

Em alguns casos, como quando os medicamentos não funcionam ou não há a possibilidade de associar outros medicamentos ao antipsicótico, a pessoa também pode se beneficiar do tratamento por eletroconvulsoterapia.

Quando a pessoa apresenta a síndrome neuroléptica maligna, o tratamento é urgente. Geralmente, o quadro se resolve com a retirada do medicamento antipsicótico. No entanto, enquanto o quadro não se reverte, a pessoa deve ficar em observação médica no hospital para evitar fatalidades.

Quais os principais transtornos psicóticos?

Existem diversos transtornos nos quais podem surgir sintomas psicóticos. No entanto, existe uma categoria de transtornos que é caracterizada pela presença obrigatória destes sintomas: os transtornos psicóticos.

Dentre os principais transtornos psicóticos estão:

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um dos transtornos psicóticos mais prevalentes, podendo afetar até 1% da população mundial. É caracterizada por sintomas psicóticos como delírios e alucinações, mas também há a presença dos chamados sintomas negativos, que incluem o embotamento afetivo (redução das emoções e expressões emocionais), diminuição da fala, discurso desconexo, isolamento, perda da capacidade de sentir prazer (anedonia), problemas cognitivos, entre outros.

Trata-se de um quadro crônico que pode trazer muitos prejuízos se não tratado, incluindo a perda de emprego e renda, perda de contato com familiares e perda de lugar para morar. Estima-se que muitas das pessoas que vivem nas ruas são possíveis pacientes de esquizofrenia não tratados.

Transtorno psicótico breve

O transtorno psicótico breve é caracterizado pela presença de sintomas psicóticos como delírios e alucinações por um período de um dia a um mês, sendo um episódio autolimitado. Não raramente, pessoas que passam por um episódio psicótico breve apresentam também discurso desconexo e dificuldade em regular as emoções.

Apesar da curta duração do episódio, que pode até mesmo se resolver de forma espontânea, os sintomas podem ser tão intensos a ponto de necessitar atenção psiquiátrica urgente.

Transtorno esquizoafetivo

O transtorno esquizoafetivo se assemelha a uma mistura da esquizofrenia com os transtornos de humor, como a depressão e o transtorno bipolar. É caracterizado por episódios de humor, como episódios depressivos ou mania, junto com sintomas típicos da esquizofrenia, como delírios, alucinações, discurso desconexo, comportamento motor bizarro, entre outros.

Embora seja comum que pessoas com transtorno bipolar apresentem sintomas psicóticos durante episódios de mania, o transtorno esquizoafetivo tem mais sintomas semelhantes à esquizofrenia, sendo um diagnóstico diferencial do transtorno bipolar.

Embora os medicamentos antipsicóticos possam trazer alguns efeitos colaterais que necessitam de tratamento, é importante ressaltar que muitos desses efeitos colaterais são contornáveis e não justificam a descontinuação do tratamento quando a pessoa pode ter consequências graves em conviver com os sintomas psicóticos.

Lembre-se sempre que o tratamento de transtornos psicóticos e de humor deve ser feito com o acompanhamento de médico psiquiatra, diminuindo consideravelmente as chances do surgimento de efeitos colaterais mais preocupantes.

Se você reconhece a presença de sintomas psiquiátricos em você ou em alguma pessoa próxima, não hesite em procurar ajuda com um profissional da saúde mental.

Referências

Abreu, P. B., Bolognesi, G., & Rocha, N.. (2000). Prevenção e tratamento de efeitos adversos de antipsicóticos. Brazilian Journal of Psychiatry, 22, 41–44. https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000500014

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/esquizofrenia-e-transtornos-relacionados/medicamentos-antipsic%C3%B3ticos

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