Um dos medicamentos que ganhou bastante destaque nas redes sociais nos últimos tempos é o zolpidem, usado para tratar insônia.
Na internet, existem inúmeros relatos de pessoas que fizeram o uso da medicação e, ao invés de dormir, fizeram coisas das quais não se lembram depois, sendo frequentes relatos de compras impulsivas e conversas sem sentido.
No entanto, apesar da má fama que esses relatos trazem à medicação, a verdade é que se trata de uma substância bastante segura e eficaz para a maior parte das pessoas.
Neste texto, falaremos um pouco sobre o zolpidem e seus efeitos no sistema nervoso central, buscando compreender quais fatores estão mais relacionados ao surgimento desses efeitos colaterais preocupantes.
O que é zolpidem?
Desenvolvido na década de 1980, o zolpidem é uma das medicações mais recentes para o tratamento da insônia, ganhando bastante espaço por ser uma alternativa mais segura do que as medicações usadas anteriormente, como os benzodiazepínicos e barbitúricos.
No entanto, ainda existem efeitos colaterais significativos com o uso do zolpidem, sendo de extrema importância que ele seja tomado conforme a prescrição do médico. É necessário também o acompanhamento frequente do caso.
O zolpidem faz parte de um grupo de substâncias chamado imidazopiridinas, que tem como mecanismo de ação ligar-se aos receptores GABA do cérebro.
Como o nome diz, esses receptores se ligam ao neurotransmissor GABA, que é um dos principais neurotransmissores calmantes do cérebro, sendo importante também para o sono.
As imidazopiridinas, como o zolpidem, agem ligando-se a esses receptores e simulando o efeito do GABA, tendo, então, efeito sedativo e hipnótico (indutor do sono).
Pesquisas mostram que o sono induzido pelo zolpidem tem qualidade e padrões semelhantes ao sono natural.
Efeitos colaterais do zolpidem
Há diversos relatos de pacientes que desenvolveram delírios, pesadelos frequentes e até mesmo alucinações durante o tratamento com zolpidem, indicando que os efeitos da substância no sistema nervoso vai além dos efeitos sedativos usados para tratar insônia.
No entanto, o que pesquisas mostram é que esses efeitos colaterais são relativamente raros. Os efeitos colaterais mais comuns associados ao uso de zolpidem são:
- Tontura;
- Sonolência;
- Dores de cabeça;
- Fadiga;
- Dificuldades com a memória;
- Pesadelos;
- Confusão mental;
- Depressão;
- Náusea e ânsia de vomito;
- Sensação de mal-estar;
- Dores abdominais;
- Boca seca.
Efeitos colaterais residuais
Os principais efeitos colaterais do zolpidem costumam aparecer logo após a administração da medicação, deixando de ocorrer após a noite de sono.
No entanto, pesquisas mostram que pessoas que usam zolpidem podem ter alguns efeitos colaterais residuais, ou seja, efeitos que perduram e podem afetar o dia-a-dia da pessoa.
Dentre estes efeitos estão alterações na performance de atenção, memória verbal e velocidade psicomotora. Essas alterações chegam a ser significativas, tendo um impacto moderado na funcionalidade da pessoa.
Zolpidem gera dependência?
Assim como é o caso de outras substâncias sedativas, pesquisadores e médicos se questionaram por um tempo se o zolpidem poderia ser uma substância com alto potencial de adicção (vício).
No entanto, pesquisas mostram que, comparado a outras medicações, o zolpidem produz alguns efeitos colaterais desagradáveis que diminuem as chances das pessoas fazerem abuso da substância.
Além disso, há pesquisas que mostram que o potencial de abuso do zolpidem é relativamente baixo, mesmo quando seu uso é combinado com álcool.
O que influencia nos efeitos colaterais do zolpidem?
Efeitos colaterais podem ocorrer com qualquer pessoa a qualquer momento. No entanto, existem alguns fatores que podem influenciar na intensidade e frequência desses efeitos.
Alguns destes fatores identificados são:
Dosagem
A dosagem de um medicamento influencia diretamente seu potencial terapêutico, bem como o surgimento de efeitos colaterais.
Pesquisas mostram que pesadelos podem ocorrer em qualquer dose, ou seja, mesmo doses mais baixas ainda podem causar esse efeito colateral.
No entanto, efeitos colaterais mais preocupantes como delírios e alucinações costumam ocorrer em doses acima de 5mg. Em outras palavras, pessoas que tomam doses menores que 5mg não apresentam esses efeitos colaterais, ao passo que doses superiores a 5mg aumentam as chances do surgimento desses efeitos.
Embora alucinações e delírios possam ocorrer em doses terapêuticas, seu aparecimento é mais comum em doses que geram uma intoxicação na pessoa. No entanto, existem vários fatores além da própria miligramagem de uma medicação que podem gerar uma intoxicação.
Gênero
De acordo com pesquisas, cerca de 82.4% dos casos de alucinações com zolpidem ocorrem em mulheres.
Ao que tudo indica, mulheres parecem ter uma concentração sérica maior de zolpidem em relação aos homens, mesmo que a dosagem usada seja a mesma.
Essa concentração sérica mais elevada aumenta o potencial de intoxicação pela substância, aumentando também os efeitos colaterais.
Uso de outras medicações
O zolpidem é uma substância que tende a se ligar a proteínas. O uso de outras medicações pode acabar prejudicando a ligação do zolpidem as suas proteínas transportadoras, o que não apenas atrapalha a chegada da substância ao seu local de ação adequado como também acaba aumentando a quantidade de moléculas de zolpidem livres na corrente sanguínea, aumentando consideravelmente as chances de intoxicação pela substância.
Grande parte das pessoas que fazem o uso de zolpidem também fazem o uso de outras medicações psiquiátricas, em especial antidepressivos. Pesquisas apontam que os antidepressivos em específico aumentam consideravelmente as chances de uma pessoa apresentar efeitos colaterais com o uso de zolpidem.
Considerações finais
Para a grande maioria dos pacientes, o zolpidem é uma substância segura que causa apenas alguns efeitos colaterais brandos.
No entanto, para algumas pessoas, existe a possibilidade do surgimento de efeitos colaterais preocupantes, como alucinações, delírios e pesadelos. A maior parte desses efeitos colaterais, no entanto, estão relacionados à intoxicação pela substância.
Vale ressaltar que esses efeitos colaterais tendem a cessar assim que o tratamento com zolpidem é descontinuado.
Referências
Toner, L. C., Tsambiras, B. M., Catalano, G., Catalano, M. C., & Cooper, D. S. (2000). Central Nervous System Side Effects Associated with Zolpidem Treatment. Clinical Neuropharmacology, 23(1), 54–58. doi:10.1097/00002826-200001000-00011
Stranks, E. K., & Crowe, S. F. (2014). The acute cognitive effects of zopiclone, zolpidem, zaleplon, and eszopiclone: A systematic review and meta-analysis. Journal of Clinical and Experimental Neuropsychology, 36(7), 691–700. doi:10.1080/13803395.2014.928268